Pancadas
De Rafael Gobbo
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Sobre este e-book
Acidente automotivo, bombardeio no Oriente Médio, navegadores turcos em mares mediterrâneos, o último dia de um jovem, uma luta de boxe, uma conversa de velhos, uma colecionadora de livros, uma liga da justiça mirim irlandesa e relações familiares conflituosas estão entre os assuntos abordados no livro.
As breves histórias, com reviravoltas e finais inesperados, foram consequência da leitura de grandes mestres da literatura nacional e estrangeira. Machado de Assis, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Horacio Quiroga, Samuel Beckett e Oscar Wilde compõem, entre tantos outros, a lista de escritores que influenciaram, em pequena ou grande medida, o processo inventivo do autor. O resultado foi a criação de Pancadas: uma obra breve, mas contundente; doze pequenas histórias precisas e incisivas.
O leitor levará, a cada conto lido, pancada atrás de pancada, e sairá da leitura sentindo que cada uma delas valeu a pena. É um livro para ler em uma sentada só e sair revigorado.
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Pré-visualização do livro
Pancadas - Rafael Gobbo
www.eviseu.com
Sumário
A espera
A cerejeira(chá da tarde)
Diário de bordo
Liga da justiça (Simon)
Roseada infância
A colecionadora de livros
Sofrimentos do jovem Jonas
Teotônio e Teobaldo
O ponto de ônibus
Um telefonema de natal
12º round
Jornalista em conflito
Sobre o autor
Sobre a Viseu
Para Alice, Artur, Daniel, Fernando e Suzana.
A espera
Era uma manhã chuvosa e enevoada. Ele mal podia enxergar um palmo à frente. Estava na plataforma da estação de trem, esperando o próximo comboio. Depois de anos sem ver a mãe, decidiu finalmente reencontrá-la. Não sem o temor de que pudesse ocorrer entre eles um embate. Uma colisão. Ambicionava a superação de todas as brigas e discussões que tiveram, mas temia um possível choque; receava mais uma pancada. Mesmo assim optou por revê-la. Afinal de contas, eram da mesma carne, mesmo sangue.
O trem estava meia hora atrasado, e ele nunca fora uma pessoa paciente. Começou a lembrar-se da infância e da casa onde crescera, enquanto checava, incessantemente, seu relógio de pulso, na esperança de tomar o trem e chegar, antes de escurecer, na casa em que morou com a família quando criança. Teve uma ideia: iria à pequena loja (tão conhecida e frequentada na meninice) que ficava do outro lado da rua, saindo da estação, para comprar um suvenir para a mãe.
Enquanto se dirigia para a saída, a passos largos e ligeiros, distraía-se com pensamentos e devaneios que invadiam sua mente e nem se deu conta do ronco do motor do grande e extenso veículo que se aproximava. Logo que deu o primeiro passo em direção à rua, descendo a calçada, o ônibus foi de encontro a ele, acertando-o com força. Uma baita pancada! Seu corpo foi arremessado cinco metros à frente.
Em casa, a mãe fazia os preparativos para receber o filho. A mesa já estava posta, com os mesmos utensílios, apetrechos e louças usados há anos. Só a toalha que cobria a mesa é que era nova. Aquecia a água para o café, que tomaria enquanto esperasse aquele que um dia já fora seu menino, e que hoje possivelmente deveria ser um estranho. Já são quinze pras cinco, será que ele não vem?
A cada gota da torneira mal fechada que caia na pia da cozinha da casa da mãe, o filho, estirado no meio da rua, inalava, com dificuldade, o pouco de ar que ainda entrava em seus pulmões. Uma gota; expiração e inspiração eram ofegantes e mais espaçadas entre si. Mais uma gota; sentiu o gosto ferroso de sangue na boca. Mais uma gota; mal conseguia respirar, o ar que entrava e saia era quase inexistente. Mais uma