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A mediação das emoções em professores alfabetizadores
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A mediação das emoções em professores alfabetizadores
E-book250 páginas3 horas

A mediação das emoções em professores alfabetizadores

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Sobre este e-book

Este livro pretende chamar a atenção dos professores alfabetizadores para a questão que envolve a mediação das emoções no processo de aquisição da leitura e da escrita. Enfatiza a dinâmica das relações entre as características objetivas da realidade da atuação do professor e as interações sociais que estabelece com seus alunos em seu dia a dia, demonstrando como a emoção está presente no processo de alfabetização. Sua parte teórica compreende a contextualização histórica da escrita como um recurso cultural; levanta a importância da linguagem na inter-relação entre pensamento e linguagem ao destacar a emoção como um aspecto importante e a sua presença no ser humano, sendo entendida como uma ponte que liga a vida orgânica à vida psíquica; e busca entender a estreita relação entre o desenvolvimento da consciência e da linguagem na alfabetização. Assim, a mediação das emoções no percurso dessa aprendizagem é o caminho percorrido neste livro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de jul. de 2017
ISBN9788581925653
A mediação das emoções em professores alfabetizadores

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    Pré-visualização do livro

    A mediação das emoções em professores alfabetizadores - Cleomar Azevedo

    1978.

    CAPÍTULO 1

    EVOLUÇÃO DO SISTEMA DA ESCRITA

    Como seres humanos, nos diferenciamos dos animais por nossa capacidade de aprender, mudar,transformar,criar,fazer história,na qual o pensar alicerça esse processo de mutação.³

    Em nosso contexto diário, a realidade e seu cotidiano apresentam-se como uma realidade interpretada pelos homens. O significado de realidade, utilizado na linguagem do dia-a-dia, é de algo que existe por si mesmo e que se apresenta ao observador com suas qualidades intrínsecas, independentes daquele. Pode-se dizer, neste sentido, que uma maçã é maçã para alguém que a observa com o objetivo de descrever suas qualidades; no entanto, continuaria a ser a mesma maçã, com suas características e qualidades, mesmo que ninguém a observasse e a descrevesse.

    O ponto de partida é a convicção de que o homem é um ser social, biologicamente predestinado a construir e habitar um mundo juntamente com outros seres humanos. A construção desse mundo se faz por meio da relação com o outro e pela linguagem, a qual é considerada como característica fundamental do homem visto como ser social. A linguagem é para nós o que a água é para o peixe; a linguagem é nosso domínio sobre o mundo, nossa vida social existe por causa da linguagem que desenvolvemos.

    Por intermédio da linguagem, o ser humano construiu o que chamamos de realidade objetiva social, considerando que essa expressão é produto da integração dos seres humanos com o seu meioambiente. Esse produto é o Universo Simbólico, capaz de dar sentido às experiências humanas e é o que constitui a linguagem dos membros de uma certa sociedade em determinado período da sua história. É ele que dá sentido às experiências vividas comunitariamente.

    Neste sentido, podemos dizer que a sociedade é produto do homem e, ao mesmo tempo, uma realidade objetiva independente deste enquanto indivíduo. Essa realidade objetivada poderá determinar as características sociais de outros homens que vão constituir as novas gerações. É possível ver aqui três momentos da realidade social: a sociedade é produção humana; a sociedade é realidade objetiva; o homem é produção social.

    Cada sociedade tem uma gênese e uma história. Assim, a realidade construída socialmente é constituída de uma consciência que dá sentido às experiências intersubjetivas de seus membros.

    Essa consciência, proposta à próxima sociedade, constitui a realidade construída por um grupo social específico em um determinado momento histórico. A própria sociedade é construída pelos homens no decorrer de sua história; ela é a realidade definida como a objetivação das experiências humanas. Entenda-se por objetivação a construção social dos objetivos de conhecimento, que passam a constituir a realidade construída, objetivada, institucionalizada e legitimada pela própria sociedade.

    Um indivíduo que vem ao mundo encontra uma realidade já construída, isto é, um conjunto de conhecimentos estabelecidos, estruturados, institucionalizados e legitimados. Esse conjunto de conhecimentos tem como objetivo dar um sentido às experiências vividas pelos homens e constitui a realidade objetivada da sociedade onde o indivíduo viverá. Outras sociedades, em outros momentos históricos, poderão viver outras experiências (ou as mesmas) e constituir realidades com outro universo simbólico, que dê sentido às suas experiências.

    Para viver na realidade construída e objetivada socialmente, o indivíduo deve ser socializado, isto é, ele deve aprender a viver no universo simbólico da sua sociedade.Por seu lado, a sociedade deve desenvolver as condições necessárias para que o indivíduo possa construir uma realidade subjetiva, paralela à realidade objetivada socialmente. É a socialização que permite a integração sólida e completa de um indivíduo no mundo objetivado de uma sociedade. Esta socialização, segundo Berger e Luckmann⁴, faz-se em duas etapas: primária e secundária.

    A socialização primária corresponde ao período no qual o indivíduo torna-se membro de uma sociedade, tendo acesso aos primeiros elementos do universo simbólico dessa sociedade da qual ele será membro (família).

    A socialização secundária corresponde a um período em que o indivíduo se conscientiza da complexidade cada vez maior da realidade social e da divisão do trabalho. Nesta realidade tão diversificada e na sociedade moderna cada vez mais complexa, o indivíduo tenta criar sua representação da realidade apresentada pela sociedade; essa representação pessoal lhe permitirá construir a realidade subjetiva, que será constantemente comparada com a realidade objetivada socialmente. E como se desenvolve esse processo?

    Imaginemos um mundo onde nossos desejos dão forma à realidade em que adequamos nossas condutas, esperanças e crenças a um universo social que somente existe porque o imaginamos. Nossas convicções podem facilmente nos levar a confundir o que é com o que deveria ser. Diferenciar um e outro, sem perder, na tentativa, as ilusões de fazer real aquilo que consideramos já feito, é uma tarefa ao mesmo tempo sugestiva de novas possibilidades e de difícil acesso. Em qualquer um dos casos, o caminho obrigatório exige cautela para entrar no complicado mundo da transmissão ideológica, que tem lugar no decorrer do processo educativo.

    Um dos campos em que se dá um desajuste maior entre o que se diz para fazer e o que se faz é, sem dúvida alguma, o da educação,no qual a utopia aproxima-se da realidade. O enunciado de valores, a delimitação de objetivos e as explicitações de princípios gerais são frequentemente confundidos com as práticas inovadoras que estão de acordo com os valores, os objetivos e os princípios utilizados em sua representação. A escola tem estado mais interessada em difundir seus objetivos do que em analisar suas realidades. Aceita que existe uma igualdade, que é mais a sensação de um desejo do que a concretização da realidade. Negar a existência daquilo que não se gosta não é o caminho mais idôneo para separá-lo da sala de aula, porque é assim que o sistema educativo se encontra, defendendo explicitamente a igualdade e praticando implicitamente a discriminação.

    Apenas a vontade de que haja transformação social não engendra essa mudança. Além disso, para torná-la realidade é necessário ter um conhecimento profundo das resistências que todo sistema social oferece em contrapartida. A convivência diária com realidades regidas por éticas antagônicas faz dos seres humanos indivíduos sumamente hábeis para perceber e priorizar, em cada contexto social, o fragmento da realidade que poderá melhor se adequar a seus interesses em cada momento. Aliado a esse processo de atribuição de significado positivo relacionado à parcela de realidade resultante de interesse, ocorre um processo complementar que permite ignorar o que incomoda.

    Enfatizar o significado de determinadas pautas sociais e relegar ao inconsciente os aspectos que se prefere ignorar permite ao indivíduo orientar-se em uma sociedade cheia de contradições, sem ao menos tomar consciência delas. Assim, por exemplo, não nos surpreende a afirmação de que todos somos iguais, contudo não nos são dadas as mesmas oportunidades, a não ser dependendo da classe social, do local de moradia e, em especial, do sistema de educação no qual estamos inseridos.

    O conhecimento dos meios natural, social e cultural ocupa um lugar muito importante no início do ensino fundamental, uma vez que os alunos se apropriarão de conhecimentos, hábitos, formas de atuar, de se comunicar e de conceber o mundo a partir do ambiente que os rodeia.

    A cultura, que se manifesta nas formas peculiares de atuar e de sentir, de atribuir juízos aos acontecimentos e de comunicá-los, tem suas raízes em culturas anteriores e essas, por sua vez, em raízes ainda mais antigas; quer dizer, toda a cultura é produto de um devenir histórico e, como tal, influenciado pelos acontecimentos que se desenvolveram no decorrer dos séculos e pelos elementos que, num determinado momento, acreditou-se ser necessário potencializar.

    Todo o mundo está de acordo que o nosso idioma tem grandes semelhanças com o latim, a partir do qual se originou; também possui muitas raízes no idioma grego, que exerceu grande influência sobre a língua latina e sobre a nossa. No entanto, não parece tão evidente que a maneira de pensar de nossos antepassados culturais tenha uma influência similar na forma em que nosso pensamento hoje em dia está estruturado, já que esse nos parece ter uma originalidade que não atribuímos ao idioma. Porém, algumas reflexões são suficientes para tornar evidente o fato de que nossa maneira de pensar – assim como nossa língua – permanece, em suas formas mais gerais, fortemente atrelada aos caminhos que, ao longo da História, foram seguidos pelo pensamento de quem nos precedeu.

    Tomemos como exemplo as matérias que continuam sendo ensinadas na escola e reparemos rapidamente suas origens. Veremos que aquelas que se consideram fundamentais já eram cultivadas pelos pensadores gregos, como a Matemática, a Gramática, a História e a Física. Mesmo que os conteúdos tenham variado a partir dos avanços realizados ao longo dos séculos, os campos temáticos – fragmentados, subdivididos e especializados – continuam sendo os mesmos. A razão parece evidente; foram os antigos pensadores, considerados pais da nossa cultura, que decidiram, em função de seus interesses, quais eram os campos de conhecimento sobre os quais valia a pena pensar dentre vários outros possíveis e essa escolha tem prevalecido através dos séculos, ampliando-se e ou diferenciando-se.

    Porém, essas escolhas, mesmo que nos tenham conduzido a um importante domínio do meio cultural, não são as únicas possíveis nem nos proporcionam a segurança de conter os elementos mais importantes para serem desenvolvidos na sociedade atual, ou para adquirir um domínio similar do meio social. Parcelas muito importantes do universo humano, concernentes aos afetos, aos sentimentos, às relações interpessoais e a tudo aquilo que faz parte da chamada vida cotidiana, estão excluídas do que é considerado digno de se constituir objeto de estudo do conhecimento e, portanto, de ser ensinado na escola. As razões dessas ausências devem ser buscadas, sem dúvida alguma, em valores e prioridades de quem dominou a cultura no decorrer da História.

    A história da epistemologia é ao mesmo tempo a história das várias tentativas de refletir o tema da ilusão cognitiva e o tema correlato das estratégias para evitar essa ilusão. Podemos, então, distinguir três períodos: o pré-moderno, em que prevaleceu, em geral, uma tendência a considerar que o erro proveniente da falibilidade dos sentidos pode ser corrigido pela razão; o moderno, em que se mantém a importância de corrigir as distorções dos sentidos, em que se radicaliza a preocupação metodológica de prover a razão com os instrumentos adequados, ao mesmo tempo em que se mostram os limites estruturais da razão, que não podem se removidos metodologicamente, e cujo desconhecimento ocasiona uma ilusão de um novo tipo, o resultante de uma razão que exorbita dos seus limites.

    As mudanças sociais ocorridas nos últimos decênios mostram-nos a evidência da parcialidade dos pontos de vista a partir dos quais o ensino se orienta, levando em conta os descuidos dos valores e os conhecimentos considerados pertencentes à esfera do afetivo.

    A educação formal estendeu-se, agora mais do que nunca, a todas as camadas da sociedade, não somente a quem se considera com capacidade para ascender a estudos superiores. Toda pessoa, por ter nascido em nosso país, tem direito ao ensino fundamental. A função dessa escola é preparar para a inserção do indivíduo em uma sociedade desenvolvida; porém, os elementos necessários para essa inserção não estão todos contidos nas matérias tradicionais. Essas, inclusive, não devem constituir finalidades em si mesmas, seu objetivo não é formar especialistas em uma determinada área, mas proporcionar saberes necessários ao alunado para que possa utilizá-los nas situações em que foram solicitados.

    Diz-se, com frequência, que a sociedade atual tem se desenvolvido de maneira desequilibrada por não conseguir fazer corresponder, ao potente crescimento da ciência e da tecnologia, um desenvolvimento equivalente no terreno humano, no campo das relações interpessoais e intrapessoais. Esse desequilíbrio, como uma de suas consequências, propicia que indivíduos emocionalmente subdesenvolvidos tenham em suas mãos instrumentos perigosos de alta capacidade destrutiva.

    Esse desenvolvimento desequilibrado tem seu corolário na educação, que tem sido um reflexo da sociedade à qual serve. O ensino tradicional centrou-se prioritariamente nos conteúdos que dão instruções sobre o comportamento do mundo dos objetos e tem concedido menos importância àqueles que contribuem com conhecimentos para o comportamento das pessoas através do autoconhecimento. Essa grande parcela da realidade foi deixada ao acaso, como se a natureza humana tivesse que se encarregar, por si mesma, de propiciar esses conhecimentos. Semelhante espontaneísmo seria inconcebível na matemática ou na física, já que essas matérias têm sido mais valorizadas, no âmbito escolar e social, do que os saberes que conduzem a um melhor entendimento entre as pessoas. No entanto, a ignorância das primeiras pode acarretar catástrofes pessoais e sociais de magnitude tamanha a que o desconhecimento dessas últimas conduz com frequência.

    Na educação, a carência do envolvimento da própria vida afetiva e do desconhecimento das formas de interpretação e de respostas adequadas perante condutas e atitudes de manifestações emotivas deixam professores e alunos à mercê do ambiente que os rodeia e no qual estão presentes modelos de resposta agressiva, descontrolada e ineficaz diante dos conflitos interpessoais, que com frequência apresentam-se nas formas de convivência social. Os sentimentos podem constituir-se em uma ponte de ligação privilegiada entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento

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