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As mulheres e o carnaval: Porto Alegre (1869-1885)
As mulheres e o carnaval: Porto Alegre (1869-1885)
As mulheres e o carnaval: Porto Alegre (1869-1885)
E-book232 páginas2 horas

As mulheres e o carnaval: Porto Alegre (1869-1885)

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Sobre este e-book

Dar visibilidade a uma história das mulheres é um dos objetivos deste livro. Maria Isabel, Maria Antônia, Miguelina, Honorata. Brancas, negras, ricas, pobres, jovens ou não, casadas e solteiras. Diferentes mulheres que tinham algo em comum: a vontade de celebrar o carnaval!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de ago. de 2022
ISBN9786556231839
As mulheres e o carnaval: Porto Alegre (1869-1885)

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    As mulheres e o carnaval - Caroline Pereira Leal

    1 MULHERES E O ENTRUDO: O PROTAGONISMO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA

    Século XIX, década de 70. O entrudo – brincadeira de origem portuguesa realizada nas comemorações carnavalescas – ressurgia na Capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, após estar ausente desde 1856, sobretudo, em função de um surto de cólera que afligira a cidade. Esse renascimento das práticas entrudescas e, mais especificamente, a atuante participação feminina, será o objeto de análise deste capítulo.

    As origens da brincadeira

    Para um espectador dos dias de hoje, habituado aos desfiles de escolas de samba e aos abadas no carnaval, pode parecer estranho ouvir falar de entrudo. Todavia, o entrudo é um costume ligado às práticas carnavalescas desde os primórdios do Cristianismo. Segundo Baroja (1999, p. 171), o carnaval – ou Carnal – era uma época que se opunha à Quaresma, na qual era permitido comer carne. E o Antruejo – companheiro do termo português para entrudo – fazia parte desse conjunto de fenômenos que só tem sentido como catarse preparatória para justificar a entrada na quaresma. A alegria e os excessos cometidos durante o carnaval seriam uma inversão da ordem, uma preparação para o momento de privação que estava por chegar.[ 1 ]

    Suas origens, contudo, são ainda mais remotas e – para alguns autores – remetem às Saturnálias e Matronálias do Paganismo. Bakhtin (1993, p. 6), por exemplo, ressalta a nitidez com que as tradições remanescentes das Saturnais permaneceram vivas no carnaval da idade média, que representou com maior plenitude e pureza do que outras festas da mesma época, a ideia de renovação universal. Nas Saturnais, festas romanas, realizadas em fins de dezembro, em honra a Saturno, marcada pela licenciosidade, havia, por exemplo, trocas de votos e presentes e se concedia maior liberdade aos escravos (LAROUSSE CULTURAL, 1999).

    Seja de origem Cristã ou remetendo aos tempos do Paganismo, o carnaval torna-se uma tradição por toda a Europa. Na Itália e na França, durante a Idade Moderna, eram comuns desfiles de carros alegóricos e luxuosos bailes de máscaras. Já na Península Ibérica, se caracterizava por correrias desordenadas em que as pessoas atiram umas nas outras, água suja, ovos, fezes, farina e outras substâncias (KRAWCZYK; GERMANO; POSSAMAI, 1992, p.11). É interessante observar a visão do cronista Júlio Dantas (apud ALBIN, 2006, p. 160) a respeito da brincadeira no início do século XX. Para ele, nós, portugueses, nunca compreendemos que o entrudo pudesse ser uma festa d’arte como na Itália da renascença, ou uma festa d’espírito como na França de Luis XIX [sic]. O nosso entrudo foi sempre, desde o século XVII, fundamental e caracterizadamente porco. E mais: boçal, imundo, desordeiro e criminoso.

    Eduardo Faria, no Novo dicionário de língua portuguesa, de 1861, traz a seguinte definição a respeito do jogo:

    Entrudo, s. m. (introito de quaresma) os três dias que precedem a quaresma ou quadragésima, durante os quais é uso em alguns países divertir-se o povo banqueteando-se, molhando-se uns aos outros, empoando-se e fazendo outras peças jocosas; carnaval. Dia de entrudo, a terça-feira que precede à quarta-feira de cinza, primeiro dia da quaresma. Jogar o entrudo, entrudar. Passar o entrudo, botar o entrudo fora, divertir-se, banquetear-se; comer lautamente carne antes da quaresma. Ter o entrudo fora com alguém, divertir-se com essa pessoa por ocasião do entrudo. O nosso entrudo corresponde e é uma imitação das Saturnais da antiga Roma (apud FLORES, 1999, p.149).

    As práticas do entrudo abarcavam uma diversidade de diversões e de jogos, variando de região para região. De acordo com Felipe Ferreira (2006, p.12), muitos divertimentos "possuíam características agressivas, possivelmente herdadas dos charivaris medievais, durante os quais certos grupos de pessoas criticavam as atitudes que desviavam da norma social através de zombarias e pancadarias simbólicas. Com as críticas por parte daqueles que queriam a extinção da brincadeira, considerada bárbara e pouco educada, e sua substituição por práticas carnavalescas mais sofisticadas – como as praticadas na França ou na Itália – os dias de entrudo deixaram de ser considerados como um momento do ano que abrangia todo tipo de comemoração e passam a ser vistos como um jogo com regras e formatos específicos. Um jogo que resumia tudo aquilo que deveria ser extinto para dar lugar ao novo e civilizado carnaval nos moldes parisienses" (FERREIRA, 2006, p.

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