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Bosque Encantado
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E-book246 páginas4 horas

Bosque Encantado

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Sobre este e-book

1803 é o ano da esperada invasão da frota francesa de Bonaparte, e centenas de barcos residem nos portos de França, esperando para transportar as sua tropas através do Canal. A Inglaterra estava pouco preparada e vulneravél a todo o tipo de espionagem e o Marquês de Alto, foi nomeado para descobrir alguém suspeito nos círculos do governo. O arrojado Marquês de Alton era um dos nobres mais ricos da Inglaterra. As damas mais encantadoras da sociedade de Londrina, estavam ansiosas pela sua presença e a mais bela de todas estava decidida a casar-se com ele. O Marquês, contrariado, estava ja comprometido a casarse com Lady Leone Harlington. Mas num dos seus passeios habituais na floresta verde e salpicada de ouro, pela sua propriedade, conheceu uma jovem misteriosa e encantadora que por ali passeava com o seu pequeno cachorro, quando inesperadaments, o Marqués acabou por ter de salvar o seu cachorrinho de uma armadilha. Quem seria aquela ninfa da floresta de belos olhos verdes, com graça élfica e charme angélico que por ali passava e que ao mesmo tempo demonstrava estar muito apavorada? Ele deveria encontrá-la novamente para saber a verdade. Finalmente, quando o destino os uniu de novo, ele foi atraído para um drama de fortes paixões que ameaçavam destrui-los!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de nov. de 2022
ISBN9781788673730
Bosque Encantado

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    Bosque Encantado - Barbara Cartland

    CAPÍTULO I

    O Marquês de Alton chegou inesperadamente a Alton Park, sua propriedade rural, bem depois da meia-noite. Vinha de mau humor, o que significava que todo o mundo ia sofrer as consequências do seu azedume: desde o seu criado particular, que veio com ele de Londres, até o mais humilde lavador de pratos.

    O chef, tirado da cama às pressas, realizou o milagre de apresentar uma refeição fria em menos de cinquenta minutos. Mas o Marquês olhou para a comida com desprezo e não tocou na maioria dos pratos, o que causou grande deceção na cozinha.

    Ao entrar na majestosa sala de jantar, ele olhou com desagrado as peças de prata— que tinham sido tiradas de seus invólucros protetores com uma rapidez incrível, para enfeitar a mesa— e disse, com ar taciturno:

    —Estamos com falta de empregados, não é, Westham?

    O mordomo idoso, que tinha começado a trabalhar em Alton Park como ajudante de copa, no tempo do pai do atual Marquês, respondeu, desculpando-se:

    —Como eu não sabia que o senhor ia nos honrar com sua visita, permiti que quatro dos lacaios mais moços fossem para a aldeia, para fazer exercícios com os Voluntários. Estavam ansiosos para ir, milorde, e achei que era meu dever de patriotismo encorajar o entusiasmo deles.

    O Marquês nada podia dizer a isto. Dali a um momento Westham se aventurou a perguntar:

    —Quais são as noticias da guerra, milorde? Pouco sabemos, aqui, mas o que ouvimos é desanimador.

    O Marquês continuou em silêncio e o mordomo prosseguiu:

    —Estão dizendo, milorde, que este ano de 1803 será conhecido como o «Ano da Invasão».

    —Se houver invasão, garanto-lhe, Westham, que repeliremos Bonaparte com todas as armas ao nosso dispor— respondeu o Marquês, sem se comprometer em alongar a conversa.

    Diante do silêncio do patrão, que parecia totalmente desinteressado pela suculenta cabeça de javali com guarnição de pêssegos frescos, o mordomo comentou:

    —Os Voluntários estão muito descontentes com a ideia de usarem forcados, milorde.

    O Marquês empurrou o prato com um gesto encolerizado.

    —Não há espingardas suficientes para todo o mundo, Westham, e o forcado pode ser uma arma intimidante, quando usado com inteligência.

    O Marquês não parecia muito convencido de sua afirmação. E zangava-se ao saber que seus empregados, que se tinham juntado aos Voluntários, estavam sendo tratados com semelhante pouco-caso.

    Mas não seria de boa política dizer isto. Intimamente, amaldiçoou a administração de Addington, como o fizera várias vezes. Recusando os outros pratos, saiu da sala.

    —Um cálice de vinho do Porto, milorde?— perguntou o mordomo, desesperado.

    O Marquês não se dignou responder. Jamais reconheceria, na frente do empregado, que já tinha tomado bastante vinho nesta noite, sendo isto, em parte, a causa de seu mau humor.

    Na manhã seguinte, depois de uma noite agitada, o Marquês de Alton disse a si mesmo que a causa de todos os seus aborrecimentos devia ter sido a excessiva quantidade de bebida que havia ingerido durante o jantar, em companhia do Príncipe de Gales.

    Sempre se comia e se bebia demais em Carlton House, mas aquela fora uma ocasião excecional. O Príncipe tinha recebido com fartura e ao abandonarem a sala de jantar, muitos dos convidados não estavam lá muito firmes das pernas!

    O Marquês não chegava a cambalear, mas sentia-se recetivo. Devia ter sido por isso que dera ouvidos a Lady Leone Harlington, que dele se aproximara quando os cavalheiros foram ao encontro das damas, lançando-lhe olhares provocantes.

    —Há muito tempo que não nos honra com sua visita— disse ela, com sua voz sedutora, que já tinha levado inúmeros homens a cometerem indiscrições.

    —Sentiu a minha falta?— perguntou o Marquês.

    Leone virou o rosto para ele, num gesto que seus apaixonados comparavam poeticamente com a beleza de um cisne arqueando o longo pescoço branco.

    —Sabe muito bem que senti sua falta— respondeu ela docemente—, Justin, que há de errado entre nós?

    —Nada, que eu saiba— respondeu o Marquês. Embora tentasse imprimir um tom de sinceridade à voz, ambos sabiam que falava uma mentira.

    —Você está fugindo do inevitável?— perguntou Leone.

    —O inevitável?

    —Sabe que pretendo me casar com você.

    Mesmo no estado meio confuso em que estava, o Marquês sentia a firme determinação dela, sob a suavidade da voz. Divertiu-se com a pretensão de Leone.

    Bem mais tarde, quando estavam todos no salão da Condessa de Harlington, ele se viu sentado ao lado de Leone. Era a receção que se seguia ao jantar em Carlton House. Leone não saiu do lado dele, exibindo-o como seu acompanhante, como um homem exibe um troféu ganho numa guerra.

    Houve mais bebida, mais comida e, embora o lado cauteloso da mente do Marquês lhe dissesse que estava caindo numa armadilha, o outro lado, mais cínico, lhe contava que Leone tinha razão: era inevitável.

    Conheciam-se desde a infância. O Marquês havia se tornado o homem mais elegante, o mais belo e o mais procurado da alta sociedade.

    Quanto a Leone, quando saiu da escola, tornou-se a coqueluche de St. James, «a Incomparável das Incomparáveis», e a jovem mais falada de Londres.

    Mesmo ausente, lutando na guerra, o Marquês ouvira falar das aventuras da moça, de sua audácia e das inúmeras atitudes que ela assumia e que eram criticadas pelos mais velhos.

    Quando voltou para Londres, após o armistício entre a França e a Inglaterra, viu que Leone estava no auge de sua beleza.

    Achou divertido flertar com ela, mas não se deu ao trabalho de fazer parte do círculo de admiradores que a seguiam por toda a parte.

    O Marquês já tinha fama de farrista e havia inúmeras damas da sociedade dispostas a cair em seus braços assim que ele lhes desse a mínima atenção, a entregar-lhe o coração e a levá-lo para a cama.

    Em pouco tempo, os casos amorosos do Marquês eram comentados em todos os clubes. A sociedade, sempre ávida de mexericos, exagerava o número de mulheres que ele tornara infiéis aos maridos e exagerava seus affaires de coeur, mas não havia dúvida de que eram muitos.

    Embora não recusasse as atenções femininas, o Marquês se tornava cada vez mais cínico. Tinha gostado de lutar na guerra, gostado do esforço feito para vencer. Agora, achava banal a facilidade com que fazia uma conquista amorosa. Era maçante tornar-se a caça, e não o caçador.

    Conhecia a opinião da maioria das pessoas: um casamento entre ele e Leone poria fim às aventuras da moça e seria vantajoso para ambos.

    Já estava na hora de Leone casar-se, de assentar. Embora ela só tivesse a ganhar, em matéria de posição e dinheiro, ao tornar-se a Marquesa de Alton, também lhe agradava a ideia de conquistar o solteiro mais disputado de toda a Inglaterra.

    Do ponto de vista do Marquês, a situação era ainda mais simples. Ele precisava casar-se. Seus amigos viviam lhe dizendo isto, a ponto de ele chegar a evitá-los, porque o assunto o entediava. No entanto, quando o Sr. Pitt começou a bater na mesma tecla, ele ficou surpreso.

    —Uma esposa? — perguntou.

    —Sim, uma esposa— respondeu Pitt—, há mais de um mês, desde que voltei para a Câmara dos Comuns, pedi-lhe que procurasse descobrir quais são os espiões de Napoleão que operam entre nós... e um, em particular. Mas você até hoje nada descobriu. São as mulheres que ouvem os segredos que lhes são murmurados ao ouvido, na cama, e os repetem às amiguinhas no dia seguinte.

    —Posso garantir-lhe, sir, que ouço muitas fofocas das mulheres que conheço— declarou o Marquês, com um trejeito nos lábios.

    —Não duvido, mas acho que você ficaria sabendo mais se tivesse uma esposa sempre a seu lado, uma mulher que não passasse tanto tempo falando de amor, como suas amantes atuais.

    O Marquês atirou a cabeça para trás e riu. Depois disse, sério:

    —Estou disposto a agradá-lo, sir, dedicando meu tempo, minha fortuna e o que mais for necessário para resolver seus problemas imediatos. Mas não pretendo, nem mesmo por amor ao meu país, me amarrar a uma tagarela de cabeça vazia, cuja conversa, depois que a guerra acabar, eu teria que aturar durante toda a vida.

    Pitt sorriu.

    —Compreendo perfeitamente que queira continuar solteiro, mas, ao mesmo tempo, Alton, isto é muito sério. Estou absolutamente convencido de que o traidor é uma pessoa muito ligada ao governo, alguém que trabalha num dos nossos mais importantes ministérios. Mas só Deus sabe se é no Almirantado, no Departamento de Guerra, ou no Ministério do Exterior.

    —Então o senhor tem que reconhecer que está me confiando uma tarefa muito difícil— disse o Marquês, sorrindo.

    —Não conheço ninguém que possa desempenhá-la melhor— replicou Pitt—, mas ainda acho que precisa de uma esposa para ajudá-lo.

    As palavras de Pitt ainda soavam nos ouvidos do Marquês, quando olhou para Leone, sentada a seu lado no sofá. Ela o fitava com um olhar sedutor, que não era de todo fingido, na opinião do Marquês.

    Ele sabia perfeitamente que Leone tentava, com todas as suas artimanhas femininas, obrigá-lo a declarar-se.

    —Oh, Justin, você sabe que iríamos combinar muito bem— disse ela meigamente—, poderíamos dar as festas mais apreciadas em Londres, receber os amigos em Alton Park. Seríamos, se não for pretensão da minha parte, o casal mais bonito da alta sociedade. Além do mais, sabe perfeitamente que tenho uma quedinha por você.

    Havia uma sensualidade felina na maneira com que o olhava sob as pestanas escuras, um convite claro nos lábios vermelhos que se ofereciam aos deles.

    —Você é muito bonita, Leone— disse o Marquês, com voz enrolada, estendendo a mão para tocar o pescoço branco e comprido.

    Não se sabe quem teve a iniciativa, mas, em seguida, o Marquês a beijava com ardor e com uma certa brutalidade, despertada pela complacência de Leone.

    Era o beijo sofisticado de duas pessoas que se inflamavam facilmente. Quando a puxou para mais perto, o Marquês ficou imaginando quantos homens a teriam beijado desse modo... quantos homens teriam tido nos braços aquele corpo quente e sedutor, sentindo o sangue correr mais rápido nas veias, ante a resposta ardente dos lábios dela.

    Leone tinha os braços à volta do pescoço dele. Neste momento de desejo violento, talvez Justin tivesse dito as palavras decisivas que ela desejava ouvir, se não tivessem sido interrompidos.

    Ouviu-se uma voz no vestíbulo, do lado de fora do salão:

    —Leone, você está aí?

    Era o Visconde de Thatford, que voltava para casa depois de uma festa. Contra a vontade, Leone libertou-se dos braços do Marquês.

    —É Peregrine— disse, em tom encolerizado.

    Depois, quando seu irmão entrou no salão, murmurou só para o Marquês:

    —Venha falar com papai amanhã. Estarei à sua espera.

    Foi esta frase que fez com que o Marquês resolvesse abandonar Londres e seguir para sua propriedade no campo, no dia seguinte, de muito mau humor. Tinha sido bem planejado demais, óbvio demais! E dava-lhe a sensação de ter caído numa armadilha, de ser forçado a uma declaração antes de estar realmente decidido.

    Era verdade que ele havia beijado Leone, mas ela o provocara. Quase o havia forçado a beijá-la e depois dera como certo que ele lhe diria as palavras que jamais havia dito a mulher alguma.

    Chegando à sua casa em Berkeley Square, o Marquês ordenou que trouxessem seu faetonte, trocou de roupa e partiu para Alton Park.

    Queria sair de Londres, escapar à perfumada maciez das mulheres, respirar o ar fresco do campo, o aroma das flores e saber que estava só... só e satisfeito com sua própria companhia.

    Chegou a Alton Park, zangado demais para apreciar o que fora ali buscar. Mas, pelo menos, sua mente estava mais clara e ele percebeu que tinha sido o vinho que empanara seu raciocínio.

    Foram aqueles malditos brindes, dos quais se vira obrigado a participar: «À vitória», «À exterminação de nossos inimigos», «À queda de Napoleão», «À Marinha», «Ao Exército», «Aos Voluntários». Houve dezenas de brindes e, como foram propostos pelo Príncipe, nenhum dos convidados ousara recusar esvaziar seu copo.

    Devido à sua constituição forte, o Marquês não estava com dor de cabeça agora de manhã, mas ainda sentia-se deprimido com a ideia de que Leone o esperava em Londres. O pai da moça, o Conde de Harlington, estaria calculando que dote poderia extorquir do noivo, estaria saboreando com antecedência os sorrisos sabidos dos amigos das duas famílias, que diriam que era isto que todos tinham esperado, desde o princípio.

    —Maldito William Pitt! A culpa é dele!— murmurou o Marquês, saindo do quarto e descendo lentamente a magnífica escada de madeira entalhada, com seus murais heráldicos que apareciam a cada curva, como sentinelas.

    Apesar disto, era bastante justo para reconhecer que, na realidade, a culpa era dele mesmo. Ninguém, por mais importante que fosse, poderia obrigar um homem a casar; nenhum homem, a não ser que fosse um tolo, permitiria que o obrigassem a isto.

    Leone não era a primeira mulher a tentar forçá-lo a um pedido de casamento, mas o Marquês fora estúpido a ponto de deixar que ela, com suas manobras, o colocasse exatamente na posição que ele tentava evitar.

    Sabia perfeitamente que Leone estava decidida a fisgá-lo e era por isto que evitava ficar com ela em circunstâncias comprometedoras. Mas, na véspera, havia se descuidado e ela agora o esperava em sua casa. Ele bem que havia notado a expressão de satisfação no rosto um tanto tolo de Lorde Thatford, irmão de Leone, quando, ao entrar no salão, os vira juntos.

    Pelo que o Marquês tinha ouvido dizer, Thatford estava em má situação financeira e a perspetiva de um cunhado rico devia ser muito animadora.

    Os credores certamente estariam dispostos a dar-lhe tempo, quando soubessem que sua irmã ia casar-se com um dos homens mais ricos da Inglaterra. Se o cunhado não soltasse dinheiro, Thatford daria um jeito para que sua irmã o fizesse. Disto o Marquês tinha convicção.

    Não havia dúvida de que Leone era bonita e, pelo que o Marquês tinha ouvido, toda a família da moça estava contando com isso para que ela arranjasse um bom casamento.

    —Por que é que fui tão idiota?— resmungou ele.

    Westham, que estava atrás da cadeira do patrão, perguntou:

    —Disse alguma coisa, milorde?

    —Estava falando sozinho— respondeu o Marquês, em tom desagradável.

    O velho suspirou. Conhecia o Marquês há muito tempo, para saber que um ataque de mau humor que durava a noite inteira devia ser causado por um problema real. Isto não era típico de mister Justin, que era como ele ainda pensava no patrão. O Marquês às vezes ficava furioso, mas isto durava pouco tempo.

    Em menino, fora conhecido por seu gênio alegre; como homem, às vezes se mostrava difícil, às vezes dominador. Mas uma coisa não podia ser contestada: era um homem justo.

    O velho Westham era bastante criterioso para tentar conversar com o patrão num dia como esse. Trouxe para a mesa pratos que foram recusados sumariamente e percebeu que o Marquês tomou um copo grande de conhaque, antes de se levantar e ir para a porta aberta, que dava para o terraço.

    «Alguma coisa deve estar errada!», pensou o velho. «Muito errada!»

    De cabeça descoberta ao sol, o Marquês andou pelo jardim. Não parecia notar os canteiros plantados com tanto gosto por sua mãe alguns anos antes de morrer. Não via as cercaduras de arbustos, com suas promessas de um colorido que logo viria com a floração rubra das azáleas contra o arroxeado e o branco dos lilases.

    Os jardins de Alton Park eram famosos, mas o Marquês andou por ali com olhos que não pareciam ver, imerso em seus pensamentos. Confuso e apreensivo, experimentava um aborrecimento igual ao que sentia quando voltava para Eton, depois das férias.

    «Maldição! Maldição!», disse a si mesmo.

    Continuou a blasfemar, mas isto não lhe trouxe alívio.

    Caminhando, pensativo, não notou para onde ia, até que um grito o sobressaltou.

    Parou e ficou à escuta. Ouviu outro grito e só então percebeu que tinha se afastado muito da casa, até a mata. Uma jovem veio correndo por entre as árvores.

    —Socorro, socorro!— gritava ela. Depois viu o Marquês e correu para ele.

    Surpreendido com a pressa com que ela chegou, o Marquês notou um rostinho de queixo pontudo e as lágrimas correndo dos olhos grandes e assustados.

    —Ajude-me... oh, ajude-me— pediu ela, quase sem fôlego—, meu cão... está preso numa armadilha. Não consigo soltá-lo...! Por favor, venha.

    —Claro— respondeu o Marquês prontamente.

    Sentiu a mãozinha dentro da sua e viu-se obrigado a correr por entre as árvores, de um jeito que ele não corria desde os tempos da escola.

    —Ele está aqui...— disse a moça, quando chegaram a uma clareira. Não houve necessidade de dizer mais nada.

    Um cãozinho spaniel preto e branco estava preso por uma perna numa armadilha enferrujada. Louco de medo, latindo e gemendo, o animal tentava libertar a perna, que sangrava muito.

    A moça correu para o cãozinho, mas o Marquês a deteve.

    —Não toque nele— disse, em tom autoritário—, Está com medo e é capaz

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