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O homem pós Viagra: Da angustia à virilidade
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O homem pós Viagra: Da angustia à virilidade
E-book296 páginas3 horas

O homem pós Viagra: Da angustia à virilidade

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Sobre este e-book

Escrito por uma médica e historiadora – que participou dos bastidores do pós-lançamento no laboratório farmacêutico, o livro mostra um detalhado percurso que interconecta a Medicina com a História. Vamos explorar diversas narrativas, através de reportagens e conteúdos de congressos, filmes publicitários e de propagandas médicas, em que são discutidos os impactos da medicalização de um distúrbio sexual repleto de estigmas – a impotência sobre a masculinidade, virilidade, saúde e corpo do homem, cujas repercussões são sentidas até os nossos dias. E uma questão fundamental é problematizada: Como surge o "Novo Homem" pós-Viagra?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de ago. de 2023
ISBN9788546224210
O homem pós Viagra: Da angustia à virilidade

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    O homem pós Viagra - Cibele Aparecida Fabichak

    APRESENTAÇÃO

    Impotência é um pênis que não faz o que lhe é solicitado¹. Esta definição, um tanto divertida, está descrita na matéria de capa, da revista Realidade², intitulada: Quem tem medo da impotência? A mídia provocadora e transgressora, dos anos 70, traduz a angústia dos homens que possam apresentar, eventual ou cronicamente, a condição de impotência e terão que, um dia, se deparar com este fracasso sexual. Dada a condição científica da época, na qual ainda não havia sido desenvolvida nenhuma medicação eficaz que tratasse a impotência, a matéria não cita nenhum tratamento, somente este comentário, do colunista social Ibrahim Sued: Se a máquina está rateando, o pior conselho que se pode dar é ficar remoendo. O negócio é ir em frente que os bons dias voltam.

    Anedotas à parte, o pesadelo de que os bons dias podem não voltar, é traduzido pelo medo atávico de falhar que acompanha o homem desde os primórdios da nossa espécie. A potência sexual masculina sempre foi e é representada, desejada e celebrada, a partir de inúmeros símbolos fálicos: de pequenos amuletos a obeliscos e, até por foguetes lançados ao espaço, neste nosso século XXI. E essa potência erétil, muitas vezes, traduzida em expressão de poder – conecta-se direta ou indiretamente com a masculinidade, a sexualidade, e a virilidade. Será que é possível afirmar que essa trinca busca ansiosamente sempre uma função erétil, livre de falhas, para se identificar e até se perpetuar como Homem?

    Entretanto, antes desta obra responder a essa e tantas outras perguntas, vamos iniciar, já no primeiro capítulo, uma jornada pela história da impotência. Também, são discutidos alguns detalhes estratégicos dos bastidores da indústria farmacêutica e de várias manifestações midiáticas, em um intervalo de quase trinta anos (1989 a 2018), que ajudam a construir e a entender a reformatação da sexualidade masculina em conexão com a feminina, cujas repercussões se dão até os dias atuais. Aliás, um impacto direto incidiu sobre o cuidado da Saúde do Homem, no âmbito da saúde pública brasileira. Afinal, homem também cuida de sua saúde, ou não?!

    E, qual foi o gatilho de tantas transformações que ultrapassaram a medicina e se alastraram pela mídia, cultura, arte, antropologia, ciência, história, sociologia, psicologia, educação e até o comportamento sexual? Uma pílula azul, a esperança azul, em formato de losango, cuja invasão, não se deu somente na intimidade de um casal hetero ou homossexual, mas na vida cotidiana de milhões de homens e mulheres por todo o planeta: Viagra® chega ao mercado mundial, a partir de 1998, através do laboratório Pfizer.

    Em 2001, como médica fisiologista e ex-professora universitária, tive a oportunidade de me tornar uma colaboradora médico-científica da equipe multidisciplinar que gerenciava o produto, no laboratório Pfizer. Já eram transcorridos quase três anos do seu lançamento, mas a grande virada do medicamento na curva de vendas ainda não havia acontecido. Após o lançamento midiático ruidoso e muito esperado, em junho de 1998, outros rumores e percalços apareceram: o temor do público leigo e médico por efeitos colaterais cardiovasculares, a falta de preparo técnico dos médicos em abordar a sexualidade com seus pacientes, o estilo sóbrio e contido das propagandas na imprensa e na TV de um Viagra®, ainda tímido por escancarar abertamente o tema sexo e sexualidade, além das dúvidas de como construir uma mudança de nomenclatura: da impotência para a disfunção erétil.

    Vivenciei diretamente esse reinício de posicionamento do produto, no mercado farmacêutico brasileiro. Participei de inúmeras reuniões e fui testemunha de momentos tensos, mas também descontraídos e bem humorados, na tomada de decisões internas junto às áreas de marketing, jurídica, treinamento e regulatória, além de contatos externos com a agência publicitária de propaganda, sociedades médicas (urologia, cardiologia, psiquiatria) e com diversos médicos líderes de opinião no tratamento da impotência, em congressos médicos nacionais e internacionais.

    As grandes diretrizes de marketing do medicamento vinham esboçadas desde a matriz do laboratório, em Nova York. No entanto, a partir de 2001, as estratégias médicas e a identidade das campanhas de divulgação, tanto para a classe médica como para o público leigo, começaram a ganhar um perfil mais brasileiro. Por sinal, o laboratório recebia muitas correspondências com manifestações escritas (e até de fotos!) de pacientes que agradeciam emocionados à volta de sua vida sexual, após começarem a tomar Viagra®. Vale lembrar que desde a década de 1980, alguns tratamentos muito invasivos (injeção intra-peniana, bombas a vácuo para ereção), não entregavam uma eficácia e comodidade atrativas para o homem, ansioso por resolver, de forma prática e fácil, sua impotência eventual ou crônica.

    Novos produtos também começavam a entrar no concorrido mercado da disfunção sexual e obrigavam, a todos nós da equipe, a buscarmos rapidamente conhecimento científico sobre a sexualidade da população brasileira, através de abrangentes pesquisas nacionais lideradas por psiquiatras, sexólogos e estatísticos. Além disso, por meio de tentativas e erros, foi calibrado, qual seria o melhor formato para criar uma estratégia discursiva de educação sobre sexualidade masculina e feminina voltada para o médico e para o público leigo, com a participação das mídias e das sociedades e dos congressos médicos. Por exemplo, o nosso Rei do futebol, Pelé, foi convidado a participar de campanhas publicitárias nacionais e internacionais sobre a importância do tratamento da disfunção sexual, a impotência, além de outros artistas e atores nacionais. Aliás, lembro-me de uma visita do Rei ao laboratório Pfizer e a agitação que ele provocou, com seu carisma e simplicidade, em todos os colaboradores.

    O lançamento de Viagra®, no final da década de 1990, encontrou um homem, ainda inseguro diante da mulher. Timidamente, ele começava a encarar seus problemas sexuais, sua saúde e sua relação com um corpo que atinge a maturidade e envelhece. Aliás, a capa da revista Veja, de 1996³, tem o seguinte título: A angústia do macho. Inseguro diante da mulher, preocupado com a forma física e o desempenho sexual, o homem está acuado. Porém, o homem jovem, também estava interessado em melhorar seu desempenho sexual e satisfazer sua parceira, numa relação heterossexual fixa ou eventual. No entanto, esse homem ainda não possuía uma pílula para chamar de sua no quesito prazer sexual, diferentemente da mulher, cuja conquista do seu direito ao prazer desvinculado da reprodução, ocorreu com o aparecimento da pílula anticoncepcional, na década de 1960.

    Por outro lado, a ciência, por meio de pesquisas sobre a fisiologia da função erétil, encontrava-se em intensa efervescência. O Prêmio Nobel de medicina e fisiologia foi conquistado, em 1998, por pesquisadores que descobriram o mecanismo do óxido nítrico, um elemento gasoso, presente na parede dos vasos sanguíneos, que provoca abertura dos mesmos e tem papel importante, por exemplo, na ereção. E, a indústria farmacêutica se agitava, a partir do lançamento de Viagra®, em criar estudos clínicos para comprovar a eficácia de outros medicamentos para a impotência, além de ampliar o grupo de pacientes aptos a tomar a pílula azul: diabéticos, hipertensos, lesados medulares, idosos, dentre outros. Isto significava que os investimentos voltados para a descoberta de novos produtos, na área da sexualidade masculina, chegavam em cifras de vários bilhões de dólares. Logo, o mercado da impotência transforma-se em um negócio de risco (pesquisa de moléculas que poderiam não resultar em medicamentos), mas também de alta lucratividade, pois Viagra®, torna-se um produto Blockbuster: vende mais de um bilhão de dólares por ano.

    Para entender como a explosão de saberes sobre sexualidade ocorreu no fim dos anos 1990 e repercutiu sobre a vida sexual de homens e mulheres, este livro mostra uma vasta pesquisa com diversos tipos de documentos inéditos, tais como, programas de congressos médicos de urologia, consensos médicos sobre impotência, materiais promocionais exclusivos para a classe médica, apresentações da agência de propaganda, anúncios impressos em revistas, propagandas vinculadas na TV e capas de revistas (Veja e Realidade)⁴. Portanto, a obra entrelaça e mescla saberes e práticas contidas no percurso que atravessa a Medicina com a História e discute os impactos da medicalização de um distúrbio sexual repleto de tabus – a impotência –, sobre a sexualidade masculina, com foco na masculinidade, virilidade e corpo do homem, cujas repercussões são sentidas até os nossos dias.

    Por sinal, quando a fronteira nacional é ultrapassada, os impactos de Viagra®, em nosso país-irmão, Portugal, também se fazem presentes. A mídia lusitana destaca⁵:

    Viagra. É praticamente impossível nunca ter ouvido falar desta palavra. O pequeno comprimido azul é reconhecido em todo o mundo, usado por milhões de homens e chegou há 20 anos a Portugal. Foram duas décadas repletas de mudanças, de quebras de tabus e de acesso a um medicamento que ajudou milhões de homens em casos de disfunção erétil e que permitiu a pessoas com uma faixa etária mais avançada continuarem a ter uma vida sexual ativa. O medicamento já deixou de ser usado apenas por homens com problemas sexuais e passou a ser usado, em diversas fases da vida, por homens de todas as idades, por razões de insegurança ou mesmo para momentos de aventura sexual.

    Para a viagem analítica nesta obra, a opção escolhida foi a trilha da História do Corpo. Aliás, esta não deixa de ser a própria história do ser humano, inserida na construção de cultura e sociedade, cujas influências temporais são direcionadas por padrões plásticos e transitórios, interligados com saúde, sexualidade, beleza, envelhecimento e comportamento, dentre tantos outros ingredientes incluídos na corporeidade.

    Tal tratamento farmacológico da impotência, por via oral, transforma-se em revolucionário pela praticidade e eficácia. Além de quebrar tabus tanto na sexualidade masculina como na feminina, o novo medicamento transverte qualquer falha ou ausência de ereção, da juventude à velhice, em um distúrbio orgânico da função erétil. Como uma das consequências, o especialista médico – urologista – legitimado pela ciência e empoderado pela indústria farmacêutica, toma para si o protagonismo dos cuidados do homem, e nasce a Saúde do Homem, como já citado.

    Aliás, no âmbito da saúde, esta obra tem relação direta com minha trajetória profissional nos últimos 35 anos. Após minha formação em medicina, iniciei meu mestrado nas áreas de fisiologia/farmacologia e segui como professora e pesquisadora nos campos da fisiopatologia do estresse e fisiologia geral. Em seguida, trabalhei mais de 15 anos na indústria farmacêutica, sendo que em mais de seis anos fiz parte de equipes multidisciplinares na área de sexualidade humana e no gerenciamento de vários medicamentos, dentre eles o Viagra®. Como médica, participei ativamente dos meandros da indústria farmacêutica, em um dos períodos mais conspícuos da criação e disseminação do imaginário de um medicamento para o tratamento da impotência, na história da medicina. Tal experiência marcante, anos mais tarde, me levou a escrever um livro sobre a neurobiologia do amor e da sexualidade humana⁶. Depois, comecei, gradualmente, meu trajeto em direção a uma formação mais humanista. Optei, posteriormente, por deixar a carreira na indústria farmacêutica e seguir na graduação do curso de história na PUC-SP e, em seguida, desenvolver um trabalho de dissertação de mestrado, cujo resultado é este livro.

    Várias questões despontaram nesta pesquisa: como os discursos da indústria farmacêutica poderiam se articular com as narrativas médicas e midiáticas no âmbito de uma reformatação da masculinidade quando do lançamento de um medicamento ícone, Viagra®, para o tratamento da impotência? Qual a possível repercussão da medicalização sobre a sexualidade, com foco no corpo e saúde do homem, mediante a construção de uma virilidade ideal como mercadoria de consumo? Como a urologia como especialidade médica, em conexão com outros saberes médicos, sob a influência do marketing farmacêutico, se interconecta com a sexualidade masculina, feminina e o envelhecimento? E, se a virilidade, no decorrer do século XX, segue em uma redução de significado e de representatividade, atrelados ao desempenho sexual focado na ereção, como a sua medicalização interfere na implantação do autocuidado masculino?

    Por fim, este livro representa a tentativa de aprofundar a discussão sobre o corpo do Homem, no sentido de propor que a explosão de saber sobre as sexualidades feminina e masculina converge para a idealização de uma virilidade redutora e centrada na ereção. Ou seja, como é delineado o novo homem Pós Viagra®? Como esse homem, mediante sua masculinidade reformatada, é lançado em direção ao autocuidado da saúde integral? E, se a pílula azul, além de um medicamento-mercadoria, é um objeto representativo de signos: torna-se pioneiro em despertar o desejo pelo sexo perfeito em um corpo performático, para se atingir, talvez, uma saúde e virilidade utópicas? Nesse sentido, as narrativas tanto dos congressos médicos como as da mídia, em sinergia, poderiam tocar na essência da masculinidade, ou seja, transformar a virilidade, reduzida à função erétil, em mercadoria ideal de consumo?

    Quer saber a resposta destas e de tantas outras questões? Então, vem comigo nesta viagem à impotência, masculinidade e sexualidade, através da trilha da pílula azul, no Brasil!


    Notas

    1. Fonte: Realidade. Quem tem medo da impotência? São Paulo: Editora Abril, ano 8, n. 85, 1973, p. 33.

    2. Fonte: Realidade. Quem tem medo da impotência? São Paulo: Editora Abril, ano 8, n. 85, p. 30-34, 1973.

    3. Fonte: Veja. São Paulo: Editora Abril, ed. 1428, 24 jan. 1996, p. 70-77.

    4. Quanto às diversas fontes escolhidas para compor os documentos de investigação, segue uma breve descrição. Primeiramente, foram selecionadas as fontes médico-científicas constituídas pelos programas científicos de dois Congressos de Urologia: Congresso Brasileiro de Urologia e o Congresso Paulista de Urologia, ambos com frequência bienal, no recorte temporal entre 1989 a 2018. Também, foram identificados e acessados outros documentos (Ajuda Visual, Folheto Promocional, filmes publicitários para TV e apresentação em PowerPoint) elaborados pela Agência de Publicidade Zero 11 (São Paulo), contratada pelo laboratório Pfizer para desenvolver materiais promocionais, desde o lançamento de Viagra® até 2005. Além de outros documentos, tais como Consensos Médicos, Guia Prático de Urologia e dois livros. Tais fontes, fornecem narrativas tanto textuais como imagéticas de cunho médico-farmacêutico, divulgadas em atividades promocionais e científicas (com exceção dos filmes e anúncios publicitários dirigidos ao público em geral), sob a coordenação principal da área de marketing farmacêutico. E, secundariamente, as fontes midiáticas que incluem algumas reportagens de capa, entrevistas da seção páginas amarelas e anúncios publicitários farmacêuticos publicados na revista Veja, no recorte temporal de 1989 a 2018. Ademais, para além de tal recorte, duas matérias da revista Realidade, (1966 e 1973), estão incluídas como fontes, visto que se mostram como marcadores úteis e pertinentes do sentido conferido à impotência até os anos 1990.

    5. Matéria O comprimido azul que mudou a vida sexual dos portugueses chegou há 20 anos, publicada em 14 de setembro de 2018, no site da TSF Rádio Notícias, por Inês André de Figueiredo, disponível em: https://bit.ly/3MUeUGA. Acesso em: 15 set. 2022.

    6. Fabichak, Cibele A. Sexo, amor, endorfinas e bobagens. 2. ed. São Paulo: Editora Matrix, 2016.

    PREFÁCIO

    O Homem Pós-Viagra: da angústia à virilidade traz uma enorme contribuição para a historiografia e, sobretudo, para os estudos das masculinidades. Isso porque, além do ineditismo da pesquisa, o ponto de partida da autora é o saber médico, que foi muito bem articulado com o conhecimento histórico.

    Ao tratar da impotência masculina, um tema ainda de grande tabu na sociedade brasileira, à luz dos estudos de gênero, a autora nos evidencia que a busca para uma cura da impotência estava associada não apenas na solução do problema físico, mas principalmente pela necessidade de acabar com a fragilidade masculina causada pela impotência. E isso nos revela a tentativa de manutenção de mais uma dentre as várias estruturas de dominação masculina em uma sociedade patriarcal, pois, neste caso, ser impotente na sua terminologia é ter falta de poder e não apenas um poder físico e sexual, essa falta de poder revela uma incapacidade de dominação.

    As páginas que seguem este livro, além de proporcionar-nos uma leitura agradável e instigante, nos levam, através de uma escrita fluída e leve, a conhecermos uma parte da História dos homens brasileiros com sua masculinidade e virilidade em constantes transformações e incidindo sobre o corpo das mulheres. Assim, o livro é dividido em onze capítulos que, minuciosamente articulados, desenvolvem uma robusta e necessária escrita historiográfica que cumpre com todas as exigências do campo da História, desde uma articulação crítica das fontes dando ênfase na problemática até a utilização de uma vasta bibliografia.

    No primeiro capítulo, Uma breve história da impotência, é realizado uma historicização sobre a impotência ao longo da História e como ela foi encarada como um problema, já que a rigidez peniana e sua potência sexual eram associados ao poder. Tal fato, demonstra que a preocupação com a impotência e os seus significados sociais e culturais não são exclusivos do nosso tempo presente, muito embora é apenas com o desenvolvimento da medicina moderna que se consegue chegar a tratamentos eficazes. No segundo capítulo, 1998: a pílula azul chega ao Brasil!, a autora realiza uma análise dos discursos midiáticos do período para compreender os efeitos sociais desse medicamento, observando como o saber médico se adequou a um linguajar mais popular para se fazer presente em ações publicitárias com cunho educativo, tornando o Viagra mais conhecido e principalmente quebrando tabus sobre o uso do medicamento.

    Para o terceiro capítulo, Pílula anticoncepcional: a mulher descobre o prazer?, se estabelece uma análise em torno das mudanças sociais e culturais para as mulheres a partir da pílula anticoncepcional. Utilizando-se de análises das revistas Realidade e Veja, em diferentes recortes temporais, observa-se a transição de um discurso de cuidado com o corpo para um discurso de libertação sexual, porém, essa libertação ainda acabava esbarrando em um desempenho sexual masculino, que nem sempre era satisfatório. No quarto capítulo, Masculinidade, virilidade e gênero: uma trinca complexa, a discussão ocorre em torno das relações de gênero que acompanham a formação da masculinidade e da virilidade. Para tanto, é realizada uma problematização teórica sobre o tema nas últimas décadas, passando desde os men’s studies e a vitimização dos homens, até a problematização da formação plural das masculinidades e o surgimento de um novo homem – discorrendo como isso impactou a vida dos brasileiros.

    Para o quinto capítulo, Corpo masculino fluido: entre a saúde e a doença, é delineada uma análise histórica e transdisciplinar a partir da medicina, da

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