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E-book163 páginas2 horas

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Sobre este e-book

O fracasso escolar de crianças multirrepetentes foi justificado durante anos por fatores biológicos e sociais externos à escola, e esse conceito superficial é ainda muito presente em discursos de docentes e acadêmicos. Mas será que a escola tem ouvido a opinião das crianças? Que significados tem a educação para esses sujeitos com dificuldade de aprendizagem que vivenciaram a reprovação e continuam tentando de alguma forma aprender? Pensando nessas questões, a obra Repetência: a avaliação sob a ótica das crianças vem permear discussões e ponderações em torno desses estudantes, muitas vezes até rotulados como não-aprendentes, destacando a relevância da avaliação da aprendizagem escolar e trazendo para a reflexão sobre esse problema a voz das próprias crianças multirrepetentes. O livro destaca o contexto escolar como espaço social de referência e inúmeras aprendizagens, retratando-o como um ambiente em que muito se fala das crianças e pouquíssimo com as crianças. Juntamente com pensamentos de autores e pesquisadores que discorrem seus estudos nos campos de avaliação, currículo e ensino-aprendizagem, a autora problematiza as relações entre professor, currículo, avaliação e criança, suscitando considerações acerca dos sentidos que as escolas vêm imprimindo nesses estudantes que apresentam dificuldade de aprendizagem e fracassam ao reprovar de ano, por não alcançarem os conhecimentos necessários para o ano escolar seguinte. Uma leitura indispensável a todos que se interessam e acreditam na educação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547301200
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    Repetência - GABRIELA MAIA FISCHER

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO - POLÍTICAS E DEBATES 

    Não sou esperançoso por pura teimosia, mas por imperativo existencial histórico.

    Não quero dizer, porém, que porque esperançoso, atribuo à minha esperança o poder de transformar a realidade e, assim convencido, parto para o embate sem levar em consideração os dados concretos, materiais, afirmando que minha esperança basta. Minha esperança é necessária mas não é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela a luta fraqueja e titubeia. Precisamos de esperança crítica, como o peixe necessita de água despoluída.

    Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas [...] Não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã.

    Sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o embate mas, sem o embate, a esperança, como necessidade ontológica, se desarvora, se desendereça e se torna desesperança que, às vezes, se alonga em trágico desespero. Daí a precisão de uma certa educação da esperança.

    (Paulo Freire)

    AGRADECIMENTOS

    Deem graças ao Senhor porque ele é bom;

    o seu amor dura para sempre.

    (Salmos 107:1)

    Primeiramente, ao meu amado Deus. Único digno de todo louvor e glória, que tem me capacitado de maneira especial em toda a trajetória profissional, orientando-me e apontando-me caminhos para que a diferença na educação possa acontecer de maneira amorosa e competente.

    À minha família e aos amigos, que sempre me proporcionaram apoio incondicional. Em especial, ao meu esposo, Carlos, companheiro e grande incentivador do meus trabalhos e estudos dedicados à Educação. Obrigada por se fazerem parceiros nessa jornada.

    À doutora Verônica Gesser, pela parceria empreendida não apenas na produção deste livro, mas em todos os momentos de formação, conduzindo-me por meio de suas sábias palavras e incontestável competência na minha formação profissional e pessoal. És uma inspiração para mim.

    Agradeço ainda à querida professora doutora Sandra Zákia Sousa, que instigou-me impelindo-me a alcançar os objetivos da pesquisa. Suas contribuições foram de grande relevância. Foi uma honra poder contar com sua participação na minha trajetória profissional. Você sempre será uma referência para mim.

    Recebe também meu agradecimento a professora doutora Valéria Ferreira, que possibilitou pertinentes discussões nas aulas relacionadas à pesquisa com crianças, suscitando-me na escolha de ouvir-las. Sua gestão dedicada na coordenação do PPGE da Univali torna o programa um espaço formativo de mestres e doutores comprometidos com a Educação, no anseio de alcançarmos mais qualidade num país onde essa pauta é pouco valorizada.

    Registro aqui meu carinho a todos os demais professores e equipe do PPGE, que, com qualidades distintas e complementares, realizam um trabalho comprometido que reflete não apenas na vida acadêmica dos discentes, mas também no sucesso de todo o programa em nossa universidade, escrevendo uma linda história.

    Agradeço, por fim, à Secretaria de Educação, aos gestores e professores das escola participantes, aos pais e, principalmente, às crianças, que muito falaram e grandiosamente contribuíram com seus saberes, para reflexões no âmbito da educação. Muito obrigada!

    APRESENTAÇÃO

    A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo

    o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele, e,

    com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável

    não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens.

    (Hannah Arendt)

    O fracasso nas escolas, seguido de repetência, evasão e segregação, é um incômodo crônico muito presente na história da educação brasileira (PATTO, 2008). Esse fenômeno perverso, ao qual está submetida boa parcela de nossas crianças, é motivo de estudos e pesquisas no Brasil há mais de cinco décadas. A partir de um levantamento bibliográfico realizado no site da Capes sobre as produções científicas no Brasil em torno da temática fracasso escolar, pude perceber que há um significativo volume de estudos que permeiam diferentes campos científicos, entre eles o da sociologia, psicologia e educação. No século XX, destacam-se estudos condensados pelos pesquisadores Patto¹ (2008), Ribeiro (1991), Collares (1989; 1995), Moysés (1989; 1992) e Lahire (1997). Seguindo ao século posterior, estudos de Carvalho (2001; 2004; 2005), Bahia (2002), Barreto e Sousa (2005), Castro (2006), Jacomini (2008), Sirino (2009) e Osti (2010), dentre outros, vêm reiterando as pesquisas iniciais, trazendo enfoques com caráter cada vez mais qualitativo.

    Os trabalhos relacionados à área da Educação contemplam a temática do fracasso escolar como central ou ainda como mobilizadora para a realização de pesquisas em várias modalidades da Educação, tais como ensino fundamental e médio, E.JA. e ensino superior, denotando a inquietação que esse problema causa. No entanto, anualmente, professores continuam tendo contato com crianças que apresentam dificuldades em aprender o que se quer ensinar, sujeitos que ao término do ano letivo são reprovados, ou, ainda, que por motivo de defasagem de idade-série acabam passando para a série seguinte sem saber os conteúdos. Ou seja, ao longo de mais de 20 anos após a renomada discussão trazida por Ribeiro (1991), a repetência continua ocupando um papel central na escola.

    De acordo com Crahay (2006), desde o início do século XX pesquisadores² dedicam-se em estudos para compreender com rigor os efeitos da repetência na escola. Conforme o autor, esses conhecimentos produzidos denotaram que a reprovação é ineficaz, ou seja, não se constitui como um meio de ajuda para as crianças com dificuldades de aprendizagem. Contudo, a persistência da reprovação no âmbito escolar é vigente. Para Charlot (2000), não tem como negarmos a realidade de determinadas fragilidades na escola diante da perpetuação do "sintoma" chamado fracasso escolar.

    Nos estudos já realizados nos últimos dez anos, pesquisadores já ouviram e têm ouvido os professores, os gestores, alguns até os pais; mas e as crianças? Rocha (1999) ressalta que existe um grande número de conhecimentos produzidos pela ótica adulta, porém produções direcionadas aos saberes infantis são precárias no meio acadêmico. Na problemática do fracasso escolar o volume de produções pelo viés da criança também é pequeno, porém tem crescido nos últimos anos. Patto et al. (2004) afirmam que pesquisar sobre as relações e dimensões da escola, trazendo os participantes da vida escolar como sujeitos e não como meros objetos, é um fator positivo que vem sendo mais contemplado em pesquisas. Na maioria dos estudos já realizados, apesar de muito se falar das crianças, o que emerge sobre o fracasso é a ótica da percepção adulta, carecendo a visibilidade do mundo infantil por meio da experiência das próprias crianças. Ao pensar que o insucesso escolar quase sempre é experienciado com dor, considerando que a criança é a protagonista da história, esta pesquisa poderá contribuir com os estudos já existentes sobre o assunto, possibilitando um repensar a respeito do fracasso escolar sob a ótica infantil. A partir de uma escuta e um olhar sensíveis, propus-me a refletir sobre o que as crianças que vivenciaram a reprovação mais de uma vez pensam sobre o contexto escolar na qual estão inseridas.

    Em síntese, a pesquisa teve como objetivo identificar elementos que possam desvelar os significados que o contexto escolar tem para os estudantes multirrepetentes. Como resultado, poderá subsidiar reflexões e ações pontuais ao serviço infantil, por meio de elementos que surgem da percepção das próprias crianças, potencializando a prática pedagógica com esses sujeitos que possuem histórico de fracasso. As pesquisas atuais voltadas a uma Sociologia da Infância (SARMENTO, 2009; CORSARO, 2009) têm crescido no meio acadêmico, propondo reflexões acerca desses indivíduos como objeto de investigação sociológica. Esses estudos têm levantado conhecimentos construídos com as crianças, por meio de seus saberes, e não apenas sobre elas (CAMPOS, 2008). A necessidade de ouvi-las nas pesquisas se faz na medida em que se reconhece sua competência para a ação, não só em falar, mas também em externalizar suas significações a respeito de suas experiências. Nessa perspectiva, Cruz salienta que:

    [...] busca-se nesta escuta confrontar, conhecer um ponto de vista diferente daquele que nós seríamos capazes de ver e analisar no âmbito do mundo social de pertença dos adultos. No entanto, o que as crianças fazem, sentem e pensam sobre sua vida e o mundo, ou seja, as culturas infantis, não têm sentido absoluto e autônomo ou independente em relação às configurações estruturais e simbólicas do mundo adulto, tampouco são mera reprodução. As

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