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Pompa & Circunstância
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E-book256 páginas3 horas

Pompa & Circunstância

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Sobre este e-book

Dante Simon, um Engenheiro Astrofísico, a dada altura da sua vida passou a alimentar um desiderato homérico, com data e hora marcada - logo que se aposentasse. Um canto, um hino e uma ode a um propósito de vida, em qualquer tempo, altura, circunstância ou lugar. E à liberdade, à consciência individual, independência e verdade ascética. Em meio à epopeia, um desfile de erudição, sensatez, luz, catarses e singularidades...
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de jul. de 2022
Pompa & Circunstância

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    Pompa & Circunstância - Marco Paulo Silva

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    POMPA

    &

    CIRCUNSTÂNCIA

    MARCO PAULO SILVA

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    1.ª edição – 30 de setembro de 2022,

    ® na Câmara Brasileira do Livro.

    Copyright © 2022 by Marco Paulo Silva

    Revisão: Pelo mui nobre, Guillermo Piacesi

    ... As realizações de um Homem na vida são os efeitos acumulativos de sua escrupulosa atenção ao detalhe.

    (J. F. Dulles)

    ... Eu, um universo de átomos, um átomo no Universo.

    (Richard Feynman)

    ... O primeiro gole do copo das ciências naturais o transformará em um ateu, mas no fundo do copo Deus está esperando por você.

    (W. Heisenberg)

    I

    Aqui se dá início, com a máxima pompa & circunstância, a todo um relato em torno da extrema jornada de um homem. Todas as grandes proezas acabam por ser semelhantes na glória e na essência sentida pelo protagonista que a perpetra e/ou no júbilo por parte de quem delas toma conhecimento, torce e, porventura, se emociona e se inspira. Já os encalhes, as contrariedades e as frustrações são vivenciadas, cada uma, à sua idiossincrática maneira, quando não, lutuosa e tragicamente.

    O contexto espaço-temporal em que vossas senhorias e excelências aqui se verão enredadas será aquele que, costumeiramente, se designa de atual e hodierno. Uma vanguarda era de paradoxais avanços e nozados contrapontos de excelência e ponta. Uma época de auto-veneração egóica e ególatra que exaspera, mas cujas marcantes e fortes personalidades se restringem a um minoritário e parco pecúlio de terráqueos. Uma era cuja individualidade de caráter, definitiva e derradeiramente, se curvou e diluiu num coletivismo informe e autofágico balizado e dirigido por inputs programados que geram sempre os mesmos padrões de manifestação, as mesmas ações e idênticas reações contra o próprio ser (da forma mais corrosiva, pusilânime, bárbara e diabólica, saliente-se), e no interior do qual, todos vão sendo, paulatinamente, tragados e nivelados. Meros códigos de barra e números estatísticos. Mas o ego, esse, reina insolente e adoidado. Deixemo-nos, pois, de eufemismos. As sociedades humanas, como um todo, estão em acelerado movimento de desconstrução. Um desígnio bem delineado, como tantos outros o têm sido ao longo do processo histórico, num dizimar e transformar civilizacional. Um misto de culpa própria, mas, sobretudo, o êxito de uma programação e de uma agenda sempre muito bem engendrada pelos restritos grupos de poder que, secularmente, se sucedem. Uma perene distopia, sem dúvida, este nosso fado humano de ser. No formato atual - cujo cerne é o antigo - o medo paralisante e autodestrutivo, a paranóia, a histeria, o massivo e pavloviano condicionamento estimulado e uma crônica e coletiva Síndrome de Estocolmo passaram a ser as bandeiras hasteadas na sinalização de virtude e obediência (a)cívica, numa passividade servil e suicida a uma nababesca, tétrica e caliginosa dominação corporativista, à qual se outorgou um globalizante poder sem precedentes. E é nesta crescente rolagem, compressão e tensão conjuntural, de uma ancestral, replicante e perene estruturação, que o projeto maquinado pelo sexagenário Dante Simon, que com ela (a situação) não se relaciona, comunica ou concerne diretamente, diga-se a bem da verdade, foi sendo discernido, ganhando forma, volume e substância. Um homérico e venturoso construto, nascido e arquitetado das cinzas da frustração por não ter nascido com asas em seu biotipo humano, e de não desejar replicar, per si e por razões óbvias, as dédalas e ícaras experiências de outrora. Agora, na iminência de se aposentar de uma longa e bem sucedida carreira de engenheiro astrofísico ao serviço da aeronáutica turca, Dante Simon está prestes a materializar uma frequência de onda há muito desejada, pensada e consciencializada. Desde os vinte e cinco anos empregando seu tempo, habilidade e força de trabalho, mental e física, na base naval e aerotransportada de Çanakkale, cidade litorânea a leste do território, outrora Otomano, outrora Bizâncio, outrora Anatólia, outrora Trácia, outrora Khazar, há bem pouco tempo, Turquia, e hoje Türkiye, unida ao mítico estreito de Dardanelos. Çanakkale, essa, por sua vez, não o esqueçamos, emergida e edificada a partir das ruínas da também, outrora, inexpugnável (até à chegada de certo e helênico Cavalo) e imponente Tróia. Ílion essa, que viu nascer Eneias que, por sua vez, no apogeu da sua Eneida viria a reunir e apaziguar os beligerantes e heterogêneos povos transalpinos, erigindo as fundações daquilo que viria a ser a Itália - perenes e incessantes loopings e mais loopings histórico-geográficos, tão só...

    Faltavam, pois, poucos meses a Dante para se tornar dono integral do seu tempo. Só quem sabe usar da melhor forma essa vital e preciosa dimensão, e quando dela pode dispor a seu bel-prazer, percebe a sua real e profunda riqueza. E Dante sabia-o perfeitamente, e melhor que ninguém. Em sua mente, à medida que o momento se aproximava, efervescia todo um épico plano traçado ao mais ínfimo pormenor. Não é que sua trajetória biográfica e profissional já não fosse, de si, digna das melhores panegíricas ovações. Filho único, nascido e criado no seio de uma família de costas voltadas para a bonança, fartura e ostentação, mas munido de uma precoce e fina lucidez que, sempre de mãos dadas com um superlativo aparelhamento cognitivo-adaptativo avesso a qualquer briga com a realidade, proporcionaram-lhe e fizeram dele um aluno exemplar. Foi, pois, sem surpresa de quem com ele privava e convivia que, após se formar em engenharia com especialização em astrofísica mirando conquistar um distinto cargo na área da aviação e navegação aérea, sem muitas delongas o almejou. Ambicionava, em paralelo, e se a oportunidade se lhe afigurasse, pilotar aeronaves tendo, inclusive, obtido horas de voo suficientes que lhe garantiram o necessário brevet, ainda antes mesmo de haver projetado a missão que intentaria empreender a jusante. De antemão, seu foco mirou o domínio de tudo o que estava relacionado ao desenvolvimento e aprimoramento das aeronaves, sua segurança e sustentável navegabilidade. Sempre elogiado pelas chefias e colegas de ofício por se mostrar exímio no labor e afável no trato, conquistou rapidamente sua independência financeira - a terceira das quatro vitais angústias de qualquer comum mortal que se preze, depois do trauma que é nascer, da adolescente travessia e antes da perenal consciência da finitude, nossa e de quem amamos -, e constituiu família com a serena e elegante Helena, com a qual veio a ter um casal de filhos saudáveis, íntegros, plenos de determinação e foco, pois que, também eles, neste momento em que narramos a ação, já trabalhavam, cada um, nas suas respectivas áreas de formação, e já habitavam em seus próprios ninhos. Que mais um homem poderia querer ao fazer um balanço e um retrospecto de uma vida assim construída e decorrida? Dante desejava mais, muito mais...

    De volta às mundanas conquistas do nosso protagonista e resgatando o supracitado termo, ninho, neste âmbito e escopo, Dante e Helena edificaram o seu, diga-se, com todo um requinte, bom gosto e quilate. Garboso no modo como se exibia, quer externa, quer no seu espaço interior, e imponente na sua localização, visto que se alicerçava numa elevação topográfica cujo usufrutuário poderia contemplar, a qualquer altura, parte do canal que cortava aquela fina área peninsular, todo um infindável horizonte marítimo e, sobretudo, um diuturno e magnífico poente solar. Cada crepúsculo, sempre que as nuvens, ou melhor, sempre que a ausência delas o permitia, constituía-se, literalmente, como um agraciado espetáculo à parte.

    Era, então, num granítico processo evolutivo, extensível a todos os membros da família, que se compunha a vida do nosso paladino - um somatório de conquistas, agregados triunfos e pundonores que, enfatize-se, ocorre frequentemente com um número considerável de mortais a quem lhes basta e é suficiente, é mais do que imaginaram e sentido como a máxima expressão de uma sequência triunfal de suas presenças neste plano imanente. Mas, e assumindo o risco de nos repetirmos ou cairmos em pleonasmos, Dante era aquele tipo de pessoa a quem faltava sempre algo. Aquele tipo de ato, ação ou empreendimento que distingue e separa o trivial, o frugal, o ordinário, o arroz com feijão, do incessante singular, notável e prodigioso. Não era o que ele poderia alcançar que o motivava ao ímpeto, mas a jornada em si empreendida, por meio da qual, tão só, todo um inefável sentir, estado de espírito e propósito poderiam ser materializados. Mais do que a marca da imortalidade e do evo, portanto, que sempre tenta resistir à erosão da memória e do tempo. Há feitos, nas suas mais diversas formas e vicissitudes, que são exaltados e registrados nos anais da espécie; Outros há apócrifos e incógnitos. Mas, no frigir dos ovos o que realmente importa e conta é o realizar da obra, seja ela de que tipo ou escopo for, quem a fez e nela encontrou todo um sentir e sentido.

    O inspirado sempre vem a sê-lo por algo ou alguém que, por sua vez, inspirará outrem. No fundo, um ato de doação, de oferta e de amor. E quando falamos de Amor, falamos do nome, da forma, da constituição e da vontade de tudo o que envolve o Divino, e de todas as coisas por Ele criadas - ou não fossemos uma ínfima parte Dele. Ínfima, mas a mais capaz de Entendê-lo. Ínfima, mas, ainda assim, e sempre, uma centelha Dele - por Si criadas, dizíamos, e por extensão, no sentido benfazejo, fraterno e estrito do termo, das coisas criadas por nós. Não é o ganho; É a obra, o legado e a comunhão entre ambos. Façamo-nos entender em definitivo, em uníssono e fazendo soar as trombetas se preciso for: não é um super-heroísmo egóico que o comum dos Homens deverá buscar, mas sim, replicar, perpetuar e venerar, à sua maneira e do jeito que lhe aprouver, com aquele seu singelo e particular ato, missão ou feitura, a Primal, Magistral e Divinal Obra que é este interconectado mundo eletromagnético, atômico, físico, mineral, natural, animal, humano e espiritual. Haverá algo de mais heróico, dadivoso e amoroso por parte D’Aquele que construiu e permanentemente constrói toda esta estrutura, palco e enredo, somente pelo ato incondicional de Criar, Ofertar e Amar?... O que cada vibração ou partícula humana fará com tal dádiva quântico-expansiva será aquilo que ela construirá e criará em/para si e, sobretudo, para outrem (assim o deverá ser, pois só assim encerra o primordial sentido de existir), que mais não é do que aquilo a que comumente se designa de livre-arbítrio, escolha e destino. Perguntar-se-ão os mais céticos: Por que, então, há tanto mal, dor e crueldade neste mundo? Porque muitos, nesta quarentena que é este lugar terreno de experimentação, projeção e ensaio, na sua livre, e no caso, subversiva e negativa escolha, o concebem, criam e o exteriorizam. E aquilo que se escolhe se atrai, concretiza-se e replica-se nas infindas possibilidades magnético-vibratórias que percorrem a dual polarização (negativo/positivo). O caminho ofertado com princípio, meio e fim é iluminado, faz-se pelo topo, as fundições são indeléveis e as orientações, essas, são cristalinas, mas o errante bípede decide cair e escolher uma anti-trilha, infra, sombria, pantanosa, fétida e desorientadora - exaspera-se, perde-se e, desse modo, arrasta uns quantos, muitos, demasiados... E assim tem sido, sucessivamente, ad-aeternum. A Singularidade Absoluta, toda revestida de um infinito magnetismo energético, cujo sujeito, predicado, substantivo, adjetivo, advérbio é Amor e suas Sub-Emanações: a Verdade, o Bom, o Bem e o Belo criam, a todo o tempo e espaço, uma realidade na qual todos nós nos encontramos e cujo impulso busca, unicamente, essa perpétua e incondicional expansão de si mesma. Por que será que quando nos plasmamos na positividade, alcançamos objetivos, cumprimos uma missão, fazemos o bem, ajudamos alguém ou agimos de modo altruísta, o nosso organismo produz, incessantemente, três microscópicos, mas portentosos neurotransmissores que se associam ao prazer, ausência/alívio de dor e a toda uma abençoada regulação homeostática? Porque ao assim agirmos o fazemos em sintonia, na mais elevada frequência, em fase e enlevo com o Todo.

    Uma derradeira e alegórica didática criacionista para toda a criatura que ainda não entendeu o desenho: a grande e incontornável diferença entre Deus e o Diabo é que este último não sabe criar e não tem como criar, é inapto. A criação é uma exclusividade e uma excentricidade do Divino. Por quê? Porque só consegue criar quem é munido e emana Amor. E o Criador o tem, em termo e modo, ilimitado. O Diabo é, todo ele, Ódio e Destruição. É só isso que irradia e esse é o seu único propósito: destruir tudo o que se cria e tudo o que o foi um dia. Destruir, portanto, toda a Criação. E para tal, o danado, no mais ínfimo gesto e palavra, se disfarça, mente, finge, logra, dissimula, difama, aleivosia e judia. A Emanação da Providência passa, não só, por tudo criar incondicionalmente, como, também, por usar, expurgar e transformar cada elemento disruptivo e anti no fortalecimento, restabelecimento e engrandecimento do equilíbrio da Força e Energia. Agora catapultemo-nos para o profano espectro político-social e percebamos o óbvio: quem tudo destrói o que já foi edificado? Quem erige e conserva as pontes, e quem as fratura? E assim se nos escancara a Ordem e o Caos, a Criação e a Destruição, o Bem e o Mal, a Verdade e a Mentira, a Organização e a Anarquia, o Certo e o Errado, o Ético e o Amoral, o Amor e o Ódio.

    Naquilo que nos diz respeito, o lado que escolhemos e o posicionamento que adotamos nesta mais elevada, complexa e nuclear Verdade, dirá o que somos, de que lado estamos, o que nos tornamos e para onde iremos. Não, de onde provimos, pois isso, aqui e agora, presume-se, já estará inequivocamente claro e pacificado. E no que se tem tornado a humanidade, em termos cíclicos, desde a sua mais remota criação?... Deem essa resposta a vós próprios. Façam-no por vocês, pelos vossos e por uma irmandade e comunhão que tarda, por urdiduras diabólicas, em deixar de ser distópica. Cremos, pois, e estamos plenamente convictos disso, de que a derradeira busca de Dante Simon passará, também, por escancarar, revelar e trazer à luz todo este axioma que se oculta e enreda na Transcendência e que, quando descortinado e consciencializado, esplendorosamente, se manifesta. De que chegaremos à expansiva Verdade de todas as coisas por intermédio de um conjunto de elos (não se esqueçam de resgatar este signo e seu, aqui, referente, numa semiótica que interligará o significado epopeico e o significante da mensagem que lhe subjaz, quando o nosso protagonista decidir expor seu plano e traçado), que se encaixam e atrelam, por atração, em magnetos que, a cada entalhe/junção/liame de uma duplicidade ou díade, aquela (uma certa e determinada verdade manifestada) surge e se concretiza (a virtude está no meio, já diz o ditado), e que num fluxo em espiral, e mecânica, pontua e singulariza cada expressão e codificação da Fonte. É assim nas polarizadas e formatadas díades ou tríades dialéticas dos movimentos históricos e loopings civilizacionais, cujos veros busílis estão nas intrincadas interseções que as medeiam e não nas sucessivas sínteses que emergem, já, e de antemão, previamente calculadas por quem as geram, provocam e controlam; É assim na Taoista representação do Yin e Yang, cuja singularidade entre as duas forças - o tenebroso caos versus a luz ordenadora, contrapartes opostas, mas sinérgica e concomitantemente, complementares - ocorre quando se dá o ponto de equilíbrio. A ausência da ordem apropriada - o caos - servirá para explicar a origem da ordem devida. O equilíbrio de forças dá-se quando passamos a compreender porque certa conjuntura é negativa e de nenhum modo boa - marco inicial para entender a origem do bem. Dito de outro modo, é mergulhando nas trevas que entenderemos a luz. É assim, também, com a dupla hélice do nosso DNA, e seu movimento espiral e helicoidal; É assim com a junção entre um homem e uma mulher, gerando, em potência, uma terceira singularidade; É assim com as poderosas acelerações/desacelerações giratórias, e em spin, de todo e qualquer átomo, de toda a molécula, a partir do qual tudo, rigorosamente, tudo emana. E é na junção de elo com elo, quer na forma de partícula (matéria), quer no formato de onda (espírito), que está representada a união mística com Deus.

    Voltemos a Çanakkale. De quando em quando, de forma vaga e tétrica, em esparsos e fugazes desabafos, o nosso mestre de cerimônias dava sinais que, qual sonar, eram difusamente intuídos e captados por Helena, que ela, ainda assim, não concatenava ou sopesava na sua imagética holisticidade, concretude ou gravidade. Mormente, nos últimos tempos em que o via e sentia mais soturno e lúgubre. O dito-cujo, esse, fazia questão de manter em sepulcral secretismo seus propósitos. Dizia, de si para si, que na hora certa o revelaria, primeiro, à sua amada consorte, aos filhos e, depois, às pessoas que mais direta ou indiretamente se relacionariam com o escopo. Por vezes condoía-se, na pessoa da devota Helena, por tal sovino sigilo que, ainda assim, não era por si sentido, de todo, como uma forma de egoísmo. No fundo, não queria preocupá-la tão prematuramente, por um lado, e por outro, ter alguém de seu lado que, de certo, tentaria, a todo o tempo, demovê-lo de seu intento ou afetando-o com alguma espécie de negatividade ou mau agouro. Não que Helena Adamou (sobrenome, terrivelmente, espartano) fosse uma pessoa relativista e cética, muito pelo contrário, mas o que o nosso astrofísico guardava a sete chaves, e que agora estava na iminência de lhe revelar, deixá-la-ia, com certeza, deveras apreensiva e preocupada. E não seria para menos...

    A senhora Adamou, assim como o senhor Simon, era filha única de um casal greco-bizantino (desta feita, de pai grego, mãe turca) que, por motivos que aqui não vêm ao caso, se conheceram e uniram a partir de um fluxo migratório ocorrido no seio de uma comunidade helênica oriunda da costa leste daquele país. Outras famílias que miscigenaram sangue helênico e turco, entretanto, se formaram, sobretudo, naquelas terras dardânicas, repetindo, embora sem qualquer conotação, intento ou carga belicista, o movimento dos irmãos atreus, Agamêmnon e Menelau, que, séculos e séculos atrás comandaram a armada grega rumo a Tróia. O motivo então cantado por Homero na sua Ilíada era um suposto resgate de uma, também, certa Helena, mas o real pretexto fora o de sempre: a hegemonia e o domínio geopolítico na região. Uma pequena biocenose ateniense se formou, então, na orla do antigo Helesponto, aonde o mar Egeu se funde e mistura com o mar de Mármara. A interface euroasiática. O portal de perpétuos retornos a futuros do passado que vêm pautando e balizando, paralela e longitudinalmente, qual coluna cervical, a história da humanidade. Dizíamos, então, que uma pequena comunidade de origem grega se foi formando em êmulos domínios e, num movimento natural e espontâneo, em torno das suas tradições, costumes e origens ancestrais, mutuamente, com ele se veio a mesclar. A Agremiação Leônidas foi aquela que granjeou maior expressão e número de membros, tendo reunido e abrigado, em seu seio, a grande franja, senão toda, da já citada diáspora grega. Foi lá, impulsionado pelos irresistíveis chamados feromônicos e hormonais, que o juvenil Dante, naquela inesquecível e dançante matinê, no ido ano de 1975, conheceu e arrebatou a sua Helena de Tróia, inaugurando uma união pura e incondicional que perduraria sólida e rochosa até aos dias de hoje; E foi lá que formou e solidificou, também, as primeiras, e últimas, amizades de uma vida. Referimo-nos, pois, a quatro delas, trazidas e fortalecidas, fraternamente, ao longo dos anos. Ulisses, Nestor, Aquiles e Heitor, junto com o nosso herói, fundaram, desde então, um quinteto harmônico e coeso, pese, é óbvio, as próprias características e particularidades de cada um. Quinteto, esse, que como irão ter oportunidade de testemunhar (caso persistam na leitura e, até lá, resistam), se transformará numa irmandade espiritual de corpo único em torno de um extraordinário propósito e num diamantino e titânico pilar - um pilar, não, cinco! -, de sustentação da aventura que nosso herói há muito

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