Mantenedoras e Mantidas: Uma Relação de Poder
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Mantenedoras e Mantidas - Léu Soares Oliveira
O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: UMA VISÃO PANORÂMICA
A educação, base primordial para o desenvolvimento humano, vem sofrendo, desde a colônia até à atualidade, grandes mudanças em busca de uma excelência.
No Brasil, só 10% dos brasileiros, entre 18 e 24 anos, frequentam curso superior, o que representa um dos percentuais mais baixos do continente, inferior, inclusive, ao percentual de universitários da Bolívia e Colômbia. A necessidade premente de ampliar o acesso à educação superior é reconhecida de forma unânime na academia, no setor empresarial e no governo como pré-requisito básico para a retomada do crescimento e do desenvolvimento sustentável. A meta do governo é elevar o percentual a 30% até o fim da década, em seu Plano Nacional da Educação Brasileira.
A crescente demanda do mercado de trabalho por profissionais cada vez mais capacitados levou o governo, inclusive, a facilitar a abertura de novos cursos na iniciativa privada para ampliar as vagas disponíveis. Com isso, o número de matrículas cresceu de forma explosiva: a taxa média anual de crescimento das matrículas, em cursos de graduação, que foi de 1,07% entre 1983 e 1993, saltou para 9,5% entre 1993 e 2003. Só em 2002, o número total de matrículas cresceu quase 15%. No número de vagas ofertadas no processo seletivo, a expansão foi maior ainda: o aumento chegou a mais de 25% em 2000 e 2002, ficou em 16% em 2001 e, 13% em 2003. Isso significou que, em dez anos, as vagas para ingressantes quase quadruplicaram (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA – INEP, 2006).
A evolução do número de matrículas no ensino superior das instituições privadas brasileiras, nos anos de 2000 a 2005, é descrita na TAB. 1:
Tabela 1 - Evolução do número de matrículas no ensino superior nas instituições privadas brasileiras
Fonte: INEP, 2006, p. 35.
Vale registrar que já foram diversas as mudanças nesse setor, entretanto, para as Instituições de Ensino Superior (IESs), suas mantenedoras e mantidas, ainda existe um grande caminho a ser percorrido. Existem percalços que devem ser bem trabalhados visando a buscar esclarecimento acerca das relações de poder e da regulação de conflito entre elas.
Para isso, procurando esclarecer pontos, que são de fundamental importância para o processo de regulação de conflitos entre atores organizacionais de mantenedoras e mantidas, é que se abordarão neste tema referências à evolução da educação brasileira, à expansão da educação superior no Brasil, à regulação de conflitos, às relações de poder e, principalmente, às IESs e suas mantenedoras e mantidas.
ESTRUTURA DAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR: QUE CAMINHO SEGUIR?
A arquitetura das Instituições de Educação Superior brasileiras, composta de mantenedoras e mantidas, foi criada na década de 1960, em pleno regime militar. Até aproximadamente a 1996, as relações entre essas entidades eram aparentemente tranquilas e se davam num clima de submissão.
A partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), com sua flexibilização, e do Plano Nacional de Educação (PNE), com suas metas, deu-se a explosão do ensino superior brasileiro o que, consequentemente, resultou numa inquietação entre mantenedoras e mantidas numa busca de definição dos seus respectivos papéis.
Nesse clima de inquietação, buscar-se-á responder à seguinte pergunta: como ocorre a regulação de conflitos nas relações de poder entre instituições mantenedoras e mantidas?
A GESTÃO UNIVERSITÁRIA NO CONTEXTO DE UMA IES PRIVADA
A gestão desse tipo de organização tem características muito específicas e complexas que merecem ser estudadas e analisadas.
As IESs, em função da legislação, têm estrutura e dinâmica que as configuram como um macrossistema composto por dois subsistemas autônomos e independentes, porém complementares e dissociados: a entidade mantenedora e a entidade mantida, que representam, respectivamente, o interesse financeiro e a natureza acadêmica da IES.
Tabela 2 - Evolução do número de cursos no ensino superior nas instituições privadas brasileiras
Fonte: INEP, 2006, p. 36.
Os últimos anos (1993-2006) foram marcados pela exagerada expansão do ensino superior, impulsionada pela política de governo praticada pelo Ministério da Educação, cujas ações flexibilizadoras desaguaram num ambiente de insatisfação e de inquietação no sistema de ensino superior, como demonstra a TAB. 2.
Em função da massificação do ensino médio, a partir de 1996, e das políticas públicas adotadas pelo governo federal, houve grande flexibilização no processo de abertura de novas IESs e de novos cursos superiores. Essa flexibilização deu-se fundamentalmente no setor privado, que passa por um processo de expansão sem precedentes na história da educação brasileira, cuja amplitude trouxe repercussões em várias áreas sociais, econômicas e produtivas, como fica demonstrado na TAB. 3.
Tabela 3 - Evolução do número de instituições de ensino superior privadas no Brasil
Fonte: INEP, 2006, p. 36.
As contradições presentes na própria sociedade, nas políticas, nas normas oficiais e nas relações internas dos grupos constitutivos da instituição desafiaram o Estado. Como concessionário da educação, esse passou a exercer sua função reguladora criando instrumentos de supervisão e avaliação com o objetivo de estabelecer parâmetros inequívocos para as instituições de educação superior com vistas a orientar os avanços, as possibilidades, os receios, as limitações de cada uma e a resguardar os direitos dos alunos.
Esse poder coercitivo, em função das regulamentações impostas pela legislação educacional, determina os tipos de instituições, as estruturas permitidas, o tipo de relacionamento interno e externo e direciona a sua dinâmica. Conjunturalmente difíceis para todas as IESs, houve momentos de fragilização das metas institucionais de umas e avanços significativos de outras, na busca da construção e da legitimação da Instituição.
O tema constitui um referencial para as Instituições de Ensino Superior, pois, a questão, aqui tratada, remete às relações de poder entre entidades mantenedoras e mantidas, coexistentes num ambiente institucional muitas vezes ambíguo e contraditório. Em função de suas especificidades, mantenedoras e mantidas possuem estruturas organizacionais distintas.
A entidade mantenedora, que obedece à legislação vigente, possui contrato social ou estatuto que regulamenta suas atividades internas; é quem goza de personalidade jurídica, ficando responsável pelas questões 1) administrativas: contratação de pessoal docente, técnicos administrativos e de serviços em geral, entre outros que prestam serviço diretamente na mantida e na mantenedora; 2) financeiras: sustentabilidade financeira da instituição e políticas de captação e alocação de recursos, orçamentos/gastos, controle entre despesas efetivas e aquelas referentes a despesas correntes; 3) jurídicas, representação judicial e extrajudicial da mantida e da mantenedora; 4) contábeis: escrituração contábil de todas as operações; 5) pedagógicas: criação e extinção de novos cursos, projetos pedagógicos e estrutura física; e 6) manutenção: construção e manutenção de instalações físicas, compra e manutenção de equipamentos didático-pedagógicos, instalação e manutenção de bibliotecas, laboratórios diversos, entre outros.
Já a mantida, em função de seu Regimento, oferece a prestação de serviços educacionais, que se dá pela oferta de educação superior, por meio de programas e cursos sequenciais, de graduação, pós-graduação, e atividades de pesquisa e extensão. Na execução desses cursos e programas, a mantida pode desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão. Pode, ainda, oferecer esses cursos e programas, bem como atividades de ensino, pesquisa e extensão nas modalidades presencial, semipresencial e a distância.
Conflitos e poder são inerentes à vida organizacional. Contudo, podem levar as organizações ao fracasso quando extrapolam os limites do tolerável e influenciam as relações entre os gestores e essas organizações.
Embasada nessa afirmativa, aponta a necessidade de identificar as relações de poder dos atores organizacionais de uma instituição de ensino particular em Belo Horizonte. Pretende-se, ainda, entender como acontece a regulação de conflitos nas relações de poder entre mantenedora e mantida, considerando que, no momento, a atuação mais presente dos órgãos de regulação tenta, por meio de instrumentos de avaliação, dar uma dinâmica mais profissional às IESs brasileiras.
REFORMA UNIVERSITÁRIA
No Brasil, a lei de 1968 não esgotou a reforma, mas foi acompanhada de uma série de anteprojetos de leis complementares. É uma colcha de retalhos: alteração do Estatuto de Magistério Superior Federal; criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação; incentivos fiscais para o desenvolvimento da educação; adicional do Imposto de Renda para o financiamento de pesquisas relevantes para a tecnologia nacional; modifica a destinação do Fundo Especial da Loteria Federal. Além dos decretos que instituem os Centros Regionais de Pós-Graduação, inclui programa de incentivo