Portugal e Brasil - Duas Nações em Harmonia

De Antonio Lavareda, José Roberto Afonso e Nuno Santos

O livro olha para o passado, para o presente e para o futuro da história dos dois países. Há 200 anos, a independência brasileira teve características marcantes e peculiares no cenário internacional e de época. Não envolveu a ruptura contra seu antigo colonizador, tão comum em outras colônias. Não houve a fragmentação do território, da organização política e da língua, mas é inegável que se pagou um preço alto, inclusive, ao acabar com diferentes rebeliões regionais e se manter a escravidão por décadas. Após 200 anos, a sociedade, a economia, brasileira e mundial, atravessam um período de transformações radicais, provocadas, dentre outras, pela revolução digital, pandemia, desequilíbrio ambiental, guerra no velho centro do mundo, desigualdades sociais e ameaças à democracia. Alguns desafios brasileiros ainda não foram superados e surgem outros, e imensos, para tornar uma nação independente e integrada. Agora, a expectativa é de melhores condições de vida, com menos desigualdade, social e econômica, com mais respeito à diversidade e com sustentabilidade ambiental, ou seja, que se possa ter uma nação, uma sociedade e uma economia mais sólidas e justas do que hoje ou do que há dois séculos. Muitos fatores conspiram para que Brasil e Portugal venham estreitar ainda mais seus laços de amizade e parceria. Na sociedade e na economia moderna, cada vez mais globalizada, ser uma nação realmente independente exige integração aos valores, aos padrões de vida e de negócios e, sobretudo, aos compromissos com a sustentabilidade, ambiental e social.

• Idioma: Português
• Editora: Almedina Brasil
• Data de lançamento: 1 de fev. de 2024
• ISBN: 9788584936625

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1. Independência com integração

JOSÉ ROBERTO AFONSO¹

Raros são os povos no mundo que conseguem comemorar a independência de uma nação também no país de onde ela se originou. Brasil e Portugal protagonizam esse fato inédito na história. Uma história que se fez mais uma vez em setembro de 2022, com o bicentenário da data escolhida para marcar o anúncio da emancipação da antiga colônia de além-mar. De tão simbólica, a efeméride ensejou desde a publicação de um grande número de livros e artigos à realização de programas televisivos e produções cinematográficas. Isso se deu em Portugal, reforçando uma espécie de cordão embrionário que une a pátria mãe à nova nação.

Como esperado, muito foi recuperado e valorizado da história brasileira, inclusive com atenção redobrada para as facetas impostas pelo novo normal – ou novo mundo. Em particular, as cruciais agendas do empoderamento feminino e da preservação do meio ambiente foram vinculadas à vida da Princesa Isabel, cuja atuação foi decisiva para que Dom Pedro I decretasse a independência. Um plano ousado para combater a desigualdade estrutural na sociedade brasileira chegou a ser desenhado, à época, pelo patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva. Quase não se fala sobre isso, mas alguém chegou a lembrar desse escrito.

Enfim, virtudes e pecados que cercaram a independência brasileira seguem presentes 200 anos depois. Para alguns, mais críticos, as mesmas veias permanecem abertas, e feridas continuam não cicatrizadas. Até em samba-enredo já se questionou se houve mesmo a independência. É hora, portanto, de tirar lições do passado, compreender melhor os desafios postos no presente e inovar e trabalhar para que sejam equacionados de maneira mais eficiente para o futuro.

Esse é o contexto que, na nossa modesta opinião, cerca a edição deste livro. Vale mencionar que, quando da comemoração do Bicentenário da Independência, o Fórum de Integração Brasil-Europa (FIBE) – associação cultural criada em outubro de 2021 – promoveu uma semana de debates e festejos em diferentes cidades portuguesas. A memória do evento, que compreendeu desde concertos musicais até debates acadêmicos, está disponível com a íntegra dos vídeos, entrevistas e apresentações na página comemorativa do evento no portal do FIBE².

A estrutura deste livro se assenta no mesmo tripé em que foi organizada aquela semana do FIBE, mesclando artes com debates.

A independência brasileira teve características marcantes e peculiares no cenário internacional da época. Não envolveu uma ruptura com o seu antigo colonizador, algo tão comum em outras colônias. Não houve a fragmentação do território, da organização política e da língua, mas é inegável que se pagou um preço alto, inclusive ao debelar diferentes rebeliões regionais pela manutenção do regime de escravidão por décadas.

Dois séculos depois, a sociedade e a economia brasileira e mundial atravessam um período de transformações radicais, provocadas, entre outros aspectos, pela revolução digital, pela pandemia da Covid-19, pelo desequilíbrio ambiental, pela guerra no velho centro do mundo, pelas desigualdades sociais e pelas ameaças à democracia. Alguns desafios brasileiros sequer foram superados e já surgem outros, imensos, a serem enfrentados para tornar a nação independente e integrada.

Após 200 anos, a expectativa é de melhores condições de vida, com menos desigualdade social e econômica, mais respeito à diversidade e à sustentabilidade ambiental. Ou seja, que se possa ter uma nação, uma sociedade e uma economia mais sólidas e justas que as de hoje ou que há dois