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Carreira: A Essência Sobre a Forma - 2ª ED
Carreira: A Essência Sobre a Forma - 2ª ED
Carreira: A Essência Sobre a Forma - 2ª ED
E-book706 páginas8 horas

Carreira: A Essência Sobre a Forma - 2ª ED

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Sobre este e-book

A essência sobre a forma é uma diretriz da contabilidade, mas que se aplica as nossas vidas perfeitamente, afinal, o que buscamos se não a felicidade? A realização de nossa essência?

Em todas as escolhas que fazemos, conscientes ou não delas, e mesmo quando não escolhemos, apenas atuamos naquilo que nos foi designado pela vida, pela circunstância, é sempre ela que buscamos e o que não nos leva a ela que evitamos.

De alguma forma, tentamos realizar nossa essência, e o trabalho, a entrega, a construção, a realização de algo, a formação das competências, o caráter de utilidade para o todo, a nossa contribuição, ela se dá pelo nosso trabalho, tenhamos o escolhido ou não, tenhamos sido vocacionados ou não.

O contexto socioeconômico em que vivemos pode se tornar uma barreira ou uma alavanca para nossa realização, mas em hipótese alguma conseguiremos realizar algo se não entendermos o que é esse algo antes.

É sobre isso que a gente conversa nesse livro!

Sobre nós (nossa essência), nosso trabalho (a forma) e nossas circunstâncias.

Aqui você encontrará um manual para sua carreira, boa leitura!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de fev. de 2023
ISBN9786556752655
Carreira: A Essência Sobre a Forma - 2ª ED

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    Carreira - Emerson W. Dias

    titulo

    EMERSON W. DIAS

    2ª Edição

    Copyright © 2023 by Emerson W. Dias

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, bem como a produção de apostilas, sem autorização prévia, por escrito, da Editora.

    Direitos exclusivos da edição e distribuição em língua portuguesa:

    Maria Augusta Delgado Livraria, Distribuidora e Editora

    ISBN 978-65-5675-265-5

    logo-editora

    atendimento@freitasbastos.com

    www.freitasbastos.com

    Sumário

    1. INTRODUÇÃO

    2. Parte 1: Carreira

    2.1 Carreira, o que é isso?

    2.2 Mercado de trabalho ou mundo do trabalho?

    2.3 Trabalho

    2.4 Profissão

    2.5 Emprego

    2.6 Emprego ou trabalho?

    2.7 Empreendedorismo

    2.8 Ocupações profissionais

    2.9 Padrões, estilos, perfis e tipos de uma carreira

    2.10 Protagonismo

    2.11 Sucesso na carreira

    3. Parte 2: Quem eu sou neste mundo

    3.1 Autoconhecimento

    3.2 Personalidade

    3.2.1 Big Five

    3.3 Os tipos psicológicos

    3.4 Vocação

    3.5 Interesses

    3.6 Competências

    3.6.1 Talento

    3.6.2 Dom

    3.6.3 Capacidade versus capacitação

    3.7 Motivações

    3.7.1 Motivações: economia, psicologia e carreira

    3.8 Valores

    3.9 Engajamento

    3.10 Propósito

    3.11 O homo psychologicus

    3.12 Âncoras de carreira

    4. Parte 3: Eu sou eu e minhas circunstâncias

    4.1 Interno

    4.2 Externo

    4.3 Fatores ESG

    4.4 O contrato psicológico

    4.5 A teoria do Capital Humano

    4.6 Novas competências

    4.7 A inteligência Emocional

    4.8 Cultura organizacional

    5. Parte 4: E o futuro não é mais como era antigamente

    5.1 Frankenstein, Jetsons e a Siri

    5.2 Barbeiro em extinção

    5.3 Longevidade

    5.4 Bem-vindos a era da criatividade

    5.5 Daqui para frente tudo vai ser diferente

    6. Caixa de Ferramentas

    6.1 Meu PDI: Plano de Desenvolvimento Individual

    6.2 O que é preciso saber para liderar

    6.2.1 E se eu não quiser uma carreira em liderança?

    6.3 Comunicação, A competência

    6.4 Networking

    6.5 Entrevistas de emprego

    6.6 Dinâmica de grupo

    6.6.1 Persuasão

    6.6.2 Negociação e gestão de conflitos

    6.6.3 Carisma

    6.7 Curriculum, currículo ou CV?

    6.8 Transição de carreira

    6.9 Guia prático para Transição de carreira

    6.10 Meritocracia ou networcracia?

    6.11 Educação Financeira

    6.12 Qualidade de vida, bem-estar e felicidade

    7. CONCLUSÃO

    8. Resultados dos testes

    9. Lista de figuras

    Bibliografia

    é no ato de criar e fazer nosso trabalho que descobrimos quem somos

    Austin Kleon

    AGRADECIMENTOS

    Aos

    Familiares, amigos, colegas de trabalho e clientes, suas respostas às minhas perguntas sobre o mundo do trabalho e suas visões sobre o tema, foram essenciais para esta obra.

    1. INTRODUÇÃO

    Amor, quando as pessoas me perguntam o que você faz eu não consigo dizer, porque é tanta coisa, o que eu digo?

    Diga que sou um provocador filosófico! Pronto!

    Mas aí vão me perguntar o que faz um provocador filosófico, o que eu digo?

    Diga que ele apresenta um quadro na rádio, outro na TV, participa de debates, tem um programa de entrevistas na web, escreve livros, colabora com sites escrevendo artigos, é diretor na associação de executivos (ANEFAC), produz vídeo aulas para escolas, e dá consultoria de carreira para pessoas e treinamentos em empresas.

    Pronto, tá explicado o que faz um provocador filosófico...

    É talvez seja melhor apenas dizer que você faz várias coisas mesmo...

    Esse diálogo é verdadeiro, aconteceu entre mim e minha esposa na época, recém-casados, e foi com base neste diálogo que, primeiro, criei a minha profissão, provocador filosófico, e segundo, decidi escrever um livro sobre carreira.

    Eu que me graduei bacharel em ciências contábeis, trabalhei por mais de 20 anos em empresas multinacionais numa carreira que começou como office boy e chegou a diretor executivo, com objetivos claros de me tornar um CFO, um belo dia, desisti de tudo isso, ao sentar na cadeira como CFO interino de uma grande multinacional, percebi que aquilo não fazia mais sentido para mim, que a graça foi de fato o caminho, mas estar lá, não tinha nenhuma, eu precisava buscar algo novo, um novo caminho, um novo inédito precisava ser viabilizado.

    Isso aconteceu em 2010, mas eu só tive o diálogo com minha esposa, que narrei há pouco, em 2016, passaram-se 6 anos entre, perceber, que não fazia mais sentido aquela carreira, planejar o que eu iria fazer de fato, agir dentro daquilo que havia planejado para fazer, que naquele momento estava acontecendo, ali eu de fato me dei conta que estava já há alguns anos fazendo coisas completamente diferentes das que eu tinha feito nos últimos vinte e poucos.

    Porém, ao começar escrever sobre carreira, percebi que precisava de mais embasamento técnico, pois até então eu só tinha a minha própria experiência e atendia alguns clientes em coaching nos últimos anos com base em leituras e técnicas que havia aprendido ou utilizando de memórias de formações que havia feito na minha formação de liderança ao longo do tempo, então, voltei para a academia e decidi fazer um mestrado e estudar com o foco em carreira, mas ao longo do curso, decidi focar meus estudos em liderança, e então abandonei o projeto do livro sobre carreira, que só voltei nele em 2019 quando havia concluído o mestrado, defendido minha dissertação em liderança e escrito um artigo científico sobre a diferença de como homens e mulheres são percebidos como líderes.

    Porém, no final de 2019, devido ao meu terceiro livro e um texto no blog da FIA, sobre finanças comportamentais, recebi um convite para escrever um livro sobre o tema, resultado, parei a produção dos textos sobre carreira e me debrucei sobre comportamento humano e dinheiro, o texto ficou pronto em meados de 2020, mas já no período da pandemia da COVID-19, e a editora reviu seu plano de trabalho, de modo que apenas em meados de 2021 é que o livro ficou pronto e nesse ínterim, lidando com as agruras de um divórcio, eu voltei às pesquisas sobre carreira, que agora resultam neste novo livro que você irá ler.

    E não é que agora, ao publicar este livro também desempenho a profissão de professor universitário tanto em graduação como pós e MBAs. Em 2018 fui convidado a dar aulas, algo que eu já sondava há algum tempo, mas sem o mestrado era mais difícil, e então, além de provocador filosófico e fazer tudo que faço, somei mais uma profissão, e sinceramente, a que mais gosto, me encontrei como professor.

    Ou seja, o inédito é viável, nem sempre é exatamente no tempo que a gente originalmente planeja, mas se de fato você quer ter um inédito viável, não pode desistir dele, mesmo que isso implique, veja só, alguns desvios na sua carreira.

    Assim, vamos a mais um livro da série O inédito viável, dez anos depois de eu ter decidido que queria mudar completamente de carreira.

    O que buscamos essencialmente é sermos felizes, a forma, pode variar, mas inevitavelmente uma delas é nosso trabalho.

    A essência é isso, a nossa busca por realização, a forma, pode ser nossa carreira.

    2. Parte 1: Carreira

    O conceito de carreira vem evoluindo ao longo do tempo, hoje ela não pode ser vista apenas como a relação de um indivíduo com a empresa para o qual trabalha, e seu impacto econômico e social, mas deve também abarcar as questões da vida pessoal deste indivíduo, e os impactos reproduzidos na economia, na sociedade e na vida psíquica deste ser.

    2.1 Carreira, o que é isso?

    O termo carreira vem do latim via carraria que significa estrada para carros, e foi no século XIX que ela começou a ser utilizada para definir a trajetória profissional de alguém. No mundo do trabalho ela representa o período útil, útil no sentido econômico, "população economicamente ativa[1]", aquela que tem condições de trabalho.

    Carreira, portanto, é o percurso profissional da vida de um indivíduo economicamente ativo. Nas palavras de London e Stumpf (1982) é uma sucessão de experiências de trabalho ao longo da vida.

    "Carreira é a sequência das experiências pessoais de trabalho ao longo do tempo[2]", segundo Michael Arthur in The Boundaryless Career.

    Numa visão geral, eu sempre apresento carreira com a figura 1; um espaço da vida do indivíduo dedicada ao trabalho, seja ele qual for remunerado ou não, formal ou informal.

    Nas palavras de Dutra (2017) seja este um veículo para a autorrealização ou exercício da vocação deste indivíduo, um papel assumido na sociedade ou a busca de uma mobilidade social.

    Figura 1: Carreira

    Fonte: autor

    Mas é somente partir dos anos 70 é que começam as discussões sobre carreira, considerando as relações entre empresa e pessoas. A carreira sempre foi pensada como uma sequência linear de posições de trabalho, como se a pessoa fosse subindo degraus em direção a cargos maiores à medida que evoluía na hierarquia das organizações.

    Um exemplo desta expectativa pode ser visto no texto, de Alexandre Marcondes Filho, ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, entre 1941 e 1945 no governo de Getúlio Vargas, que, aliás foi ele quem recebeu a carteira de trabalho número 1 do Brasil, marcado pela promulgação da CLT em 1943, e que figurou até bem pouco tempo atrás na carteira de trabalho dos brasileiros;

    A carteira, pelos lançamentos que recebe, configura a história de uma vida. Quem a examinar, logo verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a profissão escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode ser uma advertência (Carteira de trabalho brasileira).

    Mas, as carreiras possuem ciclos e a palavra ciclo vem do grego kýklos, significa uma série de fenômenos que se renovam de forma constante.

    Assim, Donald Super já nos anos 1950 entendia a carreira profissional como parte dos ciclos de vida natural do indivíduo, para ele as carreiras possuem 5 estágios Growth, Exploration, Establishment, Maintenance e Decline, estes estágios têm uma marcação etária, mas como são padrões americanos de décadas atrás, não podemos, na minha visão, utilizá-los como sendo fronteiras ainda hoje verdadeiras, nem para os Estados Unidos e nem para o Brasil, embora nos ajudam a compreender os ciclos.

    Muitos teóricos de carreira também se baseiam na teoria Eriksoniana, com seu conceito de estágios da vida, desenvolvida pelo psicanalista Erik Erikson no clássico As Oito Idades do Homem, ele descreve os estágios e desafios do ciclo da vida do ser humano em oito estágios, quatro na infância e quatro na vida adulta. De modo que o indivíduo deve completar com êxito uma tarefa de desenvolvimento em cada estágio, antes de avançar para o seguinte. Para Erikson os quatro estágios da vida adulta são: adolescência, juventude, idade adulta e maturidade e estes são relevantes para o estudo de carreira (Stoner e Freeman, 1999; Viorst, 2002).

    A tabela 1 traz uma ideia sobre as conexões destas linhas de pensamento sobre carreira. As idades marcadas são referências aproximadas das ideias avaliadas, elas não devem ser interpretadas como marcas fixas e que sejam adequadas para todas as pessoas em todas as sociedades.

    Tabela 1: Fases da carreira

    Outra abordagem para carreiras vem das ideias de Daniel Levinson e seus colegas, esta abordagem sugere que a vida adulta envolve uma série de crises ou transições pessoais e relacionadas com a carreira, que ocorrem numa sequência bastante previsível a cada cinco ou sete anos (Stoner e Freeman, 1999, p. 418).

    Na tabela 2 pode-se evidenciar alguns dos principais marcos, não se esgotam ou limitam ao que está posto, é apenas uma pequena ideia. Vale dizer que é uma teoria desenvolvida décadas atrás, portanto as idades não refletem a realidade de hoje, que dada a longevidade aumentada da humanidade, discute-se a economia da longevidade[3], e os efeitos dela no mundo do trabalho.

    Tabela 2: Fases de carreira 2

    Cabe ressaltar que o próprio Donald Super admite que o comportamento das pessoas em relação às suas escolhas profissionais segue um conceito de aproximação e emerge a partir de suas experiências, o indivíduo ao se aproximar da atividade, vai criando conexões sobre ela e compreendendo melhor suas inclinações ou não para aquela atividade, numa combinação de interesses pessoais, habilidades e realizações, fatores psicológicos do indivíduo e fatores sociológicos do contexto vivido são relevantes (Freeman, 1993).

    Segundo os trabalhos de Super (1957), o comportamento das pessoas em relação à escolha e no desenvolvimento de suas carreiras segue padrões determinados por sua condição social e econômica, raça, sexo, nível de maturidade etc. Esses padrões podem ser agrupados em determinantes psicológicas, sociais e ambientais (guerras, ciclos econômicos, alterações tecnológicas etc.) (DUTRA, 2016, p. 133).

    Peter Diamandis, um dos fundadores da Singularity University, escreveu o texto abaixo no prefácio do livro Organizações Exponenciais, esta frase traz uma visão sobre as mudanças no mundo do trabalho e consequentemente no universo das carreiras.

    ... trinta anos atrás, se você quisesse atingir um bilhão de pessoas, você teria de ser a Coca-Cola ou a GE, com colaboradores em uma centena de países. Hoje você pode ser um garoto em uma garagem que faz o upload de um aplicativo para algumas plataformas principais. Sua capacidade de atingir a humanidade foi democratizada. (SMAIL, MALONE, VAN GEEST, 2015 – prefácio)

    Uma definição simples de Carreira que eu uso é: o tempo da vida em que a gente se dedica a algo profissional, que consideramos útil, e que deveria ser em boa medida prazerosa.

    Sim, prazerosa, meu credo é de que se as pessoas pudessem sempre trabalhar em algo que as completassem, que as definissem, fosse parte de suas identidades, o nível de tensão na sociedade seria menor, é minha visão de mundo e eu vou falar mais sobre isso adiante, embora o livro tenha claramente a intenção de te levar para esse olhar.

    Claro que essa frase carrega muito de um modelo idealizado de carreira, quase que uma visão da carreira perfeita, nem todos pensamos do mesmo modo e tampouco todos tem a possibilidade de afirmar esta frase como definição de suas próprias carreiras.

    Mas pegando gancho do título deste livro, a essência sobre a forma, no fundo no fundo, se a essência sobre a forma é verdadeira, a frase se encaixaria perfeitamente na definição de uma carreira real, não apenas ideal, mas o que é o ideal em relação ao real?

    É o sonho! O real é o que temos, o ideal é o que buscamos, entre eles existe uma diferença, essa diferença podemos chamar de desafios intermediários, lacunas, metas menores, que ao serem alcançadas, nos aproximam do grande objetivo, o ideal, o que eu chamo de inédito, e se o que eu quero é o inédito, ele precisa ser viável!

    Mas deixemos esse assunto um pouco de lado, vamos desenvolver a leitura do livro e no final voltamos nele quando falarmos de planejamento no capítulo 6.1-Meu PDI: Plano de Desenvolvimento Individual.

    2.2 Mercado de trabalho ou mundo do trabalho?

    Mundo do trabalho é tudo sobre o trabalho humano, e a interação na sociedade advinda do trabalho, ele envolve as condições em que se dão os trabalhos, nacionais, globais, formais ou informais, repetitivos, manuais ou intelectuais, debates sobre gênero, idade, início e fim da relação dos indivíduos com seus trabalhos, aborda também os seus significados sociais de tempo e espaço.

    Já o mercado de trabalho é regido pela lei da oferta e procura, é um sentido de mercado mesmo, uma feira onde quem quer vender anuncia e quem quer comprar avalia, sujeito a todas as regras de economia, com períodos de escassez e abundância quando os preços ou salários oscilam, subindo e descendo de acordo a oferta e procura.

    Assim, numa economia em crescimento é natural que ela gere mais ofertas de emprego, para preencher essas vagas é preciso contratar gente, aqueles que tem a qualificação mais necessária para o momento, conseguem melhor remuneração, este fenômeno em economia chama-se bônus salariais.

    Ele é muito observado no que popularmente se conhece como corrida entre a educação e a tecnologia, uma vez que a mudança tecnológica demanda de pessoas com qualificações específicas, quando a oferta fica maior que a demanda, ou seja, quando se tem muitas vagas, mas poucos profissionais com aquela qualificação específica, os bônus salariais aumentam, assim esses profissionais acabam por ter as melhores remunerações até que essa qualificação se torne acessível a um grande grupo de profissionais. Assim, quanto mais avançada se torna uma economia e melhor funciona seu mercado de trabalho, mais bônus salariais se pode esperar, e o contrário também é verdade (Scheidel, 2020).

    Tabela 3: Questões importantes sobre mundo e mercado de trabalho:

    2.3 Trabalho

    Uma sociedade que para, para se perguntar porque pessoas trabalham é uma sociedade sofisticada afirmou Petrullo (1958) ao analisar a obra de Donald Super.

    Concordo muito com esta afirmação de Petrullo, é como o mito da caverna de Platão (2014), um dia você olha para fora dela e se pergunta, porque eu faço isso? A resposta mais óbvia que as pessoas dão é: porque precisamos ganhar dinheiro para viver. E por mais óbvia que seja, ela ainda não me satisfaz, mas vamos avançar neste assunto e tentar propor a você leitor, algumas provocações sobre isso.

    Segundo a filosofia, o trabalho pode ser definido como: a atividade destinada a utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente para satisfação das necessidades humanas e o grau mais ou menos elevado de esforço, sofrimento ou cansaço, constitui o custo humano do trabalho (Abbagnano, 2012 p. 1.147).

    O fato de incluir necessidades humanas nesta definição nos traz um enorme problema, já que como nos alertava o filósofo Adam Smith[4], quando ainda não era chamado de economista; há um problema natural na nossa vida, pois as necessidades que temos são infinitas, e os recursos para tentar satisfazê-las são escassos, por isso precisamos fazer escolhas utilitárias, que são aquelas que nos trazem maior retorno, satisfação, felicidade. Então, o trabalho nunca tem fim, pois nós humanos estamos sempre buscando a satisfação.

    A psicanálise inclusive vai concordar com a economia sobre nossas necessidades nunca terem fim, já que todo progresso se baseia nesse desejo inato e universal que o ser humano tem de querer viver além dos próprios meios atuais.

    Vamos explorar mais o tema desejo, necessidade e vontade no capítulo 3.8 motivações, por hora focaremos em trabalho.

    Esse desejo ou impulso foi materializado através do trabalho do homem ao longo do tempo modificando inclusive o seu próprio trabalho ou a forma de fazê-lo. De acordo com a história do homo sapiens narrado por Harari (2016), houve três grandes revoluções que moldaram a vida humana para o que conhecemos hoje:

    A primeira revolução foi a cognitiva: quando o ser humano (o homo sapiens) se diferenciou dos demais seres porque pensou e se espalhou pelo mundo a partir da África, entre 200 e 70 mil anos atrás.

    A segunda, a revolução agrícola, quando o ser humano domesticou animais (pecuária), cria assentamentos permanentes de moradia, desenvolve o plantio e colheita, algo que remonta 12 mil anos.

    Depois disto surgiram várias coisas, como a escrita, a moeda, a roda, reinos, religiões, e muito mais, tudo isso fruto do trabalho humano, de forma direta ou indireta.

    E por último, houve a revolução científica, quando o homem entende que o trabalho científico pode trazer o progresso, inclusive econômico, começam as grandes navegações exploratórias intercontinentais, o domínio dos mares, o comércio se intensifica entre países, bancos financiam governos, surge o capitalismo, descobre-se a América, o mundo começa a se tornar global e plano[5], isso ocorreu nos últimos 500 anos.

    Embora ao longo deste livro traremos muitas reflexões filosóficas que remontam mais de 500 anos atrás, para compreender a sociedade atual é importante partirmos daqui, da revolução científica que desembocou na 1ª Revolução industrial ocorrida entre meados de 1700 até meados de 1800, ou seja, apenas há 200 anos. E o que são ínfimos 200 anos no rastro de milhões de anos na história?

    Muito pouco, portanto, do trabalho em si, ainda há muito a ser explorado pelo ser humano, ainda a muito a se compreender sobre essa relação, tanto do ponto de vista de autorrealização como do aspecto econômico do trabalho e tudo mais que trataremos neste livro.

    Veja, diferentemente de filósofos gregos que defendiam a vida contemplativa (reflexão e trabalho intelectual de pensar como modo de desenvolver a virtude), muitos defendem a vida ativa e a condenação ao ócio. Giordano Bruno em 1584 pensava algo que pudesse misturar as duas coisas: se ocupe na ação com as mãos e na contemplação com o intelecto, de tal maneira que não contemple sem ação e não atue sem contemplação.

    Mesmo que o trabalho na Grécia antiga não tinha nenhum valor moral, era feito por escravos e, portanto, se constituía inclusive num obstáculo para o alcance e formação da virtude, o labor (trabalho manual) limitava a liberdade do indivíduo, e liberdade era essencial para se ter uma vida contemplativa.

    Para muitos, o trabalho traz aspectos sociais, imagine, por exemplo, numa tribo indígena, há uma divisão do trabalho e todos se beneficiam do trabalho individual de cada um. Também existem aspectos naturais do trabalho, a própria necessidade de se alimentar, faz do ser humano um trabalhador natural para colher, caçar, preparar seu alimento ou o alimento de outras pessoas.

    Como alerta Harari (2016) até o fim da era moderna, mais de 90% dos humanos eram camponeses que se levantavam todas as manhãs para trabalhar a terra com o suor da fronte. Os excedentes que produziam alimentavam a uma ínfima minoria das elites – reis, oficiais do governo, soldados, padres, artistas e pensadores – que enchem os livros de história. A história é o que algumas poucas pessoas fizeram enquanto todas as outras estavam arando campos e carregando baldes de água afirma o historiador.

    Embora a palavra trabalho tenha origem no latim, tripalium, com tri que significa de três e palum significado de madeira, portanto três paus, registrada normalmente nos dicionários como um instrumento de tortura romano usado contra os escravos. Em seu sentido original o ‘trabalhador’ seria o carrasco, e não a vítima, o caráter penoso do trabalho não é atribuído ao próprio trabalho em si, mas às condições sociais nas quais ele se desenrola na sociedade.

    O escritor Mark Twain concorda com esta visão do trabalho, em As aventuras de Tom Sawyer, ele diz: Trabalho consiste em tudo que um corpo é obrigado a fazer e prazer consiste naquilo que um corpo não se é obrigado a fazer (Twain, 2007, p. 22 – tradução nossa)

    Há ainda um caráter espiritual do trabalho, considerado pela Bíblia como consequência da maldição divina decorrente do pecado original[6]:

    Genesis 3:19 – Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!

    Em outro trecho, há uma exortação do Aposto Paulo sobre o tema, no livro de Tessalonicenses II, 3:10 no texto de São Paulo – Quando ainda estávamos convosco, vos ordenamos isto: Se alguém não quiser trabalhar, também não coma.

    Essa conexão entre trabalho e tortura, ou sofrimento e dor, perdurou por épocas, até que passou a ser entendido com o sentido de atividade exaustiva ou difícil. Somente a partir do século 14, começa a ter esse sentido que conhecemos hoje, o de aplicação de forças e faculdades (talentos e habilidades) humanas para um determinado fim. A ideia do homo faber representado pelo mestre de ofício, aquele que se expressa por meio do seu trabalho, sem distinção entre vida pessoal e profissional.

    Há também um elemento educativo no trabalho, pois o homem civilizado é educado através da necessidade da ocupação, conforme definiu Hegel apud Abbagnano (2012, p. 1.148).

    Hegel e Durkheim não viam o trabalho humano como meio para o fim de consumo, para eles, o trabalho era uma atividade de integração social, um espaço para reconhecimento das pessoas, uma forma de contribuir com o bem comum (Sandel, 2020, pp. 201-202).

    O sociólogo Max Weber (1864-1920) apontava que a ideia peculiar do dever profissional, tão familiar nos dias de hoje, mas na realidade, tão pouco evidente, é a maior característica de ‘ética social’ da cultura capitalista e, em certo sentido, sua base fundamental. O ascetismo religioso, marcado pela disciplina e valorização do esforço forma a base ideal para o florescimento do capitalismo. Para Weber o protestantismo que via na profissão e no trabalho uma forma de devoção ao divino, diferente do catolicismo onde a vocação era apenas via sacerdócio, foi o motor do enriquecimento das sociedades americanas e norte europeias (WEBER, 2013).

    Os eleitos, na visão do protestantismo, como já estão destinados a serem salvos, na vida eterna, gozam de enriquecimento financeiro na vida terrena, como recompensa divina por seu esforço, e como recusam o luxo, reinvestindo os lucros em mais negócios acabam por fazer a economia crescer. Coincidentemente esta visão de Weber acontece ao longo da primeira e segunda revolução industrial.

    Esse pensamento tem total conexão com a ideia de destino manifesto, expressão criada por John O´Sullivan em 1845, quando era editor do jornal New York Morning News, essa doutrina desempenhou um papel importante na obtenção de apoio para o expansionismo americano, transformou-se numa ideologia moral, apresentando o expansionismo como missão divina (Marriott, 2015).

    Mas, por exemplo, essa teoria weberiana, ou mesmo a crença americana não se sustenta na plenitude, pois ela não pode explicar o enriquecimento dos países asiáticos, que são em sua maioria hinduístas e/ou budistas, tampouco o caso da Espanha que nos séculos XVI e XVII era uma potência financeira mundial e católica, ou seja, é plenamente possível contestar essa ideia de prosperidade via trabalho a partir da benção divina pregada pela religião protestante.

    Adam Smith, antes de Weber já falava sobre a mão invisível do mercado que rege e economia:

    Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países ele [o homem] tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções (Smith, 1996, p. 438 grifo nosso).

    Uma vez que o homem passa a buscar o capital para benefício próprio, e não para a sociedade, todos acabam por se beneficiar disto, nas palavras deste: Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse (Smith, 1996, p. 74).

    Estas ideias representam uma transição do homem religioso para o homem econômico (homo economicus[7]).

    Ora et Labora é o princípio da Regra de São Bento que defendia o equilíbrio entre vida de oração e de ação, perde forças numa sociedade onde a sociedade de trabalhadores é transformada na sociedade de consumidores. E a ideia da construção da identidade do indivíduo principalmente através de seu trabalho, em suas cinco dimensões (econômica, moral, ideológica, psicológica e social) também enfraquece, pois, embora o trabalho não seja mais uma base sólida para a construção da identidade, ele ainda ocupa uma grande parte do tempo do indivíduo, surge então a insegurança ontológica[8] (BONIFÁCIO, 2014; BENDASSOLLI, 2007).

    Caplow (1954), baseado nos estudos de Tilgher (1930) já alegava que de fato há um número de teorias inconsistentes sobre a importância do trabalho: desde a ideia grega de todo trabalho como servil, a visão medieval do trabalho como a penalidade da queda de Adão, a exaltação do trabalho como um meio de autodisciplina e um sinal visível da graça na ética calvinista (protestante) e na identificação moderna do trabalho com criatividade consciente, ainda não restrita a grupos privilegiados.

    Contudo, Viorst (2002, p. 297) afirma que o trabalho é o esteio da nossa identidade, a âncora do eu social e privado, o meio pelo qual provamos nossa competência, recebemos nosso salário como prova do valor desta competência, a interação com as pessoas no mundo social e a relação conosco no mundo privado, é o que vai nos definir ao perguntarmo-nos: quem sou eu?

    Todas essas influências sobrevivem juntas no conjunto da cultura moderna. O desprezo pelo trabalho manual está associado ao culto ao exercício físico. A deificação marxista das massas trabalhadoras e o ideal universal da aposentadoria precoce não são mais inconsistentes do que a imposição do trabalho como privilégio em nossas escolas e como penalidade em nossas prisões.

    Para Fogel (2000) Nobel de economia em 1993, existe um conjunto de itens que formam um ativo espiritual (senso de propósito com o trabalho, autoestima, senso de disciplina e sede em aprender continuamente), que são elementos essenciais para o desenvolvimento de um povo, e é assim que surge uma ética do trabalho, na qual o trabalho não é visto como um fardo desagradável, que as pessoas precisam se livrar, mas sim como parte da responsabilidade do indivíduo, o que poderíamos chamar hoje puro e simples de propósito, afinal se você encara o seu trabalho como parte de um propósito maior de vida, certamente o desempenho será diferenciado, daquele que faz apenas e restritamente o necessário e adoraria, se pudesse, não estar ali, mas em outro canto, fazendo outra coisa. É velha história da catedral:

    Um viajante visitou uma pedreira e perguntou a três trabalhadores o que estavam fazendo:

    Você não está vendo? disse o primeiro, irritado. Estou cortando pedra.

    O Segundo respondeu: Estou ganhando a vida.

    Mas o terceiro largou sua ferramenta e estufou o peito orgulhosamente e disse: Estou construindo uma catedral.

    O trabalho, então, pode não ser um mal necessário, nem uma maldição, mas, ao contrário, feito de forma consciente, concebido e executado de maneira competente, permite ao ser humano evoluir e conquistar sua verdadeira liberdade, vocação, motivação. O trabalho cultivado de forma filosófica manifesta um canal para o desenvolvimento das faculdades humanas e para o surgimento da genialidade (ECHENIQUE, 2010).

    Mas o que é o trabalho hoje?

    Hoje sabemos que o trabalho pode ser algo prazeroso e que ainda nos dê sustentação financeira. Ou seja, é possível ganhar dinheiro fazendo o que se gosta, sim, embora não seja uma realidade para todos.

    Dados globais do relatório State of the Global Workplace 2021 Report, mostram que apenas 20% dos funcionários no mundo estão engajados com seus trabalhos e podemos entender engajamento como estar conectado emocional e intelectualmente com o trabalho. Analisando a série histórica desde 2009, vemos que o pico se deu em 2019 com 22% de engajamento apenas (Gallup, 2021).

    Figura 2: Nível de engajamento

    Fonte: Gallup, 2021

    Outro dado do Instituto Gallup em 2017 apontava que 51% da força de trabalho americana estava em busca de novas oportunidades de trabalho e segundo o Worker Passion Survey da Deloitte EUA, em 2014, 80% dos trabalhadores não gostavam do que faziam, já o ISMA (International Stress Management Association) em pesquisa de 2015 alegava que 72% da população estava insatisfeita com o trabalho.

    Vivemos uma sociedade em transformação, segundo Jean-François Chanlat (1995) muito disso provocado por grandes movimentos, como feminização do mercado de trabalho, o aumento cada vez maior da presença feminina ao longo do último século no mundo do trabalho, embora ainda existam barreiras para o avanço das mulheres nas posições de liderança. Houve também uma elevação dos graus de instrução dos trabalhadores mundialmente, os movimentos sociais de diversidade e inclusão de pessoas estão cada vez mais fortes e existe uma cosmopolitização[9] do tecido social. Além da globalização da economia, tudo isto reflete na necessidade de mudança nas organizações e flexibilização do trabalho.

    E como será no futuro?

    A humanidade passa por um período singular na história, no qual vivencia múltiplas transformações, grande parte delas causadas pelos avanços tecnológicos (HARARI, 2016; SCHWAB, 2016).

    Segundo relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial, a economia mundial sentirá os efeitos da chamada Quarta Revolução Industrial. O Fórum projeta que, as tecnologias vão eliminar milhões de vagas de emprego. Nas palavras de Schwab, (2016) a quarta revolução industrial promete ser muito mais veloz, ter maior amplitude, profundidade e impacto sistêmico, muito maior que as três revoluções anteriores, ela une os mundos físico, biológico e digital:

    1ª revolução industrial (1760-1840) – impulsionada pela invenção da máquina a vapor e construção de ferrovias;

    2ª revolução (final do século XIX e início do XX) – com eletricidade e produção em massa;

    3ª revolução, também chamada de revolução digital (a partir de 1960, com os computadores mainframes, chegando ao computador pessoal e internet nos anos 1990);

    4ª revolução a partir do advento da internet em 1994/5.

    Karl Marx (no livro Capital) já expressava no início da primeira revolução industrial sua preocupação de que o processo de especialização reduziria o sentimento de propósito que os seres humanos buscam no trabalho, em um mundo cada vez mais integrado onde pessoas buscam equilíbrio profissional e pessoal, com as máquinas avançando sobre o trabalho, inclusive intelectual do ser humano, será que o trabalho continuará sendo uma das possibilidades de indivíduos alcançarem satisfação, propósito? (SCHWAB, 2016).

    A transição da revolução cognitiva para a agrícola, depois as revoluções industriais que agora se tornam digitais e virtuais, será capaz de nos propiciar realização? Satisfação de nossos desejos? Haverá espaço para cada indivíduo fazer o seu trabalho e sustentar-se?

    Quando missionários anglicanos introduziram um machado de aço numa tribo primitiva na Austrália, deram-se conta de que a introdução de uma mudança técnica tem reflexo no sistema social. O machado de pedra polida era, tradicionalmente, uma parte básica da tecnologia da tribo, era usado por homens, mulheres e crianças, porém, era mais que um instrumento, era um símbolo social de masculinidade, definia relações, apenas um homem adulto podia fazer seu próprio machado de pedra; uma mulher ou criança precisavam pedir sua permissão para ter um machado.

    Ao introduzir indiscriminadamente o machado de aço na comunidade, que era mais eficiente que o de pedra, a aceitação foi geral, porém o homem adulto que era incapaz de fazer o machado de aço e já não mais precisava do de pedra, tornou-se um comum, perdeu seu status de único fazedor de um elemento vital para aquela sociedade.

    Como na canção Guerreiros do cantor Fagner no verso que diz:

    Um homem se humilha

    Se

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