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Ensina-me: Aprender nunca foi tão prazeroso
Ensina-me: Aprender nunca foi tão prazeroso
Ensina-me: Aprender nunca foi tão prazeroso
E-book645 páginas16 horas

Ensina-me: Aprender nunca foi tão prazeroso

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Sobre este e-book

~Um romance cheio de drama, reviravoltas e paixão~Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceita a ajuda do maior conquistador que conhece, Simon Salvatore, seu patrão.Contra todas as suas regras Simon ensina Paulina a arte da conquista. Porém, entre uma aula e outra, fica difícil não ser vítima de seus próprios truques.~Ela tinha um problemaMesmo que sua atitude fosse contra todas as suas regras, Simon se agachou em frente à governanta. Em meio às lágrimas, era visível a surpresa com a qual Paulina o fitou.— O que houve?— Nathaniel disse que sou boa demais pra ele, que não quer me iludir e não continuará comigo — ela respondeu entre soluços.— Traduzindo: Ele te deu um fora — resumiu sem pensar, arrependendo-se quando ela se entregou ao choro compulsivo.~*~Ele era a solução.— Ser puritana demais só afasta os homens — Simon argumentou. — Não condeno seu sonho de encontrar o príncipe encantado, que vai te dar o 'felizes para sempre'. Mas, mesmo que existisse, ele não ficaria com alguém que foge ao menor toque.— Não sei ser e nem agir diferente.— Posso ensiná-la. É só pedir.Paulina o encarou espantada e Simon pensou em dizer ser brincadeira. No entanto, antes que retirasse a oferta, Paulina juntou coragem e pediu:— Simon, me ensine a ser uma mulher diferente, mais... sensual.~Ensina-meAprender nunca foi tão prazeroso
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de nov. de 2022
ISBN9781526041951
Ensina-me: Aprender nunca foi tão prazeroso
Autor

Luciy Moon

Desde os 7 crio histórias para me divertir. Com o intuito de melhorar a escrita, participei de curso de escrita criativa, desafios na internet e atualmente faço Marketing Digital para divulgar minhas obras.

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    Ensina-me - Luciy Moon

    Ensina-me

    Aprender nunca foi tão prazeroso

    ~ 1 ~

    Escrita por Luciy Moon

    Direitos autorais do texto original © 2018

    Mundo Luciy

    Todos os direitos reservados

    ISBN: 978-65-998209-9-1

    Sumário

    Luciy Moon

    Agradecimentos

    Prólogo

    Ostra

    Preciso de uma governanta

    Alguém em mente

    Bendita governanta

    Não dura

    Regras

    Batalhão

    Contrato?!

    Uma dança

    Senhor Salvatore

    Zona de conforto

    Almoço de noivado

    O que você quer?

    Relaxe!

    Surpresinha

    Um pedido

    Ele não quer

    Outro Lado

    Mariposa e Lamparina

    Vestido de noiva

    Atestado de insanidade

    Happy hour

    Decadente

    Procure seu noivo

    Traduzindo

    Dia de folga

    Confusão

    Simplista

    Cinco

    Lista

    Beije-me

    O Salvador

    Por Nathaniel

    Prove

    Dê uma chance

    Uma nova mulher

    Não me encaixo

    Deixe-se envolver

    Borboletas azuis

    Eu vou

    Jasmine

    Negociável

    Belo Par

    Guerreira

    Não se apaixone

    A vida é sua

    Entre Leões

    Fantasma?!

    Aprenda

    Atalho perigoso

    Bebês

    Anomalia

    Loucura

    Colecionador de mulheres

    Espécime

    Pela Paulina

    Muito bem?!

    Passeio

    Parecido

    Não Confirmei

    Bungee Jump

    Tire fotos

    Perfeita

    Topa?

    Quando é verdadeiro

    Não quero brincar sozinho...

    Marido de Aluguel

    Faça amor comigo

    Líder

    Agora ou nunca!

    Eu te amo

    Sou todo seu, amor

    Título de líder

    Primeira vez

    Beijo Roubado

    Fora de cogitação

    Duas caixas

    Incômodo

    Ciúme

    Gostosura no DNA

    Seu Amigo

    Se houvesse a possibilidade

    Pare de fugir

    Revelação de Simon

    Desculpas descabidas

    Me dê algum crédito

    Minha resposta

    Muito estranho

    Posso dormir aqui?

    Mensagens

    Looping

    Guardei tudo

    Sinto sua falta

    Em dívida

    Mais que palavras

    Irredutível

    Reconheço os sintomas

    Fez bem a você

    Fantasiando

    Raiva e inveja

    Duas chances

    Epílogo

    Cena Bônus - Ólliun

    Adquira o Livro Físico

    Luciy Moon

    Desde os 7 crio histórias para me divertir, a cerca de 10 anos posto histórias com o pseudônimo de Luciy Moon, K. L. Moon e K. Luciyn. Com o intuito de melhorar a escrita, participei de curso de escrita criativa, desafios na internet e atualmente faço Marketing Digital para divulgar minhas obras.

    Amo ler o que meus leitores têm a dizer e sugerir, sem vocês, estrelas da minha vida, sou só o rascunho de uma escritora.

    ~

    Encontre-me:

    Instagram / Kwai / TikTok: @mundoluciy

    Twitter: @Luci_0285

    Dreame / Buenovela / Hinovel / Fizzo: Luciy Moon

    Wattpad: @LuciyMoon

    UICLAP: mundoluciy

    Agradecimentos

    Essa história e todas interligadas a ela são uma humilde homenagem à escritora que adoçou e salvou minha vida com suas mocinhas delicadas e seus mocinhos que mais parecem vilões, a saudosa Penny Jordan. Devo muito a ela e essa é a forma que encontrei para agradecer.

    Agradeço a minha mãe, por todo apoio e suporte.

    E agradeço minha amiga Alessandra Galvão (Arê) pela leitura crítica, pela ajuda na revisão e na criação de algumas cenas. Sem sua amizade chegar ao ponto final seria impossível.

    Também tenho muito a agradecer aos leitores ao longo da trama, sem eles sou um rascunho de autora.

    Big beijos e boa leitura!

    Prólogo

    Simon Salvatore corria em círculos pelo jardim, os bracinhos abertos, um sorriso largo de satisfação pela força do vento chocando-se contra seu rosto e balançando seu cabelo. Era como voar. Adorava a sensação, mas, acima de tudo, amava ouvir a risada miúda de sua amiga de brincadeiras, Paulina Perez, filha da governanta e do motorista da mansão Salvatore.

    A menina, dois anos mais nova, se encontrava sentada no tapete de retalhos da varanda, os olhos de um suave tom âmbar observando fascinada o amigo rodar e rodar.

    — Vamos, Lina! É divertido!

    — Não. Da outra vez fiquei tonta, cai e mamãe brigou — lembrou, as bochechas coradas pelo calor primaveril de novembro.

    Simon parou de rodopiar. Contrariado, subiu os três degraus que levavam à varanda e sentou-se ao lado dela.

    — Não tem graça sem você — resmungou fazendo bico, com isso arrancando o riso cristalino da amiga que, um pouco encabulada, colocou a mão sobre a dele.

    Simon admirou pequeno sorriso, a face corada e a beleza dela. Paulina parecia uma boneca de porcelana, como as que sua mãe guardava na prateleira mais alta do quarto de costura. Branquinha, lábios rosados, delicada, sempre de vestido de rendas florais. A diferença era que tinha permissão para brincar com Lina. Embora ela recusasse algumas brincadeiras, como subir em árvores, rodar pelo gramado e jogar bolas de lama. Mesmo assim, Simon gostava muito dela e a queria para sempre ao seu lado.

    Sua atenção foi atraída por vozes na lateral da mansão. Viu sua mãe acompanhar o marido até o carro. Mantendo a porta traseira aberta para o patrão, estava o pai de Paulina. Simon sorriu quando sua mãe deu um beijo nos lábios de seu pai antes de deixá-lo partir para o trabalho. Toda manhã eles repetiam aquele gesto e Simon se perguntava se era isso que os mantinha juntos.

    Voltou-se para a amiguinha, que também observava a cena, e, imitando sua mãe, depositou um beijo na boca de Paulina.

    Foi então que tudo mudou em sua vida. Naquele breve instante, após aquele breve beijo.

    De repente, a mãe dela, apareceu gritando e puxou Paulina para longe dele. Apavorado, ouviu a mulher, sempre tão gentil, repreendê-lo duramente.

    Sua mãe se aproximou, confusa com a gritaria, e a mãe de Paulina contou sobre o beijo e disse que ele tinha tomado liberdades indevidas com a filha dela. As duas mulheres começaram uma discussão calorosa. Confuso, Simon chorou com medo de que seu beijo houvesse ferido a amiga e por isso a mãe dela estava tão irritada com ele.

    Depois daquele dia, nunca mais a mãe de Paulina lhe deu permissão para brincarem, nem permitia que ficassem sozinhos no mesmo lugar.

    Simon não entendia o que havia de tão mau em seu beijo, porém não teve coragem para perguntar ou reclamar da distância crescente entre ele e Paulina.

    Passou a ter raiva, da Perez, de si mesmo e da péssima ideia de beijá-la para uni-los para sempre. O efeito foi contrário, a cada dia se afastavam, ignoravam e, com o passar do tempo, se tornaram dois estranhos na mesma casa.

    Ostra

    Ao atravessar a porta dos fundos da mansão, Simon Salvatore lançou um olhar furtivo à Paulina Perez que conversava com o jardineiro. A presença dela era um chamariz para sua curiosidade. Nos últimos dois anos a viu poucas vezes, sempre de passagem, agora ela voltara para ficar, segundo a governanta da mansão lhe informou.

    Encostou-se a uma viga da varanda e a observou, aproveitando que ela não percebeu sua presença. Com cerca de um metro e cinquenta, ela conseguia ficar ainda menor com as roupas que usava, saia longa e blusa de manga cumprida. Simon nunca entendeu o motivo de se fechar assim mesmo em dias de extremo calor, caso em que aquela tarde se encaixava. O longo cabelo preto estava amarrado na nuca, à franja farta ocultando os olhos que faziam Simon lembrar-se de mel derretido. Mesmo a distância Simon sabia que a pele clara dela estava corada por causa do calor.

    Sorriu de canto e andou devagar na direção dela, presumindo que ficaria ainda mais corada quando o visse.

    Sentindo-se observada, ela parou a conversa e, protegendo os olhos do sol forte com a mão, avaliou momentaneamente o homem vindo na direção dela e de Pedro, seu tio. Assim que reconheceu Simon, sentindo as mãos suando e o coração retumbando nos ouvidos, retornou sua atenção ao tio podando arbustos.

    Apertou uma mão na outra, inconscientemente mordendo o lábio, a tensão apossando-se de seu corpo ao prever o que aconteceria quando o caçula dos Salvatore estivesse perto.

    No geral, Simon era arrogante, convencido e um egoísta do pior tipo, que passavam pelas mulheres com indiferença devastadora.

    Sua mãe, Soraia Perez, sempre a preveniu sobre homens como o Salvatore, exigindo que mantivesse distância respeitosa do filho da patroa. Paulina cresceu fazendo isso, o que nem foi bem difícil, pois Simon tinha um perturbante prazer em provoca-la.

    Simon cumprimentou ambos antes de concentrar-se em Pedro, perguntando educado sobre o serviço do jardineiro e elogiando-o pelo tratamento dado aos jardins. Mesmo tentando ficar alheia a conversa, de canto de olho, Paulina analisou o Salvatore, dando-se conta, não pela primeira vez, que, quando queria, ele era agradável. Eram momentos como aquele, em que Simon se comportava com amabilidade e sorria, que Paulina entendia as mulheres ficarem perdidamente atraídas por ele.

    Sem dúvida, Simon era um homem bonito, de espesso cabelo preto, insinuantes olhos escuros e estatura imponente. Até mesmo Paulina, que sabia o quanto a aparência ocultava uma personalidade terrível, tinha nutrido uma paixonite por ele na adolescência. Sentimento que suprimiu tanto por causa da insistência dele em constrangê-la, quanto pelos avisos de sua falecida mãe e de seu pai para sempre se lembrar de que não passava de uma empregada na mansão, mesmo ela sendo só filha dos empregados.

    — Depois nos falamos tio. Até mais, senhor Simon! — despediu-se, incomodada em ser praticamente esquecida pelos dois homens.

    Afastou-se apressada em direção a lateral da residência, em que sua família morava ha três gerações, planejando separar a roupa para a entrevista de emprego que teria na manhã seguinte.

    Embora gostasse de dividir novamente o mesmo teto que a irmã mais nova, a convivência com seu pai não era fácil. Desde que perdeu seu emprego anterior, Paulo Perez insistia em que trabalhasse na faxina da mansão ou outro cargo menor. Durante anos atendeu cada anseio de seu pai, até mesmo os cursos que fez foi seguindo imposições dele, mas, diplomada em governança hoteleira, a menos que ficasse sem nenhum tostão na conta, não aceitaria menos que o cargo de governanta.

    — Voltou indefinidamente para a mansão? — A voz grave de Simon às suas costas trouxe-a de volta à realidade.

    Perturbada por ele a ter seguido, Paulina perguntou-se por que razão Simon cismava justamente com ela. Podia continuar seu caminho e ignora-lo, porém, se seu pai descobrisse que tratou mal o filho dos patrões a repreenderia.

    — Só até encontrar um novo emprego — disse baixinho, a cabeça abaixada e os olhos evitando-o.

    Ele parou a sua frente, as mãos nos bolsos e, pela curvatura da sombra no chão, notou que se inclinava na direção dela.

    — Vai fritar nessa sauna que chama de roupa — ele escarneceu. — Vestida desse jeito, presumo que preencherá a vaga de freira. É esse o trabalho que procura?

    Paulina puxou as mangas da blusa, apertando os dedos nas bordas, ocultando os poucos centímetros de pele exposta. Odiava quando Simon zombava de suas roupas.

    Apertou os lábios, contendo a vontade de revidar, de dizer que, diferente das mulheres com as quais ele saia, ela foi criada para valorizar a decência e discrição.

    — Perdeu a língua, Perez?

    Inspirou fundo, tremendo de vontade de abandonar todas as regrinhas de bom comportamento, implantadas pelos pais em sua mente, e mandar Simon pastar.

    — Trabalharei de governanta em um hotel — respondeu por fim.

    O jeito que falou levaria qualquer um a crer que a contratação era certa, quando ainda dependia de uma última entrevista. Paulina preferia nadar com jacarés, a dar ao Salvatore mais munição para criticá-la.

    Simon se endireitou, analisando-a friamente, os olhos escuros se detendo nas mãos que se apertavam, notando as dobras esbranquiçadas dos dedos, quase como se não houvesse sangue circulando neles. A face dela também estava pálida, e seus lábios estavam trêmulos e apertados, sinal claro de que Paulina estava a ponto de colapsar de nervoso.

    — Não sei para quem devo desejar sorte, para você ou para quem deu o azar de contrata-la — Simon soltou dando um passo para trás. — Tente agir menos como uma ostra.

    Com esse conselho sem sentido aos ouvidos de Paulina, Simon moveu-se para o lado, saindo da frente dela. Agarrando em desespero a oportunidade, Paulina seguiu a passos largos para a casa que dividia com o pai e a irmã.

    Se olhasse para trás, surpreenderia Simon com um risinho divertido nos lábios.

    Preciso de uma governanta

    Massageando a têmpora na esperança de amenizar as pontadas na cabeça, Simon ouvia entediado o que a mulher de olhos negros, cabelo marrom, vestindo um microvestido azul dizia. A voz dela era irritante, o cruzar e descruzar de pernas eram irritantes e as caras e bocas eram irritantes. Tudo naquela mulher o irritava, mas o principal era que ela o obrigava a perder seu precioso tempo para entrevistá-la quando era óbvio que desejava muito mais que ser sua governanta. Era evidente no modo de sorrir, de fingir ter pudor ao puxar devagar a barra do vestido ultrajusto para cobrir — obviamente sem sucesso — as coxas grossas e no modo como se inclinava por qualquer motivo oferecendo ao Salvatore uma bela visão dos seios fartos.

    Cerrou os olhos por um instante após a oitava vez que ela cruzou e descruzou vagarosamente as pernas desde que começara a entrevistá-la. Presumia que ela assistira Instinto Selvagem ¹demais.

    Não era a primeira entrevistada a se insinuar descaradamente para ele. E em outro dia, em outro local ou até mesmo ali, após uma noite produtiva na balada, Simon aceitaria com satisfação o convite. Só que, por uma questão de bom senso, não seria louco de contratar uma mulher que faria hora-extra em sua cama. Jamais teria sexo casual com alguém que possuísse total acesso a sua casa e que em um impulso de raiva colocasse fogo em tudo.

    No momento, a única coisa que desejava era contratar alguém para deixar seu apartamento em ordem, suas roupas limpas e perfeitamente alinhadas no guarda-roupa, e garantir que quando chegasse, da balada ou do trabalho, tivesse algo para comer. Um desejo simples e prático, mas pelo jeito impossível de se obter.

    — O senhor pode ter certeza que realizarei cada uma de suas fantasias — a morena insinuou passando a língua pelos lábios de modo sugestivo.

    Certo! Instinto Selvagem era um filme muito cabeça para aquela mulher, que com certeza vira a cruzada de pernas e o gesto libidinoso em algum filme pornô de quinta categoria.

    — Senhorita Moraes, procuro uma governanta, não uma... — freou a vontade de dizer transa e se levantou. — Agradeço sua presença e, caso a escolha, irei lhe telefonar ainda essa semana. — O que nunca vai ocorrer, completou mentalmente enquanto andava decidido até a porta do apartamento e a escancarava. — Tenha um bom dia, senhorita Moraes.

    — Aguardo ansiosa o seu telefonema, Simon.

    Simon se perguntou em que ponto da entrevista dera tamanha intimidade àquela mulher para que ronronasse seu primeiro nome e o beijasse na face - e isso porque virara o rosto.

    — Nova namorada, filho? — A distinta voz feminina às suas costas causou-lhe um leve tremor de apreensão.

    Virou-se e observou sua mãe, Mirela Salvatore, elegante em uma combinação de saia lápis de listras brancas e pretas, camisa de manga longa branca e scarpin, caminhar na direção deles, os perspicazes olhos negros fitando com interesse a morena ao seu lado.

    — Não, mãe — respondeu temendo as consequências da interpretação errônea. — Acabei de entrevista-la para a vaga de governanta.

    — Mesmo? — Mirela olhou a mulher de cima a baixo, sorriu e comentou com ironia: — Na minha época as governantas vestiam mais roupa e não deixavam marcas de batom no rosto do futuro patrão. — Ignorando o palavrão que Simon soltou após passar a mão na bochecha e ver os dedos tingidos de vermelho, completou sarcástica: — Novo tempo, novas atitudes, certo...? Qual seu nome, minha jovem?

    — Fernanda Moraes.

    — Fernanda... Belo nome...

    Mirela supôs que deixara evidente seu desagrado, pois a mulher se despediu rapidamente deixando-a sozinha com seu filho metido a conquistador. Assim que Simon fechou a porta, perguntou:

    — Pensa em contratar aquela mulher, Simon? Não falo nada da sua vida... Digamos incorreta. Mas contratar uma mulher que deseja ser mais que uma funcionária é um perigo — avisou seguindo-o pela sala. — Logo ela vai querer um anel de diamantes no dedo e um polpudo acordo de divórcio.

    — Não se preocupe. Não pretendo contratá-la, e nem me casar com quem quer que seja — apressou-se a acrescentar.

    Mirela franziu o cenho.

    — Fico feliz que ainda tenha uma parcela de bom senso, mas espero que mude de ideia quanto a casar.

    — Hum... — Simon massageou a têmpora com mais força. Quando Mirela enveredava pelo assunto casamento a conversa demorava horas para ter um fim.

    — Logo fará trinta anos, precisa começar a pensar em casamento, filhos, um lar — Mirela repetiu para desagrado do filho, completando taxativa: — Preciso de netos.

    — Faltam três aniversários para meus trinta anos — resmungou. — E o Alessandro já te deu dois netos.

    — Simon Salvatore, só porque seu irmão tem filhos não quer dizer que não espere que você também os tenha — Mirela retrucou sentando no sofá macio, arrumando em seguida às roupas e o cabelo liso e perfeitamente tingido de preto, antes de cravar seu olhar reprovador novamente no filho caçula. — Precisa procurar uma moça para constituir algo mais duradouro que relações relâmpagos.

    Simon revirou os olhos, odiando ser representado, pela enésima vez, como o filho desnaturado que não pensava no futuro e morreria sem deixar descendência.

    Por um lado entendia sua mãe. Orfã aos dez anos, Mirela passara longos anos em um orfanato. Sempre que falava desse tempo era com a tristeza da perda dos laços familiares e das sucessivas rejeições devido à idade. A alegria só retornava ao recordar como conhecera o marido e juntos formaram a família de seus sonhos. Ou quase, ressaltava olhando para Simon.

    Ela prezava a família. Prático, Simon prezava a si próprio.

    — Sabe o que realmente preciso? — questionou jogando-se no sofá de frente para sua mãe. — Preciso de uma governanta discreta, confiável, com senso de organização e que possa morar no meu apartamento sem me atacar durante a noite — disse, deslizando a mão pela face esgotada devido às dezenas de mulheres que entrevistara. — Mas tudo indica que essa pessoa não existe.

    — Conheço a mulher perfeita, querido — ouviu da matriarca.

    Ignorando o enorme sorriso na face de Mirela, o que normalmente representava uma ideia carregada de segundas intenções, Simon não pensou duas vezes antes de pedir:

    — Contrate-a.

    Era tudo o que Mirela necessitava para entrar em ação. Levantou e marchou em passos rápidos até a porta.

    — Aonde vai?

    — Vou falar para Carlos preparar o contrato da sua futura governanta. À noite virei apresentá-la, querido — comunicou alegremente antes de sumir porta afora.

    Alarmado ao ouvir o nome do advogado da família, Simon levantou e seguiu ao encontro dela, mas não deu tempo, só viu as portas do elevador se fecharem enquanto sua mãe acenava em despedida.

    Alguém em mente

    Retornando de outra entrevista, Paulina entrou em seu quarto, esgotada, jogou a pasta de couro sobre a cama e caminhou até o espelho da penteadeira. Ficou distante do objeto, para poder analisar o reflexo da cabeça aos pés, procurando alguma imperfeição em seu traje.

    Não era sofisticado, se tratava de uma camisa branca de manga cumprida, uma saia longa e um terninho discreto, ambos na cor azul escuro. Queria parecer responsável e mais velha do que realmente era e o traje, em teoria, fornecia essa imagem, na prática, obviamente não conseguiu o efeito desejado.

    O dia começou bem, mas foi anuviado no momento em que o selecionador do hotel, no qual desejava trabalhar como governanta, olhou-a de cima a baixo e torceu o nariz. Foi questão de minutos para ouvir o tão conhecido a senhorita não corresponde ao perfil desejado. Era a terceira entrevista só naquela semana que teve de ouvir não corresponde ao perfil e começava a se perguntar que maldito perfil era esse que todos diziam que ela não possuía.

    O problema só podia estar em sua aparência porque, em sua opinião, seu currículo era impecável. Desde a infância teve contato com essa profissão, acompanhando e ajudando sua mãe na administração da mansão Salvatore dia e noite. Quando Soraia Perez faleceu, passou a acompanhar Núbia Santos, governanta que foi contratada para substituir sua mãe. Formou-se em governança hoteleira, fez diversos cursos para se aperfeiçoar na profissão e durante os últimos dois anos trabalhou e morou na casa de uma senhora que faleceu três meses atrás. Experiência não lhe faltava.

    Havia somente uma macula em seu currículo, um que a obrigou a não colocar contato de referência de seu antigo trabalho, diminuindo as provas de sua experiência. Infelizmente, junto com a casa e o dinheiro, o filho de sua antiga patroa achou que ela fazia parte da herança. Tremeu ao lembrar a proposta ousada dele, e como saiu correndo antes que tentasse algo a mais que propostas nojentas.

    Respirou fundo e afastou a lembrança daquele homem, voltando a focar no que poderia estar adiando sua contratação. Talvez fosse o cabelo, imaginou analisando os fios abaixo da cintura, parcialmente preso por um laço. Devia ter feito um penteado mais elaborado, sofisticado. Levou as mãos aos fios pretos para fazer um coque improvisado, mas os soltou logo em seguida ao ouvir batidinhas na porta.

    Apressou-se a abri-la, não se surpreendendo com a figura de Mirela Salvatore — dona da mansão em que Paulina voltou a residir juntamente com seu pai e sua irmã caçula — parada à sua frente. A matriarca Salvatore tratava seus funcionários e os filhos deles como se fossem parte da família, principalmente ela e sua irmã. Sua mãe e Mirela tinham sido melhores amigas desde a infância em um orfanato.

    — Bom dia, querida, como foi à entrevista? — Mirela perguntou, entrando sem cerimônia no pequeno quarto.

    — Não muito bem — confessou entre triste, pela perda da oportunidade de trabalho, e compadecida pela consideração da bondosa Salvatore, isso até ouvi-la exclamar satisfeita:

    — Ótimo!

    — Perdão?

    — Desculpe querida, deixe-me explicar. — Mirela segurou suas mãos entre as dela. — Encontrei o trabalho perfeito para você. Paga bem e se aceitar, considere-se contratada.

    — Que tipo de trabalho? — perguntou curiosa. Até onde sabia a mansão não necessitava de uma governanta e não aceitaria menos que isso.

    — Simon está à procura de uma governanta que possa trabalhar e dormir no apartamento dele. O salário é praticamente o mesmo que pago ao seu pai e tem vários benefícios.

    O salário alto e todos os possíveis benefícios desapareceram.

    — Trabalhar no apartamento do senhor Simon... Dormir lá... Eu?

    Não que Simon Salvatore, filho mais novo de Mirela, fosse uma pessoa ruim — não totalmente —, porém, se havia alguém no mundo que representava muito bem tudo que Paulina abominava era ele. Simon era arrogante, prepotente e durante muito tempo fizera piada da vida sexual dela, ou, como ele adorava ressaltar, a falta de vida sexual. Além disso, dias antes, ele a chamou de ostra e desejou, sarcástico, sorte para ela e quem a contratasse. A sorte que ele lhe desejou só lhe trouxe azar.

    — Querida, será ótimo ter alguém da minha confiança cuidando do meu bebê, zelando pelo bem estar dele.

    Bebê? Simon podia ser denominado de várias coisas, menos de bebê.

    — Não posso dona Mirela... Simon não gosta de mim... — Nem eu dele, completou em pensamento. — Será um desastre.

    — Ah, vocês eram amigos quando pequenos. — Mirela soltou uma risada baixa. — Soraia e eu passávamos longas horas fazendo planos... Podem retomar a antiga amizade — disse com um sorriso carregado de esperança.

    Paulina não se lembrava de ter sido amiga do Salvatore, e, até onde lembrava sua mãe a mandava manter distância dos patrões.  Não via motivos para Mirela mentir àquele respeito e ainda envolver sua mãe, mas supôs ser para convencê-la a aceitar o trabalho. Não que o passado pudesse modificar o presente.

    — Pelo menos tente, Lina — pediu Mirela apertando suas mãos entre as dela. — Caso não goste é só pedir demissão, não haverá multas nem nada do tipo. Por favor, tente, por mim.

    Às vezes, como naquele momento, Paulina se condenava por ter um coração mole e ser obediente demais. Era fácil dobrá-la.

    — Tudo bem, dona Mirela, mas é por você que aceito.

    Mirela a envolveu em um abraço apertado.

    — Obrigada, filha. Tenho certeza que não se arrependerá.

    Paulina duvidou, porém nada disse, limitando-se a aceitar o abraço caloroso da Salvatore que, de certa forma, lembrava o abraço de sua falecida mãe.

    ~*~

    As portas do elevador se abriram no nono andar, e Simon Salvatore saiu com o semblante carregado, o estresse perceptível nos passos fortes e apressados em direção ao seu escritório. Ignorou todos à sua volta, principalmente sua secretária Cherry Martins. Não que adiantasse, assim que passou pela porta do escritório Cherry apareceu em seguida, a agenda aberta em uma mão e uma caneta na outra.

    — Pensei que o senhor não viria hoje — ela comentou empurrando uma mecha acobreada para trás da orelha.

    — Pensou errado — respondeu ainda sob o efeito da dor de cabeça. Não que fosse gentil com a espiã de sua mãe.

    — Já contratou a governanta?

    Olhou irritado para a secretária.

    — A senhorita nem ao menos se dignou a entrevistá-las antes de mandá-las ao meu apartamento, não é?

    — A agência para a qual telefonei disse que mandaria as melhores de acordo com perfil do senhor — defendeu-se Cherry, imaginando que o mau humor daquela vez tinha sido por causa das entrevistadas. Não que ele fosse gentil com ela.

    — Que perfil?

    Cherry procurou lembrar o que dissera ao telefone.

    — Solteiro; vinte sete anos; empresário renomado, presidente da empresa de publicidade SaaTore, herdeiro das empresas Salvatore...

    — Não pensou em contar quanto tenho no banco? — resmungou, imaginando que as funcionárias da tal agência fizeram fila para encontrá-lo, sedentas pela oportunidade de botar as mãozinhas em sua fortuna.

    — Isso ajudaria? — quis saber com interesse.

    — Claro que não! — quase gritou, encarando os olhos verdes da Martins com raiva. — Da próxima vez diga a minha personalidade, não minhas qualidades financeiras.

    Mentalmente, Cherry se perguntou quantas pessoas aceitariam trabalhar para ele quando o descrevesse como: Grosseiro, mal-humorado e exigente ao limite. Provavelmente nenhuma. Por fim ofereceu:

    — Posso telefonar para a agência e refazer o perfil.

    — Não é preciso, minha mãe já escolheu uma governanta.

    — Dona Mirela? O senhor tem certeza que não quer refazer o perfil?

    — Não é preciso — repetiu com irritação.

    Cherry se perguntou qual seria o interesse da Salvatore agora. Afinal, fora contratada por Mirela para informar tudo que Simon fazia dentro da empresa que ele montara com um amigo a cerca de dois anos. Será que agora queria uma espiã dentro do apartamento?

    — Martins, escutou algo do que acabei de dizer? — perguntou Simon, estranhando o fato dela não ter se retirado. Ela piscou rapidamente, o semblante confuso. — Quero comprimidos para dor de cabeça — repetiu com o desagrado vibrando em sua voz.

    — Ah, me desculpe — pediu tensa com o rumo que seus pensamentos tomaram. — Volto em um instante, senhor.

    Cherry saiu apressada do escritório quase se chocando contra o sócio e diretor da empresa, Gabriel Saadi. Lançou um rápido pedido de desculpas para o homem alto de cabelo avermelhado e continuou seu percurso.

    — O que fez com a garota agora? — Gabriel perguntou ao fechar a porta.

    — Nada. E olha que fiquei tentado — resmungou antes de sentar em sua poltrona giratória de couro preto. — Acredita que ela deixou que enviassem várias ninfomaníacas para o meu apartamento?

    — Com o seu histórico deveria estar feliz — gracejou o Saadi se sentando de frente para o Salvatore.

    — Meu histórico não é diferente do seu, então me diga, ficaria feliz?

    — Não. — Gabriel fixou os olhos verde-água no amigo. Simon parecia prestes a explodir. — Pelo jeito foi muito ruim.

    — Pior, se soubesse que seria assim teria deixado nas mãos da minha mãe antes.

    — Mirela?! Deixou que ela contratasse alguém para trabalhar para você de novo? — Gabriel o encarou com um pequeno sorriso descrente. — Vive reclamando que tem de aguentar a Cherry e repetiu a dose?

    — Cherry é uma secretária eficiente, mesmo ajudando a minha mãe a controlar meus passos.

    — E qual é o nome dela?

    — Não sei. Ela disse que conhecia a pessoa certa e saiu antes que pudesse perguntar nomes.

    — Pelo menos sabe quando conhecerá a sua futura governanta?

    — Hoje à noite.

    — Se fosse você, telefonava e exigia nome. Nunca se sabe que tipo de pessoa é certa na mente de Mirela Salvatore. Além disso, o que ela fazia em seu apartamento hoje?

    — É provável que Cherry tenha lhe informado.

    — Nesse caso, creio que Mirela já tinha alguém em mente para o cargo.

    — Será?

    Simon sentiu um frio na espinha. Desconfiara que Mirela tinha planos mais ousados que lhe fornecer uma governanta adequada, mas ouvir outra pessoa dizer o mesmo tornava tudo pior. Não que sua mãe fosse fazer uma escolha ruim... Esperava que não fizesse.

    Bendita governanta

    Paulina olhava aturdida para cada canto da sala do advogado dos Salvatore, Carlos Ramos. Não pela elegância do local e sim por estar prestes a assinar um contrato para trabalhar para a pessoa que mais abominava no mundo. Tudo bem, não chegava a tanto, mas havia somente uma linha tênue para que isso ocorresse. Imaginava que debaixo do mesmo teto essa linha seria passada em questão de minutos, assim que o Salvatore insistisse em tirar sarro de sua vida sem sal.

    Tinha péssimas lembranças da época em que moravam na mansão e das vezes que visitara seu pai. Praticamente se sentira pisando em ovos, temendo encontrá-lo pelos corredores, ver o sorriso cínico e ouvir um comentário desagradável.

    Paulina não era uma pessoa que arranjava briga, nunca sequer levantara a voz para alguém, por isso em todas as vezes que Simon fizera um comentário idiota sobre a vida que ela levava ou sobre seu namorado, Nathaniel Muller, somente respirava bem fundo, abaixava a cabeça — mais por vergonha do que raiva — e se limitava a ouvir em silêncio. Mas uma coisa era aguentar a implicância do Salvatore de vez em quando e outra era tolerar todo dia.

    — A senhorita só tem de ler e assinar nesses locais em ambas as vias — informou Carlos apontando as linhas pontilhadas.

    Paulina pegou a folha e deslizou os olhos pelas palavras, às vezes tendo de voltar ao princípio, sua angustia era tamanha que não processava nada do que estava escrito.

    Tamanha hesitação para somente ler e assinar algumas linhas fez Mirela preocupar-se:

    — Lina, se sente bem? Está tremendo.

    — Sim... É que... — engoliu em seco. — Dona Mirela, tem certeza de que Simon me aceitará como governanta?

    — Claro que vai, meu amor — ela garantiu confiante. — Ele concordou na hora quando disse que conhecia a pessoa perfeita para o cargo. Essa pessoa é você.

    — Concordou?!

    — Sim. Jamais contrataria alguém sem antes perguntar se ele aceitaria.

    Do outro lado da mesa, Carlos evitava que um sorriso de entendimento adornasse seus lábios.

    No momento em que a Salvatore lhe pedira por telefone para redigir aquele contrato, havia imaginado que havia uma intenção oculta por trás daquilo. Primeiro por conhecer a antipatia entre Simon e Paulina. Era impossível não notar visto que o Salvatore mais novo fazia questão de dizer na frente da jovem que não entendia a mania de santa dela, entre outros comentários que faziam a Perez corar e desviar os olhos para um ponto entre os próprios pés. Segundo, Mirela nunca dava um passo sem imaginar como lucraria com isso.

    Observando a jovem assinar apressada todas as folhas, deixou o sorriso se libertar ao imaginar que era uma questão de tempo para saber se o plano da matriarca Salvatore era o que suspeitava.

    ~*~

    Com o celular contra a orelha, Simon sentia que teria uma nova dor de cabeça. Telefonara para a mansão e fora informado que Mirela não se encontrava, então passara as últimas quatro horas ligando para o número de celular dela e nada.

    — Senhor Simon, há uma ligação na linha três... — Cherry começou a dizer ao entrar na sala do presidente, sendo interrompida pelo ansioso chefe antes de completar o recado.

    — Da minha mãe?

    Cherry o encarou tensa, estava ciente do estado de nervos de Simon por não conseguir contato com Mirela.

    — É do senhor Nathaniel Muller da empresa Muller — respondeu devagar, colocando um pé para trás para facilitar a fuga caso o chefe tivesse algum acesso de raiva. — Solicita falar diretamente com o senhor.

    — Sobre o quê? — perguntou. A raiva relampejando em seu rosto aumentando o medo da funcionária.

    — Ele não disse...

    — Porque passou uma ligação sem saber o que querem falar comigo?

    — Eu perguntei, mas...

    — Esquece, pode sair que atendo a porcaria dessa ligação.

    — Sim, senhor! — Cherry praticamente correu porta afora.

    Simon voltou sua atenção para o telefone sobre a escrivaninha, observando o número três piscando. Depois da seção de sedução barata, de esquecer que sua mãe nunca tinha ideias inocentes e de não conseguir saber a droga do nome da nova espiã de Mirela, agora seria obrigado a ouvir a voz insuportável do sedutor de empregadas alheias.

    Pegou o fone e apertou com força o botão três.

    — Simon Salvatore, com quem falo?

    — Oi, Simon, sou eu, o Nathaniel. Há quanto tempo não nos falamos?

    Não o suficiente, respondeu em pensamento.

    — Desde o Natal — informou afundando o corpo na poltrona. Por ironia do destino, apesar de evitar ficar no mesmo ambiente que o Muller, seu irmão casará com a viúva do primo de Nathaniel unindo as famílias. Em todo evento que sua mãe desejava a família reunida – incluindo agregados - era obrigado a suportar a presença odiosa do ex-amigo. — Não ligou para isso, correto? — Se fosse Paulina podia se considerar viúva antes de casar. Se é que ela pretendia casar com aquela mula em forma humana.

    — Não! — respondeu o Muller, transbordando alegria pela voz, o que só fez aumentar a irritação do Salvatore. — A empresa Muller pretende lançar uma nova linha de perfumes e maquilagem, então pensei... — Mula pensa?, Simon se perguntou sorrindo com cinismo enquanto o ouvia sem o menor interesse. —... em contratar os serviços da empresa SaaTore.

    — Hum, estamos com a agenda cheia para esse mês, não sei se poderemos conciliar. — Em parte era verdade, a agenda da empresa estava lotada, mas recusava simplesmente porque não gostava de se imaginar trabalhando para aquele idiota.

    — Será lançada em dois ou três meses, até lá...

    — Não sei, tenho que falar com meu sócio — interrompeu-o para evitar se estender no assunto. Não aceitaria e ponto final.

    — Posso falar com o Gabriel e...

    — Não se preocupe, avaliarei pessoalmente a possibilidade, não precisa incomodar o Gabriel — mentiu para evitar que Nathaniel falasse com o sócio, que com certeza aceitaria.

    — Ótimo. — Simon achava impressionante o quanto era fácil enganar o Muller. — Seremos como nos velhos tempos, três amigos trabalhando juntos...

    — Nunca trabalhamos juntos, só estudamos, é bem diferente — Simon recordou querendo acrescentar que não eram amigos.

    — Eram ótimos tempos, lembra?

    Não, ele não lembrava.

    — Foi graças a você que conheci a Lina, o meu anjinho. — Nathaniel riu com felicidade, enquanto Simon sentia uma vontade enorme de perguntar quando o imbecil pararia de dizer baboseiras e encerraria a ligação. — Sabe, agora que me estabilizei na minha empresa penso em pedi-la em casamento e gostaria que fosse meu padrinho...

    — Estou ocupado no momento, conversaremos a esse respeito outra hora. — De preferência nunca, que é quando vou aceitar suas propostas, acrescentou em pensamento.

    — Sim, claro. E quando poderemos falar do contrato?

    — Te ligo assim que resolver com o Gabriel — respondeu encerrando ele mesmo a ligação. Apostava que Nathaniel ficaria pendurado na linha durante horas se deixasse. — Só mesmo a virtuosa Paulina para aturar essa anta — disse com desdém após virar sua poltrona para fixar os olhos negros em um ponto qualquer da vista que a janela de seu escritório fornecia. — Se merecem.

    — Quem merece o quê?

    Voltou sua poltrona para o lugar e observou o sócio se aproximar.

    — Ninguém em especial.

    — Acabei de falar com Cherry que me disse que o Nathaniel telefonou. O que ele queria?

    — Relembrar os velhos tempos — respondeu desejando que a secretária mantivesse a língua grande dentro da boca. — Veio aqui só para saber disso?

    — Não. — Gabriel tinha vontade de perguntar mais sobre a ligação, mas conhecendo o estranho ódio que o Salvatore adquirira pelo Muller resolveu abordar o assunto que o levara até ali. — Tamara nos convidou a uma festa de uma de suas amigas. É em uma danceteria aqui perto. — Estendeu o convite.

    — Sinceramente, não terei cabeça pra festas enquanto não souber quem minha mãe contratou — disse, pegando o convite por educação e guardando-o no bolso do paletó.

    — Ainda não conseguiu arrancar a informação?

    — Quando Mirela quer ninguém consegue falar com ela — resmungou olhando de esguelha para o celular sobre a escrivaninha. — Daqui vou direto para casa esperar minha mãe aparecer com a bendita governanta.

    Não dura

    No fim de tarde, enquanto arrumava o que levaria, Paulina se perguntava se havia tomado à decisão certa. Seu pai dissera que sim; Mirela e seu marido, Fabrício, pareciam tranquilos com a possibilidade do filho ter alguém ajuizada por perto; até sua irmã, Paola, suspirou ao imaginar a convivência com Simon.

    — Você arrumando a cama dele, de repente ele aparece só de toalha e...

    Balançou a cabeça diante das lembranças do que a mais nova dissera que conseguia fazer com que suas bochechas ficassem quentes. Nunca imaginara que Paola, cinco anos mais nova, pudesse ter pensamentos tão... Nem conseguia descrever.

    — Pronta, Lina?

    — Sim, dona Mirela — respondeu fechando a pequena valise.

    Mirela olhou para a valise e franziu a testa.

    — Só isso?

    — Sim... — gaguejou constrangida. Decidira levar poucas roupas, era possível que pedisse demissão naquele dia.

    Sem dizer nada, Mirela a levou até o carro onde Paulo aguardava para levá-las ao prédio em que o Salvatore morava, cerca de uma hora da mansão. Mesmo assim o caminho foi rápido, até demais em sua opinião.

    — Pode se despedir do seu pai, Lina. É provável que só o veja nos fins de semana.

    Paulina abraçou seu pai, que se surpreendeu com a atitude. Desde que a esposa falecera, talvez até antes, não demonstrava carinho por nenhuma das filhas e nem esperava tal atitude delas. Isso o preocupou, principalmente em perceber que Paulina se segurava para não chorar. Podia ler nos olhos dela que queria desistir, o que jamais permitiria. Apesar de não gostar da ideia de sua filha próxima do caçula dos Salvatore – devido à fama de conquistador de Simon -, confiava no discernimento e profissionalismo da filha, fruto da educação exemplar e rígida que transmitira.

    — Sei que irá honrar o sobrenome Perez. — Aquilo era tudo que precisava dizer para que Paulina não cometesse qualquer desatino.

    Paulina encarou Paulo em choque. Conseguia ler nas entrelinhas que se não passasse o ano todo como governanta de Simon seria para sempre sinônimo de fracassada para seu pai. A decisão que tomara não tinha volta, era isso que lia nos olhos dele.

    — Não o desapontarei... — murmurou insegura, afastando-se de cabeça baixa, a franja espessa cobrindo sua fronte e evitando que seu pai visse seus olhos marejarem.

    Como um robô encaminhou-se para o lado de Mirela e a seguiu rumo ao apartamento de Simon. Mentalmente repetia como um mantra: Papai, Paola, Fabrício e Mirela acreditam que conseguirei, então conseguirei.

    ~*~

    Ele merecia o troféu idiota do ano. Porque diabo confiara uma responsabilidade enorme a sua mãe? Deveria ter pensado um milhão de vezes antes de abrir a boca e pedir a ajuda dela. Não, deveria ter pensado um trilhão de vezes ou mais. Se soubesse quem seria a contratada teria ficado com uma das ninfomaníacas que entrevistara.

    — Mãe, diz que estou enganado.

    — Sobre o que, querido? — quis saber Mirela segurando a vontade de rir da expressão do filho.

    — O que acha?

    Com o olhar enviesado para a jovem de cabeça baixa no centro da sala, se condenou por deixar Mirela contratar quem quisesse sem ver antes de quem se tratava.

    — Deveria ter incluído que devia ser uma pessoa menos... Paulina — queixou-se como se a jovem fosse um padrão a ser evitado.

    — Mas qual é o problema? Ela atende todas as suas requisições — retrucou Mirela, recordando em seguida tudo o que o filho pedira. — Discreta, organizada, confiável e garanto que não tentará te seduzir. Mais fácil o contrário... — insinuou, causando um forte rubor na face da Perez e um olhar enviesado do filho.

    Simon concordava em parte com Mirela. A Perez tinha todas as qualidades que pontuara e certamente não tentaria seduzi-lo — tampouco ele a assediaria. Mas, levando em conta sua vida desregrada, não pôde deixar de anunciar o inevitável:

    — Não dura uma semana.

    — Querido, acredite, ela vai durar. — Mirela envolveu os ombros da Perez com um braço. — Paulina é tudo o que você precisa.

    — No momento preciso de um whisky bem forte — resmungou fitando a criatura corada que encarava tudo menos ele. — Tem um escondido com você, Perez?

    — Nã-não... — ela respondeu olhando para o chão.

    — Imaginei — declarou fitando as mãos pequenas e brancas, cujas dobras dos dedos se encontravam vermelhas, com certeza estava nervosa e apertava a alça com força demais. Sorriu de lado disposto a colocar mais tensão na jovem. — Moças como ela não bebem, não fodem e não fazem nada do que considero normal.

    — Simon Salvatore! Tenha modos — repreendeu Mirela sentindo o leve tremor da Perez. Sabia que o filho tentava assustar Paulina, queria que a jovem desistisse, mas não permitiria isso.

    Paulina desejava sair correndo. Era evidente que em nenhum momento Simon a aceitara como governanta. Não sabia por que, mas Mirela mentira para convencê-la. O que de mal fizera à matriarca Salvatore para merecer tamanho castigo?

    — Se ela vai morar aqui é melhor se acostumar com os meus modos. Não sou como

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