A Lei De Talião
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A Lei De Talião - Eric Ebling Dubugras
~ 1 ~
Eric E. Dubugras
A
LEI DE TALIÃO
1ª Edição
São Paulo
Clube de Autores
2018
~ 2 ~
Capítulo 1
Tudo parecia tão bem.
Tom estava cansado, mas mesmo assim ir aquela festa, seria
interessante para manter o bom relacionamento na sua empresa
e também faria Sara sair um pouco de casa.
Os últimos anos tinham sido muito complicados, a mãe de Sara
sofreu por 7 anos as mazelas que um câncer pode proporcionar.
As idas e vindas do hospital com tratamentos invasivos como as
cirurgias e quimioterapias foram levando embora toda a
dignidade que um ser humano poderia ter. Além disso, a
seguradora, se aproveitando de práticas muito convenientes,
criava cláusulas contratuais que mudavam de interpretação
conforme a sua necessidade, resultando na negativa do
tratamento de Dona Ivete.
Apesar de Tom ser um executivo conceituado no meio da
telecomunicação, todo o seu ganho mensal ia para o tratamento
de sua sogra, em alguns períodos para os hospitais, e em outros
para o serviço de Home Care, necessários para acompanhá-la em
casa durante seu tratamento.
Desde que Dona Ivete havia falecido no mês passado, Sara não
tinha ânimo para sair de casa. Ia somente para a ONG dar
continuidade ao seu trabalho voluntário, e foi justamente isso que
~ 3 ~
deu um equilíbrio emocional à sua vida, a necessidade de um
amigo para os dependentes químicos, a fazia compreender e
aceitar a doença que corroeu sua mãe.
Era aniversário de seu chefe, Tom apesar de não gostar dessas
festas cheia de executivos badalados, achou que a obrigação de
sua ida seria uma boa desculpa para levar Sara para dançar, esta
era sua paixão desde pequena. Sara fez balé na sua infância e
chegou a participar de alguns concursos de dança, mas como seu
pai faleceu cedo, Dona Ivete teve que sair de Seattle e vir para
Bellevue trabalhar como babá.
Sara nunca mais teve contato com as escolas de dança até se
casar com Tom, depois voltou a dançar, mas só como lazer.
Infelizmente, com a doença de sua mãe parou, e provavelmente
agora seria em definitivo.
Tom ficava boquiaberto toda vez que ela entrava na pista, a leveza
de seus movimentos e o brilho nos seus olhos, faziam com que
cada passo de sua dança proporcionasse uma sensação
inexplicável. Ele poderia ficar ali observando por horas ela se
divertir. Enquanto dançava era perceptível o quanto ela
rejuvenescia, sorria o tempo inteiro e contaminava a todos à sua
volta. Não era por menos que ele tivesse se apaixonado por ela
em uma festa. Teve a impressão que naquela noite vários homens
se apaixonaram também por ela.
Já eram 20 horas, e só estavam esperando Amanda ligar de
Montreal para poderem sair. A sua pequena já estava fora há dois
anos fazendo curso de teatro, graças a uma bolsa de estudos que
adquiriu no colégio enquanto fazia as suas apresentações, essa
veia artística com certeza veio através de sua mãe. Amanda no
seu tempo livre trabalhava como garçonete, o que não era
~ 4 ~
suficiente para mantê-la, então também dependia das economias
de seu pai.
Amanda era a mais velha dos três filhos, com seus 23 anos tinha
uma beleza diferente, seus cabelos eram loiros que brilhavam
muito com o sol, mas para contrastar tinha os olhos negros, coisa
muito rara de se ver, um rosto fino e traços delicados como sua
mãe. Ela era muito introvertida, totalmente diferente de quando
se apresentava nos palcos, ela sempre dizia que lá é seu mundo e
se sentia muito à vontade enquanto se apresentava.
No curso conheceu Peter, um garoto filho de uma família
abastada e influente, metida com política na região de Detroit. Ele
sempre teve tudo do bom e do melhor, e nunca teve um senso de
responsabilidade muito aguçado, o que realmente incomodava
Tom. Por outro lado, o namoro com esse garoto fez com que
Amanda se soltasse mais, tivesse prazer de sair, conhecer novos
lugares e isso realmente estava contribuindo para seu
crescimento pessoal. Ela sempre fora imatura, mas muito
responsável, então Tom sempre achou que era mais fácil ela
embutir um pouco de responsabilidade ao rapaz, do que ele
induzi-la em qualquer aventura sem propósito.
Já se passavam das 20:30hs e Amanda ainda não havia ligado, isso
realmente não os incomodava porque os horários do curso dela
eram muito flexíveis, costumava ficar treinando por várias horas
determinado tipo de texto, e por inúmeras vezes saia de
madrugada sem perceber que as horas haviam passado
rapidamente. Quando não ligava ela enviava depois uma
mensagem de e-mail informando que estava tudo bem.
Sara desceu as escadas com um vestido branco colado mostrando
as lindas formas de seu belo corpo, chamando a atenção de Tom:
~ 5 ~
- Querida você está linda! Estou pensando em nem ir a essa festa.
Vamos para outro lugar?
Sara sorriu e disse:
- Não venha com gracinha, pelo tempo que eu demorei para me
arrumar, você vai nem que seja amarrado. Me deixe colocar um
recado para o Michael, dizendo que o jantar está no micro-ondas.
- Tudo bem, mas vamos logo que estamos atrasados.
Michael é o filho do meio, cursa engenharia mecânica na
Universidade Publica local, a Bellevue College. Dos filhos era o
mais parecido com o pai, sempre centrado, faz estágio em uma
grande montadora de automóveis, diz não ter tempo para
namorar. Parece que tudo na sua vida é premeditado e planejado.
O engraçado na vida é que todos os filhos têm a mesma educação,
mas têm personalidades e ambições totalmente diferentes.
Thomas, o caçula, sempre foi o esportista, desde os seus três anos
de idade não largava a bola de futebol, a cada ano inventava um
esporte diferente para praticar e aos treze anos se apaixonou pelo
skate, desde então viaja o país inteiro com uma equipe
semiprofissional se apresentando em feiras, eventos e
campeonatos nacionais. Trancou sua matrícula no último ano do
colégio porque a cada semana estava em uma cidade diferente.
Tom ficou furioso, mas Sara o convenceu que era uma coisa
importante para ele e que não havia necessidade de todas as
pessoas seguirem o mesmo padrão de casa, escola, trabalho.
-Se é o que o faz feliz, dê asas para o beija-flor voar. Ela dizia.
Naquela noite o tempo tinha mudado rapidamente, depois de um
dia nebuloso com uma garoa fina, a noite estava linda. O céu
estava sem nuvens e naquela região onde existia pouca
~ 6 ~
iluminação pela falta de prédios, era possível ver o céu todo
estrelado.
Eles combinaram de ir de taxi, assim poderiam beber e curtir a
noite sem nenhuma preocupação.
Seu chefe morava em uma casa lindíssima, muito moderna e
basicamente toda de vidro. O andar térreo era sustentado
praticamente por uma única coluna de aço central, uma piscina
em U
pegava as laterais e a parte traseira do imóvel, o gramado
e o jardim eram muito bem cuidados. No subsolo existiam três
grandes salões que alcançava toda a extensão do terreno, e em
um deles o teto era de vidro mostrando o fundo da piscina.
Os convidados estavam espalhados no gramado em volta da
piscina. Os anfitriões, tinham montado um buffet com uma
variedade exagerada de comida além de bebidas típicas de vários
países, cada salão do subsolo estava diferentemente decorado e
com um estilo de música próprio.
Apesar da variedade, Sara preferiu aproveitar a tradicional batida
de frutas enquanto Tom como sempre foi beber seu whiskie.
Fizeram o ritual de cumprimentar todos os convidados
conhecidos, além daqueles que o anfitrião fazia questão de
apresentá-los, depois foram aproveitar os salões.
No salão maior estava tocando Rock dos anos 60/70, e eles
estavam se divertindo muito. Sara parecia uma adolescente e
como estava na terceira caipirinha já estava mais descontraída
que de costume. Ela, exalava sensualidade e os homens não
conseguiam tirar os olhos de cima dela. Tom não parecia se
incomodar já que ela só estava dançando com ele e
aparentemente não estava se importando com ninguém à sua
volta.
~ 7 ~
Depois de dançarem praticamente por duas horas, subiram para a
piscina afim de descansar e comer algo.
- Querida estou exausto. Comentou Tom.
-Calma mocinho, nós temos muita coisa para fazer ainda hoje.
Comentou com um olhar meigo e um sorriso malicioso.
- Se continuarmos a dançar assim, só vou me levantar daqui a três
dias.
-Você vai dançar muito ainda, não vai se arrepender, vai ganhar
um prêmio valiosíssimo e depois só vai acordar daqui a cinco dias,
brincou ela.
Eles pegaram seus pratos e desceram para o salão onde estava
tocando ritmos mais calmos, ficaram conversando e rindo, tinham
o hábito de brincar de fazer comentários sobre os outros
convidados, o estilo da roupa, o cabelo, o jeito de dançar, quem
estava se insinuando para quem, mas sem ofender ninguém já
que a brincadeira era só entre eles.
Tom foi interrompido por uma voz que veio por detrás deles. A
princípio não reconheceu pela altura da música no ambiente.
-Tom posso falar com você um minuto?
Ele virou-se rapidamente e era Arthur, seu chefe.
- Oi Arthur, claro que pode. Querida você pode nos dar licença um
minuto.
-Claro querido. Eu vou ficar descansando por aqui mesmo que
está mais tranquilo, mas se prepara, quando voltar nós iremos lá
para o meio.
~ 8 ~
-Ai meu Deus, eu acho melhor demorar bastante. Brincou ele,
dando-lhe um beijo na testa.
Arthur e Tom se afastaram indo em direção à biblioteca no andar
de cima.
A biblioteca nada se parecia com aquelas dos filmes, onde
geralmente existiam enormes prateleiras cheias de livros e
escadas que ficavam deslizando de um lado para o outro da sala.
Arthur também demonstrou seu bom gosto ao planejá-la e
decorá-la. Tinha duas estantes enormes com portas de vidro, na
cor preta, puxadores negros embutidos, que faziam as portas de
correr deslizarem umas sobre as outras e cobriam duas paredes
inteiras em forma de L
.
No centro do ambiente existia uma grande mesa branca com
cadeiras pretas. Meio despojadamente estavam espalhadas pelo
ambiente algumas poltronas. Em, um canto da sala existia um
enorme tapete branco peludo com grandes almofadas pretas
jogadas sobre ele. A intenção era ver as crianças se esparramarem
para ler.
Ela estava equipada com um grande sistema de som, e em uma
das paredes vazias, quando necessário, refletia-se um grande
telão para demonstrar suas apresentações profissionais ou como
cinema nas horas de lazer.
Entraram na biblioteca e assim que se acomodaram nas poltronas,
Arthur já foi apertando o botão do interfone.
- Dona Sofia por favor me traga uma garrafa de whisky e dois
copos aqui na biblioteca.
- Tom é o seguinte, hoje não era um dia para tratarmos de
negócio, mas eu considero você como um amigo e se não
~ 9 ~
desabafar vou acabar enfartando. Já fazem alguns meses que os
nossos concorrentes japoneses estão sondando a compra da
empresa. No começo só dei corda para ver até onde chegaria essa
conversa, mas há alguns dias chegaram com uma proposta
irrecusável.
- Não brinca, respondeu Tom meio assustado.
- É verdade, na segunda feira passada eu aceitei. Daqui a três dias
eles estarão lá para começar a transição. Deve acontecer muito
rapidamente, não demorando mais do que quinze dias.
- Tão rápido assim, como eles aprenderão os processos nesse
tempo tão curto?
-Na verdade, eles já estão fazendo isso há um bom tempo.
Lembra-se daquele japonês e aquela loira que dizíamos que eram
fiscais da receita federal e ficaram alocados dentro da nossa
contabilidade? Pois bem; eram funcionários deles que, com meu
consentimento estavam extraindo as informações necessárias
para o fechamento do negócio.
Escutam a batida na porta e ela se entreabrindo.
- Com licença, a sua bebida, senhor.
- Pode deixar aí, que nós mesmos nos servimos. Obrigado.
-Mas Arthur, você tem 500 funcionários, como isso será feito?
- Eles irão ficar com todos eles, com exceção dos cargos de
confiança que eles devem trazer de Tóquio.
- Quer dizer então que eu estou desempregado.
-Eu não tenho os nomes, mas é bem provável que todos os meus
diretores venham a sair.
~ 10 ~
-Que ótimo! Você sabe que eu me endividei com o problema da
minha sogra, e apesar dela ter falecido, as contas do hospital não
foram enterradas junto com ela. Como eu emito nota fiscal da
minha empresa, não tenho fundo de garantia, rescisão contratual
e etc.
-Calma Tom. Primeiro eles não te demitiram ainda, segundo você
é muito capacitado e tem um currículo invejável neste meio. Se
for necessário você se realocará rapidinho.
-Você deveria ter me dito há muito tempo, não acabou de dizer
que é meu amigo? Como me deixou fora desta informação todo
esse período? Poderia ter me avisado, para que eu pudesse me
reorganizar.
-Tom me desculpe, mas eles exigiram sigilo total, se houvesse
algum vazamento e o negócio seria desfeito.
-E você não confia em mim? Acha eu sairia contando por aí?
- Claro que não. Mas se você procurasse emprego nesse período,
o mercado iria ficar de orelha em pé e começariam a especular.
Sara estava ficando entediada esperando Tom. Disseram que a
conversa sería rápida, mas já fazia mais de meia hora que estava
sentada ali, sozinha.
De repente ela observa um homem loiro vindo em sua direção
- Não pode ser. Será mesmo o Robert? Pensou ela.
Robert foi seu namorado antes de conhecer Tom. Ela, ainda tinha
um carinho muito grande por ele. Namoraram por dois anos e só
terminaram na época por imposições do destino. O pai dele era
um diplomata e foi transferido para a África do Sul e pela distância optaram em se separar em comum acordo a seguirem suas vidas.
~ 11 ~
Então como esse namoro não teve um final por falta de carinho,
eles ainda nutriam um sentimento especial pelo outro.
-Você continua estonteante. Foram as primeiras palavras que
vieram à cabeça dele.
-Você também está muito bem.
-Meu Deus, eu nunca imaginei que a encontraria aqui hoje.
Minhas pernas estão até moles.
- Há quanto tempo, 25 anos? Perguntou ela.
- Na verdade fazem 26 que eu fui embora, depois nos
correspondemos por mais 1 ano, você começou a namorar e eu
também, daí paramos de nos corresponder.
- Esse mundo é muito louco.
-Você está muito linda, ainda penso em você e em todas as
loucuras que fizemos juntos.
-Tivemos bons momentos. E você casou?
-Casei e me separei já fazem 5 anos, tenho uma filha de 15 anos
que mora com a mãe em Johanesburgo.
- Eu estou casada com o Tom, o mesmo rapaz que conheci depois
que você foi embora. Tenho três filhos, uma menina e dois
rapazes.
- Mãe de três, com esse corpo? Acho que se tivéssemos ficado
juntos, nós teríamos uns quinze filhos. Adorava fazer sexo com
você.
- Você também era muito gostoso, mas vamos mudar de assunto.
Primeiro eu estou casada, ou melhor, bem casada e, segundo, ele
está aqui na festa.
~ 12 ~
-Como ele deixa você aqui sozinha? Eu nunca deixaria você linda
desse jeito dando sopa.
- Ele foi obrigado. O, chefe dele é o aniversariante e veio buscá-lo para uma conversa, provavelmente coisas do trabalho.
-Eu perderia o emprego, mas não deixaria você só, brincou ele.
-Engraçadinho.
Sara não queria demonstrar, mas depois de várias caipirinhas, ser
assediada novamente e por um antigo amor inacabado a estava
deixando muito excitada. As lembranças de todas as maluquices
que fizeram juntos na adolescência vieram rapidamente na
cabeça como se fosse um filme. Ela amava Tom, só que a rotina
do casamento e os problemas que enfrentou com sua mãe os
deixaram mais amigos do que amantes. Ela era eternamente grata
por tudo que Tom fez pela sua mãe e pelo carinho que ele tratava
a ela e aos seus filhos, mas naquele momento ela estava louca
para arrancar a roupa de Robert e fazer o sexo mais selvagem que
já tinha feito na vida, por isso manteve uma distância segura para
não cair na tentação.
Começou a perguntar sobre o que ele tinha feito da vida em todos
esses anos, tentando sempre levar a conversa para um lado mais
sério, evitando as insinuações e as investidas mais diretas dele.
***
Tom estava confuso, por mais que Arthur tentasse acalmá-lo,
buscando lhe mostrar que o seu potencial estava bem acima do
mercado, pela primeira vez, depois de muitos anos, se sentiu
inseguro. Ele sempre teve a sua vida muito bem organizada e
apesar das grandes despesas, elas eram muito bem controladas, e
~ 13 ~
,de repente, essa bomba que lhe jogaram na cabeça fugia do seu
controle habitual.
-Bem, Arthur. Vamos esperar para ver o que acontece esta
semana, ninguém conhece a área comercial desta empresa
melhor do que eu, talvez os japoneses também enxerguem isso.
-É claro, Tom. Não vamos colocar a carroça na frente dos bois.
Tom sabia que apesar de Arthur o considerar um amigo, em
questão de dinheiro ele sempre foi muito individualista, não viu
no passado nenhum movimento de ajuda a nenhum de seus
antigos funcionários por mais que eles tivessem se doado àquela
empresa. Então, ele já pressentia que no seu caso não seria
diferente.
Arthur era um poço de conselhos, para cada ação existia um
conselho pré-moldado. Desde que ele não tivesse que enfiar a
mão no bolso por alguém, ele daria conselhos por toda a vida.
-Arthur eu preciso descer, deixei a Sara sozinha e ela praticamente
não conhece ninguém aqui. Na segunda continuaremos a nossa
conversa, e vamos nos preparar para enfrentar os novos donos.
- É isso aí. Me desculpe de tê-lo tirado da festa, mas se eu não
desabafasse com você eu não dormiria por todo final de semana.
"Ele passou meses negociando a Empresa e agora por dois dias
não iria conseguir dormir? "Se eu não o conhecesse direito,
acharia que ele teria um pingo de dor na consciência." Pensou
Tom.
Robert deu o telefone para Sara, que a princípio não queria
aceitar. Ela guardou no fundo falso de seu espelho de maquiagem
e foi logo falando:
~ 14 ~
-Robert a nossa história terminou quando você foi embora, hoje
estou casada, feliz e tenho uma família linda para cuidar.
- Eu entendo, mas não diga que não ficou feliz em me ver.
-É claro que sim, você foi uma parte importante da minha vida,
mas agora eu não tenho o direito nem de falar com você, quanto
mais desejar algo.
-Tá bom, vamos só dançar uma música para encerrarmos o nosso
encontro.
-Não, isso não seria conveniente, além do mais o Tom deve
aparecer a qualquer momento.
Robert ainda ficou insistindo por um bom tempo.
Sara resistiu enquanto pode, mas não conseguiu e foi dançar com
ele. Só dele apertar a sua cintura seus seios já enrijeceram e o
calor que ela estava sentindo estava ficando insuportável. Ela não
sentia esta sensação a muito tempo, e só Deus sabe o quanto
estava resistindo em não o beijar.
-Estava com saudade do seu cheiro, ele continua o mesmo, disse
ele.
- Robert, se comporte por favor.
-Eu não fiz nada, só falei do seu cheiro.
- Você me entendeu muito bem.
-Eu sei, eu sei, mas você continua uma delícia e com esse vestido
agarrado em seu corpo já pensei muitas besteiras.
Tom veio entrando pelo salão e não entendeu nada ao ver Sara
dançando com um desconhecido. Ficou furioso, mas naquele
momento e naquele lugar não era hora para fazer escândalo. Sara
~ 15 ~
percebeu a sua presença e veio ao encontro dele como se aquilo
fosse a coisa mais natural do mundo.
-Oi querido, como você demorou. Esse aqui é o Robert, é um
amigo que não via desde o tempo da faculdade, ele acabou de
chegar da África do Sul, como não conhecíamos quase ninguém
fizemos companhia um ao outro.
-Oi tudo bem? Muito prazer, Tom. Cumprimentou com uma voz e
um olhar de poucos amigos.
-O prazer foi meu. Bem eu já estava de saída, tenho que passar
em outra festa de aniversário para dar um alô a um amigo, senão
ele ficará bravo comigo. Bem Sara, foi muito bom te ver
novamente.
-Foi bom mesmo Robert, manda um beijo pra Simone. Ele se
casou com uma amiga nossa da época da faculdade. Foi a primeira
coisa que veio à cabeça de Sara para minimizar aquela situação
meio constrangedora.
Enquanto Robert foi se afastando, Tom fulminou Sara com o
olhar, mas ela continuou se fazendo de desentendida.
-Você pode me explicar o que estava acontecendo?
-Claro que posso meu amor, você me deixou plantada, encontrei
um amigo que fez o favor de me fazer companhia, dançamos uma
música e você voltou.
-Então acha normal eu chegar e pegar você abraçada dançando
com um estranho. Se fosse ao contrário, você não estaria muito
contente nesse momento.
~ 16 ~
-Não faça tempestade num copo d’água, foi só uma dança, mas
me parece que você chegou aborrecido por outra coisa. Como foi
a conversa com o Arthur?
-Nada agradável, mas depois a gente conversa sobre isso.
-Vamos dançar meu anjo, você prometeu que iria dançar muito
comigo hoje.
Sara tinha o dom de conseguir levar a conversa para o terreno que
mais lhe agradava e como ainda estava com muito tesão, pensou:
- Hoje vou fazer com o Tom tudo que tinha vontade de fazer com
o Robert, vai ser a melhor transa da vida dele. Ainda bem que ele
chegou, ou eu ia acabar fazendo uma besteira grande.
Sara deu um beijo no pescoço de Tom e o puxou pelo braço para o
meio da pista. Ele ia se fazer de difícil, mas acabou se deixando
levar pelas artimanhas dela.
Robert ficou observando de longe e pensou: - Espere Sara, pode
apostar, você ainda vai parar na minha cama de novo.
Apesar de Tom não conseguir se desligar totalmente da conversa
que teve com Arthur, o resto da noite transcorreu bem. Sara
estava mais assanhada do que de costume, a cada oportunidade
ela deixava uma mão boba escorregar sobre seu colo e provocou-
o a noite inteira. Não era a Sara que ele conhecia, mas ele estava
adorando.
Naquela noite, ela cumpriu o prometido, fez coisas inimagináveis
para ele até aquele dia, realmente acho que eles iam dormir uns
cinco dias....
~ 17 ~
Capítulo 2
Tudo de cabeça para baixo.
Era um pouco mais de meio dia, eles estavam acordados, mas
ainda deitados, a preguiça os impedia de levantar.
-Querido, nós chegamos tão empolgados ontem à noite que eu
não vi o e-mail da Amandinha.
-Veja pelo meu celular mesmo, está aí do lado da sua cabeceira.
-Engraçado, não tem nada aqui, ela nunca foi de deixar de enviar
uma mensagem quando chega em casa.
-Não deve ser nada, nós é que estamos mal-acostumados de ter
pelo menos um alô todos os dias. Daqui a pouco ela entra em
contato.
-Eu não aguento isso, vou dar uma ligada para ela.
Depois de três tentativas ela comentou:
- Só dá caixa postal.
- Vai ver que estava sem bateria, por isso que não ligou e mandou
e-mail. Tom percebeu que Sara estava preocupada e tentou
acalmá-la.
-Sabe como são os adolescentes, fazem tudo ao seu tempo.
~ 18 ~
***
Na noite anterior Amanda saiu às 9 horas da noite do seu curso de
teatro junto com Peter, saíram mais cedo porque combinaram de
ir para a balada encontrar uns amigos dele. Iam só passar na casa
de Amanda, e tomar um banho rápido. Não queriam sair muito
tarde, porque no dia seguinte logo cedo estariam no teatro
novamente.
-Peter, não sei por que você insistiu tanto para ir nessa balada
hoje.
-Nada demais, só estava afim de ver uma galera que não vejo há
algum tempo.
-Tudo bem, é que esse não é seu jeito, você está estranho.
-Pare de falar besteira, vamos embora, está enxergando coisas
que não existem.
-Ok, não está mais aqui quem falou.
Chegaram na balada já se passavam das 23 horas, Peter parecia
que estava em casa, de cada dez pessoas ela cumprimentava
metade, gente de todas as tribos e estilos. Amanda estava meio
deslocada, não entendia como ele conhecia tanta gente que ela
nunca tinha visto. Mais, uma vez ela achou que aquele não era o
Peter que ela estava habituada a ver.
Pegaram umas bebidas e ficaram em uma mesa no fundo do
salão. A cada dez minutos Peter levantava para conversar com
alguém diferente em algum canto mais reservado. Em nenhuma
das vezes pediu para Amanda o acompanhar e a conversa era
sempre a mesma:
~ 19 ~
- Dá um tempinho aí gatinha, eu vou cumprimentar um amigo ali
que eu estou vendo. Volto já.
Amanda começou a perceber que cada vez que ele sentava,
alguém o encarava, fazia um pequeno aceno com a cabeça ou
com a mão, e lá ia o Peter novamente.
A área Vip ficava em um mezanino do lado direito, com o piso
mais ou menos um metro mais elevado que o piso normal do
salão, era cercado por grades e uma catraca eletrônica que
controlava com um cartão o acesso dos convidados.
Chamou a atenção de Amanda dois rapazes que ficaram o tempo
todo encostados na grade, acompanhavam o movimento de vai-
e- vem de Peter. Pensou que deveriam ser seguranças da boate
disfarçados, mas só não entendia porque olhavam mais para o
Peter do que para as demais pessoas. Pensou em comentar com
ele, mas como ele tinha bebido um pouco e às vezes era meio
esquentado, achou melhor não incentivar uma possível confusão.
Lá pelas duas da manhã Amanda já estava entediada, Peter não
lhe deu atenção a noite inteira, aquele senta e levanta dele já
havia lhe deixado irritada.
- Peter chega, vamos embora, isso aqui está um porre e temos
que levantar cedo.
-Calma meu amor, isso aqui tá fervendo hoje, só mais meia
horinha.
-Se você quiser ficar que fique, eu estou indo embora.
-Tá bom, tá bom. Deixa eu me despedir da galera e a gente já vai.
~ 20 ~
Peter parecia um relações públicas, passou pelo salão inteiro e
falou com todo mundo novamente, e lá se foi a meia horinha que
ele tinha pedido.
Amanda se encheu e foi saindo sozinha, quando ele veio correndo
atrás:
-Pronto querida.
-Pronto querida? Nunca mais você me faça de besta, me leva para
sair e não me dá atenção a noite inteira. Se essa era a sua
intenção porque não veio sozinho?
-Calma, deixa de ser ciumenta. Eu só queria falar com uma galera
que não via há muito tempo.
-Um povo esquisito, alguns mal encarados, eu não sou fresca, mas
muitos que eu vi ali se eu encontrasse na rua sairia correndo.
Eles estavam entrando no carro quando foram abordados por dois
homens.
-Polícia. Documentos por favor e deixem as mãos bem à vista.
Sara reconheceu que um dos homens era um dos que estavam
encostados na grade a noite inteira e não tirou o olho de Peter.
Um começou a revistar Peter e o outro a vasculhar o seu carro.
Logo em seguida chegou uma policial feminina e solicitou que
Amanda esvaziasse seus bolsos, depois começou lhe apalpar a
procura de algo. Era muito constrangedor.
- Achei! Disse um policial. -Estava em um fundo falso da jaqueta
dele.
- O que temos aqui meu rapaz? Cocaína?
- São só dois papelotes para consumo, seu guarda.
~ 21 ~
-Para consumo? Você traficou a noite inteira e agora vem dizer
que é para consumo? - E esses C$1500 dólares na carteira?
- É proibido ter dinheiro? E a droga é para consumo, sim. Eu não
sei o que o senhor está falando sobre tráfico.
-Tadinho, você é um anjinho. Vamos os dois para delegacia, lá
você vai ter muito tempo para se lembrar das coisas.
Enfiaram os dois no banco de trás de um carro sedan preto, com
os todos os vidros filmados na cor mais escura possível.
Provavelmente até de dia, com o sol a pique, a luminosidade
deveria ter dificuldade de entrar.
Amanda ficou atordoada, mas agora as coisas começaram a ficar
mais claras. Não era à toa que Peter ficou circulando a noite
inteira, se ela não o tivesse visto nunca acreditaria que ele seria
capaz de fazer isso. Mas por que? Ele é de família rica, para que
fazer isso? Como eu vou explicar que eu não tenho nada a ver
com essa história? Eu nunca nem provei essa porcaria e agora
estou sendo presa por tráfico? O que meus pais vão pensar? E
meus amigos?
Amanda entrou em desespero e começou a chorar.
-Eu não tenho nada a ver com isso? ela falava.
- É, nunca ninguém tem. Um monte de jovens que se matam o dia
inteiro com overdose e famílias inteiras desgraçadas pelo vício,
ninguém nunca tem culpa, respondeu o policial.
A cada momento ela ficava mais desesperada. Ela tinha vontade
de voar no pescoço de Peter e dizer umas verdades a ele, mas
sabia que qualquer conversa naquele momento poderia piorar a
situação deles. Peter simplesmente ficou de cabeça baixa a
aparentemente não tinha coragem de olhar para ela.
~ 22 ~
A delegacia era próxima, mas a sua chegada parecia uma
eternidade. Ela não conseguia parar de pensar na sua mãe,
primeiro porque não fez o seu contato diário, depois imaginando
quanto ela iria ficar louca sabendo que estava presa e sozinha em
outro país. Elas sempre foram muito unidas e confidentes, sua
mãe é que deu a maior força para que ela fosse estudar fora, se
dependesse de seu pai ele queria que todos os filhos ficassem
debaixo da sua asa, e provavelmente ele iria jogar isso na sua
cara.
-Meu Deus, eu nunca nem passei perto de uma delegacia, se me
deixarem presa, será que vou ficar com um bando de prostitutas,
assassinas, ladras e sei lá mais o que na mesma cela? Ela pensava
e imaginava as cenas dos filmes onde as presidiarias
importunavam as novas prisioneiras. Não é justo, eu não fiz nada,
como fui me envolver com esse filho da puta do Peter, porque ele
fez isso? Eu não entendo.
Chegando na delegacia, separaram os dois, levaram Amanda para
uma sala onde existia somente uma mesa enorme no centro com
três cadeiras, as paredes eram cinza, o teto branco, o piso de
madeira bem velho, mas muito bem encerado, a porta era de
ferro e existia uma janela enorme em uma das paredes com um
vidro refletivo. Provavelmente era a sala de interrogatório, igual
àquelas que se via na TV e deveria estar cheio de gente à
observando por trás daquela janela.
Amanda foi deixada na sala, sozinha. Antes de sair a policial
perguntou se ela queria um copo de água, ela fez um sinal com a
cabeça aceitando. A policial se retirou, atrás da porta era possível escutar o ferrolho travando a mesma.
Já se passavam mais de 1 hora e meia e ninguém entrava por
aquela porta, provavelmente era uma pressão psicológica para
~ 23 ~
que as pessoas exaurissem as suas forças antes de depor, sua
boca estava seca. Depois de chorar muito, nem o copo de água
que Amanda tinha solicitado tinha vindo, ela achava que aquilo
também era proposital. Tinha a impressão que o tempo todo era
observada pela janela, isso fazia com que até seus movimentos
fossem calculados, não existe sensação pior.
Amanda escutou o barulho do ferrolho novamente, a porta se
abriu, entrou um negro muito alto e se sentou à sua frente.
-Boa noite mocinha, você quer um copo de água?
Ela teve vontade de comentar que já havia pedido há duas horas
atrás, mas se conteve e apenas respondeu:
- Por favor.
Ele se levantou, deu três batidas na porta, ela se entreabriu e ele
cochichou algo que não deu para escutar, parecia ser era algo a
mais do que só a água solicitada. Continuou falando baixo por
alguns minutos e retornou com um copo na mão.
-Aqui está. Você quer um cigarro também?
-Eu não fumo, obrigada.
-Vocês vendem droga e não fumam nem um cigarro?
-Eu não sei nada sobre vender drogas.
-Tudo bem, começamos de maneira errada. Meu nome é Marcel,
delegado Marcel. Vocês foram pegos distribuindo e portando
drogas. Se você for boazinha e começar dizendo quem fornece o
bagulho, pode ser que agente seja bonzinho e só autue vocês por
porte. Se não ajudar, te indiciaremos por tráfico, que é um crime
inafiançável e vamos te jogar numa cela cheia de marginais lá no
fundo.
~ 24 ~
-Eu realmente não sei nada sobre isso, delegado. Fui para uma
festa com meu namorado, não falei com ninguém além dele e na
saída fomos abordados por vocês. Disseram que ele tinha droga
nos bolsos. Nem isso eu posso afirmar que é verdade, estava
sendo revistada do outro lado do carro.
-Você está dizendo que a polícia forjou a prova?
-Não, eu estou dizendo que não vi nada.
-Bom você tem 15 minutos para pensar direitinho que destino
você vai dar pra sua vida. Você tem direito a uma ligação,
somente uma. Pense direitinho.
O delegado se levantou e saiu novamente.
Ela ficou pensando que poderia ficar 10 dias naquela sala que não
iria mudar a sua versão dos fatos, simplesmente porque não
existia outra, sabia que tinha entrado nesse rolo porque o Peter
realmente tinha feito uma besteira enorme. A sua preocupação
era para quem poderia ligar, seus pais estavam muito longe, sabia
que a condição financeira deles não era das melhores, mesmo
assim demorariam no mínimo de dois a três dias para chegarem
lá. Peter que era seu namorado estava lá junto com ela, na
verdade ela estava lá por causa dele. Ela não conhecia ninguém
nessa cidade que valesse a pena ligar, a não ser seu professor de
teatro, mas ele seria a última pessoa que deveria saber que ela
estava lá. Ela tinha ganho