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E o violino calou-se para sempre
E o violino calou-se para sempre
E o violino calou-se para sempre
E-book104 páginas1 hora

E o violino calou-se para sempre

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Sobre este e-book

Maria nunca mais esqueceu aqueles penetrantes olhos azuis que a auscultaram atentamente num primeiro e único encontro.
A revelação da pessoa por trás daqueles olhos fascinantes, a quem, desde a infância, só associara um nome, surgiu muito mais tarde, na idade adulta.
De descoberta em descoberta, o avô João, que fora deliberadamente afastado da convivência de Maria, reaparecia como uma personagem cuja vida fora delineada por fortes convicções políticas, que lhe valeram um percurso existencial sinuoso e algo aventureiro.
Por outro lado, a imagem de pessoa austera e «azeda» que conservava da avó Mafalda também essa se desvaneceu ao descortinar as razões profundas do seu modo de ser e de estar perante a vida.
O reencontro espiritual de Maria com os seus antepassados mais próximos permitiu-lhe reescrever as suas memórias de infância e rever, com o coração, os seus sentimentos para com essas personagens.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de nov. de 2022
ISBN9791222073040
E o violino calou-se para sempre

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    Pré-visualização do livro

    E o violino calou-se para sempre - Maria da Guia Barata

    Agradecimentos

    Aos meus colegas e amigos, Teresa Soares e José Conrado Dias, agradeço a paciência e condescendência com que leram o rascunho deste livro e se prestaram a escrever o prefácio.

    Finalmente, a todos aqueles que, à semelhança do João e do José desta história, lutaram pelas suas convicções políticas, em sacrifício das suas vidas e das respetivas famílias, para que hoje pudéssemos usufruir das nossas liberdades individuais e coletivas, deixo aqui um eterno agradecimento.

    Quando me for, levarei um pouco de ti e deixarei um pouco de mim. – Charlie Chaplin

    Introdução

    Há momentos na vida, sobretudo quando sentimos que os anos vividos já são mais do que os que viveremos, em que nos interrogamos acerca do que realizamos e da origem profunda das nossas escolhas, que são, muitas vezes, aos nossos olhos, algo disparatadas e inconscientes.

    Questionamo-nos se essas opções de vida não estarão já inscritas nalgum livro da vida, cujas páginas nos limitamos a folhear até ao último capítulo.

    Não creio que assim seja, pois o nosso percurso existencial tem muito de voluntarismo próprio, apesar de sermos parte de uma história e de uma genética familiar em que o passado parece deixar algumas marcas que, inconscientemente, nos vão orientando no rumo e no ritmo que imprimimos ao caminho, mais ou menos longo, mais ou menos tortuoso, da nossa vida.

    Os antepassados e as memórias acompanham-nos. Repescá-los faz-nos renascer e faz-nos refletir sobre nós próprios e sobre o rumo da nossa própria história de vida. Funciona como se déssemos um contexto à nossa existência e nos facilitasse a transmissão do testemunho aos nossos filhos, legítimos herdeiros de toda a história familiar.

    Tal constatação leva-nos, frequentemente, a fazer alguma pesquisa sobre a história da nossa família mais ou menos próxima. Se, por vezes, o objetivo inicial passa por algo na área da genealogia, facilmente o rumo se altera, consoante as fontes de que dispomos. Habitualmente, as primeiras fontes são, sem dúvida, as narrativas orais com que vamos crescendo no seio familiar e os momentos que a nossa memória conservou. Outras, provavelmente quase tão relevantes, podem ser objetos, manuscritos, fotografias e muitas mais que associamos a um ou outro familiar.

    O que se pretende nesta obra é a construção ficcional da vida de uma família, a de Maria, que mal teve oportunidade de conhecer seus avós, com exceção da avó materna, a Mafalda desta história. A ação desenrola-se, sobretudo, nos três primeiros quartéis do século XX português e em vários pontos do território nacional à luz da época.

    Dada a minha formação académica, não pude deixar de, paralelamente, ir preenchendo as vidas dos atores principais com o contexto local e nacional em que se movimentaram. Tal evocação, permite-nos, não só, conhecê-los um pouco melhor, mas também as razões das suas opções de vida. Vai-se passando em revista um pouco da História de Portugal numa época habitualmente esquecida pelos manuais escolares e pelo currículo nacional da disciplina. O século XX é praticamente abandonado ou é estudado a toda a pressa no final do ano letivo. As condicionantes temporais associadas aos tempos letivos a isso obrigam, frequentemente. Muitas vezes, são apenas mencionadas figuras mais ou menos relevantes e um ou outro facto a que o professor dá mais importância. As horas destinadas à disciplina, na matriz curricular, infelizmente, são cada vez menos e, além disso, frequentemente sacrificadas, sob o chapéu da flexibilidade curricular, em nome de outras consideradas essenciais na formação académica das nossas crianças e dos nossos jovens.

    É pena que a nossa História como povo esteja a ser tão esquecida! Neste momento, a escola falha nesse aspeto: o de nos conhecermos melhor enquanto pessoas, cidadãos e enquanto povo, alienando, assim, a nossa identidade, o que traz, consequências, infelizmente, já observáveis na sociedade portuguesa. Com estas reflexões, não se pretende reavivar nacionalismos extemporâneos, mas motivar escolhas fundamentadas e conscientes como cidadãos ativos e interventivos por parte dos nossos jovens.

    1963

    Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso som do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou. – Sylvia Plath

    O avô João

    Maria observava aquela figura alta, esguia, de pele morena e olhos azuis que a radiografavam dos pés à cabeça.

    – É o teu avô João. O meu pai. – disse-lhe a mãe, em surdina.

    Nunca ouvira falar dele nem nunca o conhecera. A sua experiência dizia-lhe que ser apresentada a avós significava uma série de beijos, abraços, apertos contra o peito e… prendas. Muitas prendas. Assim acontecera com a avó Mafalda e a avó Joana quando chegara de Moçambique, com a sua mãe. No entanto, aquele avô, contrariamente ao esperado, nada fez. Limitara-se a observá-la pelo canto do olho à porta do Café Girassol.

    – Chegamos há um mês de África, meu pai. Prepara-se o início da guerra em Moçambique. Quisemos regressar para que a Maria não fosse obrigada a viver em clima de medo e sobressaltos. Tivemos muito receio. Há pouco tempo, fomos chamados à PIDE para interrogatório por termos assinado um documento sobre a autodeterminação de Moçambique. Nunca se sabe o que pode acontecer. Além disso, o desfecho é inesperado. Por enquanto, estamos a viver em Ponte de Lima, em casa de minha mãe. Hoje resolvemos vir dar um passeio até Viana. Queria que, pelo menos, conhecesse a sua neta. Já está com seis anos. Sabíamos que estaria por aqui a estas horas.

    – Gostei de vos

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