o avesso da lâmpada

De Demetrios Galvão

o avesso da lâmpada trata de uma reafirmação, sempre ampliada, de uma poética que já está lá, nos livros anteriores, e segue em sua sempre "nova geografia de ideias", na qual o sonho e a visão imagética são matéria-prima, mas não só. ainda que as imagens (oníricas, tão caras aos surrealistas) prevaleçam nos poemas mais prosaicos, é visível também uma preocupação formal com a concisão, o que o distancia (ainda que o diálogo com a tradição permaneça) daquele movimento e o distingue pela construção de uma linguagem própria e uma sintaxe singular, sabendo tratar-se de um trabalho árduo, esse da "arte com espinhos".

a temática dialoga com o aqui e o agora, desde o punk rock (the clash), passando pelo inevitável tema metalinguístico ("as palavras têm febre" ou "cultivo um sincretismo modulado"), culminando com a surpreendente série de 30 poemas "cidade rabiscada", que devo confessar, foram os que mais me tocaram.

a poesia (e eu diria toda a literatura) chamada moderna (e quando digo moderna vou até baudelaire) não escapou nem escapa do conflito travado entre o poeta e a complexidade urbana e humana da "cidade frankenstein", que ("entorpecidos de vertigens") habitamos, aquela que esconde poemas e que é escondida por eles.

inevitável não adentrar a esse "mapa devastado" e sua ondeante geografia (a de todos os sentidos). senti aqui um poeta seguro de suas escolhas e sem medo de revelar (vide as epígrafes) os diálogos literários travados nessa trajetória. se, como diz o poeta, "a poesia é a arte do encontro", este encontro com a obra de demetrios galvão muito me acrescenta e ao desejável diálogo entre poetas e poesia

dalila teles veras

• Idioma: Português
• Editora: Editora Moinhos
• Data de lançamento: 20 de mar. de 2017
• ISBN: 9788592579302

Pré-visualização do livro

o avesso da lâmpada

demetrios galvão

para os amigos

eu me encontrei onde o real é fábula,

onde o sol recebe a luz da lua,

onde a música é pão de todo dia

e a criança aconselha-se com as flores.

murilo mendes

ama só aqueles de quem nasceu,

a quem deu vida e aos amigos

cujos afetos enraízam-se na alma.

donizete galvão

Sumário

apresentação

o avesso da lâmpada

recanto

cine-mirante

rinocerontes da ternura

musculatura cinética

a poesia não dá respostas

infinito volúvel

arte com espinhos

o avesso da lâmpada

paisagem gasosa

tudo chega de um mundo antiquíssimo

um parkinson de diversões na mente

o silêncio das formas

kahwah # 1

kahwah # 2

acordar

garganta de bronze

agricultura celeste

sonho hereditário

voz vegetal

volumes agudos # 1

volumes agudos # 2

besouro

a dor da palavra

de onde vêm as palavras?

metais pesados

correspondências # 1

correspondências # 2

correspondências # 3

vão

vão

olhos no varal

às vezes, encontro mortes de outras vidas

a voz do abismo

o declínio de um feudo obsoleto

cidades rabiscadas

i

ii

iii

iv

v

vi

vii

viii

ix

x

xi

xii

xiii

xiv

xv