Reflexos
De Aimar Rollan
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Sobre este e-book
Reflexos é um conjunto de reflexões, poemas e histórias sobre diversos temas. Não há ordem nem sequência, apenas lampejos e reflexos de ideias colocadas no papel.
A maior parte do que está escrito aqui são reflexões minhas sobre os mais variados assuntos. A palavra "reflexo" compartilha a mesma origem com a palavra "reflexão", e por isso escolhi este título para o livro, já que toda reflexão nada mais é do que um reflexo da mente universal em cada mente individual. Não há verdades universais quando expressadas por um ser humano, apenas verdades parciais e reflexos do imenso mundo das ideias.
Espero e desejo que estas reflexões, estes reflexos, sirvam para entreter os leitores e fazê-los refletir sobre a infinidade de tópicos abordados aqui.
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Reflexos - Aimar Rollan
Introdução
Reflexos é um conjunto de reflexões, poemas e histórias sobre diversos temas. Não há ordem nem sequência, apenas lampejos e reflexos de ideias colocadas no papel.
A maior parte do que está escrito aqui são reflexões minhas sobre os mais variados assuntos. A palavra reflexo
compartilha a mesma origem com a palavra reflexão
, e por isso escolhi este título para o livro, já que toda reflexão nada mais é do que um reflexo da mente universal em cada mente individual. Não há verdades universais quando expressadas por um ser humano, apenas verdades parciais e reflexos do imenso mundo das ideias.
Espero e desejo que estas reflexões, estes reflexos, sirvam para entreter os leitores e fazê-los refletir sobre a infinidade de tópicos abordados aqui.
Aimar Rollán
Tolosa, 31 de maio de 2018
Acrescentei vários outros reflexos para a nova edição deste livro.
Aimar Rollán
San Sebastián, 10 de fevereiro de 2023
Tempo, o nosso ativo mais valioso
Os sábios e os bons economistas sabem: o nosso ativo mais valioso não é o dinheiro, a saúde ou o amor... é o tempo. O tempo que nos foi dado, o tempo para agir neste plano fenomenal, o tempo dentro do qual tudo é realizado.
Existem vários tipos de tempo, mas devido às limitações da nossa linguagem, acabamos esquecendo as suas nuances. O grego antigo, em seu relógio atemporal, preserva certas definições que nos ajudarão a entender melhor a sua importância: kronós e kairós são duas palavras que definem o tempo, mas guardam qualidades essencialmente diferentes.
Kronós é o tempo quantitativo, o que pode ser mensurado, o tempo cronológico (de onde deriva esta e outras palavras, como cronômetro
). Kronós é também o cruel Saturno, o deus da matéria, o grande limitador, aquele que devora os seus filhos na implacável guilhotina do tempo. Ele virá nos buscar no final de nossos dias, justamente porque nossos dias (nosso kronós) terão chegado ao fim.
Kairós, por outro lado, é o tempo qualitativo, um tempo de oportunidades, um tempo carregado de fatum, destino. O kairós ocorre, por assim dizer, quando os astros se alinham e chega o nosso momento de brilhar. Há que estar atento para identificar o kairós, agindo em circunstâncias favoráveis ou postergando a ação, caso necessário.
Outro aspecto importante do tempo refere-se ao ritmo ou velocidade com que uma melodia deve ser tocada. Isso pode ser interpolado para a vida, como de fato é visto que tudo acontece em seu próprio ritmo — que não deve ser forçado, mas respeitado. O tempo é o que diferencia o ruído de uma bela melodia.
Em resumo, temos um kronós determinado (do nascimento à morte), um kairós particular, que fará com que cada um de nós brilhe se aproveitarmos bem as oportunidades e um tempo, ou ritmo, para desenvolvermos e efetuarmos cada ação.
Aproveite o seu tempo, invista-o bem e compartilhe-o de forma sábia e construtiva, pois ele é o seu melhor ativo.
Sem o tempo, não há nada além da memória cristalizada. Existe ainda outro tipo de tempo: o tempo que não é tempo... o tempo relativo, poético, do coração.
Estar ou não contigo
é a medida do meu tempo.
J. L. Borges
Língua primitiva
Dizem que o Senzar foi a língua primitiva, a linguagem universal através da qual todos os seres se entendiam.
Dizem também que esta tão apreciada língua há tempos se perdeu na Torre de Babel.
Desde então, inúmeros idiomas surgiram e os seres humanos nunca mais se entenderam.
Comunicamo-nos uns com os outros de forma superficial, vaga, em sussurros. Não encontramos as palavras adequadas para expressar o que a alma sente, deseja, anseia... e mesmo quando expressamos, através da linguagem rude que temos, é bem provável que o receptor não entenda.
Perdemos o Senzar, a linguagem divina que, somente com um olhar, nos permitia uma comunicação plena, de corpo, emoções, mente e alma.
Talvez um dia Deus tenha piedade de nossas miseráveis existências e nos devolva um tesouro tão precioso.
Faltam palavras
Faltam palavras...
para expressar o que quero dizer,
para exprimir o que sinto,
para exclamar o que anseio.
Faltam palavras para afirmar o que sei.
Ao longo do dia, interagimos com pessoas conhecidas e desconhecidas. Com todas elas nos relacionamos.
Queremos dizer uma coisa, mas nossos lábios pronunciam outra. É assim que as relações se degeneram, até que surgem os conflitos.
Digo sim, mas quero dizer não.
Te amo, mas não digo; demonstro minha indiferença e, nesse suspiro, te perco.
E então começam as guerras; primeiro as interiores, cujos inimigos somos nós mesmos.
Depois se estendem aos mais próximos e, no final, nações inteiras estão envolvidas.
Babel
Dizem que na Torre de Babel, os seres humanos começaram a se desentender.
Dizem também que, desde então, as guerras e os conflitos interpessoais não cessaram mais. Bem, é o que dizem e o que se vê.
Penso, olho para trás e vejo claramente que os problemas de comunicação foram os que mais conflitos me geraram, tanto nas relações próximas quanto nas distantes.
Relações interpessoais são o cavalo de batalha do ser humano; o que traz as maiores alegrias e tristezas. O que permite a existência das relações é o logos, a linguagem, tanto verbal quanto não verbal; e, do meu ponto de vista, a verbal é a mais importante, porque pode expressar com precisão o que pensamos e sentimos. Pode, mas na grande maioria dos casos, infelizmente nos desentendemos.
Metemos os pés pelas mãos, seja por ação ou omissão. Às vezes falamos demais, outras, de menos. Às vezes dizemos o que sentimos, outras, silenciamos o coração. Ora porque não entendo a sua pergunta, ora porque você não entende a minha resposta.
A maior invenção do ser humano é a palavra, falada e escrita; essa é, sem dúvida, sua maior criação e o que o distingue dos outros animais. De fato, a palavra grega poiesis significa criação
. Toda criação é poesia.
Algumas vezes, ou quase sempre — desculpem o meu tom pessimista —, como em Babel, as palavras se tornam ininteligíveis, os homens deixam de se entender, se insultam ou omitem suas palavras. E quando as palavras são omitidas, não há negociação e nem comunicação verbal; e então, o golpe é inevitável.
Em suma, resta apenas a esperança de que Deus tenha piedade de nós e nos devolva o Senzar (a suposta língua falada antes de Babel); a linguagem plena que, com apenas um olhar, a meias-palavras, em sussurros, nos proporcionava um entendimento perfeito.
Receio — continuo pessimista — que levará muito tempo até que isso aconteça. Até lá, nos contentaremos com as palavras e seu aperfeiçoamento.
Mais se perdeu em Cuba... e voltaram cantando
Às vezes perde-se, muito ou pouco, dinheiro, amor, saúde, crenças... Mas mais se perdeu em Cuba, e os que perderam, nem por isso perderam a alegria, o bom humor, o otimismo e a paz interior, que é o que temos de mais precioso.
Há dias em que a pérfida fortuna nos dá uma bofetada, e mesmo que seja um tapa de luvas — porque a perda, por maior que possa parecer, não é tão grande assim — dói. A dor da perda é potencializada pelo pensamento negativo que se apodera de nós, tornando-se não mais um sentimento de perda, mas de fracasso, de sermos perdedores — o que não é verdade, é claro, já que perder alguma coisa não nos torna perdedores; ao contrário do que sentir-se um. Portanto, a perda é multiplicada diante da negatividade anímica.
O que podemos realmente perder com cada passo que damos na vida? Cada passo dado é um passo ganho, um passo investido, um passo de evolução.
Por mais que percamos em um determinado dia, devemos lembrar que mais se perdeu em Cuba. De onde vem esta expressão? De 1898, um ano fatídico para o Império Espanhol, que nesse ano deixou de sê-lo. A Espanha perdeu Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam. Desde então, sua configuração territorial é a que conhecemos hoje, relegada à Península Ibérica, às Ilhas Canárias, Baleares, à Ceuta e à Melilla.
O que aconteceu diante de uma perda tão significativa? Bem, muitos sentiriam desgosto, mas não aconteceu nada, ou nem tanto. Dizem que os sobreviventes daquela guerra voltaram para a Península Ibérica cantando, alegres por estarem vivos. As perdas são relativas quando não se perde o essencial.
Não importa o tamanho da perda, seguiremos em frente com alegria e bom humor; se for cantando, melhor ainda. Não foi uma perda, mas um ganho de conhecimento e experiência vital, tanto para os que ficaram no Leste (Espanha) quanto no Oeste (América).
Portanto, lembre-se, a perda não importa quando a atitude é correta. Se a atitude for incorreta, as perdas tomam enorme proporção e pode-se perder tudo. Perder um pouco de dinheiro pode acabar com a nossa saúde se não encararmos a situação de forma adequada — e dinheiro é a coisa menos importante que podemos perder. Perder uma pessoa, o emprego ou algo valioso pode fazer com que percamos