Turismo de Raízes - Raízes de Quem?: UCG EBOOKS, #13
De Noga Kadman
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Sobre este e-book
No decurso da guerra de 1948 os palestinos abandonaram ou foram forçados a abandonar as suas casas e terras, inteiros bairros urbanos e aldeias foram despovoadas, casas e propriedades foram confiscadas pelo recém criado Estado de Israel. As aldeias, pelo menos 418, foram sistematicamente destruídas. Muitos locais destas aldeias passaram a integrar o perímetro de parques nacionais e áreas turísticas oficiais israelenses.
Neste ensaio explora-se uma invulgar forma de turismo de raízes: o encontro entre os israelenses-judeus e o que resta das aldeias palestinas despovoadas e destruídas hoje situadas no interior de áreas turísticas. Como se verá, as aldeias são amplamente ignoradas ou marginalizadas na informação prestada ao público. As autoridades turísticas metodicamente subestimam as raízes dos palestinos no país para, ao invés, sobrestimarem e reverenciarem os traços de antigas ocupações hebraicas, traçando o quadro geral de um país judeu, com uma herança árabe muito minoritária.
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Turismo de Raízes - Raízes de Quem? - Noga Kadman
1. Introdução
Israel é a pátria disputada de dois povos, os judeus-israelenses e os árabes-palestinos; cada um traz a terra querida e central na sua memória coletiva e na narrativa nacional. Nas práticas de arqueologia, preservação e turismo, Israel enfatiza os locais da história judaica antiga, bem como os da história sionista recente, onde investe em escavações arqueológicas, preservação e desenvolvimento de pólos turísticos. Estes locais, espalhados por todo o país, atraem visitantes judeus de Israel e do estrangeiro.
Depois de 1948, a maioria dos palestinos tornaram-se refugiados fora do seu país. Muitos dos seus locais patrimoniais e aldeias foram destruídos por Israel durante a guerra de 1948, e depois dela, foram gradualmente dilapidados devido à falta de manutenção pelas autoridades. Apesar de alguns dos palestinos com cidadania israelense fazerem peregrinações a aldeias e sítios despovoados do património palestino, o turismo de raízes palestino tem uma expressão muito modesta, devido à falta de interesse no seu desenvolvimento por parte de Israel e à impossibilidade, para a maioria dos palestinos e árabes, de acesso ao país e, portanto, a esses locais.
Este artigo foca um modo invulgar de turismo de raízes. Explora o encontro entre visitantes judeus-israelenses e o património palestino e, mais especificamente, as aldeias palestinas que foram despovoadas e demolidas em 1948. Muitas destas aldeias estão hoje localizadas no interior das áreas turísticas oficiais israelenses, tal como parques nacionais, reservas naturais ou espaços verdes de lazer.
O encontro entre os visitantes e estes locais é mediado pelas autoridades que os gerem. Este artigo examina se estas autoridades reconhecem, na informação dada aos visitantes, a existência do património palestino nestas áreas turísticas e, quando isto acontece, que informação é dada ao público.
2. Antecedentes: nacionalismo, conflito e turismo em Israel
Em 29.11.1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução que apelava à divisão da Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe. Repudiando a decisão da ONU, no dia seguinte sucederam-se ataques árabes contra os judeus nas cidades e nas estradas, tendo as forças judaicas respondido com operações de retaliação. Com o agudizar das hostilidades os residentes árabes começaram a abandonar as suas casas nas cidades, procurando refúgio nas aldeias das proximidades. Depois de um incremento dos ataques árabes, em abril de 1948, as forças judaicas mudaram de estratégia e começaram a atacar as aldeias tendo em vista, antes do dia 15.5.1948, data marcada para a retirada das forças do Mandato Britânico, expulsar os árabes do território destinado ao Estado judaico. Muitos aldeões fugiram no decurso destas operações, sendo os restantes, normalmente, deportados. A 15.5.1948, a Grã-Bretanha retirou-se, e o Estado de Israel foi estabelecido. Unidades militares de cinco países árabes juntaram-se às batalhas. Em julho, Israel anunciou que o regresso dos refugiados não seria permitido. Em agosto, o governo israelense decidiu demolir as aldeias árabes despovoadas, a fim de impedir o regresso dos seus habitantes. Em novembro, Israel realizou um censo e, mais tarde, apropriou-se dos bens de todos os habitantes ausentes.¹
Depois do fim da guerra de 1948, restavam mais de 400 aldeias árabes vazias em Israel. Foram, na maioria, destruídas por Israel durante a guerra e posteriormente. Em alguns casos, apenas restam ruínas ou amontoados de pedras e muitas delas foram completamente apagadas da paisagem.² A maior parte destas aldeias foram demolidas em meados de 1949: uma combinação de fatores militares, políticos e económicos, incentivou