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Clepsydra: Poemas de Camilo Pessanha
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Clepsydra: Poemas de Camilo Pessanha
E-book186 páginas1 hora

Clepsydra: Poemas de Camilo Pessanha

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Sobre este e-book

«A cada um de só três poetas, no Portugal dos séculos dezanove a vinte, se pode aplicar o nome de «Mestre». São eles Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha. […] O terceiro ensinou a sentir veladamente; descobriu-nos a verdade de que para ser poeta não é mister trazer o coração nas mãos, senão que basta trazer nelas os simples sonhos dele. Estas palavras que não são nada bastam para apresentar a obra do enorme poeta Camilo Pessanha. O mais, que é tudo, é Camilo Pessanha.»
Fernando Pessoa
 
Um século depois da primeira edição, Clepsydra, de Camilo Pessanha, obra marcante do simbolismo português e fonte de inspiração para a geração de Orpheu, ganha, nesta edição, um retorno à intenção de organização do autor, baseada numa lista, inédita, com a caligrafia de Pessanha que ordenaria a edição dos seus poemas.
Esses poemas circularam em manuscrito entre os amigos e eram «muito conhecidos, e invariavelmente admirados, por toda Lisboa», como escreveu Pessoa. A publicação teve lugar em 1920, revelando, como jurou Jorge de Sena, «um dos mais extraordinários artistas que em nossa língua haja escrito». Da sua poesia, prossegue Sena, deve realçar-se «a natureza reticente e delicadíssima» ou «a transposição quase mallarmeana dos factos, aliada a uma quebrada melancolia do dizer, que só tem paralelo em Verlaine».
Liberta de falsas emoções, ciente da passagem do tempo, aceitando lucidamente a realidade da vida e da morte, esquiva a todo o sentimentalismo, a sua poesia é, diz Sena, «um puro milagre de murmúrio rigorosamente verbal, cuja alada forma a língua portuguesa nunca tivera e não tornou ainda a ter».
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jul. de 2022
ISBN9789897027956
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    Clepsydra - Camilo Pessanha

    Índice

    Nota Prévia

    Poemas de Camilo Pessanha

    Eu vi a luz em um país perdido.

    Chorai arcadas,

    Na cadeia os bandidos presos!

    Depois da luta e depois da conquista

    Se andava no jardim,

    Voz débil que passas,

    Paisagens de inverno

    I

    Ó meu coração, torna para trás,

    II

    Passou o outono já, já torna o frio…

    I

    Desce em folhedos tenros a colina:

    II

    Esvelta surge! Vem das águas, nua,

    Vénus

    I

    À flor da vaga, o seu cabelo verde,

    II

    Singra o navio. Sob a água clara

    Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,

    I

    Imagens que passais pela retina

    II

    Quando voltei encontrei os meus passos

    Lúbrica

    Madrigal

    Soneto de gelo

    I

    Tenho sonhos cruéis: n’alma doente

    II

    Encontraste­-me um dia no caminho

    III

    Fez­-nos bem, muito bem, esta demora:

    Desejos

    Crepuscular

    ?

    Estátua

    Ó Madalena, ó cabelos de rastos,

    Ao meu coração um peso de ferro

    Depois das bodas de oiro,

    Meus olhos apagados,

    Quando?

    Queda

    I

    E eis quanto resta do idílio acabado,

    II

    Floriram por engano as rosas bravas

    Foi um dia de inúteis agonias,

    Fonógrafo

    Vida

    San Gabriel

    I

    Inútil! Calmaria. Já colheram

    II

    Vem conduzir as naus, as caravelas,

    Viola chinesa

    Ao longe os barcos e flores…

    A boémia não morreu.

    Rosas de inverno

    Em um retrato

    Desce enfim sobre o meu coração

    Porque o melhor, enfim,

    Rufando apressado,

    Tatuagens complicadas do meu peito!

    Branco e vermelho

    Enfim, levantou ferro.

    Cristalizações salinas,

    Nesgas agudas do areal

    I (ou II)A miragem

    Parei a cogitar. No meu cabelo

    II (ou I)Transfiguração

    Estrela do Pastor, – sol que me escuda!

    Ó Terra doce e boa,

    Um fio a desdobar, que não termina,

    Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,

    Traduções de Camilo Pessanha

    Elegias Chinesas

    I

    Ascensão ao Miradoiro do Kiang (1)

    II

    À Noite, no Pego­-dragão (5)

    III

    Sobre o terraço (9)

    IV

    Em u­-ch’ang (14)

    V

    Evocações do Passado

    VI

    Fantasia da Primavera

    VII

    Soledade (28)

    VIII

    Queixume das Esposas do «Hsiang» (33)

    Legenda Budista

    Vozes de outono

    Chon­-kôc­-chao

    Provérbios Chineses

    Nota Prévia

    Comemorou­-se, em 2020, um século da primeira edição do livro de poemas de Camilo Pessanha. Esta edição procura assinalar o encerramento dessas comemorações e apresentar aos leitores os ecos desse livro. Um eco incerto, indecidível. Um eco feito livro. Um eco em relógio de água – Clepsydra . Versos que marcam o tempo, como indício indelével dum poeta tornado mestre, num livro feito missal. Clepsydra  – único livro de poemas de Camilo Pessanha (o poeta­-mestre) – é um texto incerto, ainda hoje misterioso, um texto que, por culpa da abulia do próprio Pessanha, que confiava os seus poemas a terceiros, é impossível fixar definitivamente. A vitalidade do texto acaba por resultar numa sequência de trabalhos editoriais críticos a partir de 1994: Paulo Franchetti, em 1994 (no Brasil) e 1995 (em Portugal); Barbara Spaggiari, que já em 1983 publicara uma edição em Itália, publica nova edição crítica em 1997; em 2000, o ensaio de edição de Gustavo Rubim; António Barahona, na qualidade de poeta, leva ao prelo a sua edição da Clepsydra em 2003; por fim, em 2004, na sequência do achamento do exemplar da Centauro que pertencera a Pessanha, e por ele corrigido, Carlos Morais José e Rui Cascais editam A Poesia de Camilo Pessanha .

    Em todos eles existe uma preocupação filológica em justificar a forma como ordenam os poemas no livro: Franchetti, à excepção dos poemas chamados «Inscrição» e «Final», ordena­-os cronologicamente; Spaggiari faz tal qual a edição de 1920 e ordena os outros poemas, também, em sonetos e poesias; Rubim, com base em argumentos hermenêuticos e factuais (a lista de poemas ordenados, encontrada na Biblioteca Nacional por Franchetti), faz uma reconstrução do «livro de areia» e ordena­-os tematicamente; Barahona faz aquilo a que chama, «reedição poética» da Clepsydra de 1920. A edição macaense agrupa as composições da edição de 1920 em sonetos e poemas. As outras, cronologicamente.

    Aceito, com os mesmos argumentos de todos os outros editores, a colocação dos poemas «Eu vi a luz em um país perdido.» e «Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,» no início e fim do livro, respectivamente. Julgo que essa escolha seria de facto da responsabilidade de Pessanha: o primeiro por suposição hermenêutica, o segundo por registo documental.

    A restante ordenação dos poemas tem sido variada consoante o editor e os critérios que lhe assistem. Quando, em 2007, iniciei o trabalho que culmina com esta edição, compulsei os autógrafos do espólio da Biblioteca Nacional. Já outros investigadores, entre eles, Paulo Franchetti, tinham analisado o espólio – foi aliás esse editor que anotou a existência de uma lista, com caligrafia de Pessanha, que ordenaria a edição dos seus poemas. Esta lista, de alguma forma, põe em causa a sequência dos poemas na edição de 1920, uma vez que os apresenta de forma completamente diversa, já não divididos em sonetos e poesias, mas aproximados por afinidades temáticas.

    VIII = Chorae arcadas

    IX = Na cadeia os bandidos presos

    XI = Depois da lucta e depois da conquista

    XI = Se andava no jardim +

    XII = Voz debil que passas

    XIII = Passou o outomno já, já torna o frio +

    XIV = Desce em folhedos tenros a colina +

    XV = Singra o navio. Sob agua clara +

    XVI = Quem polluiu, quem rasgou os meus lençoes de linho +

    XVII = Imagens que passaes pela retina +

    Esta lista de poemas está também transcrita na introdução de Franchetti à sua edição, porém, à altura

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