O Coração do Imperador
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O Coração do Imperador - Guilherme Santos
Título:
O coração do Imperador
Copyright © 2022 by Guilherme Santos
Capa:
Gulliver Editora Ltda.
Revisão:
Túlio Costa
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o
consentimento por escrito da editora.
1ª Edição Eletrônica – 2022
ISBN: 978-65-81405-36-6
Agora é tempo de reempossar-me de minha Liberdade;
basta de oferecer-me em sacrifício as tuas interessadas vistas. Assaz te conheci, demasiando te servi... – os povos não são propriedade de ninguém.
Joaquim Gonçalves Lêdo
Para Bárbara e Clara,
com minha gratidão por todo o amor,
paciência e apoio.
Fatos
O Grande Oriente do Brasil comemorou 200 anos em 17 de Junho de 2022 em uma grande solenidade em Brasília. É possivelmente a mais antiga organização privada e de abrangência nacional em funcionamento no Brasil.
O coração de Pedro IV de Portugal, Pedro I do Brasil, foi extraído de seu corpo por vontade testamental logo após sua morte e doado à invicta Cidade do Porto. Desde 1835 ele se encontra sob a guarda da Irmandade da Lapa, trancado na igreja dentro de um monumento. Para acessá-lo são necessárias cinco chaves, guardadas pelo presidente da Câmara da cidade.
O Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz foi uma poderosa organização secreta fundada em 1822 por José Bonifácio de Andrada e Silva. Não existem registros formais que comprovem o fim da sua atividade.
Prólogo
O habitual silêncio da morte foi interrompido pelos passos apressados que ecoavam por entre os jazigos do cemitério naquela noite escura. As vestes negras esvoaçavam conforme o avanço da figura que, apesar de sua considerável força, não conseguia manter completamente o equilíbrio na marcha, quer seja pela urgência da fuga, quer seja pelo grande peso da maleta escura que carregava com a mão direita.
Naquele andar meio manco, passava das ruelas para os estreitos espaços por entre as lápides e mausoléus, tendo ao fundo – e cada vez mais distantes – as duas altas torres da igreja, seus sinos levemente iluminados pela fraca luz da lua minguante. Era questão de tempo até que começassem a badalar naquela madrugada.
Sinos para anunciar o desespero, pensou satisfeito.
Na sua trajetória irregular, o intruso avançava sem dar atenção aos olhares de pedra dos santos e anjos que pareciam condená-lo. Os símbolos sagrados distribuídos na imensidão dos jardins e daquelas mórbidas edificações, por quase duzentos anos moradia final de ilustres e desconhecidos portuenses, não chamavam sua atenção. Seu foco naquela noite era apenas um.
Vingança!
Após tanto tempo de cuidadoso preparo, enfim completara a primeira parte do seu intento. O grande prêmio já estava consigo, e os devidos rituais foram executados. Tudo o que precisava agora era deixar aquele lugar o mais rápido possível e partir antes que os primeiros gritos de horror fossem ouvidos na nave da igreja.
Ladrão! Assassino!
Certamente seriam esses os brados de mulheres ignorantes e patriotas desesperados ao contemplarem sua obra. Mas não se tratava de nada disso. Ele sabia com clareza o que estava fazendo.
Justiça!
Ainda que o peso do artefato tivesse surpreendido suas previsões, tudo parecia estar em ordem conforme o planejado para sua saída. A chave providenciada abrira sem dificuldades o grande portão de ferro tão logo deixara a igreja minutos atrás, garantindo uma rota de fuga segura e oculta através do cemitério. Agora, faltava pouco para chegar ao ponto em que saltaria o muro rumo à sua liberdade.
Enquanto deliciava-se ao rememorar cada etapa de sua noite de sucesso, a adrenalina percorrendo intensamente todo o corpo, acabou tropeçando na quina de um dos túmulos, caindo ao chão em um dos corredores laterais. Não houve tempo para se importar com a ferida ou para se recompor. Mal tocara o solo e já começou a tatear o escuro, desesperado em busca da maleta.
Não! Não posso tê-lo danificado!
Encontrou-a logo adiante. Retirou uma das luvas brancas, já sujas de sangue e de terra. Ajoelhou-se e inseriu o dedo indicador no leitor localizado ao lado da alça. Reconhecendo a digital programada, ela abriu com um rápido clique, revelando o tesouro que carregava em seu interior. O guarda-joias de prata encoberto por inscrições parecia intacto, o que o fez suspirar aliviado. Não havia sinal algum de vazamento do líquido no compartimento emborrachado da maleta produzido sob medida para abrigá-lo.
Está intacto! Está perfeito!
Fechou rapidamente o compartimento, disposto a não perder mais tempo. Foi então que, ao se levantar, percebeu no portão de um jazigo logo diante de si um símbolo familiar, o primeiro a efetivamente chamar sua atenção em meio ao emaranhado de emblemas e alegorias daquele museu da morte.
Um olho de pedra o mirava, pálpebras bem abertas encimadas por uma grossa sobrancelha. Inserido num triângulo equilátero, emanava raios rochosos de luz ao seu redor e arrancava o respeito e a deferência daqueles que alcançava.
Quais as chances? Uma luz em meio à escuridão!
A feliz coincidência não poderia proporcionar um final mais apropriado para sua empreitada. Ainda que os riscos de alguns minutos a mais fossem consideráveis, ele não conseguiria perder a chance de ali colocar um registro final de sua passagem e de seu grandioso ato.
Com as mãos vestidas com luvas brancas manchadas pelo sangue ainda fresco, começou a marcar o monumento. Concluindo, tomou a maleta e enveredou por entre as trevas escuras sem chegar a ouvir os badalos dos sinos da Lapa.
Era o primeiro dia. O um é o princípio.
Os profanos jamais compreenderiam a perfeição de sua obra. A Nobre Ordem ficaria satisfeita. Enfim, havia começado!
Capítulo 1
Noite. Torres. Igreja. Sinos. Tambores. Mistério.
— Senhor? – perguntou uma voz distante e quase inaudível.
Os olhos, contudo, continuavam fixos, aparentemente aprisionados pela visão das torres da Igreja da Lapa ainda distante, mas de onde o badalar intermitente dos sinos quebrava o silêncio da madrugada do Porto daquele 1° de setembro, acompanhado pelo tamborilar agitado de seus próprios dedos na porta do veículo.
— Senhor? Estais a me ouvir? – insistiu o taxista.
Afonso Henriques despertou de seu momento de concentração para dar atenção ao motorista.
— Pois não?
— O senhor há de me desculpar, mas podes por gentileza interromper este batuque do pioril?
As pernas de Afonso, que já vinham agitadas desde que entrara no veículo, passaram a chacoalhar ainda mais. Onde já se viu um condutor tão cheio de vontades? Transparente como sempre, não escondeu sua expressão contrariada enquanto se ajeitava no banco traseiro.
O clima, que já não era dos melhores com todo o silêncio do passageiro introspectivo, ficou mais estranho ainda no interior do carro. Instantes depois, o taxista pareceu querer quebrar esse ambiente.
— Sois da polícia?
O passageiro pareceu surpreso.
— Por que perguntas?
— Não é todo dia que sou chamado a conduzir um cavalheiro distinto como o senhor no meio da madrugada, e ainda mais para o local que parece estar mais bagunçado no Porto.
Era sempre divertido atestar como homens como aquele acreditavam ter uma desenvolvida dedução com base na experiência de suas vidas profissionais, vendo todos os dias as pessoas entrando e saindo de seus veículos.
— Estás certo.
— Percebi. E o que está acontecendo na Lapa? Por que toda essa agitação?
Afonso voltou o olhar novamente para a origem dos sinos que começaram a badalar cerca de quinze minutos antes e continuavam, seguramente obra de algum despreparado que a essa altura já chamara para o cenário de um crime a atenção de toda a cidade. Imbecis.
— Não sei bem. – respondeu.
Era verdade. Ele nunca mentia. Realmente não sabia o que tinha lhe tirado da cama às quatro da manhã de forma tão estranha. Mesmo depois de quase trinta anos de investigação policial, raramente o convocavam pela noite e fora de seus plantões, sobretudo por causa da natureza específica de sua área de atuação.
Aos cinquenta e um anos de idade, Afonso Henriques era inspetor da Polícia Judiciária portuguesa, principal órgão nacional de segurança na investigação criminal. Especializou-se na investigação de crimes contra o patrimônio histórico e cultural português, uma área onde sua impressionante habilidade – ou obsessão – por identificar coisas fora do lugar fora muito útil.
Essa, aliás, fora uma constante em sua vida: transformar seus tormentos em ferramentas. Desde muito novo Afonso lidava com um histórico de transtornos com os quais aprendeu a conviver e, principalmente, transformar. Alguns deles acabaram se tornando quase que superpoderes. Diziam nos corredores da Polícia Judiciária que, em situações de extremo perigo, o inspetor tinha uma espécie de sensor que o alertava: um tique nervoso que fazia sua sobrancelha direita pulsar ininterruptamente apenas nessas ocasiões.
Eu enfrento os meus demônios todos os dias.
Nos últimos meses, estivera focado em desvendar uma onda de furtos de azulejos históricos na região do Porto, desmantelando uma verdadeira quadrilha especializada nesse tipo de contravenção. Apesar da rotina sempre agitada, não se recordava de algo semelhante ao que aconteceu naquela madrugada, quando o seu celular tocou interrompendo o sono difícil menos de meia hora atrás.
— Estou! – murmurou com voz sonolenta a clássica forma portuguesa de se atender ao telefone.
— Inspetor, o diretor precisa do senhor imediatamente. – respondeu uma voz feminina na outra linha com um tom de alarme e sem sequer se identificar.
Ainda zonzo, Afonso sentou-se na cama enquanto o coração ia acelerando em seu ritmo de costume. Já tinha batimentos acelerados em situações normais. Despertado no meio da noite daquela forma, então, o peito chegava a tremer com o curto espaçamento da pulsação.
— O diretor do Norte precisa de mim agora?
— Não, inspetor. O diretor nacional da Policia Judiciária precisa do senhor agora.
Os resquícios do sono esvaeceram-se como se sequer tivessem existido.
— Estou sendo convocado a Lisboa?
— Não, inspetor. O diretor está no Porto.
Não foram necessárias muitas outras perguntas para que Afonso compreendesse a urgência do que estava se passando ali. O diretor nacional saiu de Lisboa no meio da madrugada e veio para o Porto. O que raios está acontecendo?
— Estou ao dispor dele. Onde o encontro?
— Na Igreja da Lapa. O mais rápido que o senhor puder. Algo terrível aconteceu!
A Igreja da Lapa? Que crime tão grave poderia estar acontecendo em um templo religioso antigo no meio da noite para forçar o diretor nacional da Polícia Judiciária a se deslocar da capital para a Cidade do Porto dessa forma?
Afonso desligou o telefone, e rapidamente vestiu o seu uniforme tradicional. Um paletó e calça azul marinho, camisa branca, sapatos um pouco surrados pelas habituais caminhadas longas. Verificou rapidamente no espelho o caimento enquanto ajustava as mangas. A roupa repetida dia após dia continuava bem alinhada nos seus um metro e cinquenta e nove de altura. Tentou ajeitar brevemente a cabeleira sempre rebelde, para depois colocar no bolso os óculos e o indispensável pacote de chicletes.
Por fim, dirigiu-se à escrivaninha onde repousava a pequena caixa de madeira que fora de seu pai, e do pai dele antes disso. Com delicadeza, abriu-a. De seu interior, tirou um pequeno broche de ouro representando um escudo com emblemas heráldicos, encimado por uma coroa e ladeado por dois pequenos dragões, tendo abaixo a cruz da Ordem de Cristo.
As armas do rei de Portugal.
Agora completo, partiu então rumo ao ponto de táxi mais próximo. Antes, como de costume, despediu-se com um afago do leal companheiro Dom Egas, o gato persa cinzento com quem dividia o pequeno apartamento.
— Não te aborreças, leal amigo! Hoje é melhor ir-me só. – disse ao bicho.
Foram minutos até atravessar a rua e tomar o táxi rumo à Igreja. Não fosse a urgência da convocação, seguramente iria andando. Sempre que possível evitava os veículos e caminhava, mesmo que por distâncias longas. Era uma das mais eficazes formas de acalmar sua mente complexa e ajudar na fluidez dos pensamentos, um dos muitos rituais que repetia desde a infância.
Agora no veículo, contudo, sua ansiedade começava a disparar com as perguntas intermináveis do motorista e com a expectativa do que veria na Lapa quando chegasse. Algo terrível aconteceu!
Estavam perto. Os sinos ficaram mais altos.
— Acreditas que pode ser um atentado terrorista? – mais uma vez arguiu o curioso taxista.
Afonso suspirou, voltando a prestar atenção ao homem. Seus olhos percorreram toda a frente do veículo, bem como a expressão refletida no espelho retrovisor central, de onde pendia um crucifixo que balançava contínua e irregularmente, para desespero de seus nervos. Nesse meio tempo, um alarme tocou em seu smartwatch no pulso esquerdo, um dos muitos programados para lembrá-lo de obrigações em diversas horas do dia e da noite. Ele puxou do bolso do paletó uma caixa com divisórias para alguns medicamentos, de onde tirou um comprimido de Ritalina e engoliu.
Foi só aí que continuou o diálogo.
— Veja bem, Miguel.
O homem pareceu assustado.
— Miguel Arantes. Não é esse, pois, o seu nome?
Ele assentiu com a cabeça, ainda desconfiado.
— Eu li na sua identificação que está perto do câmbio, logo que entrei no carro. – ele retomou. — A propósito, sabias que teu sobrenome começou com João de Nantes, no século XV? Assim ficou até o reinado de Dom João IV, o Restaurador, quando mudou para D’Anantes. Mais tarde para d’Arantes, até chegar ao formato que seus descentes hoje usam.
— Eu... eu não sabia. – respondeu o taxista, ainda confuso.
— Não assustai-vos! A genealogia é um de meus preferidos passatempos. Veja bem, meu caro Miguel Arantes: é extremamente perigoso que você continue usando de anfetaminas para ampliar tanto seus turnos de trabalho.
Miguel pareceu ainda mais assustado.
— Percebi pelas pupilas dilatadas e sua inquietação, somadas ao horário e às olheiras. Mais ainda, no saquinho de lixo ao seu lado está um copo descartável daquela cafeteria na rua Santa Catarina, que só funciona até as dezoito horas, religiosamente, o que me faz deduzir que estás pelo menos há umas doze horas dirigindo, apesar de eu acreditar que sejam mais. Receba meu conselho, homem: ninguém que consegue dormir normalmente deveria sacrificar essa dádiva por algum dinheiro qualquer ou curiosidade nenhuma neste mundo. Eu daria tudo por essa benção! Fique tranquilo que descobriremos o que está havendo na Lapa. E por gentileza, pare o caro. Descerei já.
Ainda atônito com as conclusões do passageiro calado e excêntrico, o motorista demorou um pouco para responder.
— Descer já? Mas ainda falta quase um quilômetro.
— Não faz mal. Preciso mexer as pernas para acalmar a minha mente. – disse Afonso enquanto retirava alguns euros da carteira.
Sem entender muito bem e decidido a não mais incomodar o estranho, Miguel encostou. O inspetor pagou a corrida, desceu e seguiu caminhando pelas ruas do Porto a passos largos e ágeis.
Preciso vencer os meus demônios. Algo terrível aconteceu.
Capítulo 2
A luz da lua iluminava parcialmente um amplo gabinete na capital do Brasil por volta da onze da noite. A silhueta de diversas placas, medalhas, troféus, esculturas, diplomas emoldurados e outras várias formas de homenagem se distinguia em meio ao emaranhado de prateleiras distribuídas pelo ambiente. Distinguia-se também uma figura solitária, a quem todas elas eram dirigidas. Durante toda a noite mantivera-se sentado à frente de sua grande mesa, esperando com serenidade e paciência.
Alberto Clemente era muito habilidoso nessa difícil arte. Todos os anos vividos deram-lhe uma distinta capacidade de manter-se em reflexão por períodos longos, cultivando no silêncio a busca pelos tortuosos caminhos que levam ao esclarecimento. Em momentos como esse, parecia uma estátua, refletindo com o corpo a rigidez e firmeza de sua alma. Esse hábito lhe rendeu entre os irmãos mais próximos uma alcunha. A Rocha. E de fato, tal qual uma pedra, era de uma determinação inquebrantável na busca por seus objetivos.
Naquela noite em especial, até mesmo a rocha parecia dar pequenos e discretos sinais de impaciência à espera de notícias. Vez ou outra, conferia o relógio, enquanto folheava lentamente e sem ler as páginas amareladas e gastas do grande volume da Bíblia que se encontrava aberto em frente à sua mesa.
O dia enfim chegou!
Sua pele negra evidenciava discretas marcas do tempo, que não entregavam facilmente os quase oitenta anos de vida. Era um reflexo do jovem forte que fora um dia. Alto e corpulento, mantinha uma boa forma física para sua idade. Os cabelos bem rentes estavam em sua maioria grisalhos. Os olhos escuros, no entanto, mantinham a mesma expressão decidida de sempre e a voz nunca perdera aquele timbre grave e poderoso, capaz de suspender todas as atenções entre grandes plateias.
Vestia-se sempre com elegância, preferindo os paletós claros e as gravatas escuras, mas era um homem de hábitos muito simples. E justamente dessa simplicidade emanava a impressionante aura de respeito que o acompanhou durante toda a sua trajetória, levando-o ao posto máximo de uma das mais antigas instituições brasileiras que acabara de completar seus dois séculos de história. Naquela noite, porém, sua sorte estava sendo lançada.
Esta noite definirá o meu legado.
Após meses de planejamento minucioso, uma operação de inestimável importância para seus planos futuros estava em execução do outro lado do Oceano Atlântico. Um fracasso significaria uma mancha indelével em sua biografia. O sucesso, contudo, garantiria a Alberto Clemente a gravação permanente de seu nome na história da Ordem, um destaque em meio aos outros trinta e cinco homens que o antecederam naquele cargo tão importante.
Um grão-mestre para ser lembrado.
Em torno de um deles, por sinal, o segundo, estava a delicada operação em curso. Caso tudo acontecesse conforme o planejado, um importante artefato seria trazido a tempo de uma grande cerimônia nos próximos dias. Seria o ápice da sua trajetória. Faltava pouco. Mas as notícias do portador, no entanto, tardavam a chegar.
Deixou as folhas do livro sagrado para mais uma vez checar o relógio. Eram onze horas da noite em ponto no Brasil. Logo, seriam quatro da manhã em Portugal.
Ele já deveria ter ligado! Devia estar no voo!
Não precisou se afligir por muito tempo. O telefone logo tocou, sendo atendido de imediato por Clemente.
— E então? – perguntou de forma direta.
— Boa noite, meu soberano. – respondeu uma voz sussurrante do outro lado da linha.
— Deu certo?
— Tudo justo e perfeito. Nossa relíquia está a caminho.
Ele suspirou aliviado ao ouvir tais notícias, tentando manter a serenidade e o equilíbrio.
— Você acha que alguém desconfia de algo?
— Fique em paz. Tudo foi feito de forma precisa. Ninguém terá capacidade de compreender a tempo o que fizemos. E quando chegar a hora, serão todos pegos de surpresa.
O grão-mestre sorriu. Parou de manusear a Bíblia, e recolocou sobre ela um antigo esquadro de metal. Sobre o esquadro, recolocou o compasso, na posição em que sempre permaneciam.
***
A milhares de quilômetros dali e a mais de trinta e cinco mil pés de altura, um jato sobrevoava o Oceano Atlântico. Sentado em uma poltrona tendo a maleta preta bem protegida ao seu lado, o passageiro ainda falava através do telefone da aeronave.
— Em poucas horas chegarei com o prêmio e poderemos enfim finalizar o que planejamos. – ele anunciou, pausando por alguns instantes antes de concluir. – Você conhece bem a recompensa que espero!
Em silêncio, ele ouviu a resposta e sorriu, antes de desligar enquanto a repetia em sua mente.
É o que terá.
Fora como música para seus ouvidos. Por aquela recompensa vinha estudando