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Entre a palavra, o discurso e o texto: caminhos filológicos
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E-book291 páginas3 horas

Entre a palavra, o discurso e o texto: caminhos filológicos

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Sobre este e-book

Os grupos de pesquisa Núcleo de Estudos Lexicais (NEL) e Edição e Estudo de Textos (GPEE), ambos cadastrados na CAPES/CNPq, reuniram-se para discutir a língua e suas linguagens. Dessas discussões, nasceu esta obra, que a Appris Editora apresenta ao público de todas as áreas. Entre a Palavra, o Discurso e o Texto vem preencher uma das lacunas existentes no mercado editorial brasileiro, oferecendo uma obra que reúne textos produzidos por especialistas de diferentes centros de pesquisa. São 12 capítulos independentes, divididos em três partes. Mas, apesar de divergentes, os textos aqui apresentados estão interligados por um fio condutor, formando uma unidade coerente e coesa, ao abordarem aspectos diferentes dos estudos filológicos, que são a base de todas as ciências da língua. E, entre a palavra, que nomeia o mundo, o discurso, que circula nesse mundo, e o texto, que o documenta, os autores trazem em seus escritos uma incursão filológica, estudando a língua em toda a sua amplitude, assim como os textos que a documentam.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547301682
Entre a palavra, o discurso e o texto: caminhos filológicos

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    Entre a palavra, o discurso e o texto - Celina Márcia de Souza Abbade

    brasileira

    SUMÁRIO

    PARTE 1

    ENTRE A PALAVRA

    1 O TERMO MÉDIUM E SEUS DERIVADOS À LUZ DO ESPIRITISMO 

    CELINA MÁRCIA DE SOUZA ABBADE

    2 LINGUAGEM E IDEOLOGIA NOS VERBETES DO DICIONÁRIO 

    NELLY CARVALHO

    3 MONTANDO UM DICIONÁRIO: COMO DEFINIR? 

    LÚCIA FULGENCIO

    PARTE 2

    ENTRE O DISCURSO

    1 FILOLOGIA E AS TEORIAS DO DISCURSO 

    JOÃO ANTONIO SANTANA NETO

    2 OS RITUAIS DA BOA MORTE: AS PRÁTICAS CULTURAIS E A CONSTRUÇÃO DO ETHOS EM DOCUMENTOS COLONIAIS TRASLADADOS NO LIVRO VELHO DO TOMBO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA 

    NORMA SUELY DA SILVA PEREIRA

    3 EDITORIAIS DO ECHO SANTAMARENSE: UM ESTUDO DAS ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS

    ORLIVALDA DE SOUZA REIS

    GILBERTO NAZARENO TELLES SOBRAL

    PARTE 3

    ENTRE O TEXTO

    1 CARTAS E SONETOS DE PEDRO I E II - CARTAS DA CORTE

    MANOEL MOURIVALDO SANTIAGO-ALMEIDA

    2 OLHAR PARA SI: DOUTOR REMÉDIOS MONTEIRO E SUAS MEMÓRIAS 

    RITA DE CÁSSIA RIBEIRO DE QUEIROZ

    3 DOCUMENTOS DA MEMÓRIA TEATRAL NA TRAMA DO ARQUIVO E DA DITADURA

    ROSA BORGES DOS SANTOS

    4 TEXTO E MEMÓRIA: A EDIÇÃO DE DOCUMENTOS MANUSCRITOS DO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DA CIDADE DO SALVADOR 

    GILBERTO NAZARENO TELLES SOBRAL

    5 UM OLHAR SOBRE OS DOCUMENTOS QUINHENTISTAS DO LIVRO VELHO DO TOMBO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA 

    MARIA DAS GRAÇAS TELLES SOBRAL

    6 UMA LEITURA FILOLÓGICA DE ALGUNS ANÚNCIOS VEICULADOS EM PERIÓDICOS DO SÉCULO XIX 

    MARIA DA CONCEIÇÃO REIS TEIXEIRA

    AUTORES

    APRESENTAÇÃO

    Reuniram-se, 12 especialistas de diferentes centros de pesquisa do país, para nos brindar com alguns dos resultados de suas pesquisas desenvolvidas, tendo como objeto material de estudo a palavra, o discurso e o texto. O resultado das constantes rodas de troca de experiências resultou na gestação do livro Entre a palavra, o discurso e o texto: caminhos filológicos que ora apresentamos.

    Organizamos esta obra em 3 partes: Entre a palavra, Entre o discurso, Entre o texto.

    A primeira parte, Entre a palavra, é composta de 3 capítulos que abordam questões lexicais: no Capítulo 1, Celina Márcia de Souza Abbade nos oferece O termo médium e seus derivados à luz do Espiritismo. Como o próprio nome do capítulo nos sugere, a autora, à luz dos pressupostos da Terminologia, analisa o termo médium e seus derivados na e para a doutrina espírita. Palavra de origem latina que foi apropriada pela doutrina espírita para designar as pessoas portadoras de mediunidade, médium também deu origem a outros termos como: mediunididade, medianímico, mediúnica. O Capítulo 2, Linguagem e ideologia nos verbetes do dicionário, Nelly Carvalho analisa os verbetes homem e mulher em diferentes dicionários correntes da língua portuguesa e os aspectos relacionados à linguagem e à ideologia. A autora constata que os dicionaristas dão tratamento polissêmico aos termos e que, no discurso dicionarizado sobre homem/mulher, a mulher é nomeada como inconsequente, medíocre e submissa, por natureza, por comportamento, enquanto o homem nasce corajoso, viril e forte, representando os verdadeiros valores morais da sociedade. Encerrando essa parte, o capítulo 3 Montando um Dicionário: como definir?, fica por conta de Lúcia Fulgêncio que analisa o texto lexicográfico, verificando a composição do discurso de dicionário, especialmente a tessitura de um verbete e a linguagem utilizada na definição de entrada.

    Na segunda parte, Entre o discurso, temos 3 capítulos que, mediados pelas lentes da Análise do Discurso e da Teoria da Argumentação, abordam aspectos e/ou discursos diferentes. O primeiro capítulo, Filologia e as teorias do discurso, João Antônio de Santana traz uma reflexão sobre a relação entre a Filologia e as contemporâneas teorias do discurso. Perpassando os olhos sobre os compêndios clássicos da Filologia, observa-se que esta apresenta três funções: substantiva, adjetiva e transcendente, na qual o texto deixa de ser um objeto em si mesmo da tarefa filológica para se transformar num instrumento que permite ao filólogo reconstruir a vida espiritual de um povo ou de uma comunidade numa determinada época. É, justamente, na função transcendente da Filologia que as teorias do discurso contemporâneas atuam. O Capítulo 2 fica por conta de Norma Suely da Silva Pereira, em Os rituais da boa morte": as práticas culturais e a construção do ethos em documentos coloniais trasladados no Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia", com o auxílio da Diplomática e de pressupostos da Análise do Discurso, propõe uma reflexão acerca dos aspectos do ethos construído por testadores da Bahia colonial e das condições históricas e sociais de produção desses documentos, a partir da análise de testamentos encontrados no Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia. Fechando a segunda parte, o terceiro capítulo é o de Orlivalda de Souza Reis e Gilberto Sobral Sobral, Editoriais do Echo Santamarense: um estudo das estratégias argumentativas. Após exaustiva busca em acervos baianos, os autores reúnem um conjunto de editoriais e, à luz dos operadores de leitura oferecidos pela Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca, analisam as estratégias argumentativas utilizadas em defesa da manutenção da escravidão pelos escravagistas do Recôncavo baiano.

    Entre o texto, título da terceira parte, é composto por 6 capítulos em que seus autores lançam olhares diferentes sobre o texto. No primeiro capítulo, intitulado Cartas e sonetos de Pedro I e II, Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida apresenta 2 manuscritos autógrafos de D. Pedro I – uma declaração secreta e um Sonetto sem pezo nem Medida que dizem muito do pouco que o senso comum lhe atribui. As boas do primeiro imperador do Brasil vêm à superfície sustentadas pelo notório ditado popular que, como todo provérbio, desde o latino scripta manent, dificilmente mente. Por à mesa esse experimento é a proposta desta conversa que deseja ser desmedida, sem peso, sem segredo e, ao contrário do que pediria todo soneto ou declaração cartorial, distante de qualquer formalidade, assim como são as cartas atribuídas ao, ainda, menino D. Pedro II que, por sua vez, trazem algumas verdades e suscitam outras perguntas. O capítulo dois fica a cargo de Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz, Olhar para si: Doutor Remédios Monteiro e suas memórias, revisita à edição diplomático-interpretativo do diário de Doutor Remédios Monteiro de sua autoria a partir de um olhou para si. Na leitura que empreende, traz à tona as reminiscências do passado de Doutor Remédios Monteiros evidenciando o seu legado como texto memorialístico e documento histórico que fornecem dados histórico-culturais tanto locais quanto nacionais. No capítulo terceiro, em Documentos da memória teatral na trama do arquivo e da ditadura, Rosa Borges dos Santos mostra os arquivos e acervos como lugares de memória para ler literatura e teatro, através da proposta de construção de um inventário e da edição de textos teatrais censurados e de outros documentos e materiais a eles associados em um arquivo hipertextual, tornando-se objeto das críticas filológica, genética e sociológica. O quarto capítulo fica a cargo de Gilberto Nazareno Telles Sobral, com Texto e memória: a edição de documentos manuscritos do arquivo histórico municipal da cidade do Salvador, concebendo memória enquanto processo de aquisição, armazenamento e recuperação de fatos diversos por parte de algum indivíduo, o qual está diretamente ligado ao processo de construção de sua identidade e memória social como sendo fator indissociável de identidade de um povo, aborda os manuscritos – livros de registro de Cartas à Sua Majestade, nos séculos XVII e XVIII, e requerimentos da população enviados à Câmara, documentos do livro Identidade de Pretos, portarias e editais – como documentos que fornecem uma visão mais ampla do cotidiano da Cidade da época. No quinto capítulo, Maria das Graças Telles Sobral em Um olhar sobre os documentos quinhentistas do Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia, que discute as principais dificuldades relacionadas à sua leitura e alguns aspectos da memória da sociedade quinhentista a partir da edição de O Livro Velho do Tombo, livro mais antigo dessa coleção pertencente ao acervo do Mosteiro de São Bento da Bahia. No sexto e último capítulo intitulado Uma leitura filológica de alguns anúncios veiculados em periódicos do século XIX, Maria da Conceição Reis Teixeira apresenta os percalços da pesquisa em acervo documentais baianos com periódicos ao tempo em que propõe uma edição interpretativa para 36 anúncios de compra, venda, aluguel e fuga de escravos veiculados no Diário da Bahia entre julho e outubro de 1871. Oferece ainda alguns comentários a respeito dos nomes designativos de cor e/ou etnia nos anúncios.

    Esperamos que este livro possa trazer contribuições nesses 12 capítulos independentes, divididos em 3 partes, mas que, apesar de divergentes, os textos aqui apresentados estão interligados por um fio condutor, formando uma unidade coerente e coesa, ao abordarem aspectos diferentes dos estudos filológicos, que são a base de todas as ciências da língua. E, entre a palavra, que nomeia o mundo, o discurso, que circula nesse mundo, e o texto, que o documenta, os autores trazem em seus escritos uma incursão filológica, estudando a língua em toda a sua amplitude, assim como os textos que a documentam.

    PARTE 1

    ENTRE A PALAVRA

    CAPÍTULO 1

    O TERMO MÉDIUM E SEUS DERIVADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

    Celina Márcia de Souza Abbade

    1.1 Introdução

    Os termos nada mais são do que palavras de uma determinada especialidade seja ela uma ciência, uma teoria, uma ideia. São palavras que expressam conceitos e não significados, ou seja, um termo define a coisa e não a significa. Diferente da palavra que pode significar muitas coisas a depender do contexto em que esteja inserida, o termo possui conteúdo específico. Isso nos leva a concluir que o conceito antecede a denominação. Primeiro conceituamos e, em seguida, nomeamos esse conceito. Logo, o que faz de um signo linguístico um termo é o seu conteúdo específico enquanto parte de determinado campo. Assim, o conceito é o responsável por tornar uma palavra um termo. E este termo é estudado a partir da Terminologia, ramificação dos estudos lexicais que surge, juntamente, com o afloramento de novas especialidades.

    Se as palavras existem para nomear as coisas do mundo, em cada cultura, em cada sociedade, em cada época, teremos palavras que possam representar essas coisas. O vocabulário de um grupo ou até mesmo de uma pessoa é composto por palavras selecionadas e escolhidas entre tantas outras que compõe o acervo lexical de uma língua. Escolhas estas que são feitas a partir das palavras que são apresentadas àquela pessoa. E isso vai depender muito de onde ela nasça, do meio social em que esteja inserida, dos hábitos que possui etc. E, ainda para compor esse vocabulário, existem as palavras inventadas por quem as profere.

    Junto a esses fatores, não podemos esquecer a dinamicidade da língua por ela ser um organismo vivo. Se tudo que é vivo está sempre se modificando, a língua não poderia ser diferente: a cada dia novas palavras vão surgindo, outras são utilizadas com novos significados, outras, ainda, esquecidas ou tomadas de empréstimo de outras línguas. Isso porque a vida é pulsante e dinâmica. E tudo que está vivo é passível de transformações.

    Nos estudos linguísticos, a palavra talvez seja aquela que mais dê conta dessa dinamicidade linguística. Como num processo mágico, palavras surgem e somem; significam algo hoje e amanhã têm um conceito totalmente divergente; ultrapassam as fronteiras linguísticas e invadem outras nações se afirmando de tal forma na língua que, para muitos, passarão como nativas. Assim são as palavra: surgindo cada vez que algo novo surge no mundo; e se adaptando a novas formas, novas pronúncias, novos conceitos. E a única certeza que temos de uma palavra é a de que, se ela existe, é porque existe a coisa que ela nomeou. Nem tudo que existe no mundo é nomeado, mas tudo que se percebe no mundo, passa a ter uma identidade, uma história e, claro, uma palavra para significá-la.

    Assim a palavra é tão infinita quanto o número de coisas que possa ser percebido por quem a profere. Nenhum povo conseguirá um léxico que dê conta de todas as coisas que possui, de todos os sentimentos, de todas as ações. Por isso, a língua em sua dinamicidade, passa por ambiguidades, por relações sinonímicas, ou até mesmo, por falta de uma palavra para definir ou nomear algo que surge pela primeira vez.

    No momento em que alguma especialidade, ciência, religião precisam de termos próprios porque as palavras existentes não conseguem dar conta do que precisam expressar, esses termos são criados e seus conceitos definidos. E, segundo muitos estudiosos, só então poderemos dizer que surgiu verdadeiramente aquela especialidade. Como exemplo, podemos citar Benveniste:

    A constituição de uma terminologia própria marca, em toda ciência, o advento ou o desenvolvimento de uma conceitualização nova, assinalando, assim, um momento decisivo de sua história. Poder-se-ia mesmo dizer que a história particular de uma ciência se resume na de seus termos específicos. Uma ciência só começa a existir ou consegue se impor na medida em que faz existir e em que impõe seus conceitos, através de sua denominação. Ela não tem outro meio de estabelecer sua legitimidade senão por especificar seu objeto denominando-o, podendo este constituir uma ordem de fenômenos, um domínio novo ou um modo novo de relação entre certos dados. O aparelhamento mental consiste, em primeiro lugar, de um inventário de termos que arrolam, configuram ou analisam a realidade. Denominar, isto é, criar um conceito, é, ao mesmo tempo, a primeira e última operação de uma ciência. (BENVENISTE, 1989, p. 252)

    Com o Espiritismo não foi diferente: no momento em que se começou a estruturar seus princípios e crenças, novos termos foram surgindo. E foi assim que um professor francês, no século XIX, precisou criar palavras ou ressignificar outras já existentes para escrever uma nova doutrina que buscava conciliar os conhecimentos científicos, com questões filosóficas e religiosas.

    O Espiritismo chegou às livrarias no século XIX, momento em que as ciências afloravam na Europa. A necessidade de tornar algo científico levou estudiosos da época a buscarem métodos e objetos próprios para os seus estudos. E nesse período, diversas propostas teóricas em vários campos das ciências começam a dar os primeiros passos: o evolucionismo de Charles Darwin, as Tabelas Periódicas dos professores de química Dmitri Mendeleev e Meyer, o Positivismo de Auguste Comte etc.

    Foi nesse clima de transformações, contrariando o tradicionalismo religioso que negava qualquer manifestação científica fora de seu cânone, que um professor e estudioso das ciências experimentais deu início a uma nova doutrina e um nome também novo para a mesma: nasce o Espiritismo. As correntes espiritualistas, a partir dali, tinham uma nova perspectiva de estudo que seriam traduzidas a partir de cinco obras escritas de forma quase que sequenciada e que serviram de base para o presente estudo e que formaram o Pentateuco Espírita: O Livro dos Espíritos (KARDEC, 1857), O Livro dos Médiuns (KARDEC, 1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (KARDEC, 1864), O Céu e o Inferno (KARDEC, 1865) e A Gênese (KARDEC, 1868).

    Esse professor era Hippolyte Léon Denizard Rivaill (1804-1869), um estudioso e pedagogo que em sua própria casa organizava cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia e outras ciências que instigaram as mentes do século XIX e se tornaram terreno fértil ajudando nas revoluções científicas da época.

    Vale ressaltar aqui que o professor Rivaill não teve a pretensão de criar nada novo, seu intuito foi compilar e organizar os resultados de sua pesquisa fundamentada primordialmente no método experimental para tentar provar a existência de fenômenos que à época habitavam os campos da imaginação e da fantasia. Por prudência, os registros contam que, para não se aproveitar de seu nome ilustre de pesquisador na sociedade científica francesa da época, o professor Rivaill apresentou-se a partir de um pseudônimo: Allan Kardec.

    Dessa forma, se utilizando do método experimental, Allan Kardec deu início ao Espiritismo, uma doutrina que se diz além de religião, filosofia e ciência. O próprio nome da doutrina já é um termo criado por Kardec, com o intuito de não se confundir com outro termo já existente, o espiritualismo, utilizado para definir todas as correntes de pensamento que acreditavam em algo mais além da via corpórea. Porém, ainda, que o Espiritismo pertença às correntes espiritualistas, ele tem outras crenças que diferem dessas correntes. Assim, todo espírita é um espiritualista, mas a recíproca não procede.

    E, assim, como para nomear a doutrina e os seus seguidores, Allan Kardec precisou criar outras palavras ou ressignificar as já existentes para dar conta dos fenômenos e crenças que queria definir ou explicar. Dessa forma, foram-se delineando os termos que compõe a doutrina, pois, como o próprio Kardec inicia a sua primeira obra: Para as coisas novas necessitam-se de palavras novas, assim o que quer a clareza a linguagem para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo dos mesmos vocábulos (KARDEC, 1857/2009, p. 7).

    Surge, assim, a vontade de elaborar uma obra que contemplasse esses termos: um Dicionário Terminológico de Termos Espíritas que está sendo preparado e deverá ser apresentado em breve. Esse dicionário será composto a partir do levantamento o léxico espírita, com base nas cinco obras de Allan Kardec que iniciaram a codificação espírita e compõe o Pentateuco. A intenção é a de contribuir para o desenvolvimento da pesquisa em Terminologia no que concerne ao vocabulário espírita, uma vez que não temos conhecimento de tal tipo de trabalho até então, mesmo conhecendo alguns glossários espíritas que não foram elaborados na perspectiva linguística e terminológica.

    Para este capítulo, a proposta é a lexia médium, palavra de origem latina que foi apropriada pela doutrina espírita para designar as pessoas portadoras de mediunidade, outra lexia que foi criada pela doutrina e será abordada neste trabalho. Mediunididade, medianímico, mediúnica são termos derivados de médium e que compõem a terminologia espírita. Tal proposta faz parte de um projeto mais amplo, o de realizar um vocabulário terminológico do Espiritismo, abrangendo obras espíritas de relevância, contribuindo, assim, para tornar cada vez mais científico e, claro, as propostas dessa doutrina que tem no Brasil a maior concentração de adeptos do mundo.

    1.2 O

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