Comunicação, Tecnologia E Direitos
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Comunicação, Tecnologia E Direitos - Lígia Maria Lopes Reis
Lígia Maria de Souza Lopes Reis
Comunicação, Tecnologia e Direitos
Cinco ensaios para entender nosso tempo
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Direito 34
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
Brasília
2024
Agradecimentos
Aos amigos que me apoiaram na organização dessas reflexões em forma de ensaios.
Que sorte é poder contar com uma família que a gente escolhe para atravessar juntos esta jornada nada mole que é a vida. Sem eles, não sei o que seria de mim. Gratidão especial a essa rede de amor, especialmente à Bárbara Lobo, Janara Sousa, Mariana Cassel,
Letícia Carvalho e Gabriel Reis
(melhor amigo com quem divido a vida
e as loucuras da minha cabeça).
Apresentação
O direito humano à comunicação e à informação não é um debate novo. Desde a Revolução Francesa e da formulação da Constituição dos Estados Unidos, ainda no século XVIII, estava presente o debate sobre o binômio comunicação e informação como um direito fundamental. Esse debate ganha fôlego depois da Segunda Guerra Mundial, com a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em 1948, no âmbito da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Como evidência, tem-se o artigo 19 da DUDH que versa que o direito à opinião, à liberdade de expressão e o direito à informação como elementos essenciais para a nossa existência, sendo condição para assegurar a dignidade das pessoas e proporcionar o exercício da cidadania.
Do pós-guerra até hoje o debate sobre os direitos à comunicação e à informação foi se densificando a ponto de se materializar em textos constitucionais de inúmeros países e de ser alvo de dispositivos legislativos que regulam o acesso a esses direitos, como as leis de acesso à informação que se tornaram cada vez mais comuns mundo afora desde a década de 1990.
O caminho que esse debate tomou não foi regular. Muito pelo contrário, o pós-guerra foi marcado por ditaduras, como na América Latina, por exemplo, e ascensão de governos autoritários e conservadores que utilizavam do medo e da censura para impedir a liberdade de expressão e o direito à informação.
Essa discussão se tornou mais complexa e conturbada na medida em que se tornou cada vez mais claro o quão central é o acesso à informação e à comunicação. Na verdade, tais acessos são condição básica para o exercício da cidadania, já que fator sine qua non para o acesso aos demais direitos civis, políticos e sociais. Isto implica dizer que para desfrutar de uma vida plena é preciso informação e diálogo. A informação proporciona a condição de saber dos seus direitos e deveres e identificar o que é necessário para uma vivência digna. Já a comunicação atua no âmbito do diálogo e da formação de consensos. Não basta saber, é preciso participar do debate público e compreender suas bases para que a oportunidade de uma agência cidadã se efetive.
Assim colocado, a obra Comunicação, Tecnologia e Direitos: cinco ensaios para entender o nosso tempo
, de Lígia Maria Lopes Reis, se coloca como referência para se pensar a nossa contemporaneidade, cidadania e democracia. A autora compreende a essencialidade do direito à comunicação e à informação e lança um olhar sobre eles a partir dos impasses que as tecnologias nos geram.
O fenômeno da Internet, por exemplo, ao invés de pacificar o debate sobre o acesso aos supracitados direitos, construiu um cenário ainda mais caótico. O ponto é que, apesar do potencial da rede em possibilitar o acesso à informação e à oportunidade de diálogo e à livre associação, temos de fato uma série de instrumentos que podem nos quitar a possibilidade do exercício à cidadania.
Um exemplo disso é o debate sobre as fake news no Brasil que não encontra uma solução em termos de regulação. Compreende-se que as fake news criam um cenário de desinformação tão profundo que o agir diário das e dos cidadãos fica absolutamente comprometido. Neste contexto, a tomada de decisões por parte da população é manipulada e o diálogo é impossível diante da polarização, advinda pelo espalhamento inconsequente do ódio.
Sem dúvida, Lígia Maria Lopes Reis é muito feliz em nos brindar com essa obra neste momento em que o Brasil enfrenta desafios. É preciso enfatizar a centralidade da importância dos direitos à comunicação e a informação e enfrentar a banalidade do mal, como diria Hannah Arendt, a qual se espalha sobre o nosso tempo e desafia o nosso direito de uma vida plena e cidadã, além de abalar a nossa democracia.
Os ensaios aqui presentes refletem sobre alguns dos principais embates que vivemos, como os limites da Lei de Acesso à Informação e da Lei Geral de Proteção de Dados, a pertinência do Direito Autoral, a proteção da população diante dos cibercrimes e estelionatos online e as armadilhas para se pensar vivenciar a inovação a partir do setor público.
O debate está posto, vivo e em movimento. Essa obra é um convite para pensar o Brasil e o amanhã. Para refletir sobre caminhos possíveis que respeitem a cidadania e preservem a democracia. É a oportunidade para aprofundar os embates de agora que, por menores que pareçam, precisam ser experienciados à luz de que estamos conformando um cenário de direitos digitais que impactam a cidadania não apenas na Internet, mas no aqui e agora e em todas as dimensões da nossa existência.
Janara Sousa
Professora da Universidade de Brasília [1]
Prefácio da autora
O barco de cada um está em seu próprio peito
. Este é um provérbio macua que ouso usar para aqui para apresentar esta coletânea.
Iniciei meus estudos na Comunicação Social na segunda metade da década de 1990. Era o tempo em que estudávamos regulação da radiodifusão e das telecomunicações. Era o tempo em que vimos a internet comercial chegar ao Brasil, em que acreditávamos que uma nova arena, mais democrática, emergiria.
Aqueles momentos foram os meus primeiros contatos com Murilo César Ramos, meu professor e iniciador nas políticas regulatórias da comunicação. Foi naquele tempo em que conheci Janara Kaline Leal Lopes de Sousa, que, além de minha amiga, é professora e pesquisadora e que, em muito, moldou meu olhar para a compreensão da internet, campo que ela sempre pesquisou.
Esses dois nomes trouxeram outras duas pessoas que influenciam minhas preferências em estudos e pesquisas. Elen Geraldes, minha orientadora de mestrado, e Márcio Iório Aranha, meu mentor intelectual, ambos professores vocacionados e detentores da generosidade que somente os mestres carregam.
Ao longo de todos esses anos, vi meus temas preferidos, antes afetos à Comunicação e à Sociologia, ganharem uma nova versão: a do Direito Digital.
Soma-se a isso os anos que passei na Escola Superior do Ministério Público da União, implementando e executando projetos de inovação. Onde pesquisei sobre ciência e me aproximei da tecnologia a partir de um