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Formação moral e jogo na escola
Formação moral e jogo na escola
Formação moral e jogo na escola
E-book158 páginas2 horas

Formação moral e jogo na escola

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Sobre este e-book

Formação moral e formação educativa: dilemas em jogo defende o pressuposto de que a grande tarefa da educação moral, na perspectiva de formação educativa, é proporcionar às crianças possibilidades que as conduzam à conquista da autonomia. Uma pessoa moral implica em ser considerada como agente responsável por juízos e ações. Diante disso, este livro apresenta contos-dilema na perspectiva do jogo, construídos pelos próprios autores. Os contosdilema revelam uma possibilidade metodológica para as aulas de Educação Física e outras áreas de conhecimento que busquem uma prática pedagógica. Os dilemas encaminham o aluno a refletir sobre questões morais que podem desvelar vivências educativas repercutidas nas ações do cotidiano dos educandos. É uma obra que desafia ao professor de Educação Física suplantar a tradicionalidade do ensino e revelar um olhar formativo às diferentes manifestações da Cultura de Movimento, dentre elas o jogo. É indicada a todos aqueles que buscam discutir questões em torno da prática pedagógica na área da Educação e suas implicações no campo da formação moral, sendo direcionada também aos pais/responsáveis, uma vez que desperta reflexões pertinentes à condução formativa das crianças.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2017
ISBN9788547304119
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    Formação moral e jogo na escola - Glycia Melo de Oliveira Silva

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Dedicamos este livro à infância. Às crianças de hoje e às do amanhã, para que possam desfrutar a riqueza de viver dignamente a moralidade.

    PREFÁCIO

    Em uma corrida por equipes, na aula de Educação Física, a professora marcou a chegada com cones, mas Fabrício viu um dos seus colegas afastando o cone de sua equipe para frente, diminuindo para eles a distância. Como Fabrício deveria agir: contar à professora, ou não dizer nada e aproveitar para sair em vantagem na corrida? Para quase a totalidade das crianças escutadas pelos autores, não revelar essa injustiça seria errado. Na expressão de um menino de 9 anos: É melhor ganhar limpo do que ganhar roubando. Para o pensamento adulto, esse princípio de igualdade de condições está obviamente na base do sistema de justiça. Entretanto, o desenvolvimento da moral que deve ser destacado na justiça infantil é o da transição da moral, em que se deixa de obedecer a lei pelo medo de punição da autoridade e passa-se para o sentimento de respeito mútuo e solidariedade. De forma resumida, baseado em uma experiência real, esse é um dos contos-dilema usados pelos autores para analisar o desenvolvimento moral de crianças, a partir de experiências vividas no meio escolar. O que parece um dilema banal em uma situação de escola pode ser um vasto tema de educação moral para a vida social de todos, crianças e adultos. E sabemos quantos adultos, diante da concorrência desleal e da falta de cooperação na sociedade capitalista, não passariam por esse teste moral...

    Como ensinar a moralidade para crianças por meio de situações de dilemas, isto é, situações reais para exercer juízos morais em decisões práticas, no cotidiano do ambiente escolar? Mas, a moral também é um conjunto de valores abstratos e simbólicos que guiam nossas condutas práticas, o que está associado a uma socialização progressiva com elaborações reflexivas, enquanto se incorporam nas práticas da vida social as diretrizes culturais. No sentido sociológico dado por Anthony Giddens na obra A constituição da sociedade (2009), a moral pode ser vista como um conhecimento mútuo inerentemente prático, mas adquirido entre a consciência discursiva e a consciência prática dos atores sociais. Para uma pedagogia escolar, como incorporar a moral na educação de crianças, especialmente no caso da Educação Física, quando muitos educadores veem nessa disciplina somente as dimensões do sensório-motor e da ludicidade? Podemos dizer, de acordo com a perspectiva piagetiana, assumida com maestria nesse estudo, que o desenvolvimento moral infantil, mesmo partindo das interações sociais e experiências concretas, compreende claramente uma reflexão sobre juízo de valor, como bem revelam os argumentos das crianças contidos neste estudo. Além de agregar à análise a competência das crianças em argumentar moralmente sobre suas decisões e atitudes, acredito que a leitura desta obra é capaz de esclarecer muitas das questões sobre a educação moral, apontando de forma perspicaz e pedagógica para novas formas de compreensão sobre a formação da moralidade entre as crianças.

    De fato, a formação moral das crianças está inscrita na obra de inúmeros autores, que, além de Piaget, também estão representados neste estudo, como Walter Benjamim, Lawrence Kohlberg, Paulo Freire, Yves de La Taille, entre outros. Essa preocupação está igualmente nas políticas educacionais, como se pode observar nos PCN da Educação Fundamental, lançados pelo MEC em 1997, que abordam (volume 8) as orientações para o tema da Ética. A questão que surge a partir das reflexões sobre o comportamento humano é a mesma que motiva este estudo: Como agir perante os outros?. Com a descrição e análise das respostas das crianças para os dilemas propostos, o leitor vai encontrar no texto expressões da rica capacidade infantil, nem sempre valorizada pelos professores e pela escola, para esse exercício reflexivo e prático visando à construção moral e à formação democrática do cidadão.

    Assim, é com um profundo respeito às vozes e às explicações das crianças que os autores desenvolveram a metodologia de pesquisa deste estudo, trazendo contribuições inovadoras para a abordagem dos dilemas morais vividos pelos pequenos. Eles são inspirados no método clínico de Piaget que, examinando o julgamento das crianças sobre dilemas morais, propôs as conhecidas fases sucessivas da formação do sujeito moral, da falta de conhecimento das regras da moral (anomia) à obediência absoluta das regras morais definidas externamente (heteronomia), antes de se desenvolver a capacidade de compreender por si próprio o valor moral das regras (autonomia). Nas crianças pesquisadas (7-10 anos), prevalece ainda a característica moral de que a autoridade do adulto é a justificativa exterior a ser seguida. Todavia, observou-se que muitas já argumentavam suas decisões com raciocínios mais próximos de uma moral autônoma, sem o cumprimento das regras ao pé da letra. Esse processo de assimilação e acomodação de novos esquemas morais indica a transição na mente da criança para um pensamento racional de alteridade e de compreensão simbólica da regra, como sensibilidade simultânea em relação ao outro e diante do valor social da regra.

    Como uma das conclusões do estudo, revelou-se que maioria das crianças estava orientada por comportamentos de generosidade e de alteridade, estando claramente dispostas a ajudar os colegas em suas dificuldades na escola. Alguns, porém, justificaram-se não pela compreensão de um padrão social altruísta, mas por uma espécie de cálculo social de um eventual benefício no futuro. O utilitarismo social parece moralmente mais compreensível do que o altruísmo, não apenas para as mentes infantis, mas também para o mundo adulto. Mas, as formas sociais da solidariedade são moralmente híbridas e, muitas vezes, controversas, já que interesses utilitaristas com fins de ganho convivem com autênticas expressões altruístas, baseadas na generosidade desinteressada. Se essa flexibilidade moral já é difícil de ser compreendida pelos adultos, com muito mais dificuldade ela poderia ser ensinada para as crianças, que ainda estão construindo a sua personalidade na transição entre a moral heterônoma e a moral autônoma.

    Se entendermos flexibilidade, não como oportunismo utilitarista para fins pessoais, mas como exercício coletivo de adaptação de valores e práticas ao contexto físico e social, é na contextualização escolar das formas do aprendizado moral que reside uma contribuição fundamental desta pesquisa com crianças. O desenvolvimento da moralidade infantil deve ser entendido também como uma totalidade sociológica, em que as regras, os valores e os símbolos são, simultaneamente, construções pessoais e estruturas ligadas às interações sociais. É nessa perspectiva que este livro traz a Educação Física na escola, como espaço para dialogar sobre os conflitos sociais, refletindo-se sobre valores que orientam a convivência cotidiana de alunos e professores, por uma socialização que valorize a autonomia e não a submissão, a justiça e não a desigualdade, o diálogo e não a violência, a solidariedade e não o egoísmo. Coerentemente, os autores defendem o que deve ser da competência escolar na articulação positiva entre vontade pessoal e valor social: despertar nos alunos o desejo de ser um sujeito moral, porque ninguém se forma sujeito moral por obrigação, mas sim por desejo, por reconhecer em determinada regra um significado moral. O desafio está lançado para todos os educadores, na escola e fora dela, com a consciência de que, enquanto ensinamos, também temos muito a aprender com as concepções morais das crianças.

    Boa leitura!

    Natal, março de 2016

    Adir Luiz Ferreira

    Universidade Federal

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