2023 Dez crônicas sobre o presente e o futuro da economia brasileira: O curto e o longo prazo
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Sobre este e-book
Esse livro pretende dar início a uma série com o mesmo objetivo a ser divulgada no fim de cada ano.
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2023 Dez crônicas sobre o presente e o futuro da economia brasileira - Paulo R. Haddad
Sumário
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO
CRÔNICA 01
CAPITALISMO E OS CAPITALISMOS: O PÚBLICO E O PRIVADO
CRÔNICA 02
O CURTO E O LONGO PRAZO NO ESTILO DE GOVERNAR
CRÔNICA 03
A AUSTERIDADE EM QUESTÃO
CRÔNICA 04
HOMEOSTASIA NA ECONOMIA BRASILEIRA
CRÔNICA 05
A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA POLÍTICA ECONÔMICA: ESTABILIZAÇÃO MONETÁRIA COM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
CRÔNICA 06
EFEITO DOMINÓ DA CRISE FISCAL NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS
CRÔNICA 07
O IMPÉRIO DO CURTO PRAZO E SUAS CONSEQUÊNCIAS: PPA, FAZENDA E PLANEJAMENTO
CRÔNICA 08
BRASIL: UMA SOCIEDADE DESIGUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO
CRÔNICA 09
O CICLO DE INOVAÇÃO E O CAPITALISMO NATURAL
CRÔNICA 10
A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CICLO DE EXPANSÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: AS NOTÍCIAS QUE VÊM DO ACRE
SOBRE O AUTOR
Agradecimentos
Na edição e revisão deste livro, contei com a inestimável e eficiente colaboração de Rosanna Margarita de Carvalho, Jeovane Moreira Gomes contribuiu com a digitação do texto, Ana Amélia Gouvêa e Bruno Andrade da BH Press cuidaram da apresentação do livro. Agradeço a Fernando Barros pela publicação das crônicas no Instituto Fórum do Futuro.
Introdução
Este livro reúne dez 10 crônicas selecionadas entre as que foram publicadas pelo autor quinzenalmente na seção de artigos do Instituto Fórum do Futuro, durante o ano de 2023 (de janeiro a novembro). As crônicas refletem as discussões e as controvérsias sobre a política econômica em processo de concepção e de implementação pelo Governo Federal durante esse ano. Além de analisar algumas das questões em andamento, são formuladas sugestões sobre o aperfeiçoamento da política econômica. Nesta Introdução, apresentamos as principais ideias contidas nas crônicas. Como essas crônicas foram escritas em quinzenas diferentes ao longo do ano, alguns argumentos são repetidos com certa frequência.
Os economistas, quando são convocados para elaborar e implementar uma política pública, quase sempre se deixam guiar pelos princípios da eficiência. Definem os objetivos da política; quantificam esses objetivos em metas; selecionam os instrumentos de intervenção mais apropriados para que os objetivos sejam atingidos; e estabelecem mecanismos de controle e avaliação para acompanhar a eficiência e a eficácia da política. Uma atitude tipicamente panglossiana ou ingênua de quem acredita que uma fórmula aritmética seja capaz de eliminar os conflitos distributivos em torno da escala e da composição dos gastos públicos.
Tudo isso produz um sistema coeso e exato, que permite aos economistas falarem sobre a política, com otimismo, e sobre os resultados esperados. Esse otimismo leva-os, quase sempre, a despir a política econômica de redundâncias protetoras. As redundâncias, que normalmente são interpretadas como formas de desperdício, são, na verdade, salvaguardas corretivas dos rumos usualmente menos adotados.
A pobreza, por exemplo, pode ser considerada uma falta de redundância. Um país que não dispõe de alternativas para resolver um mesmo problema é um país pobre: somente uma única estrada para ir do ponto A ao ponto B; falta energia em uma região e não há dispositivos compensatórios de abastecimento; etc. Desastres e catástrofes socioeconômicas resultam, normalmente, da falta de redundâncias para resolver problemas. Um bom exemplo de redundâncias protetoras está na Constituição de 1988: se não houver melhoria na distribuição da renda e da riqueza no País, as políticas sociais compensatórias irão funcionar como salvaguardas corretivas.
Os economistas, cada vez mais, estão trabalhando profissionalmente com modelos abstratos, que incorporam, cada vez menos, componentes institucionais e psicossociais da realidade sobre a qual intervêm e, portanto, diminuem significativamente a sua capacidade de predizer as mudanças que podem ocorrer a partir dos instrumentos que controlam. Ao formular uma política econômica não são capazes de perceber quais serão as demandas políticas necessárias e as negociações inevitáveis para a sua implementação.
Por isso, é sempre recomendável, segundo o cientista político Martin Landau (1921 – 2004), que, na concepção das políticas econômicas, se substituam as normas de eficiência por normas de confiabilidade, as quais se orientam mais para evitar o fracasso do que para garantir um retumbante sucesso. O uso das normas de confiabilidade estimula uma participação mais ampla de atores com formação profissional diferenciada para abrir os horizontes dos economistas, com suas ideologias primárias da realidade social, construídas a partir de modelos abstratos da macroeconomia das quantidades globais. Permite, também, cobrir as políticas econômicas de redundâncias protetoras, tornando-as mais resistentes a choques exógenos, a efeitos inesperados e às falhas comuns nas predições condicionais. Para cada proporção normativa de política econômica deve haver uma ressalva que possa proteger o País das incertezas do futuro econômico, das instabilidades políticas, dos interesses velados.
É o caso, por exemplo, do déficit fiscal como objetivo de política econômica de curto prazo. Para definir a intensidade, a cadência e o sequenciamento das medidas a serem tomadas para o seu controle, é preciso compreender como esse déficit veio se formando ao longo do período histórico mais recente, tanto do lado dos gastos públicos quanto do lado das receitas públicas.
Nas crônicas que são apresentadas neste livro, procuramos mostrar que a estrutura das despesas se formou a partir da implementação das políticas públicas propostas na Constituição de 1988. Como essa Contribuição foi elaborada através de um processo político com intensa participação dos segmentos organizados da sociedade civil brasileira, não há gastos previstos no Orçamento Geral da União ou no PPA que não estejam suportados politicamente por algum grupo de interesse de natureza social, regional, setorial produtivo ou não produtivo. De tal forma, qualquer corte, contingenciamento ou congelamento dos gastos públicos pode significar perda no bem-estar social sustentável de algum grupo da população brasileira, à exceção de alguns penduricalhos de menor expressão na estrutura do OGU ou do PPA. Um convite para tensões sociais e políticas no horizonte de curto prazo.
Do lado das receitas públicas (impostos + taxas + contribuições parafiscais), há que se registrar que as fontes principais dos usos são o PIB, a Renda Nacional, o Patrimônio Mobiliário e Imobiliário Privado. Ocorre, contudo, que, desde 1980, houve uma desaceleração do crescimento dessas fontes (a base tributável), com a própria desaceleração do crescimento econômico do País quando comparado com o período de prosperidade econômica e social de 1900 a 1980, quando o Brasil foi levado, em escala mundial, à categoria de país de renda intermediária
, posicionando-se junto aos BRICS.
De 2002 a 2022, a taxa média de crescimento do PIB no Brasil foi de apenas 2,2% ao ano. Quando se leva em conta que a taxa média geométrica de crescimento da população residente por ano está em torno de 1,67%, fica claro que é insignificante o aumento da quantidade de bens e serviços finais produzidos que a economia semiestagnada colocou à disposição do bem-estar social sustentável dos brasileiros no século 21.
Desde os anos 1990, ocorreram, de fato, alguns anos não sequenciais em que a taxa de crescimento girou em torno de 5% ao ano: no fim do imposto inflacionário, com a recomposição do poder de compra da massa salarial a partir do bem sucedido Plano Real; com o boom dos preços das commodities na economia globalizada, no período que antecede a crise mundial de 2008; com o renivelamento do emprego e da renda após a crise econômica da pandemia da Covid-19, quando, em 2020, a taxa de crescimento foi negativa (-3,3%), para se recuperar nos dois anos seguintes. Foram, pois, espasmos de crescimento e não ciclos de expansão sustentada da economia.
As economias capitalistas ocidentais têm duas características básicas. De um