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Nil
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E-book136 páginas2 horas

Nil

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Sobre este e-book

Um tratamento psicológico é sugerido para Camila, que se sente sozinha, depressiva, e em seu mundo as cores são um cinza. Com o tempo ela se acostuma com a ideia de que o diário é uma companhia íntima, uma companhia prazerosa, e em seu dia a dia descobre que o mundo não é apenas um nuance entre o preto e o branco, e que sim, cabe uma paleta de cores diferente, uma paleta num tom de arco-íris.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de nov. de 2021
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    Pré-visualização do livro

    Nil - Yago Kinoshita

    Nil

    Yago Kinoshita

    Sumário

    Prefácio ........................................................................................ 4

    Capítulo I - Meu Outono Cinza ............................................... 6

    Capítulo II - Meu Inverno Azul ............................................... 67

    Capítulo III - Meu Verão Vermelho ...................................... 151

    Capítulo IV - Minha Primavera Colorida .............................. 214

    Agradecimentos....................................................................... 226

    Prefácio

    A escrita, ela é uma forma de desabafo. Às vezes pode ser um resumo dos seus próprios sentimentos para si, às vezes é um desabafo seu consigo mesmo. A escrita incorpora isso, ela te abraça como um bom ouvinte, ela traz à tona os seus sentimentos para você saber que está tudo bem. É a sua voz dizendo a si: Me conta, como você se sente hoje?.

    - Alphos Serafim.

    Capítulo I

    -

    Meu Outono

    Cinza

    18 de Janeiro, 2021.

    Meu querido diário. Enfim, acho que sempre escutei que era assim que começava a escrita de um dia em um diário, mas isso me deixou um pouco desconfortável, Talvez eu mude a forma, não sei. De qualquer forma, vou começar a escrever alguns dos meus dias aqui, foi uma sugestão da minha psicóloga, segundo ela isso vai me ajudar a desabafar alguns dos meus sentimentos. São por volta das nove horas da noite, estou aqui sentada no sofá com você no meu colo, e pensando certinho no que escrever, é um pouco estranho.

    Hoje meu dia foi como qualquer segunda-feira, acordei cedo, mais do que muitas pessoas, meu emprego de barista exige que eu prepare cafés da manhã para as outras pessoas que acordam cedo, e eu gosto disso, gosto do que faço, e tudo seria bem ideal se não fosse pelo ambiente, gerente chato, chefe insuportável, alguns colegas de trabalho são insuportáveis, o que me agrada é o cheiro do café, todas aquelas máquinas processando e me dando os materiais necessários para realizar o meu serviço e dar um pouco de sabor nas manhãs, nas tardes

    e no fim do dia de algumas pessoas. Gosto do que faço, e quem sabe um dia vou ter um lugar próprio.

    Acho que é assim que se escreve um diário, se não for, tudo bem, assim vai ser o meu jeito.

    Uma boa noite.

    20 de Janeiro, 2021.

    É engraçado como certas coisas ficam na nossa cabeça. Escrever um diário deveria ser algo rotineiro, e por não ter escrito nos dias anteriores acho que isso me fez me sentir culpada. De qualquer forma, trouxe você para o café hoje e escrevo durante meu horário de almoço. Foram dias um pouco complicados, por vezes me senti sozinha e apenas com a vontade de não fazer nada, assistia algumas coisas na televisão, mas nada me parecia atrativo o suficiente para prender a minha atenção por um tempo. Tudo só parecia ser chato.

    No trabalho, mais uma vez tive que lidar com as inconveniências de comentários por ser mulher, e por cansaço de ouvir tantas coisas, tantas vezes, respondi apenas com um sorriso amargo no rosto, o pior de tudo é que isso vem do meu gerente e do meu colega de trabalho, tenho que refutar basicamente todos os dias convites para sair do Bruno, meu gerente, e aguentar piadinhas sem nenhuma graça do Gustavo que trabalha comigo. Queria logo poder conseguir de alguma forma um dinheiro e abrir meu próprio café. Isso sim, isso me

    dá um certo ânimo, ter meu próprio lugar, e trabalhar para mim.

    Enfim, meu querido diário que esqueci de colocar no começo, espero que você abrace esse desabafo. Uma boa tarde.

    21 de Janeiro, 2021.

    Diário, hoje foi um dia melhor, o tempo chuvoso, esse tom de cinza no céu me dá um aconchego, talvez seja apenas um reflexo de como eu me sinto. Me peguei pensando que escrever alguns dos meus dias me dá um sentimento de intimidade com você, talvez te chamar de

    Diário seja esquisito para essa intimidade toda. Eu sei, é um pensamento bizarro, mas talvez eu te dê um nome, acho uma boa ideia.

    Em tempos chuvosos as pessoas se tornam mais tendentes a ir no café, e isso faz o meu dia ser mais corrido, e assim, muitas coisas se tornam melhores, algumas se repetem, hoje o Bruno me chamou para sair de novo, e como sempre, eu recusei, já saí com ele uma vez, e a experiência não foi legal, ele queria forçar a barra, eu tinha acabado de conseguir o emprego, e ele com alguns comentários deixou meio claro que poderia me favorecer se tivéssemos um relacionamento, achei isso uma atitude bem ridícula da parte dele, e claro, recusei, disse que só queria trabalhar fazendo o que gostava, ele me respondeu com um "vamos ver até onde

    você aguenta". Me senti desafiada e ao mesmo tempo apavorada. Isso faz alguns meses já.

    Como eu escrevia, hoje inúmeras pessoas passaram pelo café, acho engraçado como um ambiente assim atrai gente de inúmeros estilos, pessoas de terno, executivos com pastas que passam ali e tomam um expresso, outras que fazem uma reunião, casais que querem aproveitar um momento juntos, pessoas sozinhas que querem apenas um café diferente com algo para comer e passam um tempo ali com seus celulares, na maioria das vezes são pessoas simpáticas, algumas até eu já reconheço por ver diversas vezes, alguns às vezes pedem certos desenhos com a espuma do café e tiram suas fotos, postam nas redes sociais, me dão alguns elogios, algo que me faz sentir uma leve e tranquila felicidade. Eu realmente gosto do emprego de barista, e não me arrependo nem um pouco por ter feito o curso. O

    cheiro, o gosto, saber dos grãos certos, e poder oferecer esses cafés diferentes é uma coisa muito gostosa.

    Obrigado pela companhia, Diário.

    23 de Janeiro, 2021.

    Sábado à noite, cheguei em casa com uma garrafa de vinho, e acabei de abrir, acho que o que eu entendo sobre café, eu não sei sobre vinhos. Passei no mercado para comprar algumas coisas e vi esta garrafa, aproveitei e comprei para nos fazer companhia. Tem um aroma sutil, é doce e gostoso, acho que com umas duas taças e eu já fico bem para dormir. Talvez eu coloque um filme para assistir mais tarde, não sei se revejo algum, ou se busco um novo, depois eu vejo no catálogo de streaming.

    Os meus sábados sempre são assim, faço meu período no café na parte da tarde então é um dia que eu acordo mais tarde consigo organizar melhor a minha manhã, fico até umas seis horas da tarde por lá. Sábados são dias diferentes, algumas coisas se repetem, as pessoas que aparecem por lá, os mesmos engravatados, mas tem uma queda nas pessoas que vão sozinhas, e aparece mais famílias, mais crianças, é engraçado ver a surpresa delas quando consigo desenhar uma princesa da disney, ou um super-herói que elas gostam, por vezes é até um desafio.

    Acho que não te contei, Diário, mas meu nome é Camila. Escrevi aqui as minhas ambições e sonhos, mas não cheguei a te escrever como eu sou, e acho que mais para frente vou poder fazer isso melhor, eu realmente enxergo isso como uma relação em que a gente vai construindo uma intimidade e apesar de não saber nada de você, até porque você é só um bom ouvinte, sinto que é uma ótima terapia, falar sobre mim apenas. Acho que sinto falta disso nos meus dias.

    E parabéns para mim, acabei de derrubar um pouco de vinho na roupa. Um vinho que gostei muito por sinal. Obrigada pela companhia e uma boa noite, querido.

    25 de Janeiro, 2021.

    Não escrevi nada ontem. Foi um típico dia em que o meu pai veio passar comigo. É uma relação complicada. Ele vem, fica aqui, conversamos um pouco, por vezes os mesmos assuntos das mesmas semanas. Eu sinto que ele se sente obrigado a vir, eu perdi minha mãe há uns dois anos atrás. Ela era uma amiga íntima e eu sempre contava tudo a ela, foi ela que me mostrou diversos cursos, eu me lembro bem, eu disse a ela que não pretendia fazer uma faculdade, que não me sentia necessariamente encaixada ou que alguma daquelas tão atraente profissões para muitos não me definia, e então a resposta dela foi: tudo bem, então vamos ver o que você pode gostar de fazer, eu me lembro até hoje, ela tinha um brilho aconchegante nos olhos, essa conversa foi numa manhã de uma quarta feira, ela tinha acabado de chegar do hospital de um plantão médico na ala da pediatria, tinha em mãos uma caneca com um café que exalava um gostoso cheiro, e foi assim, mesmo cansada ela pegou o celular do bolso que não durou muito tempo porque a bateria estava fraca, então, ela se deu o trabalho

    de pegar um notebook, e passou ali comigo, horas e horas procurando um curso, até encontrar esse de barista.

    Tenho comigo até hoje a caneca daquele dia, foi uma das coisas que fiz questão de trazer comigo quando saí da casa do meu pai.

    Então, em um certo dia, um dia de chuva, dezessete de agosto de 2018, sexta-feira, ela repetindo a sua rotina de plantão, vindo para casa, um acidente de carro, um pouco confuso, ela dirigia de volta para casa quando um outro motorista num cruzamento ignorou o sinal vermelho, e em alta velocidade bateu com seu carro no lado do motorista que era justamente a minha mãe.

    Meu pai recebeu a notícia do acidente, e não tivemos a oportunidade de dizer um adeus, as últimas palavras da minha mãe para mim foram: uma ótima noite, e já eu volto para te dar um bom dia.

    Eu acordo até hoje com a esperança de que esse bom dia possa acontecer.

    Enfim, hoje foi dia de consulta, talvez isso tenha me despertado todo um sentimentalismo, e por isso senti que podia te contar tudo isso.

    Boa noite!

    26 de Janeiro, 2021.

    Acho que as lembranças da minha mãe mexeram comigo, hoje eu servi um café e o aroma me lembrou muito o daquele dia, do dia em que ela me disse o tudo bem mais confortável que eu podia receber, mais até do que eu esperava. Não me tornei barista por causa dela, e acho que depois de me tornar que a minha memória sensitiva ficou mais evidente. Podia não ser o mesmo café, e a verdade é que não

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