O Ladrão E Salteador Da Mente Humana
De Ernesto Bono
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O Ladrão E Salteador Da Mente Humana - Ernesto Bono
Ernesto Bono
O Ladrão e Salteador da Mente Humana
En este mundo traicionero, nada és verdad,
nada és mentira, todo tiene el color del cristal con que se mira.
Campoamor
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
___________________________________________________
B712l Bono, Ernesto
O ladrão e salteador da mente humana / Ernesto Bono. –
Porto Alegre, 2010.
193 p. 14,8cm x 21cm.
1. Gnosiologia. Critica do conhecimento.
Epistemologia. 2.Gnosticismo. 3. Budismo. I. Título
CDU 165
273.1
294.3
___________________________________________________
TODOS DIREITOS RESERVADOS – é proibida a reprodução, salvo pequenos trechos, mencionando-se a fonte. A violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/98) é crime (art.184 do Código Penal). Depósito legal no escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional, sob o número de registro 516.931, livro 980, folha 326
Blog e e-mail do Autor
http://blogdoernestobono.blogspot.com/ ebono.ez@terra.com.br
Obras do Autor
É A CIÊNCIA UMA NOVA RELIGIÃO? (Ou Os Perigos do Dogma Científico - 197l - Editora Civilização Brasileira S/A - RIO
NÓS A LOUCURA E A ANTIPSIQUIATRIA - Editora Pallas S/A – Rio – Editora Afrontamento, Porto, Portugal - 1975 e 1976, respectivamente
SENHOR DO YOGA E DA MENTE - Editora Record S/A – 1981 - Rio
ECOLOGIA E POLÍTICA À LUZ DO TAO - Editora Record S/A - 1982 - Rio
ANTIPSIQUIATRIA E SEXO - (A Grande Revelação) - Editora Record S/A - 1983 - Rio
OS MANIPULADORES DA FALSA FATALIDADE - Fundação Educacional e Editorial Universalista FEEU - 1994
A GRANDE CONSPIRAÇÃO UNIVERSAL, - Bonopel Edições - 1994 - Porto Alegre (edição restrita) e Zenda Editora LTDA - 1995 - São Paulo -2a Edição. – Zenda Editorial, 1999, 3a Edição – São Paulo
O APOCALIPSE DESMASCARADO (Nem Anjos nem Demônios, Apenas ETs) – Editora Renascença – 1997 (edição restrita de 500 volumes) - Renascença - 1999 - Porto Alegre - 2a edição.
AIDS, QUEM GANHA QUEM PERDE - Uma história Mal contada – Editora Rigel – 1999 – Porto Alegre
CRISTO, ESSE DESCONHECIDO –3a Edição, Ed. Record S/A, 1979, Rio – Editora Renascença, 2000, Nova edição ou 4a Edição – Porto Alegre
(Tradução) PERCEPÇÃO INTERPESSOAL - Dr. Ronald D. Laing, Phillipson, Cooper - Editora Eldorado - 1974 - Rio
(Tradução) KUNDALINI, A ENERGIA EVOLUTIVA DO HOMEM - Gopi Krishna - 1980 – Editora Record S/A - Rio
O LADRÃO E SALTEADOR DA MENTE HUMANA - Parar Este Falso Mundo – (livro 1) – Clube de Autores – 2011 – São Paulo
TRANSMUTAR ESTE FALSO MUNDO - Parar Este Falso Mundo – (livro 2) – Clube de Autores – 2011 – São Paulo
KUNDALINI, O FOGO ESPIRITUAL - Parar Este Falso Mundo – (livro 3) – Clube de Autores – 2011 – São Paulo
A FARSA DOS MEIOS DO CONHECIMENTO - Parar Este Falso Mundo – (livro 4) – Clube de Autores – 2011 – São Paulo
PRISÃO DO TEMPO – Clube de Autores – 2011 – São Paulo
MANIPULADORES DA FALSA FATALIDADE – Clube de Autores – 2011 – Segunda Edição – São Paulo
O DESAPARECIMENTO DE NOSSOS FILHOS – 2011 – Clube de Autores – São Paulo
FILOSOFIA E SABEDORIA DE JESUS – Clube de Autores – 2010 – São Paulo
SERÁ QUE A CIÊNCIA NOS ENGANA? - (Ciência, a Nova Religião, Primeiro Tomo) – Clube de Autores – 2010 – São Paulo
CIÊNCIA, MAGIA LOGIFICADA – (Ciência, a Nova Religião, segundo tomo) – Clube de Autores – 2010 – São Paulo
DISCURSO CONTRA O MÉTODO OU A ANTIDIALÉTICA – (Ciência, a Nova Religião, Terceiro Tomo) – Clube de Autores – 2010 – São Paulo
AS BASES INCONSISTENTES DA MEDICINA CIENTÍFICA – (Ciência, a Nova Religião, Quarto Tomo) – Clube de Autores – 2010 – São Paulo
UMA REVOLUÇÃO QUÂNTICA - Clube de Autores – 2010 – São Paulo
JESUS, MESSIAS OU FILHO DO HOMEM? – Primeiro Volume - Clube de Autores – 2012 – São Paulo
JESUS, MESSIAS OU FILHO DO HOMEM? – Segundo Volume – Clube de Autores – 2012 – São Paulo
JESUS SEM CRUZ – Clube de Autores 2012 – São Paulo
OS HERDEIROS DO FILHO DO HOMEM – Clube de Autores – 2012 – São Paulo
TRES JÓIAS DO BUDISMO - Clube de Autores – 2012 – São Paulo
ECOLOGIA E POLÍTICA À LUZ DO TAO – Segunda Edição – Clube de Autores 2012 – S.Paulo
SENHOR DO YOGA E DA MENTE – Segunda Edição – Clube de Autores 2012 – São Paulo
Sumário
Prefácio
Introdução
Quem Foi Nagarjuna?
Alguns Alertas de Nagarjuna
O Ego Esconde e Recria
As Duas Fontes do Conhecimento
As Oito Etapas da Ciência
Chega de Velhas Teorias do Conhecimento
Biologia, Medicina e o Conhecimento Indiretíssimo
Mais Argumentos Sobre os Dois Tipos de Conhecimento
Lei da Geração Condicionada
A Aparência Falsifica o Real
Criação do Universo, Origens da Vida, Falsa Evolução
Dá-se Mesmo a Extinção Definitiva das Coisas e Seres?
Os Começos, Meios e Fins Temporais são Enganadores
Nem a Totalidade Corporal é Absolutamente Válida nem a Célula Particular
Nem Origem, nem Permanência, nem Cessação, nem Instantaneidade Absoluta
Nem Átomo nem Matéria
Nem Átomos nem Moléculas
O Átomo Objetivado é uma Extensão Intelectual, Ilegítima e Gratuita
A Verdadeira Sabedoria Nega o Átomo (as Células e os Vírus)
O que Houve atrás das Primeiras Explosões Atômicas
Sem o Espaço e sem o Tempo Físicos não há Átomos nem Movimento
O Fantasmagórico Átomo nem se Move nem Está Parado
A Concepção Atomística Infesta Tudo
Nem o Deus Acaso Nem Ele
, o Deus Persona, Demiurgo, criaram coisa alguma
O Deus Acaso e o Ele
, Deus-Persona, sempre foram Simples Forjações Humanas
O Espírito Verdadeiro não é uma Alma-Ego
O que é Verdadeiro, o Ato ou o Agente?
O que Nagarjuna Quis Dizer com os Termos Substancial e Insubstancial?
Diga-se Não ao Ego-Agente
Outra Apreciação dos Sutras de Nagarjuna
O Lamento de Arjuna, Conforme o Bhagavad Gita
O Ato-Homem é Muito mais que Ciência
A Eficácia de Algo não Está Naquilo do qual Parece Depender
O Ato Intencional Fundamentando Conveniências
O Broto não Provém nem Deixa de Provir da Semente
Os Frutos da Ignorância-Pensamento são Sempre Irreais
O Ato Puro é Meta em si Mesmo
As Causas, as Condições e os Efeitos
As Causas, os Efeitos e as Condições, nada disso se Estabelece
O Eternismo não Serve para Nada
Causas e Condições Eficazes e Ineficazes
Nada Consegue Explicar o Ser e o Não-Ser
O Absolutamente Real não Pode Ser Refeito nem Manipulado
As Coisas não São Materiais e Sim Plausíveis Séries em Fluxo
Determinismo Causal e Determinismo Casual só Confundem
O Bom Criticismo Esvazia os Pareceres
Vida Verdadeira é não-Sonhar
O que Conseguem da Mente a Meditação e as Forças Genuínas
O Homem e o Verdadeiro EU
ou Ser
Prefácio
Após a leitura de diversas obras polêmicas do Dr. Ernesto Bono, não posso deixar de concordar com ele quando alerta que: Sem uma prévia e lúcida atenção, mais um profundo autoconhecimento, toda e qualquer ciência que se elaborar e se cultivar depois resultará sempre em falsidade e aparências!
E por que?
E mais, se certos cientistas, antes de forjarem causas e condições, se antes de extrojetarem aparências que resultam num campo científico de observação e de experimentação, conveniente a eles mesmos, tivessem parado um pouco, e por que não?. Se antes de forjarem suas equações e leis físico-químico-matemáticas preconceituosas, com as quais dizem ter aprisionado e decifrado um pretenso Universo externo, sem saber quem esse que aprisiona e decifra. E mais, se esses mesmos cientistas buscassem compreender os mecanismos de sua própria mente – não cérebro – depois jamais perpetuariam tantas e tão desastradas sandices. Denuncia EB: Sim, esses mecanismos se exteriorizam como pessoa ego-pensante, de um lado, e como mundo ou meio ambiente pensado, do outro. Ou senão se exteriorizam como modelos, representações, concepções, intelecto, discursos, como imaginação lógico-racional, como raciocínios etc., que acabam virando prova.
E a propósito, o Dr. e Prof. Stephen Hawking, uma das grandes personalidades da Ciência Moderna, alega que as teorias científicas sim são válidas porque válido é o Método de Experimentação da Ciência, e válida é a interpretação do testemunho dos sentidos e da possibilidade de agir que o Método Científico propicia. Mas, digo eu, conhecendo o trabalho do Dr. Bono, nisso tudo reside exatamente o motivo do desastre!
O pretenso testemunho que os sentidos aparentemente propiciam e que o intelecto-pensamento interpreta é sempre falso, conforme alerta E.B. neste mesmo livro e em outros. Isso porque, para ele é sempre o pensamento (ou o intelecto capcioso) o que engendra previamente causas e condições ou situações externas. E nestas últimas, segundo E.B., se incluem a pessoa pensante e seus sentidos, se incluem o meio ambiente sempre pensado e reconhecível e se inserem também os dados sensoriais que do pretenso contato (entre pessoa e objeto) saltam fora, dados que o intelecto só e sempre remonta e reconhece.
Malgrado todas essas trapaças, para o banal e cotidiano "ficar-cônscio" da pessoa observadora, o ego-intelecto-mente ladino jurará estar constatando e interpretando os fatos corretamente quando em verdade engana ou mente.
Conforme o alerta de outros Mestres de todos os tempos, e conforme também a denúncia de E.B., um profundo autoconhecimento revela ao Homem que o sujeito e a coisa (ou o objeto observado) não são duas entidades reais em si. Não se encontram completamente separadas nem são diferentes em termos absolutos, como sempre pretenderam certos cientistas.
Contrariando esses alertas, em Ciência temos a criação casual, o tudo é fruto do acaso, o separatismo, a pretensa identidade ou essência própria, calcada nos enganadores atomismo e animismo, a duração (antes, durante e depois), a extensão espacial, a velocidade, a matéria, a energia, o plasma, o tempo e o espaço etc. Tudo isso é exatamente a base da Ciência Moderna. O conhecimento dualista da ciência resultou numa frágil pirâmide construída de areia, ou também num edifício de ilusões que balança, mas não cai. Tal conhecimento também é a pedra fundamental do aparente progresso humano, propiciado em verdade por uma magia que é mais negra do que branca. Graças às pretensões e colocações discursivas da lógica-razão, essa magia ficou totalmente disfarçada, parecendo ciência pura, quando não é. E isso é o que costuma denunciar E.B, autor deste trabalho.
Ademais, E.B. em seu livro, alerta que nunca houve uma criação do Universo, da Vida nem da parte do deus acaso da ciência, (Big-Bang), nem da parte de um deus pessoa, lá adiante. E sim, Aqui e Agora há apenas uma Manifestação Vital em constante renovação. Em tal Manifestação nada começa, nada dura, nada evolui, nada se esconde, nem nada se anula definitivamente.
Para E. Bono, Aqui e Agora há apenas uma Manifestação Primeva, espontânea e Intemporal, que se renova de Momento a Momento, sem nada ocultar e acumular. Isso, portanto, não fundamenta o que os cientistas astutos e sagazes dizem ao descobrir
, quando em verdade eles apenas engendram e extrojetam. Essa Manifestação, portanto, jamais poderia ser apreendida pelos sentidos e muito menos poderia ser aprisionada pelo Método Experimental da Ciência. Tampouco poderia ser interpretada pelo intelecto temporal ou pelas demais funções mentais esdrúxulas e capengas, como diz E.B, porquanto todo ego-pensamento e intelecção aí só significam atraso e defasagem perceptual.
Por conseguinte, o separatismo absoluto entre sujeito e objeto é uma mentira. O Todo universal não é constituído de partes distinguíveis (átomos), e sim tudo é apenas um fluxo intemporal ou até mesmo Instantâneo. Externamente tudo é um vir-a-ser. O espaço e o tempo que os sentidos captam e o intelecto interpreta são ilusórios. Estes espaço e tempo nunca foram um receptáculo ou um recipiente a conter matéria, energia e plasma com possibilidades de se organizar, de evoluir e de se complicar. Este pretenso e famoso trio supostamente contido pelo recipiente espaço-temporal é apenas pensamento. E se isso tudo é verdade, conforme salienta e denuncia E.B., quando, onde e como se aplicarão as leis e equações de Newton, Kepler, Galileu, Einstein, Hawking etc.? E por incrível que pareça, essa é exatamente a grande denúncia de outro livro ou da segunda parte deste trabalho, Transmutar Este Falso Mundo. Portanto, trata-se de uma revolução cultural incomparável, porquanto o Dr. Ernesto Bono, não preconiza a destruição da ciência moderna, mas apenas quer que se torne absolutamente relativa como Einstein já havia tentado.
No que diz respeito ao Ser Supremo (Deus) – e que não necessita de leis e equações para se Manifestar, (e tampouco sua Manifestação resulta num embuste tipo universo científico – certos filósofos e cientistas, numa gritante contradição, aplicam-lhe os mais descabidos epítetos, tipo: onipotente, onisapiente, onipresente, legislador puro, geômetra perfeito, Deus-matemática, Deus ex-machina, ou senão, contrariamente, negam-no e o transformam num acaso perfeito. E com esses argumentos ou epítetos, eles não fazem outra coisa senão tentar transferir ao Absoluto a própria imbecilidade humana.
Em face dessas minhas refutações, alguns miríficos cientificistas poderiam se levantar, e reclamando, diriam: Mas e os frutos da ciência que aí estão, não provam nada!? Quem ousaria alegar que a Vida não se desenrola de acordo com as leis e equações científicas que os bons cientistas descobriram e elaboraram?
Em sua profunda ignorância quanto à Verdadeira Natureza da Mente, a maioria infelizmente desconhece a magnânima e amorosa Manifestação do Ser Cósmico no próprio homem, e que poderia se resumir assim: Tudo aquilo que mentalmente desejardes, pensando intensamente e agindo pessoal e propositadamente, o conseguireis, seja dentro do esquema das leis e equações científicas, seja fora dele. Isso, aliás, é o que costuma acontecer de modo ininterrupto no nosso viver cotidiano… Batei e abrir-se-vos-á, buscai e encontrareis, pedi e dar-se-vos-á, recomendou alguém. Quereis ilusões, com elas vos deparareis! Buscai a Sabedoria e certamente a encontrareis! Anelais a Libertação? Praticai então o autoconhecimento e a meditação e tudo alcançareis.
O Dr. Ernesto Bono, não sendo de modo algum um niilista-materialista e tampouco um espiritualista verborrágico e superficial, graças à sua Sabedoria e Vivência próprias alerta que por meio de um anelo intenso e persistente, acasalado com uma Ação Correta, que se harmoniza com o Atuar da Natureza, o homem poderia conseguir maravilhas. E estas se constituiriam num bem estar para todos, além de resultarem em fartura abundante e em alegria para quem se sintonizar com esse Sentir e Atuar. Tais frutos, evidentemente diferem dos atuais frutos da ciência, e que, mesmo assim, são louvados e exaltados. E, no entanto, no plano em que vivemos os frutos da ciência não poucas vezes amiúde aumentam a angústia, o sofrimento, a poluição e a destruição.
Se de algum benefício a humanidade goza atualmente, ele se deve a uma liberdade de agir reconquistada após o século XVIII d.C., ou se deve também a uma inventiva e a uma tecnologia natural, e que não possuiria qualquer vínculo com a Ciência Moderna, tecnologia ou artesanato esse que atualmente está querendo ressurgir como nunca.
De sua parte, o Professor e Dr. Stephen Hawking afirma outra vez que o homem é uma espécie de robô, ou senão que é apenas um computador que deambula. Só que ele se esqueceu de salientar que foi precisamente nisso que certos cientistas, verdadeiros caçadores de prêmios Nobel se transformaram. E isso aconteceu por causa de seus terríveis condicionamentos mentais, ligados a uma falsa realidade externa, a um raciocínio enganador, a um mentiroso conhecimento racional e a torto perceber que ofuscaram a toda poderosa Mente Primeva no próprio Homem. É por isso que EB, autor do presente trabalho, denuncia que o intelectualismo científico, lamentavelmente, condicionou e robotizou a mente humana. Tornou-a subserviente a uma lógica-razão exclusivamente quantitativa ou matemática, fazendo dos homens seres fracos e impotentes, mormente quando eles se deparam com as supostas calamidades que as descabidas e dogmáticas leis e condutas científicas criaram.
Em sua desmedida ambição, não poucos homens se levantaram feitos paladinos da atual civilização hipócrita e, ignorantemente, começaram a manipular palavras, geometrias e matemáticas (Verbo), desconhecendo, no entanto e de modo quase que absoluto, o poder alterador e plasmador que o pensamento deles possuía e possui quando intenciona algo, quando age propositadamente e quando opta por se exprimir com esses termos. As idéias e a conduta deles, e a maneira como eles se exprimem tem poder tanto para construir quanto para destruir. E isso é o que de fato vem acontecendo atualmente.
O Prof. Albert Einstein, luminar da Ciência, tentando rechaçar um fruto que parecia filho do acaso (física quântica), afirmou que o Ser Supremo (Deus) não jogava dados. Desse modo, ele buscou contestar o Princípio das Probabilidades e o Princípio da Incerteza de Heisenberg, princípios que dizem respeito à conduta das subpartículas do átomo e que Heisenberg sabia que agiam imprevisivelmente, sem qualquer determinismo. Contrariando pergunto, então: Que sabemos nós se as leis científicas forjadas pelos homens mal pensantes podem de fato estar traduzindo a maneira de Ser e de Agir do Ser Supremo, ou até mesmo do Deus Acaso do cientificismo vigente? Ao invés de Leis, por que não admitir ao Ser Supremo apenas Sabedoria, Amor, Liberdade e Espontaneidade, e que talvez melhor O caracterizem? Essa espontaneidade e liberalidade nada teriam a ver com os enganadores frutos da casualidade. Ao invés de se preocupar com um Deus, que por meio das leis científicas supostamente dirige o Universo, pergunto, por que Einstein não admitiu também que esse mesmo SER feito Cosmo só se Manifesta de modo espontâneo, e totalmente livre de leis e de determinismos, tão caros a ele e à ciência ?
Vaidade, presunção e orgulho, eis as características de alguns poucos que só cultuam a IGNORÂNCIA ABSOLUTA, transformada em ciência enganadora, a enjambrar e sustentar falsos mundos. É por isso que o autor do presente livro atesta que se deveria parar de uma vez por todas com toda essa confusão…
Amigo anônimo
Introdução
Antes de tudo, quero alertar que este trabalho não é mais um tratado de orientalismo ou budismo, mas é principalmente um livro que esboça um criticismo contundente e extremado contra todo e qualquer conhecimento enganador e despótico, livro calcado numa lógica extremada e autofágica e se baseia também na dialética de Nagarjuna, sábio do II século d.C.
Desculpem a pretensão, mas o que chamo de lógica extremada e autofágica é em verdade uma criação minha, mas que, inegavelmente, está baseada também nos enfoques de Zenão, o filósofo grego pré-socrático, crítico e dialético do V século a.C., e se apóia principalmente na sabedoria de Buda, VI a.C. e de Nagarjuna, II d.C.
A lógica extremada e autofágica, como o próprio título diz, corresponde a uma atitude mental que vai até às últimas conseqüências críticas, e sequer se permite que algo dela mesma se assente como dona da verdade e muito menos como se fosse outra doutrina a mais.
Os eruditos consideram o filósofo Zenão como tendo sido o primeiro homem da história a descobrir a importância da dialética crítica, já que em seu tempo (V século a C.), ousou escrever e proferir argumentos praticamente irrefutáveis contra a idéia ou a noção de movimento dos corpos, contra a mudança ou alteração dos mesmos e contra a noção de vazio absoluto.
Platão, o grande filósofo pós-socrático e quase contemporâneo de Sócrates, ironizando, dizia que Zenão era tão mordaz que podia fazer com que uma mesma coisa se apresentasse aos seus ouvintes como igual a si mesma e ao mesmo tempo diferente, como sendo uma e muitas, como se movendo ou como estando parada.
Entrementes, a bem da verdade, foi a Sidharta Gautama, o Buda histórico do VI século a.C., que coube a honra da primazia de ter descoberto o valor da dialética, seja por meio de argumentos negativos ou dialética crítico-discursiva, seja por meio do silêncio benevolente.
Paciencioso amigo que me lês, queres um exemplo do que digo? Então para tal reproduzirei uma passagem clássica de Buda, adaptada, porém, ao nosso entendimento atual, e com elementos próprios de uma filosofia e psicologia modernas. Cuidado, o texto clássico de Buda não ficou deturpado; apenas se enriqueceu e ficou extremamente oportuno:
"As pessoas egocêntricas confundem discursos íntimos e imagens pensadas com o EXISTIR EM SI, com o SER de fato. Por causa disso, apegam-se comumente à impressão-convicção de existência sempre reconhecível, ou senão à impressão-convicção de inexistência.
Sempre pensando, dizem uns: ‘Tudo existe!’, forjando para isso conceitos afirmativos, pensamentos categóricos e aparências externas correspondentes. Amigos, eis aí o mal, eis aí um extremo!
Outros, sempre pensando erroneamente também dizem: ‘Nada existe!’, forjando conceitos negativos, dogmas negativos e aparências relacionadas a um nada correspondente. Amigos, eis o mal, eis aí outro extremo!
Todavia, aquele que está livre dos pensamentos enganadores, dos juízos afirmativos e negativos, dos raciocínios fúteis, esse conhece ou percebe direta e corretamente as coisas e os seres tais como eles são.
Sem fazer o jogo do ego trapaceiro, tal homem não declara que as coisas objetivadas inexistem em si ou nada significam [niilismo, casualidade], porquanto ele percebe com clareza como elas são engendradas, como elas são forjadas, produzidas pela ignorância-desejo e pelos pensamentos estruturantes, e como elas acabam se superpondo num perfeito faz-de-conta.
Aquele que está livre dos pensamentos enganadores, dos juízos afirmativos e negativos, dos raciocínios fúteis não afirma que as coisas inexistem nem afirma que existem de modo absoluto e contínuo. Tampouco diz que elas estão separadas do observador pensante, em termos de falsa realidade, como é o caso da pessoa que se diz materialista ou espiritualista.
O verdadeiro Sábio Sente-e-Sabe que as coisas objetivadas desaparecem mal surgem, inclusive suas sombras reconstruídas e extrojetadas. Isto é, os assim chamados objetos materiais em verdade são só pensados de maneira errônea.
Desse modo, então, o Homem Lúcido e Desperto evita os dois extremos da especulação mental, do pensamento errôneo; aponta e ensina O CAMINHO DO MEIO, a Via da Libertação do Homem, da Bem-aventurança, da Paz de Espírito, o Nirvana…"
"Aquele que se vale do Reto Entendimento ou até mesmo de um Conhecimento Direto e Válido, e que não é escravo dos preconceitos e prejuízos ou dogmas de terceiros, aquele que não se aferra a sistemas teóricos, que não se compraz com as imposições de terceiros, com as teorias especulativas, esse nunca acaba pensando: ‘Esta é a minha alma, este é o meu espírito, este sou eu (ego), isto é o meu corpo que nasceu desta ou daquela maneira, sobrevivendo até o momento presente, corpo que certamente morrerá, no futuro!’
Mas sim o Sábio perfeito se diz: ‘Sempre que eu-ego pensar, depois o que sinto em carne própria é apenas dor e angústia! O que eu-ego constato aparecendo e desaparecendo e voltando a aparecer é apenas dor, é a impermanência, a insatisfação, mas EU
[Consciência Superior e em Renovação] não sou isso!"
Amigos, um homem que percebe corretamente as coisas assim, não está preso à dúvida, à inquietação interior e não está preso a essa sombra-ego que tanto mal costuma provocar e lhe causar!…"
Pois é, amigo, duvido que Zenão em seu tempo falasse assim.
Bem, quanto à Lógica Extremada e Autofágica, quero salientar que ela não é um sadismo filosófico, como alguns mais adiante poderão alegar. A Lógica Extremada talvez seja a única postura crítica que se apresenta completamente livre de qualquer traço de imposição e dogmatismo…
A Lógica Extremada e Autofágica é uma atitude moral e uma consciência filosófica que se vigia a si mesma, sempre rechaçando os conflitos e as contradições implícitas na própria razão. Não condena o próximo gratuitamente. Apenas denuncia aquilo que alguns pretendem que seja (não sendo), mormente quando se valem das argúcias e mentiras racionais.
Como exemplo de denúncia, pode-se dizer que o conhecimento de que a Ciência se vale é fragmentário no caráter e é progressivamente cumulativo. Não há qualquer limite concebível para a aquisição do (nem sempre válido) conhecimento científico, e que geralmente é só e sempre um conhecimento indireto e indiretíssimo. (Já veremos o que é isso).
A Ciência é inflacionária por natureza em suas pretensas descobertas
, em suas conquistas e frutos, e poderá ser até mesmo falsa, como adiante tentarei deixar evidente. E por que não?
Portanto, a meu entender, a boa dialética ou criticismo é um movimento espiritual autoconsciente que tem o poder de avaliar-se a si mesmo. Como também tem a capacidade de criticar a própria Ciência e também a razão na qual a Ciência se baseia, denunciando inclusive as trapaças e os logros que a lógica-razão costuma levantar quando lhe convém e quando é o caso.
Toda boa dialética é sempre uma crítica que se levanta contra a lógica-razão, em suas nem sempre válidas aplicações na vida cotidiana e na natureza. Ou também em suas especulações pretensamente físicas, metafísicas e até mesmo hiper-físicas… Um bom dialético ou crítico está constantemente se apercebendo da oposição e da não conciliação das teses, das antíteses, das sínteses e dos respectivos conflitos racionais.
Dialética de verdade é o dar-se conta deste total e interminável conflito da lógica-razão e, simultaneamente, é também uma tentativa de resolver tal conflito, como, aliás, se buscará fazer com as exposições, denúncias e críticas contidas neste trabalho.
Não visando forjar qualquer proselitismo a favor do Budismo em geral, e inclusive tentando salientar que ao Buda histórico coube de fato a primazia de ter descoberto a importância da dialética crítica, transcreverei abaixo algumas importantíssimas passagens a esse Mestre atribuídas, e retiradas dos livros canônicos dessa mesma ciência-religião-filosofia, o Budismo.
"…Amigos, não vos deixeis enganar pelo que diz tradição, ou pela relação [que tudo isso trava com vós]. Não vos deixeis subjugar pelas escrituras, pela memorização de certas compilações, [e inclusive por certas descrições e leis que dizem terem sido provadas e sacramentadas]. Nunca vos deixeis enganar pelos mecanismos da inferência [ou por certas deduções e induções racionais], nem pela lógica, e muito menos se, [raciocinando], tenhais considerado válidos certos arrazoados, e depois os tenhais aprovados, só porque eles convêm ao porvir, ou porque eles provêm de um eremita piegas, de um iogue, guru etc. que considerais vosso mestre. Ao contrário, sempre que, por vós mesmos [e por vivência própria], souberdes que essas coisas não são boas, que essas coisas são errôneas, que os indivíduos realmente sábios condenam tais coisas e que elas, quando mal compreendidas e postas em prática levam a um aumento das dores e das perdas, aí, então, amigos, eu vos recomendo, rejeitai-as!… Mas quando souberdes e sentirdes por vós mesmos que certas coisas são boas e favoráveis, e que fortalecem o vosso caráter, aceita-as, então, e segui-as [se vos convier]. (Anguttara Nikaya I, 189, II, 191)
"[Amigos], …’Eu Sou’ [ego sou] é um pensamento vão. ‘Eu não sou’ é um pensamento vão. ‘Eu serei’ [ego serei] é um pensamento vão. ‘Eu não serei’ é um pensamento vão. ‘Eu fui’ é um pensamento vão. ‘Eu não fui’ é um pensamento vão. Pensamentos vãos são doenças, são úlceras, são um tormento. Mas quando se superar todos os pensamentos vãos ou tolos, voltar-se-á a ser o ‘EU SILENCIOSO’. E este ‘EU’, único e silencioso, já não será mais um ego que se levanta [e que se intromete na mente], já não será mais um ego que diz deslocar-se, que treme, que deseja, pensando [erroneamente]..." (Majjhima Nikaya, 140)
"…Ó irmãos, o mundo escravizou-se à dualidade pensada do ‘isto é’ e do ‘isto não é’. Entrementes, aquele que, de acordo com a verdadeira Sabedoria, percebe como as coisas deste assim chamado mundo aparecem, para esse [e num mundo assim] não há qualquer ‘isto não é’. E aquele que, de acordo com a verdadeira Sabedoria, percebe como as coisas deste mundo se somem, para esse [e num mundo assim], não há qualquer ‘isto é’…" (Samyutta Nikaya, II, 17)
"…Ah, irmãos, compreendi aquela Verdade profunda, tão difícil de surpreender, tão difícil de perceber e entender, Verdade tranquilizadora e sublime, e que não se ganha [ou não se alcança] pelo simples raciocínio e pelo empenho forçado. Somente para o Sábio tal Verdade é a Visão Correta… E no entanto, o mundo é dado ao prazer [condicionante], deleita-se com o prazer efêmero, encanta-se com o falso prazer. Em realidade tais seres dificilmente compreenderão o significado da Lei da Geração Condicionada ou Geração Dependente, ou também a Lei da Interdependência que entrelaçam todas a coisas e seres. [A Lei da Geração Condicionada tem como nome budista ‘Pratityasamutpada’]. Incompreensível para eles também será o fim de todas as (re)construções pensadas [ou sanskharas
], a superação de qualquer substrato [manas
ou ego-mente], suscitador de renascimentos. Incompreensível será também a ruptura da continuidade [ou Santana
], o prevalecimento do desapego, a extinção da ignorância que é a Vivência do Nirvana…
Mas, malgrado tudo isso, seres existem cujos olhos estão apenas cobertos por um pouco de poeira; eles compreenderão tal Verdade. Para esses, convém, então, que se sugira ou se pregue a Doutrina…" (Majjhima Nikaya, 26)
Em consonância com os ensinos desse ilustre Mestre antigo, o grande cientista e pensador moderno, Albert Einstein escreveu:
A religião do futuro será cósmica e, evitando os dogmas e a teologia, transcenderá o Deus personificado. E abrangendo tanto o terreno material como o espiritual, essa (ciência)–religião basear-se-á num sentimento religioso que procede da vivência de todas as coisas naturais e espirituais, sendo tal experiência a expressão da Unidade… Amigos, ao Budismo corresponde a essa descrição!
Para este começo de livro, é bom citar ainda alguma coisa a respeito do Budismo.
Visto em profundidade, o Budismo é uma filosofia crítica que resulta na mais alta Espiritualidade.
Como já ficou subentendido, tal religião, ciência e filosofia nasceu na Índia, no século VI a C., graças ao empenho e abnegação de Sidharta Gautama, seu fundador, expandindo-se posteriormente para a China, Coréia, Japão, Tibete, Ceilão, Birmânia etc.
Nagarjuna, o grande Sábio e filósofo dialético e que este trabalho apresentará, fez parte de tal doutrina libertadora ou corrente filosófico-espiritual.
Os Mestres budistas das mais variadas escolas antigas sempre alertaram que todas as coisas manifestas e reconhecíveis – portanto nunca criadas por um Ele, deus-persona, e escondido nos confins do universo, e muito menos criadas pelo deus acaso da ciência – quando rebatidas, ponto por ponto, e analisadas a fundo, revelam não possuir qualquer extensão ou forma contínua, qualquer duração ou persistência, e revelam também não encerrar qualquer pasta ou matéria permanente, qualquer essência própria, atômica ou anímica. O Budismo em geral enfatiza então que tudo é:
No mundo ocidental, a lógica-razão sempre foi vista como um ORGANON impecável, bom para adquirir conhecimento correto, quando isso sempre foi somente uma pretensão e uma ilusão.
Na Índia, na China e no Japão, a lógica, até aos dias de hoje, é somente vista como um organon bom para rechaçar e desmanchar aparências, e para alcançar a Libertação humana.
Para Nagarjuna, como já veremos, a lógica-razão formal só engana. Por isso, essa outra lógica não-formal não poucas vezes converteu-se de fato numa dialética que busca não mais aprofundar o conhecimento intelectual do homem, mas sim desenvolver argumentos racionais que, indo até às últimas consequências, destruam ou eliminem absurdos implantados e dogmatizados, (reductio ad absurdum), deixando assim evidente as limitações do conhecimento intelectual e lógico-racional.Isso eles dizem.
Meu caro amigo; prepara, pois, tua mente para dar o grande salto em direção a um conhecimento intuitivo transcendental que possa te proporcionar uma Experiência Libertadora.
Grosso modo, a evolução do pensamento budista pode ser dividido academicamente em três etapas., ou seja:
Este período é caracterizado por uma filosofia pluralista, altamente racional, e que não poucas vezes foi comparada à Escolástica Ocidental da Idade Média.
Aqui nasce o pensamento dialético de Nagarjuna que começa a opor-se à rigidez e ao dogmatismo do Abhidharma budista, (dogmatismo este não de Buda e sim de uma escola de monges), e se opôs também aos bonzos tradicionais, que só sabiam decorar a letra morta e defendê-la. Nagarjuna teve alguns discípulos e seguidores, entre os quais o mais famoso foi Aryadeva.
Alguns pensadores desta escola, como Asanga e Vasubandhu, retomam as idéias do Abhidharma, sem, porém, desprezar as colocações e a dialética de Nagarjuna. A partir destes dois enfoques (abhidharma e madhyamika) constroem um notável sistema de psicologia, que decifra não só a verdadeira mente – e que nada tem a ver com as invencionices de um Freud ou da neurologia e fisiologia científica – mas explica a verdadeira estrutura do mundo externo, tal e qual ele deveria se nos apresentar.
O materialismo-niilista aqui é completamente suplantado e silenciado. Ou seja, esses Mestres sugerem que as coisas externas e o mundo são apenas uma ideação construtiva (ou forjação) de nossa consciência personificada. Essa filosofia budista e psicologia epistemológica baseiam-se em grande parte nos ensinos e nas vivências do Yoga prático e até mesmo admitem um fundamento mental sutil ou inconsciente para os fenômenos externos, passíveis de perceber ou conscientizar. E no caso temos o Alayavijñana ou a Consciência Depósito Espiritual, a partir da qual Jung forjou o seu Inconsciente Coletivo, cerebral, ou quase.
Num último período histórico, dá-se a sistematização definitiva da filosofia, psicologia e lógica budista, graças aos trabalhos de Digñaga e Dharmakirti, (século VII d.C.), ambos seguidores da escola Vijñanavada, completamente sistematizada e assentada.
Quem Foi Nagarjuna?
A propósito da vida de Nagarjuna, o renomado orientalista e Prof. Ricardo M. Gonçalves, em suas apostilas Introdução à Lógica Budista, quinta aula, escreveu a seguinte passagem, que tomarei a liberdade de reproduzir, contando com o beneplácito do autor. (Mais adiante, como se verá, valendo-me das mesmas apostilas, transcreverei trechos da obra Mula Madhymika Karika, escrita pelo próprio Nagarjuna, do século II d.C., passagens que o professor Ricardo também transcreveu e adaptou):
"Da vida de Nagarjuna só conhecemos um texto biográfico cheio de tradições lendárias, traduzido para o chinês por Kumarajiva.
Nagarjuna nasceu, pois, no sul da Índia, numa família de brâmanes, [casta de privilegiados]. Na juventude estudou os livros sagrados da Índia, os Vedas e demais textos bramânicos. Era inteligente e bem dotado. Quando terminou o estudo, ligou-se por amizade a três rapazes inteligentes que juntos resolveram aprender a arte de se tornarem invisíveis. Uma vez transformada essa arte em possibilidade mágica, os quatro rapazes penetraram no harém do soberano local e por cem dias se divertiram à vontade com as mulheres do rei. Este, então, elaborou um plano para apanhar os libertinos invisíveis. Espalhou areia pelo palácio e colocou seus soldados de emboscada. As pegadas na areia revelaram a posição dos intrusos, que foram massacrados, com exceção de Nagarjuna, o qual havia se escondido junto ao rei. Por causa desse evento, Nagarjuna tomou consciência de que as paixões desenfreadas só geravam sofrimento e tragédias. Depois disso, decidiu dedicar-se à Sabedoria Budista.
Escapando do palácio real, dirigiu-se para uma stupa [torre votiva] no alto de uma montanha e lá recebeu os preceitos, tornando-se monge budista. Em 90 dias estudou todas as doutrinas do Pequeno Veículo [Hinayana ou budismo antigo. No caso estudou o Abhidharma e os Pitakas] e dirigiu-se em seguida para o Himalaia. Lá estudou com um velho asceta solitário, recolhendo textos do Grande Veículo, [ou budismo Mahayana. Deste grande veículo posteriormente iriam fazer parte a doutrina Madhymika de Nagarjuna, a Vijñanavada ou Yogacara de Asanga e Vasubandhu, e também uma mistura das duas doutrinas, idealizada por Dharmakirti e Dharmottara], corrente Mahayana essa criada praticamente no começo de nossa era. Nagarjuna sistematizou a doutrina de tais textos mahayânicos
numa série de tratados filosóficos.
Um iluminado [ou Bodhisattva] de nome Mahanaga [ou a grande serpente... Pergunto eu, EB, teria sido este um hiperbóreo?] levou-o ao fundo do mar, ao palácio das Nagas [Serpentes Marinhas], onde durante 90 dias, atingiu um profundo Entendimento e, por conseguinte, a Iluminação.
Nessa época, o rei da Índia do Sul seguia uma doutrina diferente e desprezava o Budismo. Planejando começar sua ação missionária pela conversão do Rei, Nagarjuna entrou a seu serviço como general e em pouco tempo reformou o exército, transformando-o numa tropa invencível. Nagarjuna revelou-se então como sendo um