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Quatro Fazendas
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E-book263 páginas2 horas

Quatro Fazendas

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Sobre este e-book

O que esperar da vida em pleno século XVIII, onde as mulheres eram consideradas meros acessórios. Extensões de seus pais e maridos. Mas não foi bem assim para Antônia. Ela tomou as rédeas de sua vida e no fim, alcançou algo que poucas mulheres de seu tempo puderam usufruir. Amar e ser amada.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de abr. de 2020
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    Quatro Fazendas - Ingrid Costa Valbão

    I-Sonhos realizados

    O sol estava muito agradável. Podia senti-lo em sua pele como uma deliciosa carícia.

    Sentada em seu jardim, numa casa luxuosa de fazenda do início do século IXVIII, estava Antônia, no alto de seus quarenta e poucos anos.

    Uma mulher forte, mas ao mesmo tempo terna e carinhosa.

    Resiliente, companheira, fora dos padrões de beleza da época. Era uma mulher alta, mas ainda assim muito delicada. Seus cabelos ainda pretos, trazia sempre presos, como se ditava a moda, achava até melhor, dava menos trabalho. Seus trajes, elegantes, sem exageros.

    Conhecia os dois lados da moeda. Foi pobre, e agora está rica.

    Mas vivia no mundo real, sem futilidades.

    Seu maior pensamento era, gastar somente com o necessário.

    Nunca se sabe do dia de amanhã.

    Sentia orgulho de si mesma. Passara por tanta coisa. E vencera cada uma até aqui. Sabia que recebera muita ajuda. Enfim, valeu a pena.

    Ela seguia perdida em seus pensamentos, quando uma voz doce e conhecida a trouxe de volta para a realidade.

    - Mãe, me desculpe...falou Branca se sentindo arrependida.

    - Desculpá-la pelo que querida??? Pergunta Antônia.

    - Nunca acreditei que poderíamos alcançar tudo isto.

    Olha com carinho para sua filha.

    - Tudo bem filha. Nem eu em minhas maiores alucinações, podia sequer vislumbrar o que nos aconteceu nestes últimos anos.

    5

    - Sim mãe, mas nunca deixastes de acreditar que dias melhores viriam não é mesmo?

    - É verdade querida, precisava. Tinha que continuar acreditando, por ti e por teu irmão.

    De repente avistam Cândida vindo toda esbaforida e animada.

    Senhora, tens visita.

    Cândida, sua amiga de infância, uma mulher também muito forte, porém, com menos sorte que Antônia, escolheu ficar com a amiga. Era melhor servir a uma amiga, do que correr o risco de cair em uma casa de loucos.

    - Quem menina? Pergunta Antônia tentando acalmar a mulher.

    - O doutor. Cândida responde apressada. Aquele doutor...

    - O Dr. Rubem? Perguntou Antônia.

    A amiga assentiu com a cabeça.

    - O que ele quer comigo? Pergunta Antônia espantada. Não estou doente.

    - Alguém aqui da fazenda precisa dos cuidados do Doutor? Ela pergunta preocupada.

    A mulher então nega com a cabeça.

    - Estranho. Diz Antônia.

    Neste momento Branca se levanta e diz a mãe que precisa começar os preparativos para a viagem que faria no sábado.

    Antônia então diz a filha que logo após atender o doutor, lhe ajudaria.

    - Vá Cândida, traga o doutor aqui.

    - Tá bem Antônia, já vou.

    6

    Antônia fica olhando na direção em que a mulher foi.

    Finalmente conheceria o doutor. Como tinha esperado por este momento. Bem, conhecer já conhecia, mas nunca tinham se falado.

    Antônia então se lembra de sua infância e do tempo em que corria pelos campos com os meninos. Nas férias escolares ela sempre fazia questão de passar pela Fazenda Primavera, só pra ver o menino de olhos tristes. O achava tão diferente dos meninos com os quais andava!

    Sempre parava na fazenda para ver os meninos Castro.

    Escondida é claro. Não queria ninguém fazendo galhofas dela. Pobres meninos, sempre estudando, sem tempo para brincar. Quando chegou a juventude, a curiosidade se tornou interesse. Porém, sabia que não havia nenhuma possibilidade de sequer falar com ele, o mais velho, este era o que lhe interessava. Namoro então, nem pensar. Mas sonhar ainda era permitido.

    Sempre o achou muito bonito, mas o rapaz não podia sequer conversar com os jovens. Cortejar uma filha de criados então, isto nunca.

    Mas, agora vinha em sua direção. Um homem bem grande. Era realmente muito alto. Seu corpo apesar de grande, era proporcional, sem nenhuma parte exagerada. Sua pele morena, não muito, combinava com tudo nele, os cabelos negros e cacheados. Sabia que eram cacheados por que se lembrava de antes. Mas agora, os trazia bem arrumados.

    Novamente, agora, não era algo tão impossível assim, não é mesmo Antônia? Se perguntou em seu íntimo. Afinal, hoje é, uma viúva com posses, e o homem, um médico que decidiu desobedecer ao pai e começar tudo de novo.

    O admirava muito por isto.

    7

    Rubem estava ainda mais bonito do que se recordava. Sua elegância a deixou desconcertada.

    Muito bem vestido. Se preocupava com a aparência, coisa não costumeira aos homens da região.

    Como um homem deste tamanho pode andar com tamanha graça? Se perguntou.

    - Boa tarde senhora, disse o doutor.

    - Boa tarde doutor. Em que posso lhe ajudar?

    Antônia observou que o homem parecia um pouco constrangido.

    - Bem senhora, na verdade tenho adiado minha vinda aqui por algum tempo. Gostaria de ter vindo antes. Mas me senti um pouco inseguro. Agora, minha situação está se tornando insustentável. Sorriu um pouco sem graça.

    - Estou constrangido em lhe explicar minha situação. Só a faço, por que pedi a ajuda de duas pessoas que considero muito aqui na cidade, e disseram que madame seria a única capaz de me socorrer.

    Então ela lhe sorriu para que sentisse mais à vontade.

    - É mesmo? Explique melhor por favor. Disse Antônia mostrando a cadeira para que pudesse se sentar à mesa.

    Neste momento o sol tinha se escondido entre as nuvens e quase não podia ser visto, Antônia pode então contemplar de mais perto, aquele homem desejado a muito.

    Ao mesmo tempo via Cândida chegando com uma jarra de refresco. Disse a amiga que podia se retirar, ela mesma serviria os dois.

    Não queria ninguém atrapalhando. Cândida se afastou, e Antônia mesmo o serviu.

    O homem parecia um pouco mais à vontade.

    8

    - Bem senhora, tenho certeza que já conheces minha história.

    Do motivo pelo qual voltei para esta cidade.

    Sabia sim. Quando ele depois de anos, voltou para a cidadezinha tão inexpressiva, fez questão de se informar sobre o porquê. E era uma história muito triste. A esposa o tinha traído e o filho mais velho foi quem descobriu, presenciando uma cena nada lúdica para um jovem assistir. E soube que depois a ex esposa tinha sido enviada para Europa.

    Antônia então olha para o cavalheiro aparentemente sem graça, e responde com sinceridade:

    - Honestamente, não tenho certeza se tudo que me foi relatado é a mais pura verdade. O senhor conhece bem as pessoas do interior não é mesmo?

    - Por que não me contas com suas próprias palavras? Pediu educadamente.

    Ele então abaixou a cabeça e disse.

    - Bem que madame Rosa me disse que não facilitarias para mim. Disse meio sem graça.

    - Madame Rosa? Sei. Então o doutor é frequentador da casa dela? Disse Antônia abrindo um sorriso ainda maior.

    Madame Rosa era a dona da casa mais mal falada da cidade.

    Se é que me entendem.

    -Sim. Não. Quer dizer. O doutor então respirou fundo para colocar seus pensamentos em ordem.

    - Eu sou médico, como bem sabes. E assumi os pacientes do doutor Rocha que se aposentou há pouco. E a casa de Madame Rosa, faz parte das pacientes que assumi.

    Antônia sorriu compreensivamente.

    - Entendo.

    9

    - Não se preocupe doutor. Gosto muito dela. Madame Rosa ajudou-me muito em momentos que ninguém mais pode. Disse para confortá-lo.

    - Pois bem, continuou ele. Sabes que sou divorciado. Com a benção da igreja, claro. Se apressou em dizer, para que isto ficasse bem claro.

    Divórcio naquela época era algo impensado.

    - Sim, eu bem sei. Respondeu Antônia.

    Ele continuou.

    - Desde que cheguei, tenho sofrido muitas investidas, de moças dispostas a encontrar um marido, disse o doutor, mais sem graça ainda.

    - Compreendo. Mas tenho certeza, que a maior parte das investidas, tem sido de senhoras casadas, cujos maridos estão sempre viajando, não é verdade? Disse Antônia levando o copo a boca e sorrindo novamente com um pouco de pena do homem.

    Sabia como eram certas mulheres abastadas da cidade. Não podiam ver um homem dando sopa. Eram como moscas.

    Sabia bem. E padre Euzébio também.

    - Isto também. Disse Rubem passando as mãos nos cabelos tentando acertar um cacho que insistia em cair em sua testa.

    Deus, como era bonito. Ainda mais do que se lembrava.

    - Como posso ajudá-lo em relação a esta situação? Perguntou Antônia interessada.

    Ele abaixou a cabeça novamente constrangido.

    - Bem, conversei com o padre Euzébio e ele me disse que minha única opção é o casamento. E aqui estou eu. Respondeu doutor Rubem.

    10

    Padre Euzébio era um homem muito sábio e também muito preocupado com sua paróquia. Fazia questão de saber da vida de todos. Para ajudar, não para se meter.

    - O padre é um homem muito bom, como poucos aqui. Disse Antônia pensativa.

    O velho padre tinha sido o único a acreditar nela sempre.

    Mesmo quando todos a julgavam mal, ele saia em sua defesa. O amava como a um pai.

    - Sim ele gosta muito da senhora.

    - E disse também que seria a única capaz de ajudar-me. Rubem ainda falava quando foi interrompido por Antônia.

    - Que pena. Se o doutor tivesse vindo aqui logo que chegou, talvez pudesse desposar minha filha, a Branca. Mas acabou de se casar e está de mudança para a capital.

    Estava mentindo. Branca já estava comprometida a muito tempo. Mas não quis humilhar o pobre homem.

    Ele olhou chocado para ela.

    - O que? Vossa filha?

    - Não, eu não estou aqui por vossa filha.

    - Estou aqui por vossa causa.

    - Quero dizer, pela senhora.

    De repente Antônia achou que estava sonhando. O que é que o doutor estava falando? Queria casar-se com ela? Isto é possível?

    - Doutor, não estou entendendo. Falou chocada. Tanto, que sua voz quase não sai.

    11

    Olhou pra ela, e agora era ele quem sorria, não ironicamente, mas entendendo a dúvida dela. Afinal geralmente os homens sempre queriam mulheres mais jovens.

    - Senhora, já fui casado antes, e honestamente estou muito velho e cansado para me casar com uma jovem imatura e cheia de sonhos impossíveis de se realizar.

    - Prefiro alguém madura o bastante para enfrentar comigo os embates da vida.

    - Tenho dois filhos que precisam de um pai tranquilo para ajudá-los na caminhada.

    - Carregar uma esposa imatura, não me ajudaria em nada, sem querer ofender vossa filha. Não é esta minha intenção.

    - Compreendo. Respondeu Antônia.

    Ficou sem resposta por um minuto. Logo ela que era rápida no gatilho, ficou muda. Era de se entender.

    - Tens pressa da resposta? Perguntou tentando se segurar de tão feliz.

    - Não madame. Podes pensar o tempo que for necessário. Só peço que por favor, pense com bastante carinho.

    Os dois então se levantaram da mesa, ele lhe estendeu o braço e ela aceitou de prontidão, e foram em direção a saída da propriedade.

    Cândida de longe se segurava para não pular de alegria atrás dos dois. Tinha certeza que

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