Gestão democrática nas perspectivas de Paulo Freire e Tsunesaburo Makiguchi: narrativas autobiográficas
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Gestão democrática nas perspectivas de Paulo Freire e Tsunesaburo Makiguchi - Edimicio Flaudisio Silva
Gestão democrática nas
perspectivas de Paulo Freire e
Tsunesaburo Makiguchi
Narrativas autobiográficas
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 do autor
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Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
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Impresso no Brasil
Edimicio Flaudisio Silva
Gestão democrática nas
perspectivas de Paulo Freire e
Tsunesaburo Makiguchi
Narrativas autobiográficas
À minha família, que sempre esteve presente e me apoiando na realização deste sonho.
AGRADECIMENTOS
À minha família, que sempre esteve presente e me apoiando: à minha mãe, D. Maria; à minha esposa, Andréia; à minha filha, Fabiana. Esse sonho só foi possível com o amor e a companhia de vocês. À minha equipe de trabalho na escola em Diadema. Aos estudantes e familiares, pela confiança e aprendizado. Aos mestres Paulo Freire e Tsunesaburo Makiguchi (BSGI Diadema), pelas lutas e ensinamentos de uma escola verdadeiramente democrática, de uma pedagogia da criação de valores, visando a felicidade de cada estudante.
A primeira provocação ele aguentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz. Foram lhe provocando por toda a vida. Não pode ir à escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça. Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Foi morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme. Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma sub mulher. Tiveram sub filhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava. Estavam lhe provocando. Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa. Terra era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo.
Concluiu que era provocação. Mais uma. Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação. Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano. Então protestou. Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
— Violência, não!
(Provocações – Luís Fernando Veríssimo)
Sumário
INTRODUÇÃO
PRIMEIRA PARTE
1
O QUE É GESTÃO DEMOCRÁTICA?
1.1 Breve histórico da gestão democrática no Brasil
1.2 Diretor escolar: gerente ou educador?
1.3 Participação na escola democrática
1.4 Limites e possibilidades da escola democrática
SEGUNDA PARTE
2
PAULO FREIRE: GESTÃO DEMOCRÁTICA
2.1 Construção da trama conceitual por meio dos conceitos de Paulo Freire
3
Trama conceitual – Gestão democrática na perspectiva de Paulo Freire
3.1 Gestão democrática exige participação
3.1.1 Gestão democrática pressupõe diálogo
3.1.2 Gestão democrática necessita de autonomia
3.1.3 Gestão democrática objetiva humanização e conscientização
TERCEIRA PARTE
4
MAKIGUCHI: A PEDAGOGIA DA FELICIDADE
4.1 Registros antes da reforma
4.2 Registros depois da reforma
4.3 Coleta de dados para a construção das narrativas autobiográficas
4.4 Procedimentos de análise
4.5 Contexto da pesquisa: o município de Diadema
5
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE NARRATIVAS DO GESTOR DE ESCOLA
5.1 Gestão administrativa
5.2 Recursos humanos
5.3 Infraestrutura
5.4 Gestão pedagógica
5.5 Avaliação externa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
PARA SABER MAIS sobre o educador Japonês Makiguchi
INTRODUÇÃO
O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar.
(Paulo Freire)
Qual será o peso da trajetória do pesquisador na escolha do seu objeto de estudo? Será que o tema se impôs em função de algumas circunstâncias profissionais ou pessoais?
Inicio esta reflexão apresentando meu passado de garoto pobre. Nascido e criado na periferia de Diadema, passei boa parte da infância e adolescência entre brincadeiras na rua e trabalho precoce. Estudei nas escolas públicas do bairro onde cresci.
O sonho de ser professor foi conquistado com muito esforço. Trabalhava na semana e no final de semana para pagar a universidade e ajudar a família. Era professor eventual da Escola Estadual Nicéia Albarello Ferrari (EE Nicéia Albarello Ferrari) e organizador da abertura aos finais de semana na mesma escola do Projeto Parceiros do Futuro¹.
Anos depois, passei a atuar profissionalmente em órgãos centrais e regionais da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), mais especificamente na área de Políticas Públicas, quando busquei analisar, discutir e apresentar as diversas contradições da documentação oficial. No contexto das experiências nos programas que abriram as escolas nos finais de semana, tive a oportunidade de trabalhar como educador e técnico da gestão. Essas práticas contribuíram para o desenvolvimento de duas pesquisas.
A primeira, em 2002, enquanto cursava graduação, sobre as barreiras sociais do lazer em Diadema; a segunda, já na pós-graduação no ano 2013, com financiamento público por meio de bolsa de estudo, no curso de mestrado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no Programa em Educação: História, Política, Sociedade (EHPS), sobre os altos índices de evasão de universitários bolsistas. Realizei pesquisa de campo para compreender e analisar os motivos que levaram os jovens a abandonar o programa antes de terminar o curso.
Na ocasião, apresentei diferentes tipos de silenciamento e inadequações dessas políticas públicas. É importante registrar que o curso Escola de Cidadania da cidade Ademar e Pedreira, realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), me possibilitou fazer aproximação com as ideias de Paulo Freire. Nesse sentido, os debates com militantes sobre as desigualdades, direito à cidade, conjuntura de movimentos sociais, genocídio da juventude negra, sistema político brasileiro, cultura periférica e educação crítica popular foram grandes oportunidades para apresentar o projeto em nível do doutorado na PUC-SP.
Quanto a Tsunesaburo Makiguchi (1871-1944), eu conheci suas ideias no projeto Makiguchi em Ação, com os membros da Associação Brasil Soka Gakkai Internacinal (BSGI), de Diadema. As atividades realizadas contribuíram para criação de valores e pontecial criativo dos