Virtuoso Ou Vicioso?
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Virtuoso Ou Vicioso? - Luis Henrique Faiock
Prefácio
Dizem que tudo tem três lados.
Contudo abordaremos aqui dois lados das situações. A dualidade. Generosidade e egoísmo. A parada e o movimento. A virtude e o vício.
Quando temos um relacionamento que nos alegra, por muitas vezes desejamos congelar aquilo. Parar o tempo.
Mas a vida é feita de movimento. É composta de parada e movimento. Sendo assim, os relacionamentos se desenrolam também. E como se desenrolar e permanecer engajado? Com certo desapego, evitando o vício, com coragem e afinco. Saber ir e vir (voltar). Respeitar certa dança.
Depois de reconhecer essa necessidade, em uma reunião do nosso grupo, abordamos esse tema de 14 maneiras diferentes e complementares, registradas neste livro.
Obtenha acesso a esse rico material e garanta que seus relacionamentos tenham parada e continuidade; que desabrochem, recolham-se e voltem a desabrochar.
Assim são as situações, assim é a natureza e assim é a vida.
Iremos desabrochar novamente. Por meio dos relacionamentos que temos ou por meio de novos relacionamentos que surgirem.
Para mantermos os relacionamentos que temos, é recomendável tomar ações que desestimulem o equilíbrio total, gerando, assim, um vínculo maior.
Devemos entregar mais do que ganhamos e retirar menos do que perdemos.
Somente assim haverá motivo para continuar. Somente assim o esforço de continuar se mostrará compensatório.
Luis Henrique Faiock
Capítulo 1
O FRUTO NÃO CAI LONGE DO PÉ
Neste capítulo quero abordar com vocês o tema do Casamento e suas relações secundárias. Também, abordar as características familiares contidas nos indivíduos de um determinado sistema e como não podemos olhá-los como seres separados desse clã. Por exemplo, no relacionamento de casal, não tem como eu amar o indivíduo sem incluir nesse amor tudo o que ele compõe e todos que vieram antes. Nesse caso, sogro e sogra forneceram a matéria prima da pessoa que escolhi para me relacionar. Desta forma, não pode haver a exclusão deles.
BIANKA FROTA
Eu sempre ouvi essa frase e com os estudos e aprofundamentos nas leis e inteligência sistêmica, tal frase tornou-se quase um mantra na minha vida, pois revela de forma lúdica o que vemos nas relações afetivas e dinâmicas familiares.
Pois bem, quero abordar com vocês o tema do Casamento e todas as relações secundárias que o envolvem. Desde pequena eu ouvia, também, que: Você não casa só com o marido e sim com a família toda
.
Essas frases soltas dos ditados populares começaram a ganhar outro peso para mim.
Será mesmo que essa sabedoria passada de boca em boca não teria um verdadeiro sentido? Será que não estaria ali, de forma tão corriqueira, o que aprenderíamos na marra
, no dia a dia de um relacionamento? Às vezes, a profundidade está numa gota d’água. Aqui, vou contar como fui escutando, decodificando e interpretando melhor esses conteúdos e de que forma foram fazendo mais sentido para mim; afinal, sou casada há 24 anos e confesso que algumas posturas só começaram a mudar e trazer melhores resultados para a nossa convivência depois que me submeti a desfazer as minhas certezas.
Ahhh... e eu tinha muitas! Com 25 anos achava que o meu casamento seria perfeito e que dentro da minha casa seriam somente as minhas regras, as nossas, dando uma colher de chá para o marido. Ali construiríamos a nossa relação do nosso jeito.
Sim. Em parte, sim, mas em parte não. Hoje eu entendo que a construção de nossa relação deve considerar a matéria-prima que cada um trouxe. A visível e a invisível. Vou explicar melhor.
A visível é fácil identificar, pois foi tudo aquilo que nos conectou, nos aproximou, nos fez admirarmos um ao outro e vislumbrar a possibilidade de uma vida juntos. A visível é a embalagem para presente que enche os nossos olhos. O Fruto
vistoso, comestível, saboroso, aparentemente sem caroços... e por aí vai.
Eu, uma fruta sedutora, ele um fruto suculento. Um mix perfeito e apetitoso para dar início a um relacionamento. Mas não é bem por aí…
Esse fruto veio de uma árvore e parece que de uma árvore bem ancestral que convivia com outras árvores no mesmo terreno, que sorviam do solo a mesma água e nutrientes e as quais se desenvolveram juntas, num tempo e espaço que requeriam condições similares, mas que ainda assim desenvolveram algumas diferenças. Copas mais frondosas, galhos mais compridos, troncos mais largos. Outras mais franzinas, umas um pouco mais altas, outras mais baixas, mas todas da mesma espécie, produzindo a mesma fruta, formando assim uma consciência de grupo.
Não dá para imaginar que esse fruto não recebeu influência de um quintal inteiro. É difícil imaginá-lo tão autossuficiente e independente. Mesmo porque ele não é... Ele só sobreviveu porque havia uma série de árvores que por ciclos e ciclos se autoajudavam e se preservavam, garantindo a sobrevivência umas das outras.
Todo fruto carrega em si a sabedoria da árvore inteira. E toda a semente, que ainda sonha em ser fruto, também a carrega!
.
Mas, quando nós escolhemos um "fruto para se casar", nem sempre temos essa imagem tão clara de que ele chegou até nós pelo esforço e empenho das árvores daquele quintal.
Queremos simplesmente escolher o fruto, arrancá-lo da árvore e ingenuamente acreditar que, dessa forma, todas as informações anteriores contidas ali desapareceriam; e ele seria um fruto independente para fazer novas escolhas.
Metáforas à parte, o nosso marido (ou esposa), não é somente o nosso marido; também ele é filho, neto, sobrinho, bisneto, irmão, e por aí vai... Ele é o fruto de toda uma plantação e é impossível não enxergar esse sistema por um prisma mais amplo. Esse fruto tem cor, textura, casca, caroço, ranhuras, folhas, safra e todas as inúmeras influências daquela plantação
. Cada um imprimiu, de certa forma, algo para o seu melhor sabor e algo para a sua acidez. Não podemos olhar o fruto somente pelo fruto.
Por muito tempo, eu pensei que tivesse escolhido o melhor fruto daquela área e que, estando com o melhor fruto, não teria a influência de mais nada ou mais ninguém. Mal sabia eu que a influência não estaria fora, mas já estaria contida nele.
Até simpatizava e admirava alguns outros frutos daquele quintal, mas com outros tinha sérias críticas. Por muito tempo achei que pudesse manter essa seleção, essa separatividade, esse olhar restrito e estreito onde um filtro pudesse ter deixado passar, para o meu bem e amado fruto, somente as coisas boas e com as quais eu concordasse.
Como se nessa malha imaginária e impermeável tivessem ficado todos os males, todos os traumas, todas as anomalias, dores e dificuldades que aquele clã passou e que o meu bem e amado fruto estivesse imune de tudo aquilo que eu não queria aceitar ou conviver.
Pois, afinal, a partir da nossa união, tudo seria diferente e do nosso jeito!! (risos)...
Ledo engano. Essa fantasia além de surreal, não seria justa com o próprio fluxo da vida. De alguma forma, tudo aquilo que eu não queria ver se tornaria visível num nível muito maior para que não houvesse sombra de dúvida sobre todas as características contidas no meu fruto.
Um fruto só é real se for inteiro.
Tudo aquilo que eu mais queria apagar e negar, não enxergar ou criticar, foi preciso aceitar. Ali começou um grande processo de reconstrução de imagem, de relação e de companheirismo. Aquele fruto que eu considerava tão impecável, continha tantas e tantas imperfeições oriundas das condições que o compuseram. E era impossível não as enxergar mais. O mais importante nesse processo era constatar que, ainda assim, ele era o meu bem e amado fruto.
Os defeitos que eu via fora dele, nos outros frutos daquele quintal, comecei a enxergar, aceitar e amar nele. Pois nele também habitava o todo daquele clã.
É como uma chavinha que vira dentro de nós, não tem como gostar do creme de papaia sem gostar primeiro do mamão. Não dá para ficar só com a aparência e o sabor sobremesa se não considerar todos os ingredientes.
Como não aceitar a Árvore se o marido
é exatamente o fruto dela? Então comecei a listar tudo o que eu percebia daquela árvore nele, as coisas boas e as não tão boas e nele comecei a amá-las.
Deixando agora de lado as metáforas que eu tanto amo, como não enxergar a mãe e o pai do meu marido, nele? Como não honrar a história de vida que os constituíram até que pudessem gerar esse filho? Como não integrar essas histórias, as bonitas e as sofridas desse contexto familiar, na vida dele que seguiria junto com a minha.
Não existe filho que não tenha pai e mãe
.
Por mais que pareça óbvio, é o que muitas vezes queremos fazer, até mesmo inconscientemente. Começar uma história do zero, sabendo que jamais ela parte do zero, pois somos a somatória de muitos e muitos algarismos ao longo da história. Essa é a equação que vem sendo resolvida por gerações e gerações e que, com muita humildade, devemos respeito e inclusão. Devemos ter um olhar profundo de gratidão e reverência e, com muito amor, a única coisa que podemos fazer é ir simplificando a fórmula.
A essa altura, o ponto que eu quero ressaltar é que, para nós mulheres, algo que pode ser mais delicado é a dificuldade que algumas de nós têm em relação à sogra. Tanto a figura da mãe é imprescindível para o filho como a da esposa é para o marido.
Duas mulheres com papéis extremamente diferentes na vida de um homem que, por algumas vezes e, em determinadas situações, sentem a necessidade de competir. E isto justamente em um terreno
onde essa competição não cabe, pois o que cada uma pode dar e/ou representar na vida dele é muito
distinto. Não se faz com a mãe o que se faz com a mulher e vice-versa... Mas, para que se chegue a esse entendimento, pode haver muito desgaste e levar muito tempo.
Numa visão sistêmica, esses papéis ocupam lugares diferentes e bem definidos. Eles não estão nem de longe numa mesma categoria e é impossível essa conexão.
Na relação do filho com a mãe existe hierarquia e ordem. Ele sempre receberá da mãe. Ponto. Afinal, a mãe veio antes. A mãe cuida, nutre, conforta. É extremamente importante que esse filho retorne quantas vezes seja necessário para esse colo
para se abastecer. Mesmo que essa mãe não esteja fisicamente, ela existe dentro dele. Essa volta pode se dar