Um dia quase feliz
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Sobre este e-book
Mario é um velho porteiro sem nenhuma ambição que não seja o cuidado com o condomínio em que trabalha. Sempre executou com orgulho as suas atividades, mas desde que soube que logo será aposentado, sente depressão e uma falta de energia que lhe fazem se desleixar no trabalho e consigo mesmo, provocando a irritação de Abigaille, uma rica e velha senhora do condomínio. Um manequim feminino, encontrado no lixo, e um notável ganho mexerão com sua vida; mas quando se dá conta de que ainda pode ser feliz, ao invés de se encontrar em algum lugar exótico a aproveitar o dinheiro, se encontra no quartel dos carabinieri acusado de um crime que jura não ter cometido. Que fim teve a nova inquilina do último andar? Por que Mario foi acusado do seu desaparecimento?
"Um dia quase feliz" é a história de um homem que, ao mesmo instante em que o destino lhe presenteia com um sonho, deverá acertar as contas com a sorte.
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Um dia quase feliz - Cristina Origone
Um dia quase feliz
Cristina Origone
––––––––
Tradução de Mari Rodrigues
O destino é cruel e os homens são dignos de compaixão. (Arthur Schopenhauer)
Quinta-feira
«Temo, senhor Bruzzone» disse o comandante Gianelli, «que o senhor não poderá sair até me dizer o que aconteceu.»
Mario fixou-o sem responder. Notou que tinha os cabelos desgrenhados e apertava em uma mão uma odiosa bolinha antistress. Observou os seu olhos arregalados, parecidos a dois ovos cozidos, e escutou o sussurro do vento que penetrava pelas frestas da janela.
Estava prudente. Ainda não conseguia acreditar naquilo que estava acontecendo.
Olhou ao seu redor. Estava há mais de uma hora no quartel dos carabinieri por culpa daquela velha maldita.
Aquela situação era um pouco ridícula. Sorriu, segurando um riso.
«Estar aqui lhe diverte? Não quer acrescentar algo?»
Mario se voltou. «Já lhe disse: não tenho nada a ver.»
«A senhora Traverso afirma o contrário.»
Mario explodiu: «Mentira! Aquela bruxa velha não faz outra coisa além de me espiar.» Mordeu a língua. Devia estar atento àquilo que dizia.
O comandante massageou uma têmpora e retornou a ele em tom amigável: «Escute, Mario, devo ser sincero com o senhor: encontramos no seu apartamento alguns objetos pertencentes à senhorita Lorraine. O senhor mesmo admitiu ter falado com a senhorita Traverso.»
«E é isso, falei com ela e disse a ela porque me encontrava ali.»
«E não quer dizer a mim também como se seguiram os fatos?»
Mario cruzou os braços. Estava cansado de repetir pela enésima vez as mesmas coisas mas o faria, porque não via a hora de sair daquele lugar.
Dois dias antes
O fedor que vem do seu apartamento está insuportável
, estava escrito na carta de advertência que naquela manhã o administrador fez entregar a Mario na portaria.
O homem pegou um saco de lixo preto e começou a esvaziar os armários. A naftalina era um ótimo remédio contra as traças, sua mãe lhe ensinou.
Acabou tossindo. Talvez tenha exagerado desta vez.
Repensou em sua ex-mulher. Ela também odiava a naftalina. A lembrança daquela mulher amorosa com quem viveu por quinze anos lhe provocou uma pequena dor. Ainda que tivessem passado mais de dez anos, era uma ferida aberta que não seria cicatrizada nunca. Amou Carla, e se ela tivesse perdoado a sua traição, Mario nunca teria se divorciado. Mas sua mulher, quando o descobriu, se enfureceu e o deixou, levando com ela seu filho Federico.
Dobrou as roupas com pouco cuidado e as enfiou no saco.
Por culpa da velha que morava no primeiro andar, teve de levar à lavanderia todas as roupas que se lavam a seco. Não que tivesse muitas, mas não podia resolver isso sozinho e lhe custaria um bom dinheiro. E ele certamente não nadava