Velas de Portugal
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Sobre este e-book
Fugir do esmerado trabalho de linguagem é impossível para Luiz de
Miranda, uma vez que passou os últimos 50 anos limando a metáfora.
“Velas de Portugal”, o poeta do Sul do Brasil presta homenagem
à cultura portuguesa, seus autores, seu espírito livre e desbravador.
Luiz de Miranda viaja no caminho da palavra em busca de si mesmo sob
A ótica da Língua e da Literatura Portuguesa.
Luiz De Miranda
Luiz de Miranda nasceu em Uruguaiana/RS, fronteira com a Argentina e Uruguai. Sucesso de público e de crítica. “Amor de Amar” vendeu 1860 exemplares em 2 meses. Livro dos Meses vendeu mais 30 mil. Livro do Pampa, 20 mil. A maioria de seus livros está com a edição esgotada. Recebeu o “Grande Prêmio de Poesia do ano de 2001”, instituído pela Academia Brasileira de Letras, pelo livro Trilogia do Azul, do Mar, da Madrugada e da Ventania. Para Ary Quintella: “Miranda é o melhor poeta vivo do Brasil”. O poeta Affonso Romano de Sant’Anna afirma: “Sua poesia é forte, é um verdadeiro “Canto General”, de Pablo Neruda, cheio degenerosa amizade. A Poesia sopra com a força mítica de Orfeu. Um Orfeu dos Pampas”. LM é verbete da Enciclopédia Biblos da Europa, a pedido da Universidade de Coimbra, Portugal, com texto composto pela crítica e professora, Dra. Regina Zilberman.Em 1988, recebeu o “Prêmio Érico Veríssimo”, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Em 1997, ganhou o título “Cidadão de Porto Alegre”, por votação unânime dos vereadores.Recebeu o Prêmio “Negrinho do Pastoreio 2005”, como melhor poeta do Rio Grande do Sul. A votação foi feita por Prefeitos, Vice-Prefeitos e Secretários de Cultura do Estado. Miranda tem 28 livros publicados, num total de 2706 páginas editadas. Tem prêmios nos Estados Unidos, Itália, Paraguai e Panamá.Foi eleito Membro de Honra do Instituto Literário y Cultural Hispânico, em março de 2007, ao lado de nomes como Jorge Luis Borges, Ernesto Sábato, Isabel Allende, tornando represente do Instituto no Brasil, com sede na Califórnia (USA). Seus 40 Anos de Poesia foram comemorados no Brasil, Argentina e Paraguai. Também foi criado o “Concurso Bi Nacional Poeta Luiz de Miranda” para escritores argentinos e brasileirosEm 1987 foi eleito para a Academia Rio-grandense de Letras e em 2000 para a Academia 184Sul Brasileira de Letras, localizada em Pelotas/RS.É Sócio Honorário do Instituto João Simões Lopes Neto.Seu último livro foi editado pela Editora Global, SP,” Melhores Poemas de Luiz de Miranda,” com seleção e prefácio de Regina Zilberman. Esta coleção já publicou Fernando Pes- soa, Castro Alves, Ferreira Gullar, Camões, entre tantos autores ilustres das Letras. O livro Melhores Poemas de Luiz de Miranda tem 67 poemas num total de 207 páginas. Na Fortuna Crítica estão Ivan Junqueira e Moacyr Scliar, da Academia Brasileira de Letras; Ferreira Gullar., Gerardo Mello Mourão, Ary Quintella, Nelson Verneck Sodré, Affonso Romano de Sant’Anna, do Rio de Janeiro; Perfecto Cuadrado, da Espanha; José Augusto Seabra, de Portugal.
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Velas de Portugal - Luiz De Miranda
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Camões – Os Lusíadas – Canto I-3
I
Oro por Portugal
que ensina
minha mão
chegar ao final
deste livro de amor,
paixão e louvor
de um homem solitário
do Sul do Brasil
que leva consigo
além das palavras
seu cão e seu cavalo,
pois é com Deus que falo.
Oro o ofício que fura a noite
e funda um pátio de estrelas
nos fundos de minha casa.
Aí está o passado,
amigo dos livros
e da sabedoria.
Oro o ouro
das lavouras
do eco da palavra
e seu tesouro
e tudo muda e resplandece
a noite amanhece,
coberta de amores
e de um ramalhete de orquídeas
que deixo pousado
em tuas brancas mãos,
amigo do vinho
e da liberdade.
Perto de ti eu adivinho
o nome e sua eternidade,
por vozes que não conheço,
falarei da morte
e seu martelar contínuo
sobre amigos,
irmãos,
amadas.
À madrugada alta
ela ceifa nossos olhos.
O turvor nos fecha os poros,
por isso choramos,
lágrimas que vão à terra,
onde tudo termina
e a nada ilumina
no sentimento gris,
mas renascemos no verso
a extrema-unção final
e isto são Velas de Portugal.
II
Vou adiante
daquilo que me mata,
a hora não desata
e vamos no tempo
por alqueires de luz azul.
O Sul é meu país,
onde domo o potro vidente
que é a lente dos meus olhos.
Meu amigo e companheiro,
meu canto não tem fronteira,
mesmo no desterro da pampa,
onde um homem se levanta
e escreve novamente
seu caminho,
no andar lento
do seu cão e seu cavalo
tendo por sina o vento
que dobra as esquinas do mundo,
o mapa de nossa vida
por isso chamamos bem alto,
e somos um sobressalto
que não conhece paradeiro.
III
Incêndios da minha vida,
toda ela repartida
dos portos de Lisboa,
assim não canto à-toa.
O semblante do que me nutre
no véu da chuva,
na neblina das horas,
no que vira a eternidade
minhas pobres mãos.
Metade é solidão,
outra metade é saudade
que se retesa
em rios de rima
no pavilhão que nos guarda,
avante armas de mil tiros,
ou sóis do rio Tejo
são milhares de vozes
que virão
um imenso vitral.
IV
Sou homem que vai longe
como terras de alentejo.
Construo ponte e farejo
um verde horizonte.
Toda coragem que tenho
é pampa por valentia
que alumia a jornada,
povoada de mares à vista
e chegada fora de hora,
sem assinatura
ou testemunho,
é levante prematuro
de mil cavalos
que vão dar no mar,
tendo por fim
o solitário cio
do destino
que trago
desde menino
em meus alforjes de luta
e a força que alumia
a palavra santa de cada dia.
V
O que eu tinha
sumiu na tarde gris,
onde até os fantasmas
agonizam e morrem.
Trôpegos, os adeuses
escrevem o que fiz.
Tudo é ontem,
e o amanhã não vem,
apenas na aba
do meu chapéu
é uma perola de espanto,
onde canto o que não sabia.
A melancolia me habita
o mundo é pequeno,
mas palpita
um breve aceno
uma brisa leve
que não me leva
e me deixa cego
nesta hora tardia
onde há noite
e não há dia
e a vida é pura ventania.
VI
A ira inábil
não aponta o fuzil.
Que sobra em abril
é o aniversário
e o distante rosário
das igrejas de Portugal,
que em plenilúnio
acende em mim
uma vela amarelada,
restos da minha amada,
que partiu há anos
por mares não sabidos.
Me resta o amigo sombrio
sobre este teto de avareza
que se retesa
sobre meus parcos ouvidos.
Sou louco sozinho,
acompanhado sou quieto,
mas sou repleto de esperanças
saúdo a estrela boreal.
VII
Andas este mar
que não vejo
por cortinas azuis
sobre meu peito cansado.
É morrer de desejo,
de sede frente ao mar,
onde volto a cantar
as naus do espanto
carrego o espírito da luz e da morte,
de quem singra para viver.
Noturno e lindo
e vê-lo se abrindo
em brilhos eternos.
Ó mar que não termina,
que fulmina a beleza
que adeja minha sombra,
parado dentro de casa,
onde escrevo o poema
em louvor e glória
num denso jogral
ao semelhante de Portugal.
VIII
As tardes caem
em outras tardes longas
e em ritmo de milonga
afundam no mar.
De minha casa
avisto um lugar distante