Trilhas
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Trilhas - Mailson Ramos
— CAPÍTULO UM —
Uma trilha a mais
A Belina Del Rey 1989 andava aos solavancos na estrada de terra batida, com o motor engulhando uma gasolina de péssima qualidade que jazia no tanque havia pelo menos um mês. A caranga desconjuntada parecia se desarticular ainda mais com as imperfeições da estrada, os pedregulhos e os bancos de areia. Subia com sofreguidão as colinas, soltando baforadas de fumaça, tossindo nuvens negras que espantavam as aves pelo caminho; nas descidas quase planava, sozinha no meio do nada, sacudindo em menor grau os seus parafusos soltos e a lataria sem soldas. Era cedo e fazia frio. As baixadas nebulosas escondiam árvores grandes, que eram notadas apenas pela copa, a flutuar fantasmagóricas sobre o nevoeiro. O chão parecia úmido, mas era apenas resultado de uma noite de bruma. O orvalho ainda pingava das folhas em gotas cintilantes. A estrada seca era um indicativo que não chovia há muito tempo naquela região. E, aos poucos, o sol foi iluminando a vegetação do semiárido que jazia escondida sob o branco véu da neblina. Primeiro apareceu uma gramínea seca, amarelada, umedecida pelo orvalho que caíra na noite anterior; depois o sol foi arrastando o véu para as taperas, desnudando um relevo de terra avermelhada, coberta por malvas secas e arbustos retorcidos. Quando o nevoeiro se foi, sobrou apenas a paisagem da caatinga, com a prevalência de cores amareladas e mortas. A exceção era um flamboiã que tingia de vermelho a frente de uma casa velha, destacando-se entre angicos desfolhados e umbuzeiros cinzentos.
Irmã Celeste ligou o rádio. Entre uma estação e outra, parou na voz grave e maviosa de um locutor que falava do amanhecer no sertão, com uma viola tocando ao fundo. A freira olhava o tempo. O vento impiedoso que entrava pela janela do carro causava-lhe arrepios. Ela usava um lenço na cabeça para proteger-se do frio e já havia trocado as lentes dos óculos de descanso por lentes escuras. Tinha por volta dos quarenta e cinco anos. A pele do rosto era macia e limpa como a de um bebê. Os cabelos eram tão negros como as penas de um anu. Diziam pelos cantos que ela os pintava, mas pareciam tão naturais que ninguém se atrevia a falar em voz alta o que poderia soar como uma calúnia. Pouco saía do convento. Por um bom motivo, aquela era a terceira vez que rompia a clausura. Carregava consigo a última adolescente do Orfanato Santa Luzia, que havia sido fechado por falta de doações. O convento era mantido por um casal que vivia no interior do estado. Após passarem por uma crise financeira, eles resolveram cancelar a ajuda, de modo que todos os órfãos foram colocados em uma fila de adoção. A última órfã foi justamente adotada por esse casal. Ela vinha no banco de trás da Belina, envolvida em um lençol de lã, agarrada a um cachorro vira-lata de quem não se desgrudava um só minuto e do qual não se conhecia sequer o nome.
Ana Estrela tinha treze anos e uma história de descaminhos e incertezas que fizeram dela a órfã mais famosa daquele lugar. Oito casais a haviam rejeitado. Ela era conduzida pelas freiras até o seu destino e acabava retornando ao orfanato, tempos depois, levada pelos próprios adotantes ou quando não fugia por conta própria. Todos eles diziam a mesma coisa: ela era maquiavélica. Como uma serpente se esgueirava por entre o casal, descobria as suas fraquezas e atirava marido contra mulher, minando assim as condições básicas para a adoção. O motivo não se sabia ao certo. Conversas e mais conversas com as freiras e os psicólogos não retiraram da boca da menina Ana uma só razão; do orfanato ela não gostava, isso era certo. Então, por que voltar ao ponto de origem? Por que não se encaixava em nenhuma família? O que queria com aqueles ardis? Um dia confessou aos murmúrios à abadessa, Madre Augusta, que queria encontrar os seus pais biológicos. Que só descansaria quando os conhecesse. Garantiu que enquanto tivesse vida não cessaria aquela procura. Foram os murmúrios mais altivos que a religiosa ouviu em toda a sua vida. Antes por piedade e depois por perspicácia, a superiora fez com que a menina entendesse a realidade da sua vida antes que fosse tarde demais:
— Então é isso? Meu Deus… Entendo a sua aflição, minha filha. Mas quando você foi deixada na porta deste convento, ainda bebê, não ficou nenhuma pista sobre quem eram os seus pais. É duro dizer isso, mas é quase impossível que eles sejam localizados. O nosso esforço é para que você tenha uma boa família, pai e mãe devotados à sua criação e educação. Gente que possa lhe oferecer muito amor e carinho.
— Não aceito.
— Você não aceita o amor e o carinho? Uma família? Possibilidade de estudar, crescer, casar-se e ter uma carreira de sucesso? Não aceita nada disso? Simplesmente porque acredita que vai encontrar os seus pais? Me diga: por onde vai começar a procurá-los?
A menina permaneceu em silêncio, apegada ao cachorro.
— Este é o fim da estrada, menina. Infelizmente, não podemos mais manter o orfanato. As crianças estão