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Perdido...no seu mundo
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E-book292 páginas2 horas

Perdido...no seu mundo

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Sobre este e-book

António era um menino alegre, aventureiro, até nas brincadeiras! Filho de uma família humilde! Vivia num lugar onde não havia escola, mas onde as crianças brincavam pelos campos... aquele menino de onze anos admirava a beleza da sua aldeia, os lindos pomares nos quintais, os campos de milho e de arroz, as oliveiras, as videiras, as águas transparentes da ribeira e até as suas pontes!
Mas o desejo de conhecer mais, levou-o numa aventura que mudou o seu destino para sempre!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2023
ISBN9789895720026
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    Perdido...no seu mundo - Lurdes neves

    Agradecimentos

    A toda a minha família, a minha maior riqueza!

    Aos muitos filhos que conheci e amo... perdidos nos seus mundos!

    Prefácio

    Perdido… no seu mundo é uma história que tem origem num enorme sofrimento, como é o desaparecimento de uma criança. A dor é longa, desesperante, quase sem fé, de um final feliz. A família é destroçada quando uma criança desaparece, não se saber o que lhe aconteceu, é como uma ferida sempre a sangrar, que cada dia que passa dói mais.

    Mas aqui o amor de uma família fez a diferença entre viver ou morrer. Não só acudiu no momento, mas o amam como mais um filho. Foi o amor que salvou, que sempre deu esperança. Mesmo quando estava diluída no tempo, esperavam com fé.

    No meio do zero, uma luz vai iluminar e unir os seus caminhos para sempre.

    Havia, entre todos, um sentimento de eterna gratidão.

    Nesta história dos abraços de chegada e de partida, de emoções, tristezas e alegrias, está sempre presente aquela fonte que os uniu durante a separação. Alguém cuidou do seu menino perdido, e, também ali, teve pais e irmãos que o amam como eles. Agora, só podem ser mesmo uma família alargada, unida pela gratidão eterna.

    Marcas de Amor para todo o sempre…

    A aldeia das Poupas

    A aldeia das Poupas fica na encosta de uma pequena montanha. Deve o seu nome às poupas que se reúnem nas duas oliveiras milenares que estão no ponto mais alto, separadas por uns cinquenta metros. Dá jeito, a estas, para o seu canto comunicativo e intercalado, entre as duas oliveiras.

    Cada manhã, cada anoitecer, era animado pelo seu canto. Também pousavam nas chaminés e árvores mais altas, como que a mandar poupar os habitantes que não têm que poupar.

    Foi a esta Aldeia das Poupas que chegou um menino perdido. Que percorreu valados e montes de terrenos pedregosos, sem verde, ou matos densos assustadores por mais de oitenta longos quilómetros."

    Lugar da Ribeira

    Era uma manhã de fim de março, começo da primavera. Naquele lugar meio perdido nos montes, onde todos se conhecem, se ajudam uns aos outros na adversidade, a dor e alegria é vivida por toda comunidade do lugar. Naquela manhã, o desespero foi sentido por todos os habitantes.

    Uma criança desaparecera durante a noite.

    É um lugar calmo, onde as crianças se juntam e brincam nos campos, ou na sombra das árvores. Aqui colhem a fruta que lhes dá energia nas suas brincadeiras. Não há fome.

    Era o começo da noite, o tempo estava primaveril, ameno. Uma criança de uma família de sete irmãos, que imaginava que ali era o centro do mundo. Pensava que, - se saísse de noite enquanto todos dormiam - daria a volta ao mundo e regressaria no outro dia, para dormir em casa. Nem dariam pela sua falta.

    O pai ia para o campo. A mãe estava no quarto com o bebé. A Ritinha, o João e o Carlos dormiam com a avó Albina e os irmãos mais velhos também iriam para o campo.

    Dormiam na mesma cama, um colchão de sacos cheio com palha de centeio em cima de um estrado de tábuas. Era a cama dos irmãos mais velhos, o Jaime, com quase treze anos, o António de onze anos e o Mário de nove anos. Por vezes, antes de adormecerem, falavam em dar a volta ao mundo – mais o aventureiro António.

    – Quando crescermos, vamos os três dar a volta ao mundo! - diziam os irmãos." E assim adormeciam, com os seus sonhos de crianças.

    Era uma aldeia que o menino nem se lembrava do nome, de casas pequenas, que albergam famílias numerosas, viviam do que cultivavam e do gado que criavam.

    Uma imagem com texto, mamífero Descrição gerada automaticamente

    Foi de uma dessas famílias, onde não faltava o amor, e que - apesar das dificuldades - não havia fome, não sentiam falta de nada, pois o amor é tudo que começou a nossa história.

    Uma imagem com castanho, mamífero, bebé Descrição gerada automaticamente

    Numa dessas noites, o António pensou em dar a volta ao mundo sozinho. Foi ao forno, tirou uma broa, uma chouriça do pau da chaminé, colocou em uma saca de pano, e, quando todos já dormiam, saiu devagarinho. Pensava em dar a volta ao mundo e à noite voltaria para dormir. Nem dariam pela sua falta. O pai e os irmãos mais velhos iam para o campo, a mãe estava no quarto com o bebé, a avó guardava os mais novos. À noite voltava.

    Quando amanheceu, já estava longe. Parou, comeu broa que partiu com a mão e um pouco de chouriça. Sem nada conhecer daqueles carreiros, andou, andou… continuou por outro caminho, que pensava que fosse ter a sua casa. Já sentia saudades. Estava assustado, já arrependido da sua aventura. Mas aquele caminho, que passava por casebres dispersos, o levava cada vez mais longe. Foi comendo a broa e o chouriço até acabar. Já nem sabia quantos dias e noites tinham passado. Estava longe, longe demais. Já só chorava. O cansaço e a dor eram fortes. Desejava que a família o encontrasse. Já quase só rastejava para sair daqueles matos.

    Foi então que viu uma clareira, um caminho mais largo e por fim uma rua com algumas casas.

    Desesperado, cansado, e com fome, mal se conseguia levantar. Viu por cima de um muro de pedra uma laranjeira. Agarrou-se às pedras salientes e tentou colher uma laranja. Uma mulher que ia a passar para o campo, de enxada ao ombro, disse-lhe:

    – É rapaz, olha que isso tem dono! - disse-lhe a mulher.

    Assustou-se o menino ao ouvir a repreensão, deixou-se cair encostado ao muro e aí adormeceu.

    Quando a Glória – assim se chamava a senhora que o repreendeu - voltava do campo, quase de noite, viu de novo o menino deitado, encostado ao muro, onde estava quando ia para o campo. Pousou a enxada e foi abanar o rapaz.

    – Acorda pequeno! O que fazes aqui? Donde és? - pergunta a Glória.

    O menino, incapaz de responder, nada disse, mal se segurava de pé. A Glória, que vivia perto, foi chamar um dos seus filhos. Agarraram o menino pelos braços e levaram-no para casa.

    – Se é fome rapaz, a gente trata já disso! Deixei os feijões ao lume com carne, vou já fazer a sopa! O menino esteve deitado numa manta, onde logo adormeceu enquanto a Glória terminou a sopa. Quando esta o acordou, alvoroçado, ficou sem saber se estava mesmo a dormir…

    Ele estava esfomeado. Comeu, comeu muito. O seu ar de cansaço era enorme.

    O Manuel, marido da Glória, fez-lhe uma cama na palha que estava no telheiro, com uns cobertores, pois o que o rapaz precisava era de descanso.

    Já era tarde, o menino não acordava, a Glória disse para o filho Hilário:

    – Vai lá acordar o menino, que estou a ficar em cuidados por dormir tanto!

    O Hilário abanou-o, até que acordou sobressaltado…

    – Jaime, Jaime és tu. Onde estou? - perguntou o António.

    Responde o Hilário:

    – Dormiste muito, estás a sonhar, anda, acorda para ires comer.

    Depois de o menino comer, o Manuel perguntou:

    – Estás melhor para nos dizeres o que te aconteceu?

    – Sim estou muito melhor!

    Disse o menino com lágrimas nos olhos.

    – Como te chamas?

    – António. Estou perdido, não sei onde estou…

    – Tens família?

    – Sim tenho, e devem andar à minha procura.

    Por momentos todos se calaram.

    A Glória pousou a mão no seu ombro:

    – Não fiques triste, vão encontrar-te!

    O menino, desiludido consigo mesmo, nem falava o motivo por que saiu de casa.

    O António ficou naquela família, que tinha quatro filhos e duas filhas, sempre à espera que aparecesse alguém a procurá-lo. Mas quem por aqueles montes por onde passou o iria encontrar?

    O desespero da família

    A família realmente procurou dias e dias desesperadamente sem saber a direção que teria seguido; por minas, valados e poços, sem o encontrar. Choraram muito, foram dias de aflição para a família e todas as pessoas do lugar. Todos o procuraram sem conseguir saber o que lhe aconteceu. Como tinha levado a broa e chouriço, ainda tinham esperança que voltasse.

    O casal Manuel e Glória, também procuraram nas redondezas e mesmo longe, a ver se sabiam de alguma criança desaparecida. Imaginavam o desespero, caso acontecesse com algum dos seus filhos. Deixaram um apelo em igrejas de vilas e aldeias, onde as pessoas se reuniam ao domingo na missa, mas sem qualquer notícia. 

    Passavam os dias, os meses, sem nada saber da família do menino.

    A Glória disse para o marido:

    – Olha, é mais um filho que vamos criar. Se não encontrar a família, fome não haverá!

    O Manuel tapou o telheiro em frente à cozinha. Com umas tábuas em cima de umas pedras, fez um estrado para pôr o colchão feito de sacos, cheio com palha de centeio para o António dormir, igual ao deles e dos seus filhos. O António, com uma sombra de tristeza que sempre o acompanhava, adaptou-se à família que o acolheu, como sendo mais um filho.

    A mãe da Glória, a avó Olinda, dava muito carinho àquele menino. Perdera um filho de nove anos com meningite. Dizia que o António lhe lembrava o filho Luciano. Este ajudava nos trabalhos dos campos: colher as azeitonas e guardar o gado, assim como os filhos da madrinha como agora lhe chamava.

    Passaram dois anos, sem que nada mudasse a sua situação e esperança de encontrar a sua família. Nestes dois anos houve algumas festas: as vindimas com aquela juventude da família e do lugar que se juntavam, as festas em honra de S. Miguel, padroeiro da Aldeia das Poupas, o casamento de uma das filhas, os aniversários dos filhos todos…

    No meio da alegria, o António sempre sentia tristeza, quase sempre chorava. Por muito amor que recebesse de todos, que sempre lhe davam esperança de que viria a encontrar a sua família, as saudades eram imensas.

    Avó Olinda dizia-lhe:

    – Não fiques triste, filho. Tenho a certeza que ainda vais ter muitas alegrias com a tua família."

    Um dia, o Manuel entrou em casa eufórico. Em modo de corrida, queria falar muita coisa ao mesmo tempo. A Glória ficou assustada, embora ele estivesse com ar de contente:

    – Ó homem vê se falas alguma coisa que se entenda, ninguém sabe o que tu dizes com essa pressa toda! Bebe água primeiro, depois fala devagar! - disse-lhe a Glória.

    – Sabes Glória, ouvi dizer que vão abrir uma escola na casa que era da falecida Maria dos Anjos, perto da capela – responde-lhe o Manuel, já mais calmo.

    Como a mulher ficou calada, ele continuou:

    – Então não achas que é uma boa notícia para os nossos filhos, Glória?

    – Sei lá, os filhos já estão crescidos para ir para a escola. Pensa comigo: o António tem treze anos, o Hilário catorze, o José quinze, o João dezoito, o Henrique vinte e as gêmeas Augusta e Maria vinte e três. "Não achas que a escola já chega tarde demais para eles? responde a Glória.

    – Glória, os mais novos até podem ainda ir se quiserem. Quem sabe?

    De qualquer forma é uma ótima notícia a aldeia das Poupas ter uma escola - afirma o Manuel.

    Começou a escola na Aldeia das Poupas.

    No espaço de três meses, chegou um professor para dar aulas. A notícia era verdadeira. O Manuel e a Glória falaram aos filhos da escola, e que, segundo diziam, também davam aulas a adultos. Os filhos mais velhos já estavam muito adaptados aos rebanhos, a cavar as terras ou prepará-las com os animais, a semear e a tratar das videiras. Mas o José, o Hilário e o António, ficaram encantados com a ideia de ir à escola, de aprender a ler e escrever.

    Assim, o menino acolhido e os dois irmãos começaram a estudar. Eram crescidos, sim… só tinham dois colegas mais novos, e um da idade deles. A Augusta já estava casada. A Maria já tinha um filho com um ano. Para os jovens casais, a escola era uma oportunidade para os seus filhos. Oportunidade que eles não tiveram. Eram só seis alunos naquele primeiro ano de escola na aldeia das Poupas.

    O sucesso dos novos estudantes era evidente na sua alegria e vontade de estudar. Ajudavam nas horas vagas, pois assim tinha que ser para pôr comer na mesa para todos.

    O José só estudou até à quarta classe. Dizia que já sabia ler e escrever bem, fazer contas que muito jeito lhe fazia. Tem quase vinte anos, e era o quanto lhe bastava. O António e o Hilário ficaram muito tristes quando completaram a quarta classe. Eles, que tanto gostavam de ajudar o professor nos alunos que entravam para a primeira classe, não imaginavam poder continuar. Já eram crescidos o suficiente para entender que financeiramente não seria possível.

    Os irmãos mais velhos reuniram-se com os pais, a avó e a tia. Todos iriam ajudar para que o António e o Hilário prosseguissem os estudos. A alegria deles foi grande, e ao mesmo tempo sentiam as suas responsabilidades pelo esforço de todos.

    Os pais, a avó, a tia Irene, a madrinha e os irmãos mais velhos estavam com vontade que eles continuassem, por isso ajudariam no que pudessem.

    Avó Olinda

    A avó Olinda ficou viúva muito jovem, com três filhos pequenos. A Glória de nove anos, o Luciano de seis e a Irene de quatro. Sofreu muito com a perda do marido, assim, inesperadamente. Nunca teve qualquer problema de saúde. De repente meteu-se à cama, e passados alguns dias, Deus o levou. Pneumonia - disse o médico. Não havia nada a fazer. Já estava muito avançado nos pulmões.

    Com a ajuda da família não passavam fome, tinham muito amor, que é o maior bem, para compensar um pouco a dor que sentiam da falta de seu pai.

    Tragédia

    Passados três anos depois de seu marido falecer, outra tragédia abalou toda a família. O Luciano faleceu com a meningite, tinha nove anos. A mãe vivia numa tristeza profunda com a perda do filho. As irmãs, a Glória com doze anos e a Irene de sete, sofreram muito com a perda do irmão. Nem lhes apetecia brincar. Parece que, de um momento para o outro, deixaram de ser crianças. Assim como para os avós. Foi imensa a dor, que a todos assolou com um desespero profundo.

    Casamento da Glória

    Quando a Glória casou, nasceram as meninas gémeas, depois os meninos. A avó, com os netos, tinha alguns momentos

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