ATENAS
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ATENAS - JOSE AIRTON MACHADO ORTIZ
Dedico estas crônicas a Sócrates.
Assim, finalmente, temos algo em comum.
Agradecimentos
Meus agradecimentos ao Grupo Zaffari, cujo mecenato possibilitou as viagens que deram origem a este livro.
Democracia era uma forma de governo que existiu na Grécia antiga.
Ficou conhecida como governo do povo, pelo povo, para o povo.
Sumário
Capa
Agradecimentos
1 - Hélade
2 - Monte Olimpo
3 - Hellas
4 - Plateia Syntagmatos
5- Leoforos Vasilissis Amalias
6 - Parlamento
7 - Hotel Grande Bretagne
8 - Museu Arqueológico Nacional I
9 - Museu Arqueológico Nacional II
10 - Taverna
11 - Templo de Zeus
12 - Monte Lykavittos
13 - Plaka
14 - Cemitério de Keramikos
15 - Gazi
16 - Acrópole de Atenas
17 - Thisio
18 - Museu da Acrópole
19 - Lysikrates
20 - Monte Areópago
21 - Anafiotika
22 - Monte Pnyx
23 - Monastiraki
24 - Teatro de Dioniso
25 - Pireu
26 - Odeon de Herodes Ático
27 - Syntagma
28 - Estádio Panatenaico
29 - Grande Calçadão
30 - Palácios olímpicos
31 - Ágora Grega
32 - Stoa de Átalo
33 - Templo de Hefesto
34 - Stoa de Zeus Eleutério
35 - Hospital Geral Sotiria
36 - Liceu
37 - Stoa Poikile
38 - Makrygianni
39 - Ágora Romana
40 - Nikaia
41 - O barbeiro de Atenas
42 - Ágora Moderna
43 - Praça de guerra
44 - Sobre o Autor
45 - Créditos
1
Hélade
Abre-se o pano.
Os helênicos acreditam que a Terra é um disco separado ao meio pelo Mar, como chamam o Mediterrâneo. Bem no centro está a Hélade, tendo como pontos de referência o monte Olimpo, na Tessália, residência dos deuses; e Delfos, na Ática, residência do Oráculo.
A mitologia é formada por doze deuses e deusas principais, além de uma infinidade de semideuses, musas, ninfas, monstros, gigantes e por aí afora. Toda cidade tem o seu patrono, que deverá ser apaziguado e lisonjeado; cada cidadão pode venerar este ou aquele deus, dependendo da necessidade do momento. Mas ai de quem ousar desafiá-los.
Segundo ato.
Entram em cena escritores, filósofos, dramaturgos, escultores, pintores, médicos, historiadores e uma infinidade de cabeças pensantes. A crença popular é substituída pela razão. As divindades cedem o palco aos humanos. Surge a pólis, a democracia e as belas-artes. Constroem o Parthenon. Aristóteles abre uma escola, chamada Liceu. Alexandre, o Grande, espalha a cultura helênica pelo mundo.
Terceiro ato.
Chegam os romanos. As cidades-Estado, mesmo Atenas e Esparta, que viviam em pé de guerra, nas chamadas Guerras do Peloponeso, são transformadas na província greco-romana da Acaia. Os romanos renomeiam o país, dando-lhe o nome de Grécia, em homenagem a uma antiga tribo da região, os graikos. E adotam seus costumes.
Quarto ato.
Na virada do calendário, surge um novo Deus. Todo-poderoso, ele se revela por meio do filho, um disfarce que vem dos tempos de Zeus. A nova mensagem chega a Atenas com o apóstolo Paulo. Os antigos templos são substituídos por igrejas cristãs ortodoxas. O céu é loteado entre os mais vivos.
Quinto ato.
Muitas guerras depois, e não mais apenas de uma cidade contra a outra ou contra os tradicionais inimigos persas, a Grécia se transforma num país moderno. Por fim, as Olimpíadas. Duas. A última embeleza Atenas, mas dá início a um grande endividamento externo. Os aristotélicos gregos, erro após erro, empurram o antigo mundo helênico para o caos.
Fecha o pano.
Fica uma pergunta:
Por que a Grécia, que moldou o mundo, não consegue moldar a si própria?
Vamos lá ver?
2
Monte Olimpo
Abre-se o livro.
Zeus, o deus dos deuses, era filho de Cronos, da família dos titãs, gigantes filhos da terra e do céu, surgidos do caos. Ele derrotou o pai e assumiu o poder, dividindo o mundo com os irmãos. Era o mais vivo deles.
Como quem parte pega para si a melhor parte, Zeus ficou por cima, com o céu; Posêidon ficou com os oceanos e Hades com o reino dos mortos. Zeus morava no Olimpo, Posêidon num castelo sob as águas e Hades no submundo. Um inferno.
Mas, que fazer?
Quem nasceu para ser Hades nunca chegará a Zeus.
Zeus usava o raio como arma e se protegia com um escudo feito por Hefesto. Teve muitos filhos com a esposa e outras deusas, mesmo assim, gostava de se disfarçar de humano para seduzir as donzelas mortais e ter com elas seus semideuses.
Como Hércules.
E tantos outros.
Era casado com Hera, protetora das mulheres e da família, a rainha do céu, que era ciumenta e dominadora. Íris, a deusa do arco-íris, era sua mensageira e servente. O casal teve alguns filhos, como Ares, deus da guerra. Rejeitado por Zeus, o belicoso deus era venerado pelos espartanos, eternos rivais dos atenienses. Que, curiosamente, eram protegidos por Atena, também filha de Zeus.
Sério.
Vá entender os deuses.
Outro filho de Zeus, Hefesto, o artista celestial, nasceu coxo. Naquela época, nem os deuses eram perfeitos. Na verdade, eles representavam as imperfeições humanas. Hera ficou tão aborrecida ao ver o filho deficiente que o jogou do céu. Não foi politicamente correto, mas Hera era Hera.
Por ter forjado os raios de Zeus, Hefesto ganhou como esposa Afrodite, a mais bela das deusas.
Os romanos a chamavam de Vênus.
No Brasil, virou sinônimo de preservativo.
O que deveria ser um prêmio de consolação foi, na verdade, uma grande sacanagem com o pobre Hefesto: a deusa do amor, por não gostar do marido deformado, o traiu com quase todos os deuses do Olimpo. Sem falar nos semideuses e nos simples mortais. Caía na rede, era peixe; fosse divino ou humano.
Não bastasse isso, a curvilínea senhora, mancomunada com o filho Eros, inflava corações, provocando até guerras, como a de Troia. Como hoje, os deuses mais confundiam do que ajudavam.
Exemplos não faltam.
Cada descida de Zeus na terra era um problema no céu.
Com Latona, Zeus teve Apolo, deus da música e craque no uso do arco. Ele era ainda deus do Sol, assim como sua irmã gêmea Ártemis era deusa da Lua. Também deusa da caça, Ártemis era, ironicamente, padroeira dos animais selvagens.
Outra de Zeus.
Que os romanos chamavam de Júpiter.
Com Maia, Zeus teve Hermes, mensageiro dos deuses, padroeiro dos viajantes; um bonitão com chapéu e sandálias aladas. De todos os deuses, era o mais bajulador, sempre disposto a puxar o saco do pai todo-poderoso. Era também deus do comércio e até da ladroeira. Isto é: de tudo que requeresse certa habilidade.
Nesse quesito, o mundo continua igual.
Talvez um pouco mais criativo.
Com Reia, Zeus teve Deméter, deusa da agricultura. A filha dela, Perséfone, casou-se com Hades e se tornou rainha do submundo. Dizem que ela se orgulhava muito disso, afinal era uma rainha. Rainha é rainha, seja onde for; quer no céu, na terra ou no inferno. Hades tinha um auxiliar: Caronte. O barqueiro esquelético vivia entre as brumas, transportando os mortos para o outro lado do rio.
Com Sêmele, Zeus teve Dioniso, deus do vinho. Ele não representava apenas o domínio embriagador da bebida, como diziam – e ainda dizem! – seus opositores; mas também seu poder civilizatório. Conhecido pelos romanos como Baco, Dioniso se tornou famoso pelas memoráveis festas que organizava.
As chamadas bacanais.
Enfim, um deus com alguma utilidade prática.
Com Memória, Zeus teve as musas, as nove deusas do canto e da memória. Além de inspirar os artistas, cada uma protegia um ramo especial da literatura, da ciência e das artes. Ainda hoje, as musas andam por aí, embora nem sempre representadas à altura.
Cada época com os seus poetas.
Havia ainda as três graças, deusas do banquete, da dança e de todas as diversões sociais e belas-artes; as três parcas, filhas de Têmis, deusa da justiça, que teciam o fio do destino humano: com suas tesouras, cortavam-no quando bem entendiam; e as três fúrias, deusas que puniam quem escapava da justiça. A pior delas era Megera.
Namorei uma, quase nos casamos.
Mas era uma deusa, mesmo assim.
Além dessa turma, havia Nêmese, a deusa da vingança; Pã, deus dos rebanhos e dos pastores, que morava na Arcádia; os sátiros, divindades que viviam nos bosques e nos campos; Pluto, deus da riqueza; e Momo, deus da alegria.
Este, muito popular no Brasil. Embora por aqui tenha sido rebaixado a rei.
Era tal o poder de Zeus que ele teve uma filha, Atena, deusa de uma infinidade de coisas, sem que precisasse de uma mulher como parceira, sonho de muito homem. Atena saíra adulta da cabeça de Zeus, e completamente armada. Sua planta predileta era a oliveira, ainda hoje a árvore símbolo da Hellas.
Como os gregos atuais chamam a Grécia.
3
Hellas
Depois de criados os deuses, era preciso criar os animais.
Para servir às divindades.
Os titãs Prometeu e Epimeteu foram encarregados da tarefa. Ao dotar as feras com suas características físicas, Epimeteu gastou todo o arsenal de forças, garras, penas, rapidez, carapaças e outros atributos, nada restando para armar os humanos.
Com um punhado de terra e um pouco de água, Prometeu havia criado o homem à imagem e semelhança dos