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Brasil com gosto de Emirados
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E-book367 páginas4 horas

Brasil com gosto de Emirados

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Sobre este e-book

Nem tudo que está na superfície te mostra o que habita na profundidade.Dois príncipes em busca de uma fugitiva.Uma guerreira em busca de sua liberdade financeira.Quanto vale uma vida?Quais as chances de encontrar o verdadeiro e grande amor da sua vida e estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo que não possa sequer tocá-lo?O que é importante para você hoje? Era importante ontem? Será importante amanhã?Na vida real nem sempre há finais felizes... Espera aí! Não há? Ou é apenas um ponto de vista?No final, o amor sempre vence. Atitudes de amor nos fazem vitoriosos.Embarque conosco nessa aventura romântica com gosto de café.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526038593
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    Brasil com gosto de Emirados - Nicky & Jonny

    AGRADECIMENTOS

    Nós agradecemos às pessoas que sonharam juntamente conosco nos doando seu tempo e trabalho, e também os momentos de leitura da nossa obra.

    Não podemos esquecer jamais que em toda caminhada há aqueles que nos auxiliam e sonham os nossos sonhos, a esses anjos, nós dedicamos nosso amor, o nosso respeito e admiração. Se estamos aqui, é graças a vocês e por vocês!

    Agradecemos a Deus pela saúde, inspiração e por cada pessoa que Ele colocou em nosso caminho e que tornaram possível a realização do nosso sonho!

    Boa leitura!

    Nicky & Jonny

    PRIMEIRA PARTE

    Capítulo 1

    HELOÍSA

    Me sinto entorpecida. Algo não está certo! Tento me mexer, mas meu corpo não responde aos comandos. NÃO! Outra vez não! Tento, mas não consigo me livrar das mãos nojentas que me prendem. Em seu rosto, vejo o prazer que sente em ferir o meu corpo e a minha alma. E pensar que um dia na minha inocência, eu o chamei de pai.

    ‒ NÃO!!!! ‒ Acordo gritando mais uma vez. As poucas horas que durmo é sempre assim. Depois daquele dia, nunca mais fui a mesma. Não me sinto segura, não confio nas pessoas, não gosto que estranhos me toquem, evito locais cheios e tenho crises de pânico. 

    Sei que você vai me dizer: Mas ele não era um estranho? Não, não era! O cara que abusou de mim há seis anos era meu padrasto! Você deve estar se perguntando: Mas você denunciou, né? NÃO! E vou explicar porquê. Além de tudo, a praga era policial e ele fez tudo de caso pensado! Me drogou, fez tudo que queria e me jogou num beco escuro. Como caí nessa?

    Ele era casado com a minha mãe! Fui molestada durante anos na minha infância, e, assim que pude, me mandei! Minha mãe morreu há alguns anos, oito, para ser exata. Algum tempo atrás, ele me procurou e disse que tinha umas fotos e cartas dela que queria me devolver. Marquei em um local público e fui. Algo me dizia para não ir, mas eu não tinha muitas lembranças dela, já que saí de casa brigada com a minha mãe. 

    Quando contei a ela sobre os abusos, claro, não acreditou na minha versão da história. Bem, acontece que em algum momento do nosso encontro, senti uma picada no meu braço, e, de repente, tudo escureceu. Quando acordei, estava em um lugar que não conhecia, o local cheirava a mofo e sujeira, e meu inferno estava só começando! 

    Fui abusada de todas as formas possíveis, e por muitas vezes, pedi para morrer! Claro que ele não iria me conceder tal benção! Fui drogada várias vezes, e tenho certeza que ele tem fotos e vídeos daquele dia. Ele me revelou isso, quando, praticamente, me obrigou a casar com um colega dele.

    Sim, fui refém desse demônio por um tempo ainda. No dia do meu casamento, o doente do meu padrasto, que para todos era um ícone de honestidade e amor ao próximo, resolveu fazer uma visitinha no quarto em que eu me arrumava. Eu não permiti que ele me tocasse e deixei bem claro que a partir daquele dia ele deveria ficar longe! 

    No meio da discussão, eu, que não sou nem um pouco cagada, vejo que mais alguém ouviu nossa conversa. Nem preciso dizer que meu futuro marido o espancou e o manteve longe. Devo dizer que até acho que ele mesmo o mandou para o inferno, dadas as circunstâncias que o corpo do infeliz do meu padrasto foi encontrado. Segundo os especialistas, ele havia sido vítima de bandidos.

    Eu tentei de todas as formas gostar do meu marido, ele era um homem bom e nunca me tratou mal, mas depois da gravidez, algo mudou entre nós. Não que fossemos apaixonados, pelo menos eu não era, mas me contentava em ser amada e fazer meu papel de esposa o melhor possível. 

    Depois de um tempo, percebi que ele estava muito encantado por uma colega de trabalho e resolvi deixá-lo ser feliz. Não foi fácil, até hoje ele não aceita bem essa história de eu estar em outro país reconstruindo a minha vida. Mas espero que ele esteja bem!

    Você pode me perguntar: Mas, sua doida, você deixou um homem bom para trás por desconfiança boba? NÃO! Jamais faria isso, pois há mais alguém nessa história e que sente a falta do pai. Meu pequeno Gustavo tem cinco anos de pura gostosura!

    Simplesmente, o Marcelo, agora meu ex-marido e policial de quarenta anos, não me levava mais as festas e algumas vezes parecia se sentir envergonhado por estar comigo. Diante tudo que me aconteceu, os transtornos e a gravidez, meu corpo mudou um pouco. Não que eu seja gorda.... Eu sou uma mulher comum! 

    Sim, as vezes uso tamanho G, mas nada exagerado. Sem querer, vi umas fotos que pareciam muito íntimas dos dois no Facebook dela, algumas mensagens que davam a entender algo mais, e, finalmente, o dia que ela o trouxe de carro até a porta da nossa casa e tenho certeza de ter visto um beijo daqueles de novela.

    Foi aí que me organizei financeiramente, aceitei um convite de uma prima que estava aqui nos Estados Unidos e vim com meu bebê, que na época tinha dois anos, e decidi tentar algo novo.

    Bem, deixemos as divagações de lado e vamos à luta, porque eu sou Heloísa Silva, moro em Seattle, Estados Unidos, tenho trinta e sete anos e sou mãe do Gustavo de cinco aninhos.

    Resumindo, sou uma guerreira que trabalhou arduamente praticamente dia e noite para juntar o máximo de grana possível e realizar meu sonho: montar um pequeno café, onde eu me realizo na cozinha. Minha prima Adriana tem trinta e nove anos, e sua filha Renata de dezoito anos, me ajudam no meu sonho, o café Donabella.

    Espanto minhas lembranças e vou correndo começar o meu dia. Porque, afinal, eu sou brasileira!!! E brasileiro não desiste nunca! Sou mais uma Silva na terra do Tio Sam, para escrever um novo e melhorado capítulo da minha história.

    Capítulo 2

    HELOÍSA

    Dou um beijo no meu pequeno que logo iria para escola, e saio de casa. Renata sempre o deixa na escola antes de vir para o café; Já Adriana e eu, entramos antes para adiantar o trabalho. Muito antes, diga-se de passagem! O café Donabella tem tomado cada segundo dos nossos dias, e não faz muito tempo que o abrimos!

    Faz quatro meses que estamos vivendo a loucura de montar um café bem típico brasileiro em uma terra estrangeira. Ele é bem pequeno, apenas cinco mesas e um balcão nos fundos do pequeno salão onde nossas gostosuras ficam expostas em uma vitrine! Lógico que são gostosuras do meu lindo país! Mas com cara de casa de vó, de café coado e que são servidos em pequenas garrafas térmicas como na maioria dos lares brasileiros, seja mesa a mesa, ou copo a copo, para aqueles que não podem se dar ao luxo de se sentar e apreciar a primeira refeição do dia com uma bela vista da rua.

    O local onde ficam as mesas têm uma janela de parede inteira que dá vista para rua e é um charme. A janela foi o principal motivo por eu ter comprado o local. Achei um ponto muito positivo, já que não iríamos ter condições financeiras de fazer algo muito elaborado com a grana que tínhamos.

    Tudo é muito simples, porém organizado em cada detalhe. O ambiente é decorado com quadros que retratam alguns locais muito bonitos do Brasil, que dão um charme todo especial ao lugar.

    Estamos vivendo espremidas em uma kitnet próximo ao café para economizar o máximo possível! O Donabella tem sido um sucesso nesses meses, graças a Deus, vive cheio! Nossos clientes são muito receptivos ao nosso cardápio e muitos aderiram a algo que fazemos para ajudar as pessoas que passam por algum tipo de necessidade.

    Aqui no Donabella, temos uma política de só servir o que foi feito no dia, então, no final do dia, montamos pequenos kits com o que ficou na vitrine e doamos! Alguns vêm buscar no próprio café, outros recebem conforme vamos encontrando rumo ao caminho de casa. Alguns de nossos clientes, sabendo dessa nossa iniciativa, sempre deixam dois ou mais lanches e cafés pagos para que possamos continuar a nossa ajuda sem nos prejudicar...

    E é aí que vemos sempre a mão de Deus, que não nos tem faltado em todos esses meses, nos permitindo o nosso sustento e também ajudar irmãos que estão em situação, muitas vezes, de rua.

    Entramos no café e já vamos para a nossa correria. Antes de abrir, vamos realizando o trabalho, e, de vez em quando, troco uma palavra ou outra com Adriana. Eu já tinha abastecido a vitrine, quando vejo Renata entrar pela porta com seu sorriso habitual de menina, que apesar de já ter 18 anos, parece ainda uma menina sapeca. Nos apressamos em abrir, e logo os nossos clientes começam a chegar. E o dia foi aquela correria que parecia não ter fim.

    Capítulo 3

    HELOÍSA

    Já no fim do dia, Adriana e eu estamos indo para casa, já que Renata sai mais cedo para buscar Gustavo na escola. Entramos em uma conversa animada de como as coisas estavam dando certo para nós.

    ‒ Nós somos doidas. Você sabe, né? – Me perguntou Adriana. Eu não respondi, fingindo estar ofendida. Rimos e continuamos a divagar. – Sabe... – Continuou. – Quando você chegou aqui, achei que iria acabar adoecendo, varando noites e dias pegando todo tipo de faxina para fazer. De dia em casas, empresas e escritórios, e a noite nas baladas da vida. Você só parava para ficar um tempo com o Gustavo. Fiquei muito preocupada com você, mas hoje, vendo o resultado de todo esse esforço, me sinto orgulhosa de você! E de todas nós!

    – Adriana, você está muito sentimental! – Brinco, para quebrar o clima pesado. Não quero continuar aquela conversa, pois sei bem onde ela irá parar e não estou afim de revirar o meu baú de confusões, que guardo dentro de mim e mantenho bem fechado o máximo que posso. Só assim consigo um pouco de sanidade para seguir em frente. – Olha, falta só esse kit. – Falo para Adriana. Já estamos na rua de casa e para lá de cansadas!

    – Heloísa, pelo amor do Senhor, eu vou subir, tomar um banho e morrer naquela cama!!! Leva para casa e vai descansar também! – Diz ela. Eu até cogito a possibilidade, mas não consigo. Pensar que alguém talvez não comerá aquela comida só por preguiça minha.

    – Faz assim, você vai tomando seu banho e eu vou dar uma volta no quarteirão para o lado oposto que viemos, e logo volto para casa. É o tempo do seu banho!

    – Ok, só não demora, tá?!

    – Vai lá. Já já chego em casa! – Sigo meu rumo. Só mais uma volta, Heloísa. Eu repito mentalmente. Passo por um ponto do quarteirão da minha rua, que apesar de bem iluminado, não há muita movimentação. Vejo uma silhueta que parece a de uma pré-adolescente. 

    Penso logo em dar meia volta e ir embora. Mas como eu não farei nenhum mal a ela, vou na direção da garota e quando a saúdo com um Boa noite! Precisa de ajuda?, vejo que não é uma adolescente, mas uma mulher muito bonita e com um olhar atordoado.

    Pergunto seu nome, mas ela não responde a nenhuma interação minha. Estendo o pacote de comida que está em minhas mãos, e ela o agarra como se sua vida dependesse daquilo. Em seguida, uma senhora se aproxima e parece muito brava, achando que eu estou machucando a garota, e parte para cima de mim.

    Eu a reconheço logo! Ela sempre vai buscar alguns alimentos no fim do dia, mas só sei que ela mora em um quarto alugado, em um bairro mais afastado. Depois da raiva passada, ela percebe que a tal moça não estava em perigo, e meio sem jeito, me pede desculpas. 

    Eu a desculpo e reafirmo que as duas podem passar no café no dia seguinte para pegar mais comida. Esperando que elas fiquem bem, sigo de volta para casa.

    Chegando lá, fico com meu filhote curtindo cada segundo com ele. Assim que dorme, vou para o banho e tento dormir um pouco depois de orar. Durmo, e como sempre, lá está ele me esperando nos meus sonhos para me atormentar. 

    Já que não pode mais fazer em vida, com certeza, de lá do inferno, ele me atormentará o restante da vida! Acho que devo ter dormido só umas três horas, e sigo para minha rotina. Minha nova vida e eu estamos amando viver com todas as cores que temos direito!

    Capítulo 4

    HELOÍSA

    Mais um dia no corre-corre daquela cozinha. Eu ficarei até bem mais tarde hoje, pois temos uma encomenda para uma festa. Será um dinheiro extra, e isso nos dará um alívio nas contas de casa.

    As meninas ficarão com Gustavo para mim. Se eu me sinto culpada? Muito, mas meu foco é tentar melhorar a qualidade de vida do meu pequeno. Então, tenho que plantar com muito esforço e um pouco de lágrimas de saudade, pois sei que um dia colherei sorrindo.

    Como já imaginava, varo a noite no Donabella, e às quatro horas da manhã, estou com a encomenda pronta, só faltam os salgados para finalizar no fim do dia. Às sete horas, a correria de sempre, e no fim do dia, finalizo a encomenda. Será para uma festa em um escritório, cujo dono é um príncipe de uma dessas cidades do oriente médio, se não me engano acho que é de Dubai. 

    O CEO dessa empresa, o tal príncipe, entrou aqui no café um dia e se apaixonou pela nossa comida. A Renata passou dias falando do tal príncipe. Eu não o vi, mas pelos comentários, dizem que é um belo exemplar masculino.

    Eu nem me atrevo a pensar que uma pessoa dessas olharia para mim. Não consegui nem segurar o amor de um simples mortal, imagina uma aparição do deserto, segundo Renata. Deixo o romance para ela, pois meus planos precisam de foco e eu não posso desviar do caminho, não agora, que tudo está caminhado como deve ser.

    Chamo um Uber de um cliente que sempre vem aqui, e quando preciso fazer alguma entrega, recorro a ele. Deixo as meninas no café e vou fazer a entrega. Subo pelo elevador de serviço, junto ao motorista que está me ajudando a levar as caixas de salgados, enquanto estou com o bolo. Ainda preciso voltar para pegar os doces no carro e arrumar a mesa com todas as comidas.

    Desço com o motorista e pego os doces. Acerto a corrida e agradeço. Volto ao prédio e entro no primeiro elevador que vejo, pois quero sair logo. Estou inquieta e não consigo identificar o que me incomoda. 

    Perdida em meus pensamentos, agradeço a Deus por haver lá no café, um pequeno banheiro no escritório, onde eu tomei banho e troquei de roupa antes de vir. Ainda bem! As pessoas daqui nem parecem que são gente de tão perfeitas. Fico me perguntando se ser bonito e parecer rico seria requisito para trabalhar aqui.

    Sinto o ar do elevador ficar denso e saio dos meus pensamentos, entorpecida por um perfume que, sinceramente, não tenho nem palavras para descrever. Quando meus olhos encontram com os dele, verdes... lindos.... Acorda criança! Minha mente grita, e desvio o olhar o mais rápido que consigo. Ouço uma voz grossa, em um inglês diferente de tudo que já havia escutado, me dizer que eu estou no elevador errado e que eu deveria estar no elevador de serviço. É sério isso, Brasil?!

    Mas como eu estou errada, resolvo engolir meu orgulho e me desculpar pelo inconveniente. Assim que tento alcançar o painel do elevador com todos os andares, todas as luzes se apagam. Enquanto eu me abaixo devagar até alcançar o chão, as luzes de emergência ligam. O tal homem fala ao telefone, mas agora, numa língua que eu não entendo.

    Começo a procurar o ar, mas meus pulmões pediram férias e foram para as Maldivas pegar uma cor, enquanto eu fico roxa sem ar. É aí que as coisas dão uma pioradinha. Sou eu né? Sempre pode ficar pior! As caixas de doces ficam no chão do elevador, eu sentada do lado e ele de frente para mim. Perto, muito perto! Ele me pergunta se eu estou bem, mas sua voz vai ficando distante, e eu não consigo mais um fio de consciência. Ele toca o meu braço, e grito desesperadamente. E tudo escurece.

    Capítulo 5

    SAMIR MALIK AL AZIZ

    Hoje meu dia está complicado! Tenho várias reuniões e uma pequena confraternização que vai acontecer com a diretoria da minha empresa, cuja a sede fica aqui em Seattle. Estou voltando de uma reunião que teve um resultado positivo para mim, mas que me tomou grande parte do meu dia.

    Ninguém entende minha opção por construir minha vida tão longe de casa, eu amo o meu país, mas também amo a minha liberdade. Amo ter as rédeas da minha vida, e apesar da pressão que meus pais fazem, eles respeitam meu espaço. Sempre que possível, estou por lá, pois também tenho grandes empreendimentos na minha cidade. Não sou do tipo conquistador, mas não me apego a ninguém. Acredito que não fui feito para o amor.

    Entro no elevador particular da minha empresa. Sim, eu tenho um elevador só para mim! Estou com os olhos grudados no celular e não percebo que há mais uma pessoa alí dentro. Sinto um cheiro doce. Eu conheço bem esse cheiro, os doces do café Donabella! 

    Levanto os olhos e dou de cara com uma mulher que está com caixas nas mãos. Seus olhos parecem ver minha alma. Eles são de um castanho claro. Ela não é como as mulheres que estão geralmente no meu convívio. Parece comum, os cabelos estão presos, a pele clara, cabelos escuros e o corpo, bem... hum... acho que cheinha. 

    Coloco a minha voz de CEO todo poderoso e falo que ela está no elevador errado. Percebo que ela tenta alcançar o painel enquanto se desculpa. Me sinto um lixo, eu não sou assim, e quando vou dizer a ela que não precisa sair, as luzes se apagam. Chego até o telefone do elevador e falo com um dos seguranças que o elevador havia parado.

    Meu segurança particular está comigo na linha, enquanto eu tento resolver o pequeno problema:

    – Foi uma queda de energia inesperada, senhor. - Diz o segurança. – Será religada logo.

    Me viro e vejo a mulher hiperventilando e sentada no chão. Me aproximo e pergunto se ela está bem. Toco em seus braços, e ela está gelada. Assim que sente meu toque, ela grita e desmaia. As portas se abrem, e eu saio do elevador com ela nos braços rumo ao meu escritório. Peço ao meu segurança particular que leve as caixas de doces para a sala de confraternizações. Ela deve ser funcionária do café que eu frequento...

    Deixo-a no sofá e vou atrás de álcool na caixa de primeiros socorros. Me aproximo e sinto que ela cheira a doce e flores. Estou paralisado diante dela. Tão linda. Penso, mas logo espanto esse pensamento e faço o que tenho que fazer.

    Ela acorda atordoada e olha diretamente em meus olhos. Tenho certeza que o tempo para naquele instante. Ela recobra pouco a pouco a consciência e vai se levantado, pedindo desculpas e tentando achar a saída. Me seguro para não rir, mas acho que falho um pouco, pois ela se vira para mim e não parece mais atordoada, mas sim, muito brava.

    – Você está rindo de mim? – O rosto, que há pouco estava sem cor nenhuma, tem um tom rosado, o que torna minha tentativa de não rir um pouco pior.

    – Claro que não. – Respondo tentando parecer sério. – Eu te ajudei no elevador, lembra?

    – Eu agradeço a ajuda, mas não tenho dom para ser piada de ninguém! – Me responde, com uma cara nada boa.

    – Desculpe, eu não estou fazendo piada. – Respondo, verdadeiramente sério. – Você trabalha no Donabella?

    – Sim. – Ela me responde meio desconfiada. – Eu preciso terminar o trabalho que comecei. – E vai em direção a porta que ela já havia descoberto para que lado fica.

    Sigo-a e digo que minha equipe cuidará de todo o resto da preparação. É o mínimo, tendo em vista que ela passou mal, provavelmente, por ter fobia de elevador. Peço que meu segurança a leve de volta para casa, mas ela não quer aceitar. Não deixo espaço para recusa, meu segurança aponta o caminho, e ela o segue.

    Volto ao escritório com uma sensação estranha, um misto de agonia com felicidade. O que será isso?!

    Capítulo 6

    HELOÍSA

    Volto para casa anestesiada, parece que tudo está em câmera lenta. Aviso as meninas que eu não estou bem e conto do incidente no elevador. Elas entendem e também acham melhor eu não voltar ao Donabella. 

    Tomo um banho e organizo a casa. Busco Gustavo na escola, e passamos um tempo juntos brincando. E esse é o melhor momento do meu dia, mesmo exausta, estar com ele me dá paz. Coloco meu pequeno na cama e também me recolho.

    Acordo sobressaltada. Não foi um pesadelo! Está tudo muito confuso na minha mente, mas eu ainda consigo lembrar o que rodeou meus sonhos essa noite. Um belo par de olhos verdes. Bom, pelo menos não era o coisa ruim. Vida que segue! Saio correndo para dar conta do que eu não consegui adiantar ontem.

    Durante o dia, as meninas querem saber quem estava no elevador comigo, e só agora me dou conta de que não nos apresentamos, mas a julgar pelos olhos verdes, com certeza ele não era o príncipe. Afinal, o tipo de beleza do povo árabe é diferente, então acho que deve ser algum sócio ou empresário da empresa dele.

    – Não sei. – Respondo sem muito entusiasmo. Já as meninas, estão preparando meu casamento com o cara do elevador. Deus, dai-me tua luz! Já que paciência foi algo que eu não fui agraciada.

    Dia corrido como sempre, vez ou outra uma pergunta tonta sobre o acontecimento de ontem, ou da Adriana ou da Renata, que eu faço questão de ignorar. No fim do dia, estamos entregando os kits de comida, quando uma moça entra no café. Eu lembro dela...

    É a menina que tentei ajudar outro dia e quase apanhei. Vou em sua direção, e ela parece mais magra e abatida, com uma mochila surrada e um pouco suja. Assim que me aproximo, ela vai logo falando:

    – A senhora que me ajudava, ela… ela... – E não consegue terminar porque as lágrimas pulam de seus olhos. Levo ela para o escritório e deixo que se acalme. Por fim, pergunto:

    – Qual é o seu nome?

    – Amber. – Ela responde, no automático.

    – Amber, você tem família para que eu possa ligar?

    – Família? – Ela pergunta, logo em seguida continua repetindo a mesma palavra por umas três vezes, depois responde. – Não, não tenho ninguém, a única pessoa que eu tinha acabou de morrer... – E começa a chorar outra vez.

    – Tudo bem. Venha, alí tem um banheiro, tem toalha e tudo que precisar de higiene. Tome um banho! Vou preparar uma

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