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A Lei De Talião
A Lei De Talião
A Lei De Talião
E-book571 páginas6 horas

A Lei De Talião

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Sobre este e-book

Doutor Robert é um advogado sem escrúpulos, que ao longo de sua vida vai acumulando inimigos. Toda uma família acaba de algum modo envolvida em suas manipulações , mas desta vez, parece que tudo vai ser diferente.Situações estranhas começam acontecer e tudo caminha para um desfecho inesperado. Alguém está disposto a desmascará-lo e confrontá-lo, à partir deste dia sua vida nunca mais será a mesma. Levítico 24-19,20 Se um homem ferir um compatriota, desfigurando-o, assim se lher fará. Fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. O dano que causa a alguém , assim também sofrerá.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de jun. de 2018
A Lei De Talião

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    A Lei De Talião - Eric Ebling Dubugras

    ~ 1 ~

    Eric E. Dubugras

    A

    LEI DE TALIÃO

    1ª Edição

    São Paulo

    Clube de Autores

    2018

    ~ 2 ~

    Capítulo 1

    Tudo parecia tão bem.

    Tom estava cansado, mas mesmo assim ir aquela festa, seria

    interessante para manter o bom relacionamento na sua empresa

    e também faria Sara sair um pouco de casa.

    Os últimos anos tinham sido muito complicados, a mãe de Sara

    sofreu por 7 anos as mazelas que um câncer pode proporcionar.

    As idas e vindas do hospital com tratamentos invasivos como as

    cirurgias e quimioterapias foram levando embora toda a

    dignidade que um ser humano poderia ter. Além disso, a

    seguradora, se aproveitando de práticas muito convenientes,

    criava cláusulas contratuais que mudavam de interpretação

    conforme a sua necessidade, resultando na negativa do

    tratamento de Dona Ivete.

    Apesar de Tom ser um executivo conceituado no meio da

    telecomunicação, todo o seu ganho mensal ia para o tratamento

    de sua sogra, em alguns períodos para os hospitais, e em outros

    para o serviço de Home Care, necessários para acompanhá-la em

    casa durante seu tratamento.

    Desde que Dona Ivete havia falecido no mês passado, Sara não

    tinha ânimo para sair de casa. Ia somente para a ONG dar

    continuidade ao seu trabalho voluntário, e foi justamente isso que

    ~ 3 ~

    deu um equilíbrio emocional à sua vida, a necessidade de um

    amigo para os dependentes químicos, a fazia compreender e

    aceitar a doença que corroeu sua mãe.

    Era aniversário de seu chefe, Tom apesar de não gostar dessas

    festas cheia de executivos badalados, achou que a obrigação de

    sua ida seria uma boa desculpa para levar Sara para dançar, esta

    era sua paixão desde pequena. Sara fez balé na sua infância e

    chegou a participar de alguns concursos de dança, mas como seu

    pai faleceu cedo, Dona Ivete teve que sair de Seattle e vir para

    Bellevue trabalhar como babá.

    Sara nunca mais teve contato com as escolas de dança até se

    casar com Tom, depois voltou a dançar, mas só como lazer.

    Infelizmente, com a doença de sua mãe parou, e provavelmente

    agora seria em definitivo.

    Tom ficava boquiaberto toda vez que ela entrava na pista, a leveza

    de seus movimentos e o brilho nos seus olhos, faziam com que

    cada passo de sua dança proporcionasse uma sensação

    inexplicável. Ele poderia ficar ali observando por horas ela se

    divertir. Enquanto dançava era perceptível o quanto ela

    rejuvenescia, sorria o tempo inteiro e contaminava a todos à sua

    volta. Não era por menos que ele tivesse se apaixonado por ela

    em uma festa. Teve a impressão que naquela noite vários homens

    se apaixonaram também por ela.

    Já eram 20 horas, e só estavam esperando Amanda ligar de

    Montreal para poderem sair. A sua pequena já estava fora há dois

    anos fazendo curso de teatro, graças a uma bolsa de estudos que

    adquiriu no colégio enquanto fazia as suas apresentações, essa

    veia artística com certeza veio através de sua mãe. Amanda no

    seu tempo livre trabalhava como garçonete, o que não era

    ~ 4 ~

    suficiente para mantê-la, então também dependia das economias

    de seu pai.

    Amanda era a mais velha dos três filhos, com seus 23 anos tinha

    uma beleza diferente, seus cabelos eram loiros que brilhavam

    muito com o sol, mas para contrastar tinha os olhos negros, coisa

    muito rara de se ver, um rosto fino e traços delicados como sua

    mãe. Ela era muito introvertida, totalmente diferente de quando

    se apresentava nos palcos, ela sempre dizia que lá é seu mundo e

    se sentia muito à vontade enquanto se apresentava.

    No curso conheceu Peter, um garoto filho de uma família

    abastada e influente, metida com política na região de Detroit. Ele

    sempre teve tudo do bom e do melhor, e nunca teve um senso de

    responsabilidade muito aguçado, o que realmente incomodava

    Tom. Por outro lado, o namoro com esse garoto fez com que

    Amanda se soltasse mais, tivesse prazer de sair, conhecer novos

    lugares e isso realmente estava contribuindo para seu

    crescimento pessoal. Ela sempre fora imatura, mas muito

    responsável, então Tom sempre achou que era mais fácil ela

    embutir um pouco de responsabilidade ao rapaz, do que ele

    induzi-la em qualquer aventura sem propósito.

    Já se passavam das 20:30hs e Amanda ainda não havia ligado, isso

    realmente não os incomodava porque os horários do curso dela

    eram muito flexíveis, costumava ficar treinando por várias horas

    determinado tipo de texto, e por inúmeras vezes saia de

    madrugada sem perceber que as horas haviam passado

    rapidamente. Quando não ligava ela enviava depois uma

    mensagem de e-mail informando que estava tudo bem.

    Sara desceu as escadas com um vestido branco colado mostrando

    as lindas formas de seu belo corpo, chamando a atenção de Tom:

    ~ 5 ~

    - Querida você está linda! Estou pensando em nem ir a essa festa.

    Vamos para outro lugar?

    Sara sorriu e disse:

    - Não venha com gracinha, pelo tempo que eu demorei para me

    arrumar, você vai nem que seja amarrado. Me deixe colocar um

    recado para o Michael, dizendo que o jantar está no micro-ondas.

    - Tudo bem, mas vamos logo que estamos atrasados.

    Michael é o filho do meio, cursa engenharia mecânica na

    Universidade Publica local, a Bellevue College. Dos filhos era o

    mais parecido com o pai, sempre centrado, faz estágio em uma

    grande montadora de automóveis, diz não ter tempo para

    namorar. Parece que tudo na sua vida é premeditado e planejado.

    O engraçado na vida é que todos os filhos têm a mesma educação,

    mas têm personalidades e ambições totalmente diferentes.

    Thomas, o caçula, sempre foi o esportista, desde os seus três anos

    de idade não largava a bola de futebol, a cada ano inventava um

    esporte diferente para praticar e aos treze anos se apaixonou pelo

    skate, desde então viaja o país inteiro com uma equipe

    semiprofissional se apresentando em feiras, eventos e

    campeonatos nacionais. Trancou sua matrícula no último ano do

    colégio porque a cada semana estava em uma cidade diferente.

    Tom ficou furioso, mas Sara o convenceu que era uma coisa

    importante para ele e que não havia necessidade de todas as

    pessoas seguirem o mesmo padrão de casa, escola, trabalho.

    -Se é o que o faz feliz, dê asas para o beija-flor voar. Ela dizia.

    Naquela noite o tempo tinha mudado rapidamente, depois de um

    dia nebuloso com uma garoa fina, a noite estava linda. O céu

    estava sem nuvens e naquela região onde existia pouca

    ~ 6 ~

    iluminação pela falta de prédios, era possível ver o céu todo

    estrelado.

    Eles combinaram de ir de taxi, assim poderiam beber e curtir a

    noite sem nenhuma preocupação.

    Seu chefe morava em uma casa lindíssima, muito moderna e

    basicamente toda de vidro. O andar térreo era sustentado

    praticamente por uma única coluna de aço central, uma piscina

    em U pegava as laterais e a parte traseira do imóvel, o gramado

    e o jardim eram muito bem cuidados. No subsolo existiam três

    grandes salões que alcançava toda a extensão do terreno, e em

    um deles o teto era de vidro mostrando o fundo da piscina.

    Os convidados estavam espalhados no gramado em volta da

    piscina. Os anfitriões, tinham montado um buffet com uma

    variedade exagerada de comida além de bebidas típicas de vários

    países, cada salão do subsolo estava diferentemente decorado e

    com um estilo de música próprio.

    Apesar da variedade, Sara preferiu aproveitar a tradicional batida

    de frutas enquanto Tom como sempre foi beber seu whiskie.

    Fizeram o ritual de cumprimentar todos os convidados

    conhecidos, além daqueles que o anfitrião fazia questão de

    apresentá-los, depois foram aproveitar os salões.

    No salão maior estava tocando Rock dos anos 60/70, e eles

    estavam se divertindo muito. Sara parecia uma adolescente e

    como estava na terceira caipirinha já estava mais descontraída

    que de costume. Ela, exalava sensualidade e os homens não

    conseguiam tirar os olhos de cima dela. Tom não parecia se

    incomodar já que ela só estava dançando com ele e

    aparentemente não estava se importando com ninguém à sua

    volta.

    ~ 7 ~

    Depois de dançarem praticamente por duas horas, subiram para a

    piscina afim de descansar e comer algo.

    - Querida estou exausto. Comentou Tom.

    -Calma mocinho, nós temos muita coisa para fazer ainda hoje.

    Comentou com um olhar meigo e um sorriso malicioso.

    - Se continuarmos a dançar assim, só vou me levantar daqui a três

    dias.

    -Você vai dançar muito ainda, não vai se arrepender, vai ganhar

    um prêmio valiosíssimo e depois só vai acordar daqui a cinco dias,

    brincou ela.

    Eles pegaram seus pratos e desceram para o salão onde estava

    tocando ritmos mais calmos, ficaram conversando e rindo, tinham

    o hábito de brincar de fazer comentários sobre os outros

    convidados, o estilo da roupa, o cabelo, o jeito de dançar, quem

    estava se insinuando para quem, mas sem ofender ninguém já

    que a brincadeira era só entre eles.

    Tom foi interrompido por uma voz que veio por detrás deles. A

    princípio não reconheceu pela altura da música no ambiente.

    -Tom posso falar com você um minuto?

    Ele virou-se rapidamente e era Arthur, seu chefe.

    - Oi Arthur, claro que pode. Querida você pode nos dar licença um

    minuto.

    -Claro querido. Eu vou ficar descansando por aqui mesmo que

    está mais tranquilo, mas se prepara, quando voltar nós iremos lá

    para o meio.

    ~ 8 ~

    -Ai meu Deus, eu acho melhor demorar bastante. Brincou ele,

    dando-lhe um beijo na testa.

    Arthur e Tom se afastaram indo em direção à biblioteca no andar

    de cima.

    A biblioteca nada se parecia com aquelas dos filmes, onde

    geralmente existiam enormes prateleiras cheias de livros e

    escadas que ficavam deslizando de um lado para o outro da sala.

    Arthur também demonstrou seu bom gosto ao planejá-la e

    decorá-la. Tinha duas estantes enormes com portas de vidro, na

    cor preta, puxadores negros embutidos, que faziam as portas de

    correr deslizarem umas sobre as outras e cobriam duas paredes

    inteiras em forma de L.

    No centro do ambiente existia uma grande mesa branca com

    cadeiras pretas. Meio despojadamente estavam espalhadas pelo

    ambiente algumas poltronas. Em, um canto da sala existia um

    enorme tapete branco peludo com grandes almofadas pretas

    jogadas sobre ele. A intenção era ver as crianças se esparramarem

    para ler.

    Ela estava equipada com um grande sistema de som, e em uma

    das paredes vazias, quando necessário, refletia-se um grande

    telão para demonstrar suas apresentações profissionais ou como

    cinema nas horas de lazer.

    Entraram na biblioteca e assim que se acomodaram nas poltronas,

    Arthur já foi apertando o botão do interfone.

    - Dona Sofia por favor me traga uma garrafa de whisky e dois

    copos aqui na biblioteca.

    - Tom é o seguinte, hoje não era um dia para tratarmos de

    negócio, mas eu considero você como um amigo e se não

    ~ 9 ~

    desabafar vou acabar enfartando. Já fazem alguns meses que os

    nossos concorrentes japoneses estão sondando a compra da

    empresa. No começo só dei corda para ver até onde chegaria essa

    conversa, mas há alguns dias chegaram com uma proposta

    irrecusável.

    - Não brinca, respondeu Tom meio assustado.

    - É verdade, na segunda feira passada eu aceitei. Daqui a três dias

    eles estarão lá para começar a transição. Deve acontecer muito

    rapidamente, não demorando mais do que quinze dias.

    - Tão rápido assim, como eles aprenderão os processos nesse

    tempo tão curto?

    -Na verdade, eles já estão fazendo isso há um bom tempo.

    Lembra-se daquele japonês e aquela loira que dizíamos que eram

    fiscais da receita federal e ficaram alocados dentro da nossa

    contabilidade? Pois bem; eram funcionários deles que, com meu

    consentimento estavam extraindo as informações necessárias

    para o fechamento do negócio.

    Escutam a batida na porta e ela se entreabrindo.

    - Com licença, a sua bebida, senhor.

    - Pode deixar aí, que nós mesmos nos servimos. Obrigado.

    -Mas Arthur, você tem 500 funcionários, como isso será feito?

    - Eles irão ficar com todos eles, com exceção dos cargos de

    confiança que eles devem trazer de Tóquio.

    - Quer dizer então que eu estou desempregado.

    -Eu não tenho os nomes, mas é bem provável que todos os meus

    diretores venham a sair.

    ~ 10 ~

    -Que ótimo! Você sabe que eu me endividei com o problema da

    minha sogra, e apesar dela ter falecido, as contas do hospital não

    foram enterradas junto com ela. Como eu emito nota fiscal da

    minha empresa, não tenho fundo de garantia, rescisão contratual

    e etc.

    -Calma Tom. Primeiro eles não te demitiram ainda, segundo você

    é muito capacitado e tem um currículo invejável neste meio. Se

    for necessário você se realocará rapidinho.

    -Você deveria ter me dito há muito tempo, não acabou de dizer

    que é meu amigo? Como me deixou fora desta informação todo

    esse período? Poderia ter me avisado, para que eu pudesse me

    reorganizar.

    -Tom me desculpe, mas eles exigiram sigilo total, se houvesse

    algum vazamento e o negócio seria desfeito.

    -E você não confia em mim? Acha eu sairia contando por aí?

    - Claro que não. Mas se você procurasse emprego nesse período,

    o mercado iria ficar de orelha em pé e começariam a especular.

    Sara estava ficando entediada esperando Tom. Disseram que a

    conversa sería rápida, mas já fazia mais de meia hora que estava

    sentada ali, sozinha.

    De repente ela observa um homem loiro vindo em sua direção

    - Não pode ser. Será mesmo o Robert? Pensou ela.

    Robert foi seu namorado antes de conhecer Tom. Ela, ainda tinha

    um carinho muito grande por ele. Namoraram por dois anos e só

    terminaram na época por imposições do destino. O pai dele era

    um diplomata e foi transferido para a África do Sul e pela distância optaram em se separar em comum acordo a seguirem suas vidas.

    ~ 11 ~

    Então como esse namoro não teve um final por falta de carinho,

    eles ainda nutriam um sentimento especial pelo outro.

    -Você continua estonteante. Foram as primeiras palavras que

    vieram à cabeça dele.

    -Você também está muito bem.

    -Meu Deus, eu nunca imaginei que a encontraria aqui hoje.

    Minhas pernas estão até moles.

    - Há quanto tempo, 25 anos? Perguntou ela.

    - Na verdade fazem 26 que eu fui embora, depois nos

    correspondemos por mais 1 ano, você começou a namorar e eu

    também, daí paramos de nos corresponder.

    - Esse mundo é muito louco.

    -Você está muito linda, ainda penso em você e em todas as

    loucuras que fizemos juntos.

    -Tivemos bons momentos. E você casou?

    -Casei e me separei já fazem 5 anos, tenho uma filha de 15 anos

    que mora com a mãe em Johanesburgo.

    - Eu estou casada com o Tom, o mesmo rapaz que conheci depois

    que você foi embora. Tenho três filhos, uma menina e dois

    rapazes.

    - Mãe de três, com esse corpo? Acho que se tivéssemos ficado

    juntos, nós teríamos uns quinze filhos. Adorava fazer sexo com

    você.

    - Você também era muito gostoso, mas vamos mudar de assunto.

    Primeiro eu estou casada, ou melhor, bem casada e, segundo, ele

    está aqui na festa.

    ~ 12 ~

    -Como ele deixa você aqui sozinha? Eu nunca deixaria você linda

    desse jeito dando sopa.

    - Ele foi obrigado. O, chefe dele é o aniversariante e veio buscá-lo para uma conversa, provavelmente coisas do trabalho.

    -Eu perderia o emprego, mas não deixaria você só, brincou ele.

    -Engraçadinho.

    Sara não queria demonstrar, mas depois de várias caipirinhas, ser

    assediada novamente e por um antigo amor inacabado a estava

    deixando muito excitada. As lembranças de todas as maluquices

    que fizeram juntos na adolescência vieram rapidamente na

    cabeça como se fosse um filme. Ela amava Tom, só que a rotina

    do casamento e os problemas que enfrentou com sua mãe os

    deixaram mais amigos do que amantes. Ela era eternamente grata

    por tudo que Tom fez pela sua mãe e pelo carinho que ele tratava

    a ela e aos seus filhos, mas naquele momento ela estava louca

    para arrancar a roupa de Robert e fazer o sexo mais selvagem que

    já tinha feito na vida, por isso manteve uma distância segura para

    não cair na tentação.

    Começou a perguntar sobre o que ele tinha feito da vida em todos

    esses anos, tentando sempre levar a conversa para um lado mais

    sério, evitando as insinuações e as investidas mais diretas dele.

    ***

    Tom estava confuso, por mais que Arthur tentasse acalmá-lo,

    buscando lhe mostrar que o seu potencial estava bem acima do

    mercado, pela primeira vez, depois de muitos anos, se sentiu

    inseguro. Ele sempre teve a sua vida muito bem organizada e

    apesar das grandes despesas, elas eram muito bem controladas, e

    ~ 13 ~

    ,de repente, essa bomba que lhe jogaram na cabeça fugia do seu

    controle habitual.

    -Bem, Arthur. Vamos esperar para ver o que acontece esta

    semana, ninguém conhece a área comercial desta empresa

    melhor do que eu, talvez os japoneses também enxerguem isso.

    -É claro, Tom. Não vamos colocar a carroça na frente dos bois.

    Tom sabia que apesar de Arthur o considerar um amigo, em

    questão de dinheiro ele sempre foi muito individualista, não viu

    no passado nenhum movimento de ajuda a nenhum de seus

    antigos funcionários por mais que eles tivessem se doado àquela

    empresa. Então, ele já pressentia que no seu caso não seria

    diferente.

    Arthur era um poço de conselhos, para cada ação existia um

    conselho pré-moldado. Desde que ele não tivesse que enfiar a

    mão no bolso por alguém, ele daria conselhos por toda a vida.

    -Arthur eu preciso descer, deixei a Sara sozinha e ela praticamente

    não conhece ninguém aqui. Na segunda continuaremos a nossa

    conversa, e vamos nos preparar para enfrentar os novos donos.

    - É isso aí. Me desculpe de tê-lo tirado da festa, mas se eu não

    desabafasse com você eu não dormiria por todo final de semana.

    "Ele passou meses negociando a Empresa e agora por dois dias

    não iria conseguir dormir? "Se eu não o conhecesse direito,

    acharia que ele teria um pingo de dor na consciência." Pensou

    Tom.

    Robert deu o telefone para Sara, que a princípio não queria

    aceitar. Ela guardou no fundo falso de seu espelho de maquiagem

    e foi logo falando:

    ~ 14 ~

    -Robert a nossa história terminou quando você foi embora, hoje

    estou casada, feliz e tenho uma família linda para cuidar.

    - Eu entendo, mas não diga que não ficou feliz em me ver.

    -É claro que sim, você foi uma parte importante da minha vida,

    mas agora eu não tenho o direito nem de falar com você, quanto

    mais desejar algo.

    -Tá bom, vamos só dançar uma música para encerrarmos o nosso

    encontro.

    -Não, isso não seria conveniente, além do mais o Tom deve

    aparecer a qualquer momento.

    Robert ainda ficou insistindo por um bom tempo.

    Sara resistiu enquanto pode, mas não conseguiu e foi dançar com

    ele. Só dele apertar a sua cintura seus seios já enrijeceram e o

    calor que ela estava sentindo estava ficando insuportável. Ela não

    sentia esta sensação a muito tempo, e só Deus sabe o quanto

    estava resistindo em não o beijar.

    -Estava com saudade do seu cheiro, ele continua o mesmo, disse

    ele.

    - Robert, se comporte por favor.

    -Eu não fiz nada, só falei do seu cheiro.

    - Você me entendeu muito bem.

    -Eu sei, eu sei, mas você continua uma delícia e com esse vestido

    agarrado em seu corpo já pensei muitas besteiras.

    Tom veio entrando pelo salão e não entendeu nada ao ver Sara

    dançando com um desconhecido. Ficou furioso, mas naquele

    momento e naquele lugar não era hora para fazer escândalo. Sara

    ~ 15 ~

    percebeu a sua presença e veio ao encontro dele como se aquilo

    fosse a coisa mais natural do mundo.

    -Oi querido, como você demorou. Esse aqui é o Robert, é um

    amigo que não via desde o tempo da faculdade, ele acabou de

    chegar da África do Sul, como não conhecíamos quase ninguém

    fizemos companhia um ao outro.

    -Oi tudo bem? Muito prazer, Tom. Cumprimentou com uma voz e

    um olhar de poucos amigos.

    -O prazer foi meu. Bem eu já estava de saída, tenho que passar

    em outra festa de aniversário para dar um alô a um amigo, senão

    ele ficará bravo comigo. Bem Sara, foi muito bom te ver

    novamente.

    -Foi bom mesmo Robert, manda um beijo pra Simone. Ele se

    casou com uma amiga nossa da época da faculdade. Foi a primeira

    coisa que veio à cabeça de Sara para minimizar aquela situação

    meio constrangedora.

    Enquanto Robert foi se afastando, Tom fulminou Sara com o

    olhar, mas ela continuou se fazendo de desentendida.

    -Você pode me explicar o que estava acontecendo?

    -Claro que posso meu amor, você me deixou plantada, encontrei

    um amigo que fez o favor de me fazer companhia, dançamos uma

    música e você voltou.

    -Então acha normal eu chegar e pegar você abraçada dançando

    com um estranho. Se fosse ao contrário, você não estaria muito

    contente nesse momento.

    ~ 16 ~

    -Não faça tempestade num copo d’água, foi só uma dança, mas

    me parece que você chegou aborrecido por outra coisa. Como foi

    a conversa com o Arthur?

    -Nada agradável, mas depois a gente conversa sobre isso.

    -Vamos dançar meu anjo, você prometeu que iria dançar muito

    comigo hoje.

    Sara tinha o dom de conseguir levar a conversa para o terreno que

    mais lhe agradava e como ainda estava com muito tesão, pensou:

    - Hoje vou fazer com o Tom tudo que tinha vontade de fazer com

    o Robert, vai ser a melhor transa da vida dele. Ainda bem que ele

    chegou, ou eu ia acabar fazendo uma besteira grande.

    Sara deu um beijo no pescoço de Tom e o puxou pelo braço para o

    meio da pista. Ele ia se fazer de difícil, mas acabou se deixando

    levar pelas artimanhas dela.

    Robert ficou observando de longe e pensou: - Espere Sara, pode

    apostar, você ainda vai parar na minha cama de novo.

    Apesar de Tom não conseguir se desligar totalmente da conversa

    que teve com Arthur, o resto da noite transcorreu bem. Sara

    estava mais assanhada do que de costume, a cada oportunidade

    ela deixava uma mão boba escorregar sobre seu colo e provocou-

    o a noite inteira. Não era a Sara que ele conhecia, mas ele estava

    adorando.

    Naquela noite, ela cumpriu o prometido, fez coisas inimagináveis

    para ele até aquele dia, realmente acho que eles iam dormir uns

    cinco dias....

    ~ 17 ~

    Capítulo 2

    Tudo de cabeça para baixo.

    Era um pouco mais de meio dia, eles estavam acordados, mas

    ainda deitados, a preguiça os impedia de levantar.

    -Querido, nós chegamos tão empolgados ontem à noite que eu

    não vi o e-mail da Amandinha.

    -Veja pelo meu celular mesmo, está aí do lado da sua cabeceira.

    -Engraçado, não tem nada aqui, ela nunca foi de deixar de enviar

    uma mensagem quando chega em casa.

    -Não deve ser nada, nós é que estamos mal-acostumados de ter

    pelo menos um alô todos os dias. Daqui a pouco ela entra em

    contato.

    -Eu não aguento isso, vou dar uma ligada para ela.

    Depois de três tentativas ela comentou:

    - Só dá caixa postal.

    - Vai ver que estava sem bateria, por isso que não ligou e mandou

    e-mail. Tom percebeu que Sara estava preocupada e tentou

    acalmá-la.

    -Sabe como são os adolescentes, fazem tudo ao seu tempo.

    ~ 18 ~

    ***

    Na noite anterior Amanda saiu às 9 horas da noite do seu curso de

    teatro junto com Peter, saíram mais cedo porque combinaram de

    ir para a balada encontrar uns amigos dele. Iam só passar na casa

    de Amanda, e tomar um banho rápido. Não queriam sair muito

    tarde, porque no dia seguinte logo cedo estariam no teatro

    novamente.

    -Peter, não sei por que você insistiu tanto para ir nessa balada

    hoje.

    -Nada demais, só estava afim de ver uma galera que não vejo há

    algum tempo.

    -Tudo bem, é que esse não é seu jeito, você está estranho.

    -Pare de falar besteira, vamos embora, está enxergando coisas

    que não existem.

    -Ok, não está mais aqui quem falou.

    Chegaram na balada já se passavam das 23 horas, Peter parecia

    que estava em casa, de cada dez pessoas ela cumprimentava

    metade, gente de todas as tribos e estilos. Amanda estava meio

    deslocada, não entendia como ele conhecia tanta gente que ela

    nunca tinha visto. Mais, uma vez ela achou que aquele não era o

    Peter que ela estava habituada a ver.

    Pegaram umas bebidas e ficaram em uma mesa no fundo do

    salão. A cada dez minutos Peter levantava para conversar com

    alguém diferente em algum canto mais reservado. Em nenhuma

    das vezes pediu para Amanda o acompanhar e a conversa era

    sempre a mesma:

    ~ 19 ~

    - Dá um tempinho aí gatinha, eu vou cumprimentar um amigo ali

    que eu estou vendo. Volto já.

    Amanda começou a perceber que cada vez que ele sentava,

    alguém o encarava, fazia um pequeno aceno com a cabeça ou

    com a mão, e lá ia o Peter novamente.

    A área Vip ficava em um mezanino do lado direito, com o piso

    mais ou menos um metro mais elevado que o piso normal do

    salão, era cercado por grades e uma catraca eletrônica que

    controlava com um cartão o acesso dos convidados.

    Chamou a atenção de Amanda dois rapazes que ficaram o tempo

    todo encostados na grade, acompanhavam o movimento de vai-

    e- vem de Peter. Pensou que deveriam ser seguranças da boate

    disfarçados, mas só não entendia porque olhavam mais para o

    Peter do que para as demais pessoas. Pensou em comentar com

    ele, mas como ele tinha bebido um pouco e às vezes era meio

    esquentado, achou melhor não incentivar uma possível confusão.

    Lá pelas duas da manhã Amanda já estava entediada, Peter não

    lhe deu atenção a noite inteira, aquele senta e levanta dele já

    havia lhe deixado irritada.

    - Peter chega, vamos embora, isso aqui está um porre e temos

    que levantar cedo.

    -Calma meu amor, isso aqui tá fervendo hoje, só mais meia

    horinha.

    -Se você quiser ficar que fique, eu estou indo embora.

    -Tá bom, tá bom. Deixa eu me despedir da galera e a gente já vai.

    ~ 20 ~

    Peter parecia um relações públicas, passou pelo salão inteiro e

    falou com todo mundo novamente, e lá se foi a meia horinha que

    ele tinha pedido.

    Amanda se encheu e foi saindo sozinha, quando ele veio correndo

    atrás:

    -Pronto querida.

    -Pronto querida? Nunca mais você me faça de besta, me leva para

    sair e não me dá atenção a noite inteira. Se essa era a sua

    intenção porque não veio sozinho?

    -Calma, deixa de ser ciumenta. Eu só queria falar com uma galera

    que não via há muito tempo.

    -Um povo esquisito, alguns mal encarados, eu não sou fresca, mas

    muitos que eu vi ali se eu encontrasse na rua sairia correndo.

    Eles estavam entrando no carro quando foram abordados por dois

    homens.

    -Polícia. Documentos por favor e deixem as mãos bem à vista.

    Sara reconheceu que um dos homens era um dos que estavam

    encostados na grade a noite inteira e não tirou o olho de Peter.

    Um começou a revistar Peter e o outro a vasculhar o seu carro.

    Logo em seguida chegou uma policial feminina e solicitou que

    Amanda esvaziasse seus bolsos, depois começou lhe apalpar a

    procura de algo. Era muito constrangedor.

    - Achei! Disse um policial. -Estava em um fundo falso da jaqueta

    dele.

    - O que temos aqui meu rapaz? Cocaína?

    - São só dois papelotes para consumo, seu guarda.

    ~ 21 ~

    -Para consumo? Você traficou a noite inteira e agora vem dizer

    que é para consumo? - E esses C$1500 dólares na carteira?

    - É proibido ter dinheiro? E a droga é para consumo, sim. Eu não

    sei o que o senhor está falando sobre tráfico.

    -Tadinho, você é um anjinho. Vamos os dois para delegacia, lá

    você vai ter muito tempo para se lembrar das coisas.

    Enfiaram os dois no banco de trás de um carro sedan preto, com

    os todos os vidros filmados na cor mais escura possível.

    Provavelmente até de dia, com o sol a pique, a luminosidade

    deveria ter dificuldade de entrar.

    Amanda ficou atordoada, mas agora as coisas começaram a ficar

    mais claras. Não era à toa que Peter ficou circulando a noite

    inteira, se ela não o tivesse visto nunca acreditaria que ele seria

    capaz de fazer isso. Mas por que? Ele é de família rica, para que

    fazer isso? Como eu vou explicar que eu não tenho nada a ver

    com essa história? Eu nunca nem provei essa porcaria e agora

    estou sendo presa por tráfico? O que meus pais vão pensar? E

    meus amigos?

    Amanda entrou em desespero e começou a chorar.

    -Eu não tenho nada a ver com isso? ela falava.

    - É, nunca ninguém tem. Um monte de jovens que se matam o dia

    inteiro com overdose e famílias inteiras desgraçadas pelo vício,

    ninguém nunca tem culpa, respondeu o policial.

    A cada momento ela ficava mais desesperada. Ela tinha vontade

    de voar no pescoço de Peter e dizer umas verdades a ele, mas

    sabia que qualquer conversa naquele momento poderia piorar a

    situação deles. Peter simplesmente ficou de cabeça baixa a

    aparentemente não tinha coragem de olhar para ela.

    ~ 22 ~

    A delegacia era próxima, mas a sua chegada parecia uma

    eternidade. Ela não conseguia parar de pensar na sua mãe,

    primeiro porque não fez o seu contato diário, depois imaginando

    quanto ela iria ficar louca sabendo que estava presa e sozinha em

    outro país. Elas sempre foram muito unidas e confidentes, sua

    mãe é que deu a maior força para que ela fosse estudar fora, se

    dependesse de seu pai ele queria que todos os filhos ficassem

    debaixo da sua asa, e provavelmente ele iria jogar isso na sua

    cara.

    -Meu Deus, eu nunca nem passei perto de uma delegacia, se me

    deixarem presa, será que vou ficar com um bando de prostitutas,

    assassinas, ladras e sei lá mais o que na mesma cela? Ela pensava

    e imaginava as cenas dos filmes onde as presidiarias

    importunavam as novas prisioneiras. Não é justo, eu não fiz nada,

    como fui me envolver com esse filho da puta do Peter, porque ele

    fez isso? Eu não entendo.

    Chegando na delegacia, separaram os dois, levaram Amanda para

    uma sala onde existia somente uma mesa enorme no centro com

    três cadeiras, as paredes eram cinza, o teto branco, o piso de

    madeira bem velho, mas muito bem encerado, a porta era de

    ferro e existia uma janela enorme em uma das paredes com um

    vidro refletivo. Provavelmente era a sala de interrogatório, igual

    àquelas que se via na TV e deveria estar cheio de gente à

    observando por trás daquela janela.

    Amanda foi deixada na sala, sozinha. Antes de sair a policial

    perguntou se ela queria um copo de água, ela fez um sinal com a

    cabeça aceitando. A policial se retirou, atrás da porta era possível escutar o ferrolho travando a mesma.

    Já se passavam mais de 1 hora e meia e ninguém entrava por

    aquela porta, provavelmente era uma pressão psicológica para

    ~ 23 ~

    que as pessoas exaurissem as suas forças antes de depor, sua

    boca estava seca. Depois de chorar muito, nem o copo de água

    que Amanda tinha solicitado tinha vindo, ela achava que aquilo

    também era proposital. Tinha a impressão que o tempo todo era

    observada pela janela, isso fazia com que até seus movimentos

    fossem calculados, não existe sensação pior.

    Amanda escutou o barulho do ferrolho novamente, a porta se

    abriu, entrou um negro muito alto e se sentou à sua frente.

    -Boa noite mocinha, você quer um copo de água?

    Ela teve vontade de comentar que já havia pedido há duas horas

    atrás, mas se conteve e apenas respondeu:

    - Por favor.

    Ele se levantou, deu três batidas na porta, ela se entreabriu e ele

    cochichou algo que não deu para escutar, parecia ser era algo a

    mais do que só a água solicitada. Continuou falando baixo por

    alguns minutos e retornou com um copo na mão.

    -Aqui está. Você quer um cigarro também?

    -Eu não fumo, obrigada.

    -Vocês vendem droga e não fumam nem um cigarro?

    -Eu não sei nada sobre vender drogas.

    -Tudo bem, começamos de maneira errada. Meu nome é Marcel,

    delegado Marcel. Vocês foram pegos distribuindo e portando

    drogas. Se você for boazinha e começar dizendo quem fornece o

    bagulho, pode ser que agente seja bonzinho e só autue vocês por

    porte. Se não ajudar, te indiciaremos por tráfico, que é um crime

    inafiançável e vamos te jogar numa cela cheia de marginais lá no

    fundo.

    ~ 24 ~

    -Eu realmente não sei nada sobre isso, delegado. Fui para uma

    festa com meu namorado, não falei com ninguém além dele e na

    saída fomos abordados por vocês. Disseram que ele tinha droga

    nos bolsos. Nem isso eu posso afirmar que é verdade, estava

    sendo revistada do outro lado do carro.

    -Você está dizendo que a polícia forjou a prova?

    -Não, eu estou dizendo que não vi nada.

    -Bom você tem 15 minutos para pensar direitinho que destino

    você vai dar pra sua vida. Você tem direito a uma ligação,

    somente uma. Pense direitinho.

    O delegado se levantou e saiu novamente.

    Ela ficou pensando que poderia ficar 10 dias naquela sala que não

    iria mudar a sua versão dos fatos, simplesmente porque não

    existia outra, sabia que tinha entrado nesse rolo porque o Peter

    realmente tinha feito uma besteira enorme. A sua preocupação

    era para quem poderia ligar, seus pais estavam muito longe, sabia

    que a condição financeira deles não era das melhores, mesmo

    assim demorariam no mínimo de dois a três dias para chegarem

    lá. Peter que era seu namorado estava lá junto com ela, na

    verdade ela estava lá por causa dele. Ela não conhecia ninguém

    nessa cidade que valesse a pena ligar, a não ser seu professor de

    teatro, mas ele seria a última pessoa que deveria saber que ela

    estava lá. Ela tinha ganho

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