A História Antiga de Israel / Palestina com e sem a Bíblia: UCG EBOOKS, #7
De Emanuel Pfoh
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Sobre este e-book
Neste ensaio, dá-se conta da transformação que, nas últimas cinco décadas, ocorreu no campo da história do Levante, a qual tem vindo a deslocar-se de uma história do Israel Antigo para uma história da Palestina Antiga. A principal questão é constituída pelo estatuto do Antigo Testamento como fonte histórica ou narrativa mítico-religiosa, e pela sua maior ou menor relevância para uma história do Levante. Duas possibilidades historiográficas têm vindo a desenvolver-se. Nos Estados Unidos, em círculos com influência evangélica, continua a produzir uma historiografia a partir do esquema narrativo apresentado pelo Antigo Testamento e, consequentemente, focada na história do Antigo Israel. Neste caso, procura-se o ajuste entre dados arqueológicos e a narrativa mítico-bíblica. Na Europa, em particular no eixo Copenhaga-Sheffield, a história constroi-se com base nos registos arqueológicos e epigráfico, e em contributos de disciplinas tais como a antropologia, etnografia, demografia histórica ou climatologia. Prossegue-se, assim, uma investigação histórico-crítica independente da versão bíblica do passado de Israel, uma vez que – deliberada e necessariamente – se desenvolve para além do horizonte ditado e delimitado pela narrativa bíblica. Esta é uma história dos diversos povos que ao longo dos tempos se cruzaram e desenvolveram na Palestina Antiga, da transformação das condições materiais, sociais e intelectuais, não se centrando nem cingindo aos protagonistas e eventos das estórias bíblicas.
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A História Antiga de Israel / Palestina com e sem a Bíblia - Emanuel Pfoh
1ª edição portuguesa © KKYM + P.OR.K, 2021. Todos os direitos reservados.
ÍNDICE
1. Para além do «Israel Antigo»
2. Face aos mitos do passado
3. Discurso mítico e discurso historiográfico
4. Um novo paradigma historiográfico
Bibliografia
Ficha técnica
Emanuel Pfoh
(un)common ground
1. Para além do «Israel Antigo»
Que tipo de história poderemos construir a partir das ruínas de assentamentos urbanos e aldeias agrícolas, tabuinhas com inscrições e estelas comemorativas, um diversificado tipo de recipientes, objectos de luxo e vestígios da vida comercial e religiosa das sociedades da Palestina?
Desde a sua primeira urbanização, em torno a 3300-2300 a.C. (a Idade do Bronze Antiga), a Palestina era uma área com pequenas aldeias dedicadas a actividades agropastoris, estabelecidas em torno de modestos centros urbanos – se os compararmos com os da Mesopotâmia e do Egito – que chegaram a dar testemunho de um apreciável desenvolvimento e foram o centro de uma actividade sociopolítica e trocas comerciais notáveis (como foi o caso, por exemplo, até 1800 a.C., a II Idade do Bronze Médio),¹ mas nunca tendo chegado a formar uma entidade sociopolítica regional centralizada e perene. Por outras palavras, a presença de uma prática estatal na Palestina não pode ser entendida como uma prática autóctone, verificando-se que, quando encontramos vestígios ou indícios dessa prática, está nela envolvido um poder exterior à região, sob a forma de dominação imperial ou de subordinação clientelar.² O mesmo pode ser dito se avançarmos até c. 1200-600 a.C. (a Idade do Ferro). A evidência disponível – os registos arqueológicos e epigráficos, assim como os contributos interpretativos de disciplinas como a etnografia, a demografia histórica, as análises sociológicas e antropológicas, a climatologia, etc.³ – permite o reconhecimento de dois pequenos reinos nas terras altas da Palestina, um a norte, chamado «Israel», ou «Bīt Humrī» nas inscrições assírias, e tendo o seu centro na Samaria, e um outro a sul, chamado «Ia-ë-da» ou «Judá», posteriormente configurado como a província de «Yehud» pelos persas, com o seu centro em Jerusalém.⁴ Estes dois reinos não têm uma origem comum num único reino regional; nem são contemporâneos um do outro: o reino de Israel, que não representa uma unidade etnicamente homogénea ou monoteísta, parece ter existido sócio-politicamente entre 900 e 722 a.C.,⁵ enquanto Judá só apresenta sinais de um desenvolvimento sociopolítico significativo desde finais do século VIII a.C., após a ocupação da Samaria pelos assírios na região, época em que este pequeno reino se desenvolve sob tutela assíria até que o domínio babilónico sobre o Médio Oriente lhe venha a pôr fim, destruindo Jerusalém nos inícios do século VI a.C. À excepção de uma série parcial de nomes de monarcas de Israel e de Judá, assim como de regiões vizinhas, presentes nos livros bíblicos de Reis, passíveis de serem confirmados como históricos nos registos epigráficos do Levante e da Mesopotâmia,⁶ é realmente difícil estabelecer uma homologia entre a representação bíblica do período e os vestígios arqueológicos e epigráficos da Palestina se ela não for feita em