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O Pentagrama De Osíris
O Pentagrama De Osíris
O Pentagrama De Osíris
E-book151 páginas2 horas

O Pentagrama De Osíris

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Sobre este e-book

Uma turma de cinco aventureiros recém-formados e ávidos por futuros promissores desafia forças sobrenaturais diante de águas plácidas. Num universo paralelo, um quinteto de renegados espirituais compartilha práticas obscuras visando a obtenção de proveitos enigmáticos. Distante dessas tramas místicas e aparentemente surreais, no tempo e no espaço, o apaziguado Victor Nasvelin envolve-se em pesadelos desconcertantes aliados a disputas políticas, econômicas e existenciais, situações que o fazem trilhar um caminho sem volta em busca da autoafirmação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de abr. de 2020
O Pentagrama De Osíris

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    O Pentagrama De Osíris - Rafeal Ceadric

    Primeira Edição

    Fortaleza/CE

    © Rafeal Ceadric

    Abril/2020

    Copyright  © Rafeal Ceadric

    Título: O Pentagrama de Osíris

    Capa: Estrela introvertida

    Todos os direitos reservados

    O PENTAGRAMA

    DE OSÍRIS

    RAFEAL CEADRIC

    Absorto em devaneios vis. Inquietante.

    Enrico Arthur Borges

    A silenciosa escuridão dentre quatro paredes proporciona momentos mágicos, notadamente a oportunidade de nos aproximarmos do desconhecido, interagindo com pessoas insólitas à vida real. Em determinadas situações incongruentes, a nossa trajetória pode mudar para sempre quando conhecemos o indecifrável.

    Rafeal Ceadric

    SUMÁRIO

    COLÓQUIO MIDIÁTICO 8

    FUGA DO ESCRITÓRIO 14

    BODAS DE FERRO 19

    SONHO A DOIS 28

    PESADELO SURREAL 32

    VIAGEM ATÍPICA 36

    SOBRENATURAL 49

    O ESTROPIADO 67

    O CLAUSTRO 88

    REENCONTRO 103

    CONFIDÊNCIAS 123

    INQUIETUDE 149

    PRIMEIRA INTERAÇÃO 158

    OLHOS ACESOS 160

    COLÓQUIO MIDIÁTICO

    Infiltrei-me apressado no corredor do palácio jornalístico, afinal aproximava-se o horário da entrevista ao vivo. Na verdade começaria em duas horas ― disseram dez e meia em ponto ―, o tempo de sobra seria destinado aos preparativos naturais para a consecução do evento. O assistente de serviços cinematográficos me abordou na recepção e recebi um crachá padronizado contendo um amplo código de barras. Ele me conduziu a uma das salas de onde podíamos visualizar o caminho ao auditório principal. O moço chamava-se Natielo ― não havia sobrenome escrito sobre o cartão posicionado no peito ― e usava uma máscara  cobrindo as narinas e a boca, pregada às orelhas por meio de um firme elástico. A coberta facial continha figuras de célebres desenhos animados, onde se destacavam o Piu Piu e o Frajola. Um par de luvas transparentes cobria as suas mãos e os óculos de armação da moda, cujas lentes provavelmente eram de grau, encobriam os olhos claros.

    ― Sente-se, por favor. ― pediu ele, colocando uma cadeira à minha disposição. ― Estamos atrasados. A maquiadora concluiu o trabalho do outro convidado. O senhor será o próximo.

    ― Obrigado. Uma pergunta indiscreta: qual a razão para o uso da máscara e das luvas? ― inquiri, curioso.

    ― Ah, alergias. Sou alérgico a quase tudo: perfumes, loções, talcos, sabonetes, poeira, só para citar alguns itens. Também tenho aversão a inúmeros germes e bactérias. Dos ácaros e fungos passo longe. A saliva alheia igualmente me incomoda: quando os outros falam eu vejo gotículas nada invisíveis sobrevoando os ambientes abertos ou fechados. Nem me refiro aos implicantes vírus, detestáveis monstrinhos ...

    ― Natielo, já basta. Você deixará o convidado enlouquecido. ― opinou a funcionária identificada pelo nome de Leandra. ― Não ligue para o Natielo, ele é meio biruta. Senhor, temos quinze minutos: vamos ajustar o seu penteado e maquiá-lo. Deve estar acostumado com isso. A sua esposa é do ramo, correto?

    Pisquei um dos olhos sinalizando resposta positiva. De modo instintivo, a fala não saíra porque prendi a respiração em decorrência do que o auxiliar Natielo dissera antes. Depois da especialista ter concluído o serviço decorativo, percebi a minha imagem ornamentada através do espelho repleto de lâmpadas montadas ao redor da moldura. Natielo me aguardava sentado num banco defronte ao gabinete de beleza organizacional.  

    Ali funcionava como uma esteira projetada para  garantia do entretenimento e satisfação do público caseiro: recepção, maquiagem, preparativos midiáticos e entrevista. Fui conduzido para uma sala de espera reservada ao terceiro módulo. Eu e dois outros visitantes nos sentamos num amplo e confortável estofado e uma moça serviu salgadinhos e refrigerante. Recebemos dicas da gerente de operações televisivas sobre a metodologia aplicada ao contexto. Ouvimos atentos as pausadas explicações. Havia roteiro para tudo. Ela pediu para nos apresentarmos previamente. O homem possuía o nome de Igor e era responsável por uma hamburgueria em franca expansão no estado. A franquia da marca crescia de maneira frenética. Romenia mostrou-se descontraída e falou do seu negócio especializado na produção de artigos de limpeza. O esquisito assessor Natielo passaria longe dela.

    ― Senhora e senhores, por gentileza entrem no auditório. Chegou a hora. ― avisou a gestora. O contrarregra nos conduziu ao local indicado.

    O espaço abrigava uma espécie de palco no qual o entrevistador sentava-se numa cadeira diante de uma mesa e o convidado acomodava-se ao lado, todos na presença de holofotes, dois operadores de câmera e de um seleto auditório.

    ― Boa noite a todos! Sejam bem-vindos a mais uma edição do programa O meu primeiro milhão!!! ― alardeou a experiente apresentadora de roupa refinada e voz plácida. ― Como de costume, entrevistaremos três convidados especiais, um de cada vez. Vejo cifrões flutuando pelos ares do nosso ambiente. Amigas e amigos, redobrem suas atenções! ― ela lançou o habitual bordão.

    Ansioso, permaneci à espreita na companhia dos espectadores sentados no aguardo da minha oportunidade. Os indivíduos presentes me aplaudiram quando subi ao palco no momento em que o meu nome foi pronunciado.

    ― Boa noite! El Mensajero Sentinela dispensa apresentações demoradas. É a primeira vez ao vivo na televisão, não é isso? Nervosismo nem pensar, a sua mulher é gente nossa. ― disse a interlocutora no intuito de quebrar o gelo.

    ― Nem tanto. Creio que gravado ou em tempo real é a mesma coisa: frio na barriga não escolhe ocasião. ― frisei, sereno. ― O importante é dominarmos o assunto. Se você pedir para falar sobre NBA, a liga de basquete profissional americano, eu tremerei nas bases. Não conheço nada desse esporte! Por sorte o tema é outro. ― comparei. ― Ah, a Priscyla Todezi é um exemplo para mim. Inteligente e talentosa.

    ― E muito bonita. ― emendou ela. ― Muito bem. Esta é a pergunta primordial do nosso programa: como o senhor conseguiu o seu primeiro milhão? Fale um pouco sobre a sua brilhante trajetória! ― pediu a simpática senhora.

    ― É lugar-comum as pessoas discorrerem que o começo se deu por baixo, por vezes muito baixo, após passarem por inúmeras dificuldades regadas a lágrimas e suor no curso da empreitada. Esse clichê também se aplica a mim. Investi tudo na sociedade: tempo, inspiração e dinheiro. A minha alma está ali. ― comentei, suspirando. ― A palavra-chave é planejamento. Tantos afazeres e desafios pela frente, mas encontrei tempo até para escrever um livro, o qual se encontra em andamento.

    ― Quanto tempo desde o início da parceria de sucesso?!

    ― Já se passaram cinco anos desde o começo da  minha jornada. Nem tudo constituiu-se flores no jardim, eu trocaria a glória pela fidedignidade, qualquer conquista pela insuspeição. Faz uma semana que eu não durmo direito. Desculpe-me pela sinceridade.

    ― Estamos em rede nacional ao vivo...

    ― Eu sei. Não há lamento algum, apenas excesso de devaneios sobrevoando a minha mente. Voltemos à realidade. Parece que tudo começou ontem...

    ***

    CINCO ANOS ANTES

    FUGA DO ESCRITÓRIO

    Entrei no automóvel compacto pela porta traseira e me acomodei no banco do passageiro. O meu relógio  de pulso marcava dezessete horas e quarenta minutos. O jovem motorista indicado pelo aplicativo digital de compartilhamento de transporte me ofereceu bombom no sabor de menta. Obrigado pela balinha. Nestes tempos bélicos prefiro balinha à bala!, brinquei, recebendo o silêncio em troca. Percebi uma presumida argola de formatura colocada em seu dedo anelar esquerdo. Imaginei que o moço pudesse ter concluído faculdade de engenharia, direito ou medicina. Fui conduzido pelo doutor fulano, satirizei mentalmente. O bom humor durou parco tempo. Logo enxerguei a situação pelo contexto social, devido à audição de curioso diálogo entre estudiosos integrantes de um debate transmitido pela Rádio Universitária, os quais, por coincidência, abordavam aquele assunto: (...) evidente sinal da ebulição motivada pelas incessantes mudanças econômicas e políticas vivenciadas dos últimos anos, reflexo do aumento dos empregos informais e do coagido empreendedorismo típico de uma economia dita globalizada.

    ― Com licença, desligarei o rádio. ― informou o rapaz, desativando o som proveniente do sistema de áudio veicular e ligando o GPS do aparelho celular acoplado à tela multimídia. Não dei importância à troca. Tanto fazia ouvir noticiário, música ou a suave voz mecânica indicadora do caminho percorrível: a trezentos metros dobre à direita; a duzentos faça o retorno, a cem entre na rotatória.

    Olhei novamente para o anel de formatura do condutor. Eu desconhecia as cores das pedras utilizadas naqueles apetrechos decorativos, à exceção do vermelho usado pelo profissional jornalista e do azul utilizado pelo economista. Não sabia das demais cores e respectivas profissões e nem fazia sentido conhecê-las. Intencionei perguntar-lhe sobre a motivação para uso daquele belo aro, porém preferi não incomodá-lo. Alguns profissionais do volante não toleram conversas durante o trabalho e a empresa proíbe tal prática. Besteira, pensei, notando que ele me visualizou de maneira discreta pelo espelho retrovisor central do carro.

    Dezoito e vinte e três. O trânsito caótico do início da noite causava-me enjoo. A bucólica Florianópolis crescia desordenada tal qual as maiores capitais do país. Milhares de carros, ônibus, caminhões e motocicletas concentrados nas ruas, pontes e viadutos. Uma infinidade de pedestres aglomerados nas calçadas e nas paradas dos coletivos. Todos à procura de qualquer saída, seja aos lares, trabalho, estudo ou diversão. Naquele momento, esta última opção era o meu único desejo. Por outro lado, as imobilidades constantes em decorrência dos numerosos sinais de trânsito e dos monótonos engarrafamentos apresentavam um ponto positivo: eu podia contemplar a paisagem urbana e confabular comigo mesmo. Numa esquina, vi uma senhora caminhando na saída de uma farmácia. Ela trajava  um vestido contendo linhas horizontais. As madeixas curtas e o jeito dela andar a passos largos, segurando a bolsa pendurada no ombro unida ao corpo, trouxeram-me imediata recordação da minha genitora. Dona Dellamare deixou-me saudade. Que Deus a tenha.

    O veículo movia-se e parava a todo momento. Estávamos próximos à rodoviária municipal e pude observar templos religiosos repletos de indivíduos sentados ― homens, mulheres, crianças e idosos, alguns deles vigiados por bem-vestidos coadjuvantes de preto. Os autodesignados líderes espirituais posicionavam-se no centro do palanque. Passaram-se duas, quatro, seis igrejas do gênero. A liberdade religiosa vinha permitindo vertiginoso crescimento dessas agremiações. O semáforo instalado defronte ao sétimo imponente prédio ocasionou nova parada do veículo. O piloto letrado fez o sinal da cruz, talvez no intuito de reforçar a sua crença noutro dogma. Aleluia, amém, Alá, Arrobobô, eu não me importava com aquilo. De repente, junto à liberação do sinal de trânsito, um possante automóvel estilo picape cruzou a nossa dianteira, forçando-nos a parar imediatamente. Nessas ocasiões é comum ouvirmos azucrinante buzinada de repreensão. Dependendo da índole do motorista atingido, podemos escutar indesejáveis palavras de baixo calão. Um toque carregado na buzina fez-se suficiente. O responsável pelo carro infrator reduziu a velocidade e ficou lado a lado. Ele abriu o vidro do carro e apontou o dedo indicador direito na nossa direção. Em seguida, esticou o dedo polegar ao céu e manteve a dupla de membros nessas posições, simulando a empunhadura de uma pistola. Por fim, disse alguns vocábulos ininteligíveis e saiu em disparada. Pude observar um cartaz publicitário instalado no para-brisa traseiro da caminhonete, no qual aparecia a fotografia de um candidato a presidente da república seguida de um número primo.

    ― Idiota. ― limitou-se a resmungar o rapaz do volante.

    ― Idiota e apressado inconsequente. Comete irregularidade e ainda nos provoca. ― retruquei por educação.

    ― Vamos nos atrasar por alguns minutos, mas logo chegaremos. ― disse ele, olhando para o painel do carro.

    ― Tudo bem. Ela me aguarda

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