Frederico da Cunha - gestor empático e próximo das equipas
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Sobre este e-book
Esta obra acompanha a carreira de um gestor que, aos 22 anos, entra no Grupo CUF como estagiário e, uma década depois, assume a direcção de todas as fábricas do Barreiro. Frederico da Cunha tem um papel decisivo na reestruturação da CUF em 1970, mas, com a revolução de Abril de 1974, seria preso em Caxias, por ser cunhado de Jorge de Mello (marido da sua irmã) e de Manuel Ricardo Espírito Santo (irmão da sua mulher). Um ano depois, é saneado da CUF.
Dedica quatro décadas da sua carreira ao Grupo Queiroz Pereira, contando neste livro os detalhes da privatização da Secil e da Portucel Soporcel. A obra põe ainda a descoberto os meandros da queda do Banco Espírito Santo, escândalo e saga familiar em que Frederico da Cunha é peça central na revelação da verdade.
Maria João Alexandre
é jornalista e coordenadora de edições especiais na área dos negócios há mais de 20 anos, colaborando com grupos de media líderes em Portugal. Estreou-se na escrita de histórias de vida em 2018, com a publicação da biografia de Carlos de Abreu Faro, engenheiro químico português e criador do famoso sabão Clarim para o Grupo CUF. Em Memórias de Um Inovador, conta a história da infância do engenheiro, passada na Casa Pia, da criação do sabão Clarim e do primeiro hipermercado em Portugal. É ainda autora de duas biografias da colecção «Histórias de Liderança», incluindo este José Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas e outra obra no prelo.
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Frederico da Cunha - gestor empático e próximo das equipas - Maria João Alexandre
Frederico da Cunha –
Gestor Empático e Próximo das Equipas
Título: Frederico da Cunha: Gestor Empático e Próximo das Equipas
Autora: Maria João Alexandre
© Fundação Amélia de Mello, 2022
Reservados todos os direitos
A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.
Revisão: Inês Castelhano
Design de capa: Ilídio J.B. Vasco
Paginação: André Cardoso
Fotografia da capa: Gonçalo Português
Fotografias do Extratexto: Acervo pessoal de Frederico da Cunha
Isbn: 978-989-702-812-0
Guerra e Paz, Editores, Lda
R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.
1150-105 Lisboa
Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489
E-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt
www.guerraepaz.pt
«Histórias de Liderança» e alguns ensinamentos para o futuro
A gestão é normalmente abordada como uma prática, uma actividade, uma técnica, mas é também o domínio profissional a que se dedicam milhares de pessoas, mulheres e homens, que, dia após dia, procuram criar, desenvolver e melhorar as organizações em que trabalham, em contextos de organizações alargadas ou até de dimensão reduzida. Sendo inúmeros os livros de gestão publicados todos os anos, raros são os que se dedicam às biografias daqueles cujas vidas fazem mover as organizações das sociedades modernas.
Os problemas e paradoxos com que os gestores se confrontam hoje são, na sua essência, os mesmos com que cada um de nós se confronta diariamente: questões e dúvidas «permanentes» que, em sentido geral, se repetem ao longo dos tempos.
A colecção «Histórias de Liderança» tem por missão ajudar a compreender o percurso das organizações e da sua gestão em Portugal através das histórias de vida de alguns dos seus gestores.
A nossa ambição é podermos receber também os contributos de pessoas que se destacaram nos seus sectores de actividade, numa abordagem de um gestor em sentido amplo.
Aproveitando a ligação natural da Fundação Amélia de Mello à extensa e muito rica actividade do antigo Grupo CUF, optou-se, numa fase inicial do projecto, por ir buscar exemplos de gestores que se destacaram, de forma relevante, nessas empresas. Esta opção pode ser considerada, sem grande dificuldade, um corolário da expressão «Tradição do Futuro», que passou a fazer parte integrante do léxico do antigo Grupo CUF e que, resumidamente, significa apontar caminhos para o futuro a partir dos exemplos de excelência do passado.
Numa outra perspectiva, a colecção «Histórias de Liderança» centra-se nos gestores, mas não esquece que as boas organizações são o resultado da colaboração de muitos outros, maioritariamente anónimos. E tem o duplo propósito de ajudar a preservar a memória empresarial de Portugal com base em experiências vividas, mas não fixadas como hagiografias, por um lado, e de contribuir para melhor compreendermos o passado, de modo a facilitar as escolhas para o futuro, por outro lado.
Por último, importa explicar que a lógica subjacente às primeiras escolhas dos biografados se baseou na circunstância de ser possível ter depoimentos de viva voz, sem que isso invalide a nossa intenção de partilhar também histórias de vida exemplares de alguns gestores já falecidos.
A colecção «Histórias de Liderança» é dinamizada pelo Centro da Memória Empresarial da Nova School of Business and Economics, com o apoio da Fundação Amélia de Mello.
Índice
Prefácio, por António Galvão Lucas
PARTE I
Colaborar com o Brasil a fazer adubos compostos
A tradição da inovaçãoe investigação na CUF
Os termos do contrato 40-60
Parceria com o Grupo Ipiranga em risco
O dia da assinatura e o apoio de Galvão Lucas
O alcance do planeamento e da internacionalização
Os dias na prisão de Caxias
Um telefonema de aviso
Ser líder em tempos de revolução
PARTE II
Contributos para a Companhia União Fabril
Greve e despedimentosna Zona Têxtil
Formação de quadros no topo das prioridades
A intervenção da McKinseyno Grupo CUF
A relação com Jorge de Mello
Injustiças da Revolução afectam o patrão
PARTE III
Saneamento: de volta ao Brasil
PARTE IV
Oportunidades sem fim em Portugal
A relação com Manuel Queiroz Pereira (pai)
Emoções à flor da pele na Sociedade Nacional de Sabões
Lições de gestão na cerâmica portuguesa
Apostas em agricultura e turismo
PARTE V
De desportista sem formação a grande empresário
Reuniões estratégicas em segredo
Desafios da privatização da Secil e da Portucel Soporcel
Uma homenagem a Pedro Queiroz Pereira
Quatro décadas no grupo familiar Queiroz Pereira
PARTE VI
Queiroz Pereira e Espírito Santo: felizes parcerias e conflitos fatais
Controlar o Grupo Queiroz Pereira
Um acordo histórico de separação de participações
O carisma do mais «poderoso» de todos
Origem de dois grupos vizinhos
O Ritz como um veículo
Grande gala de inauguração
Um namoro bem amparado
PARTE VII
Como a queda de um burro pode abrir mundo
Herdar a afición do pai, mas não a profissão
Primária e liceu
A licenciatura e os três estágios profissionais
PARTE VIII
Legado familiar para as próximas gerações
Casamento e filhos
Netos e bisnetos
Herança de dois títulos nobiliárquicos
Doação do arquivo de família à Torre do Tombo
Imóveis de família
Quinta de D. Carlos
PARTE IX
Ensinamentos para o futuro
Pessoas que marcam
Contacto 5: três dias sem dormir
Reflexão pessoal
Ponto final.
A empatia na função do gestor
ANEXOS
Cronologia
Prefácio
Há mais de 50 anos, mais concretamente no dia 7 de Outubro de 1968, tive o meu primeiro contacto profissional com Frederico da Cunha na sua qualidade de director das fábricas da CUF no Barreiro, dia em que ingressei na empresa, após a conclusão do curso de Engenharia Químico-Industrial.
Nesse primeiro encontro, ficou desde logo claro que eu estava perante alguém que, independentemente de mostrar um conhecimento perfeito do que era a CUF e do orgulho que tinha em participar na condução dos destinos da empresa, à época um dos 200 maiores conglomerados empresariais do mundo fora dos Estados Unidos (o que, aliás, me transmitiu, dando-me a conhecer um número recente da revista Americana Fortune, onde tal vinha mencionado), se tratava de uma pessoa possuidora de um enorme profissionalismo, de uma afabilidade e de uma elevação invulgares.
Por tudo isto, saí desse encontro com um entusiasmo e uma motivação que não só nunca esqueci, como me acompanharam ao longo de toda a minha carreira no Grupo CUF, até à sua nacionalização, e posteriormente em vários projectos em que continuei, com ele, a colaborar.
Sabia da dimensão do Grupo CUF, da escola que efectivamente constituía e do espírito de que todos os que no Grupo colaboravam estavam imbuídos, mas Frederico da Cunha, por tudo o que transmitiu e pela forma como o fez, acrescentou, e muito, ao que era sabido à época, revelando viver e acreditar no que transmitia e dando mostras de uma enorme capacidade de liderança e de motivação.
Não dependendo directamente de Frederico da Cunha, nem no início da minha carreira no Grupo CUF nem mais tarde, quando passou a ser director da Divisão de Adubos e Pesticidas e posteriormente administrador de todo o Sector Químico, tive a oportunidade de conhecer a sua grande vontade e capacidade em inovar e tudo fazer para que o Grupo fosse de facto líder em todas as frentes, utilizando as mais modernas ferramentas de gestão.
Isso ficou evidente no entusiasmo como conduziu e acompanhou a intervenção da McKinsey, em todos os projectos em que esta empresa líder de consultoria levou a cabo dentro do Grupo.
Nessa fase, também pude confirmar outra característica muito positiva e rara de Frederico da Cunha: a sua capacidade de criar e manter equipas de quadros, que trabalhavam com um espírito de colaboração e com uma motivação, só possível graças à sua liderança única de equipas – essas que se excediam no desempenho e se transformavam em verdadeiros grupos de amigos.
A partir do momento em que acedi ao seu convite para desempenhar funções em empresas participadas do Grupo, no Brasil, passei a ter uma relação profissional directa com Frederico da Cunha.
Para além de ter confirmado o entusiasmo e o mérito que pôs e teve na internacionalização do Grupo que nessa altura se iniciava, constatei um enorme valor acrescentado que trazia ao Grupo no desempenho das suas funções.
A forma como se relacionava com todos os interlocutores, fossem parceiros, sócios, fornecedores, clientes, enfim, todos os que tinham com o Grupo relações por seu intermédio, em que tudo o que representava era posto à disposição do Grupo, de forma afável e elevada.
Estas características estiveram sempre presentes em todas as frentes em que vi Frederico da Cunha intervir e constituíram um exemplo na carreira de muitos dos quadros, quer dentro quer fora do Grupo CUF, que com ele tiveram a felicidade de trabalhar.
Durante o período que decorreu desde a saída do Brasil até praticamente ao presente, colaborei com Frederico da Cunha em vários projectos, nomeadamente na área dos adubos e da cerâmica, numa relação mais de sócios com responsabilidades de gestão.
Não esquecendo as inúmeras qualidades já referidas, Frederico da Cunha veio ainda acrescentar ao que já lhe conhecia uma capacidade enorme de adaptação à gestão de empresas de muito menor dimensão que o Grupo CUF, numa gestão mais hands on, e tendo ocasionalmente de gerir conflitos, sobretudo resultantes da conjuntura macroeconómica envolvente, com um profissionalismo e uma eficácia inultrapassáveis.
António Galvão Lucas
Engenheiro e quadro superior da CUF, que integrava o projecto de aliança da CUF com o grupo Ipiranga no Brasil
Frederico da Cunha
Gestor Empático e Próximo das Equipas
PARTE I
Colaborar com o Brasil a fazer adubos compostos
A viagem ao Brasil não estava prevista. Pelo menos, não naquela data. Frederico da Cunha deveria voltar a Lisboa de uma viagem a Buenos Aires, capital da Argentina, quando decidiu, por sua iniciativa, alterar a agenda e voar para Porto Alegre, capital de Rio Grande do Sul, no Brasil.
Estávamos em 1971 e o engenheiro químico, incumbido de internacionalizar a área de adubos e pesticidas da Companhia União Fabril (CUF), vinha de Buenos Aires, onde tinha participado na 5.ª Assembleia de Comércio Ibero-Americano e Filipino, representando Portugal a convite de Alexandre Vaz Pinto, à época secretário de Estado do Comércio do Governo de Marcelo Caetano. O governo procurava ajudar as empresas que queriam crescer além-fronteiras através destas iniciativas.
Ao mudar a rota, a sua ideia era dar um passo em frente numa negociação entre a CUF e o Grupo Ipiranga, uma refinaria de petróleo brasileira, nascida em 1937, com negócios também nos adubos.