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Não Ressuscite
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E-book204 páginas2 horas

Não Ressuscite

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Sobre este e-book

Um homem a beira da morte conta para sua bisneta que assinou uma ordem de não reanimação, instruindo a equipe médica a deixá-lo morrer, caso seja constatada morte cerebral. Ele é convidado a participar de uma longa jornada, que ele acredita se passar em seu subconsciente enquanto seu corpo é mantido vivo contra sua vontade. O que acontece perante ele pode ser uma alucinação elaborada causada pelo efeito psicodélico dos anticolinérgicos correndo pelo seu corpo, ou esses eventos estranhos e catárticos estão realmente acontecendo?
IdiomaPortuguês
EditoraTektime
Data de lançamento10 de set. de 2020
ISBN9788835412328
Não Ressuscite

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    Não Ressuscite - Charley Brindley

    Capítulo um

    23 de março, 2019

    Passei minha mão pelo meu rosto tentando limpar a névoa que cobria minha mente. Enquanto o fazia meus dedos sentiram algo preso em meu nariz.

    Que droga é essa? Onde eu estou?

    O tubo parecia estar até a metade da minha garganta. Tentei tirá-lo mas estava grudado ao meu rosto. Meu cérebro estava confuso, dissipando-se. Tentei me concentrar.

    Nada além de imagens confusas. Nada em que possa me prender. Olhos abertos mas visão embaçada de… o que? O interior de uma nuvem. Várias coisas brancas e metais brilhosos. Tubos. Um apito constante.

    Hospital. Ah sim. Aquela médica parecia ter 12 anos de idade. Era ríspida demais para ser uma criança.

    Senti como se tivesse sido esmagado e reconstruído em um pedaço de lixo. Não sentia muita dor; apenas uma mente pesada, como se tivesse sido cheia de cimento fresco.

    Eles me doparam de analgésicos.

    Tudo bem.

    Espero que se lembrem, não ressuscitar. Não quero me prender a uma vida de tubos, respiratórios e monitores apitando.

    Um sussurro sutil.

    Homem em azul, um belo azul cinzento. Outro médico? Ótimo, não é um adolescente. Por favor, não me enrole com alguns anos disso que chamam de vida. Estou com quase 80 anos. Mais alguns anos de miséria e dificuldades para Caitlion não é o que quero. Apenas tire esses tubos e me deixe ir.

    O homem em azul puxou uma cadeira ao lado da minha cama, sentou, e sorriu.

    Não mediu meus sinais vitais, não encarou os monitores, nada de estetoscópio pendurado em seu pescoço, não enfiou agulhas em mim; apenas sorriu. Era um cara alto, talvez 1,90, magro, barba clara, cabelo castanho, olhos azuis, azul escuro, como aquele primeiro tom da noite.

    Por que você está tão… ah, garganta seca. Engoli. tão animado?

    Está quase na hora.

    Sua voz era suave, não tão masculina como imaginei. Era mais como a voz da minha mãe, de quando eu era criança. Macia, agradável, fazia eu sentir que tudo ficaria bem.

    Outro som. A porta rangendo ao abrir. Virei minha cabeça no travesseiro para ver a enfermeira.

    Ela checou os monitores. Imaginei por que o médico não se interessou pelas informações.

    Ela tocou com a unha vermelha em um visor digital, então sorriu para mim, ignorando o médico.

    Tentei devolver a simpatia. Ela era bonita e jovem, uns vinte e poucos. Sua pele era como o marrom suave do trigo de verão.

    Está se sentindo bem, Sr. Brindley?

    Acenei com a cabeça.

    Vão trazer para você um mingau e suco de ameixa seca. E então o médico vai vir falar com você.

    Quando tentei levantar minha mão direita para apontar ao médico sentado ao meu lado, ela foi impedida por um tubo e duas agulhas inseridas nas costas da minha mão.

    Ela se foi antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

    Você provavelmente deve pedir para ver sua família, o médico disse.

    Ruim assim, ein?

    Ele acenou. Precisamos começar.

    Se conheço minha bisneta, ela está por aqui em algum lugar.

    Dormindo em uma cadeira, na sala de espera.

    Você pode chamá-la?

    Não, você precisa apertar o botão.

    Onde ele fica?

    Logo ao lado da sua mão.

    Ah, aqui.

    Eu me atrapalhei com o botão, então apertei. Minha enfermeira se apressou para entrar.

    O que posso fazer por você, querido? Ela colocou a mão suavemente em meu ombro. Eu gostava dela. Ela era gentil.

    A Caitlion está por aí?

    Ela acenou. Imagino que sim. Ela fica aqui mais do que eu.

    Pobre criança. Ela vai ficar bem? Espero que ela esteja preparada. Segui firme até que ela fizesse 18. Eu não queria outras pessoas tomando decisões por ela. Tinha sido só eu e ela desde quando ela tinha 2 anos, quando sua mãe fugiu com um caminhoneiro de Wichita. Em algumas semanas, Caitlion estará bem de vida. Sozinha, mas poderá ir para a universidade, ou para a Europa... Seja lá o que ela queira fazer. Sei que será um período difícil.

    Biso.

    Lá estava ela, minha linda menina, segurando minha mão e se abaixando para um beijo na bochecha. Seu nome, Caitlion, como Kate Leão, veio de uma fala arrastada de sua mãe quando estava chapada de fentanil e heroína. Ela estava tentando dizer Tavião, seja lá o que isso significa.

    Ei, querida.

    Ela vestia jeans rasgados propositalmente e uma camiseta rosa que dizia ‘5 a cada 4 pessoas têm dificuldade com matemática.’

    Isso me fez sorrir.

    Você parece bem hoje. Ela disse.

    Longo cabelo ruivo escuro. Seus olhos castanhos eram profundos, com um toque de mistério, como se escondessem um segredo. Ela tingiu os últimos 15 centímetros do cabelo com um tom claro de mel, que ela chamava de babylights. E sempre, o belo sorriso.

    Eu soltei um pouco de ar pelo tubo em meu nariz e acenei com a mão, afastando suas palavras. Eu acho... acho que é isso, querida.

    Não, Biso. Não é. Ela pegou minha mão, tomando cuidado com a injeção.

    Capítulo Dois

    10 de agosto, 1945

    Eu entrei pela porta no fundo da sala de aula e peguei o único lugar vago.

    Quem é você?

    Era meu primeiro dia na escola Fordland. O pequeno homem na frente da classe ficou me encarando. Ele estava com um terno azul, um colete preto e uma grande gravata floral. Eu nunca tinha visto um homem dando aula antes.

    Ch-Charley Brindley.

    Maravilha. Menino Brindley número cinco. Existem mais de você?

    Eu não sabia o que ele queria dizer. Mais alguns irmãos, ou outros Brindleys? Balancei minha cabeça.

    Por que estão todos olhando para mim?

    Ouvi uma menina soltar uma risadinha. Eu me abaixei, encarando o enorme livro de inglês na minha mesa.

    Posso simplesmente me arrastar embaixo dele e morrer?

    Certo. O professor voltou ao quadro-negro. Tentaremos prosseguir sem o benefício do seu comentário. Ele pegou um pedaço de giz. Sr. Winter Coldstream, ele disse enquanto escrevia seu nome na lousa. Sim, minha mãe tinha um ótimo senso de humor.

    Ele soltou o giz na bandeja e limpou suas mãos. Quem sabe me dizer as oito partes da oração?

    Seis mãos se levantaram. Todas de meninas.

    O Sr. Coldstream procurou entre as meninas sorridentes. Seus olhos se voltaram para mim. Brindley?

    Ninguém nunca me chamou pelo sobrenome antes. Eu olhei para baixo e engoli.

    Você sabe quais são?

    Eu nem sabia que orações tinham partes. An... Peguei meu livro e o abri.

    Você devia ter aprendido isso na quarta série. Ele olhou ao redor da sala. Você, qual é o seu nome?

    Ember Coldstream.

    Eu pensei que você parecia familiar. Nomeie-as.

    As outras abaixaram as mãos.

    Ember sorriu e nomeou as partes da oração.

    Ela é tão bonitinha, e inteligente também.

    Muito bom, Ember. Ele olhou pela sala. O que é um adjetivo?

    As mesmas seis meninas levantaram as mãos.

    Brindley?

    Ah, meu Deus. Por que ele continua me perguntando essas coisas?

    Encarei meu livro aberto, em silencio e sem me mexer, torcendo para desaparecer da face da Terra. Senti meu rosto corar, e eu sabia que todos estavam me assistindo, provavelmente rindo para si mesmos sobre a minha estupidez.

    Bem, acredito que Brindley está tão envolto em cálculos matemáticos que seus ouvidos bloquearam todos os estímulos externos.

    Várias crianças riram, um menino mais alto que os outros. Eu sabia quem ele era.

    Henry Witt. Ele provavelmente nem sabe o que um estímulo é. Eu com certeza não sei.

    Qual é seu nome? O professor perguntou para outro aluno.

    William Dermott.

    Certo, William. O que é um adjetivo?

    Por que ele me chama pelo sobrenome e todos os outros pelo nome?

    An... William olhou para suas mãos, para o chão, para a janela. An... uma pessoa, um lugar, ou uma coisa?

    Errado. Alguém sabe qual a parte da oração para uma pessoa, lugar, ou coisa?

    As mesmas seis meninas de novo.

    O Sr. Coldstream caminhou pela frente da sala e parou na frente de uma menina com a mão no ar. Quem é você?

    Juliet Dermott. Ela abaixou a mão.

    É mesmo? Você conhece o Sr. William Dermott logo ali?

    Gostaria de não conhecer. Ela olhou para William.

    Você pode responder à pergunta, Juliet?

    Substantivo.

    Ela é bonita, e inteligente, como a Ember.

    Correto. Como são chamadas as palavras que modificam um verbo?

    Por favor não me pergunte de novo. Eu não sei nada disso.

    Advérbios. Disse Juliet.

    Certo.

    Eu não sabia que o tempo podia passar tão devagar. Ei, eu usei um advérbio.

    Vamos falar sobre diagramação da sentença, certo? O Sr. Coldstream escreveu na lousa, ‘A rápida raposa marrom pula por cima do cachorro preguiçoso.’

    Diagramação? Isso é sobre uma raposa e um cachorro.

    Os 55 minutos na aula de inglês do nono ano do Sr. Coldstream pareceram 55 horas. O soar do sino era como música para meus ouvidos. Peguei meu livro e me apressei para o saguão.

    Ei, caipira.

    Eu me virei e vi um menino alto encostado na parede. Ele tinha cabelo vermelho e uma centena de sardas.

    O que você está fazendo aqui?

    Outro menino e duas meninas estavam com ele. Eles me encararam, esperando que eu dissesse algo.

    Indo para a aula de história.

    Não, o que está fazendo nessa escola?

    Eu não sabia o que ele queria dizer. Eu encolhi os ombros.

    Você precisa ir para o ensino fundamental primeiro.

    A escola de uma sala só que eu frequentava tinha séries da primeira à oitava, mas nada de ensino fundamental. Ah.

    Que idiota. O outro menino disse. Era Henry Witt.

    Ele nem sabe o que é ensino fundamental. Ember disse.

    Todos riram de mim.

    Amei o macacão. Ember disse, depois soltou uma risada.

    Eu me virei, querendo correr do prédio e ir para casa, mas me forcei a me afastar lentamente.

    Preciso encontrar minha classe de história.

    Desci pelo saguão, e então voltei.

    Devo ter passado por ela sem ver.

    Ouvi algumas meninas cantando. Patsy, gorda, baleia, saco de areia.

    Virando a esquina do corredor, vi um grupo de quatro meninas de frente com uma menina a cima do peso.

    Patsy, gorda, baleia, saco de areia elas cantaram, e riram da garota enquanto as lágrimas escorriam por suas bochechas.

    A coitada estava presa contra seu armário, sem nenhum lugar para ir. Seus olhos azuis como o céu estavam cobertos de lágrimas. Ela limpou o rosto na manga e se virou para encostar a cabeça no armário. Seu cabelo longo e loiro se enrolava sobre os ombros. Ela era grande, provavelmente mais de 100kg, mas por que

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