A Educação de Jovens e Adultos em Movimento
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Sobre este e-book
Maria Angélica Peixoto
Maria Angélica Peixoto – Socióloga, Graduada em Ciências Sociais (UFG); Especialista em Aprendizagem e Diferenças (UFG); Especialista em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão (UNB); Mestre em Sociologia(UnB); Doutora em Sociologia (UFG); Professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Inhumas. Autora do Livro Inclusão ou Exclusão? O Dilema da Educação Especial (Goiânia, Edições Germinal, 2002) e vários capítulos de livros.
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A Educação de Jovens e Adultos em Movimento - Maria Angélica Peixoto
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DARLENE VIEIRA
LAÍSSE LEMOS
LORENNA COSTA
MARIA ANGÉLICA PEIXOTO
(Organizadoras)
A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM MOVIMENTO
COLEÇÃO MOSAICO
02
1ª edição 2022
Goiânia, Go
Edições Redelp
_____________
© By Edições Redelp, 2022
Conselho editorial
Dr. Adrián Piva – UBA (Universidade de Buenos Aires)
Dr. Amaro Braga – UFAL
Dr. Carlos Guimarães – UFMG
Dr. Cleito Pereira dos Santos – UFG
Dr. Cristiano Bodart – UFAL
Dr. Diego Marques dos Anjos – IFGoiano
Dr. Edmilson Marques – UEG
Dra. Eliani Coven – PUC-GO
Dr. Erlando Reses - UnB
Dr. Iuri Reblin – EST
Dr. Ivonaldo Leite – UFPB
Dr. José Henrique Faria – UFPR
Dr. José Santana da Silva – UEG
Dr. Lisandro Braga – UFPR
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Dr. Marcus Vinicius Costa da Conceição – IFGoiano
Dra. Maria Angélica Peixoto – IFG
Dr. Nildo Viana – UFG
Dr. Renato Dias de Souza – UEG
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Dr. Ricardo Musse – USP
Dr. Rodolfo B. M. L. da Costa – UFPR
Dr. Rodrigo Czajka – UFPR
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Dr. Waldomiro Vergueiro - USP
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© Edições Redelp
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escritos dos editores e autores.
Capa
Ediney Vasco
Diagramação
Rodrigo Dutra
Ficha catalográfica
V658e Vieira, Darlene; Lemos, Laísse; Costa, Lorenna; Peixoto, Maria Angélica (orgs.).
1. ed.
A Educação de Jovens e Adultos em Movimento / Darlene Vieira; Laísse Lemos; Lorenna Costa; Maria Angélica Peixoto (orgs.). 1. ed. – Goiânia: Edições Redelp; 2022.
188 p.; 23 cm. – (Coleção Mosaico, v. 2)
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-86705-37-9
978-65-86705-38-6 (edição digital)
1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. Políticas Educacionais. 4. Produção de Saber. 5. Docência. I. Título. II. Série.
CDD: 374
CDU: 37
Índice para catálogo sistemático:
1. EJA: Educação de Jovens e Adultos.
2. Educação: Práticas Educacionais.
http://edicoesredelp.net
editorial@edicoesredelp.net
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Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!
Paulo Freire
É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.
Paulo Freire
PREFÁCIO
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Adelson Moreira Santos*
* É mestrando no Programa de Mestrado em Gestão, Educação e Tecnologia da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Pesquisador na UEG, Grupo GEGC - Pesquisa Interdisciplinar em Educação, Gestão e Cultura Regional – UEG/ Luziânia; Pesquisador no Instituto Federal de Brasília, no Grupo GEOTECER: Geografia, Território, Ensino e Cerrado - IFB (Riacho Fundo). Especialista em Ensino de Humanidades e Linguagens/IFB; Especialista em Inovações em Mídias Interativas, Universidade Federal de Goiás; Especialista em Docência e Gestão da Educação Superior/ UEG. Especialista em Educação Infantil com Ênfase em Séries Iniciais, Faculdade Integrada de Araguatins (FAIARA). Licenciado em Informática/ UEG; Pedagogo/ FAIARA; Licenciado em História/ UEG. Docente no Curso de Pedagogia UEG/ Silvânia. Docente-tutor Centro de Ensino e Aprendizagem em Reder CEAR/ UEG.
O surgimento do tema dos movimentos sociais a partir da segunda metade do século passado levou ao crescimento de interesse da Sociologia pelo estudo e compreensão dos fenômenos ligados aos atores sociais produtores dos movimentos sociais, novos na opinião de uns e reformulados para outros, mas que gravitam em torno dos direitos civis, para a maioria. Os novos rumos da Sociologia passam agora a incorporar o estudo da totalidade social fruto das relações desenvolvidas no interior da sociedade capitalista.
Foi com grande satisfação que aceitei o convite da organização desta obra para escrever este texto de abertura. Destaco aqui minha admiração pela iniciativa e fico honrado com essa oferta, espero poder atender com no mínimo o necessário dinte da grandiosidade da proposta. Os temas abordam a modalidade de ensino denominada de Educação de Jovens e Adultos, mais conhecida por sua sigla (EJA), que possibilita a inserção no processo educativo de pessoas que não puderam o fazer comumente na idade estabelecida por lei, por diversos motivos.
A educação é a engrenagem que movimenta a sociedade e a estimula a avançar nos horizontes sociais e econômicos, dentre outros, gerando conhecimento e riquezas, conhecimentos para os alunos em sua formação e atendimento às necessidades desta própria sociedade e riquezas para as almas destes alunos que descobrem que a sua realidade até então limitante não é definitiva e conseguem transformá-la de forma positiva. Na EJA presenciamos momentos ricos de alegrias e transformação social, quando um jovem e/ou um adulto, consegue vencer os obstáculos que a vida lhe apresentou e alcançam a formação, seja na leitura de uma placa, seja na construção de um texto com suas ideias, seja no auxílio aos demais colegas e familiares em atividade em que a leitura e a escrita necessitam sem empregadas. Parecem situações pequenas e corriqueiras para os leitores e escritores do dia a dia, mas, para uma pessoa que procurava ajuda na verificação de um itinerário de um ônibus que se precisa tomar, é uma transformação profunda.
Nesta rica obra contamos com sete capítulos que abordam desde ajustes na prática docente, passando pela análise bibliométrica dos assuntos sobre a EJA; a permanência e o êxito no processo de formação; a educação crítica à luz do método dialético, que dialoga com a Pedagogia Histórico-Crítica; o movimento da relação com o saber dos sujeitos que cursam a EJA em sua dimensão identitária e epistêmica e por fim, a realidade que se apresentou por meio da pandemia de COVID-19, nos anos de 2019 a 2021 e que impactou todo o processo de educação, e consequentemente a EJA também, e a estratégia do ensino remoto emergencial, necessário para que se minimizasse os prejuízos educacionais.
São assuntos que nos auxiliam a pensar o direito, básico, constitucional de que todo cidadão brasileiro possui, o direito à educação pública, gratuita e de qualidade. A legislação determina que políticas públicas necessitam ser pensadas e implementadas para alcançar todos os jovens e adultos de maneira que tenham acesso e consigam finalizar com êxito seu processo formativo. Porém, percebemos, conforme nos aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que em 2019, último ano em que a pesquisa foi realizada, que ainda não tiveram acesso a escolarização cerca de 11 milhões de cidadão, (6,6%) da população do país. Uma situação lamentável, já que se tinha como meta de número nove do Plano Nacional de Educação (2014-2024) a erradicação do analfabetismo no ano de 2024.
A pandemia da COVID-19, iniciada em 2019, gerou diversas situações que impactaram educação e que trará reflexo futuros, iniciativas como a desta obra, nos permite esperançar que podemos superar mais estes desafios e também nos possibilita pensar estratégias para que avancemos nesta modalidade de educação.
Agradeço aos autores de cada capítulo, alunos, professores, que ousaram em uma seara não muito explorada, e que tenham sucesso em suas trajetórias lembrando que muitos de nossos contemporâneos, ainda não poderão fazer a leitura dos textos, aqui apresentados, pois, não tiveram acesso à educação formal, mas que muitos outros foram alcançados e são indiretamente homenageados nestas páginas.
Sugiro a você leitor, que inicie a leitura e se sinta como eu, esperançoso de que podemos mudar a realidade de muitos de nossos jovens e adultos por meio da educação, transformadora e humana. Então! Leia todos os capítulos e lute conosco para que a Educação seja essencial, prioridade e sobretudo fonte de vitórias pessoais e sociais.
Parabéns ao Instituto Federal de Goiás (IFG) e às organizadoras, sucesso e muita luta para que consigamos um país realmente, harmônico, igualitário, cidadão e principalmente educado. Obrigado.
Eternamente grato, professor Adelson Moreira Santos
EU, DOCENTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (?!): NARRATIVA REFLEXIVA, UMA ALTERNATIVA PARA UMA AUTOAVALIAÇÃO
___________
Rita Rodrigues de Souza*
* Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, docente em língua espanhola e membro do Núcleo de Pesquisa em Informática na Educação (NINE) no Instituto Federal de Goiás.
NARRATIVA PROFISSIONAL: CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADE(S)
Ao narrar, colocamos em jogo o passado, o presente e o futuro.
Maria Betânia Silva
Narro aqui, em tom quase informal, parte da minha trajetória docente. Narrar a própria trajetória profissional constitui uma atividade ímpar. Na perspectiva de Silva (2020), essa ação nos coloca em um jogo em que passado, presente e futuro constituem mais que tempos de narração e projeção. Eles possibilitam a emergência do feito, do que se faz e do que ainda pode ser feito. Impactam, portanto, na constituição das identidades dos sujeitos. No âmbito da docência, esse tipo de narração representa um encontro com a superação de desafios e, também, com desafios a serem superados. É uma prática necessária. Traz à tona, no entanto, uma mistura confusa de sentimentos: ora de satisfação, ora de vazio, ora de tristeza, ora de alegria. É preciso coragem!
A escolha pela narrativa autobiográfica, para a exposição reflexiva da minha atuação na Educação de Jovens e Adultos (EJA), consiste em uma maneira de pôr em relevo o caminho que percorri nos vinte anos na carreira docente, sendo que nesse trajeto sempre estive em relação direta com o público de jovens e adultos. Por meio
de narrativas, tem-se a possibilidade de (re)ela-borar questões internas e fortalecer a autoria e a autonomia. A narração não é a descrição fiel do fato, mas como ele foi construído mentalmente pelo narrador. No narrado podemos conhecer mais acerca da subjetividade do narrador do que a verdade
em si do narrado (MARQUES; SATRIANO, 2017, p. 372).
A tessitura dos fios que se entrecruzam nesta narrativa resulta da emergência de fatos e vivências pessoais e profissionais. A organização da narrativa visa evidenciar para os potenciais interlocutores escolhas, experiências, possibilidades e desafios no processo de identificação e formação para o trabalho na EJA. Assim, a construção textual apresentará momentos de narração entrecortados de reflexão e diálogos com diferentes vozes emergentes de práticas na docência e/ou leituras teóricas sejam sobre educação, EJA ou a metodologia (auto)biográfica, que contribuem para a construção identitária tendo em vista que
o trabalho biográfico não consiste somente em fazer reemergir essas lembranças pertinentes à vista do questionamento que orienta esse tra-balho. [...] É o momento em que se trata de com-preender como essa história articula-se como um processo — o processo de formação — que pode ser depreendido mediante as lições das lembran-ças que articulam o presente ao passado e ao futuro (JOSSO, 2006, p. 378).
Desobedeço, parcialmente, a proposição a que o título desta narrativa se propõe e início o meu relato a partir das minhas primeiras experiências na docência. Elas são parte importante das decisões que tomei durante a minha trajetória profissional. Agora, tenho consciência disso! Naquele momento, não tinha! Pensar sobre si, sobre sua trajetória, seu percurso, suas experiências, suas relações, permite identificar o fio condutor de sua própria história de vida, uma história em formação
(SILVA, 2020, p. 1417).
A atividade de resgate de lembranças de fatos e experiências iniciais que remontam à EJA me possibilitou revisitar, de modo geral, todo o meu processo formativo. Isso proporciona aperfeiçoamento profissional e desenvolvimento pessoal uma vez que possibilita um movimento intelectual e emocional no narrador participante. Porém, isso exige do profissional ousadia, comprometimento e maturidade para olhar para dentro numa justaposição, nem punitiva nem benevolente
(MARQUES; SATRIANO, 2017, p. 382).
Nesta narrativa autobiográfica, com ênfase na profissionalização para a docência na EJA, considero, na esteira de Bragança (2018, p. 70) que esse tipo de narrativa como uma memória fragmentada, como dialética entre lembrança e esquecimento.
Friso ainda que
Pesquisas que abordam narrativas auto(biográ-ficas) envolvem, necessariamente, relações com a memória. Por sua vez, a memória se conecta à identidade estabelecendo uma interligação entre si. Compreendemos, assim, que a construção da identidade é alimentada pela memória (SILVA, 2020, p. 1409).
PRIMEIROS PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO… FAMÍLIA E LEITURA
Os laços de parentesco são, indubitavelmente, os mais evocados nos relatos, quer sejam laços herdados por nascimento, quer sejam laços de aliança.
Marie-Christine Josso
Vários acontecimentos, que deixo de mencioná-los, são igualmente importantes aos que cito aqui. Vale destacar, entretanto, que qualquer que seja o relato, de quem o conta ou de quem o vivenciou, será sempre uma versão parcial da história
(SILVA, 2020, p. 1412). A seleção é necessária devido ao objetivo dessa autobiografia. Nascida negra em 1974, caçula de uma família numerosa de 11 (onze) irmãos. Meus pais, sem formação escolar, porém muito instruídos pela experiência de vida, me ensinaram desde muito cedo valores como temor a Deus, respeito ao próximo e ter objetivos na vida, bem como trabalhar com persistência para alcançá-los. Essa contextualização é necessária porque a pesquisa narrativa oportuniza o encontro do individual e do coletivo visto que o narrador traz a marca do singular em sua narrativa, ao mesmo tempo em que traz a marca da cultura, da história, do contexto
(MARQUES; SATRIANO, 2017, p.377). Apresentar minha origem já ajuda a desvelar oportunidades, ou a falta delas,