Santa Sede 9:: Crônicas de Botequim
De Rubem Penz
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Pré-visualização do livro
Santa Sede 9: - Rubem Penz
© Rubem Penz 2018
Produção editorial: Vanessa Pedroso
Revisão: Press Revisão
Fotos dos cronistas: Marcelo Leal
Capa: Editora Buqui
Logo: Giancarlo Carvalho
Editoração: Cristiano Marques
Produção de ePub: Cumbuca Studio
CIP-Brasil, Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros
P476s
Penz, Rubem
Santa sede 9 [recurso eletrônico] / Rubem Penz. - 1. ed. - Porto Alegre [RS] : Buqui, 2018.
recurso digital
Formato: ebook
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-8338-447-2 (recurso eletrônico)
1. Crônicas brasileiras. 2. Livros eletrônicos. I. Título.
18-53373 | CDD: 869.8 | CDU: 82-94(81)
Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644
23/10/2018 | 29/10/2018
Todos os direitos desta edição reservados à
Buqui Comércio de Livros Digitais Ltda.
Rua Dr Timóteo, 475 sala 102
Porto Alegre | RS | Brasil
Fone: +55 51 3508.3991
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APRESENTAÇÃO
Rubem Penz
Eu sou eu, e também sou cidade. Limita-me, por exemplo, a capacidade – ao mesmo tempo em que me expandem a sagacidade e a vivacidade. A mordacidade me tempera, a loquacidade escreve o destino, a simplicidade permeia e contorna esta persona cidade. Já sou meio velho, mas distante da caducidade. Múltiplo, tenho por forma e princípio a plasticidade. Abraço por motricidade, amo com cumplicidade, conduzo em organicidade. Neste livro, completo-me nos incríveis cronistas e, com isso, sou todo felicidade.
Ludicamente, o cronista percorre a cidade
Jorge de Sá
Basta dar uma voltinha pelas páginas dos seus grandes autores para constatar: como no título do livro de Javier Viveros, a crônica é um gênero urbano, demasiado urbano . Consolidado no Brasil a partir do século 20, principalmente na voz literária de Rubem Braga, o cronista vê, escuta e percebe como ninguém seu entorno, transpondo para as colunas do jornal as miudezas e grandiosidades da vizinhança. Atento, jamais circula de modo inocente. Sagaz, jamais deixa sem eco seus sutis rumores. Generoso, jamais guarda tais segredos apenas para si.
Assim sendo, eis o mote e o mérito da Safra 2018 da oficina literária Santa Sede: versar sobre a cidade. Seus nove cronistas foram convidados a percorrer as sinuosas vias da memória, dos afetos e do cotidiano para, em cada um dos capítulos, explorar os temas inerentes ao habitat urbano. Ora falando sobre parques, ora sobre vizinhos, percorrendo o mapa ou olhando as vitrines, diversas cidades ideais, imaginárias ou conflituosas permearam nossas noites de segunda-feira. O resultado é um livro saboroso a cada virada de página – ou seria de esquina? –, imprevisível e pulsante como o trânsito.
Tal como bairros, são particulares nossos espaços de fala. A presente safra traz a agilidade mordaz da Luca, combinada com as promessas de romance do Thomas; a memória infalível do Tom e os meandros do pensamento da Graciella. A inventividade da Soraia faz fronteira ao Sul com a contundência da Astúria, ao Norte com o humor ácido do Zorday, a Leste com a compreensão analítica da Jane e a Oeste com a verve indomável do Willy. E, se aqui pareço classificá-los, garanto: igual aos divertidos e inesquecíveis debates à mesa do Apolinário, seus textos darão um jeito de embaralhar qualquer premissa.
Nono livro de uma série ininterrupta nascida em 2010, quarto na estratégia de seguir um tema, a Santa Sede, Crônicas de Botequim 9 soma-se aos demais na receita sui generis de estudar literatura e de aprimorar a escrita. Ministrada intencionalmente na mesa de bar, com direito às interrupções do garçom e a toda sorte de interferência externa, tornou-se espaço de excelência na abordagem deste sedutor gênero literário. Reproduzindo de modo autêntico a rotina dos maiores expoentes de sua história, mereceu em 2016 o Prêmio Açorianos na categoria Destaque Literário – láurea que muito nos honra.
Porém, nada desse papo tem maior valor, perto do que está por acontecer agora: você, leitor, trilhar por nossos caminhos de criação, frase a frase. São 81 crônicas inéditas com paisagens indescritíveis, esperando sua companhia para serem descortinadas. Compartilhe conosco e venha morar em nosso coração. Boa leitura!
SUMÁRIO
NOSSA MESA
Era uma vez um pequeno-grande país
Zorday Prati
Fronteiras do desassossego
Soraia Schmidt
Universo e só
Thomas Einar Olsen
Abatumado
Jane Maria Ulbrich
Uma casa essencial
Graciella Tomé
Um romance, passageiro
João Willy
Meu santo é delicado
Astúria Vasconcelos
Esquinas
Tom Saldanha
Só por um tempo, basta?
Luca Boaz
À VISTA
Irresistível
Luca Boaz
O Bar do Almerindo II
Zorday Prati
(In)visibilidade
Soraia Schmidt
Vende-se o Ponto
Thomas E. Olsen
Conspiração
Jane Maria Ulbrich
As luas estão em paz
Graciella Tomé
Local seguro para a consciência
João Willy
Fome de quê?
Astúria Vasconcelos
Vara de marmelo
Tom Saldanha
GATOS PARDOS
Sonhos suspeitos
Tom Saldanha
Nova Iorque em pequenos pedaços
Luca Boaz
Insônia
Zorday Prati
Mia noite
Soraia Schmidt
In other words
Thomas Einar Olsen
Dessemelhanças semelhantes
Jane Maria Ulbrich
Uma noite ao dia
Graciella Tomé
Os animais da noite querem visibilidade
João Willy
Lavagem do Pôncio
Astúria Vasconcelos
A MESA AO LADO
Inundada paz
Astúria Vasconcelos
Aposta
Tom Saldanha
Isolamento
Luca Boaz
Até que um vazamento os separe
Zorday Prati
A menina do 5º andar
Soraia Schmidt
Relicário
Thomas Einar Olsen
Indizível motivação
Jane Maria Ulbrich
Rio 40°
Graciella Tomé
Por todos dias de nossa vida, até que a mudança nos separe
João Willy
ENGARRAFADO
A travessia de Joana
João Willy
Miss Lona
Astúria Vasconcelos
Intransitável
Tom Saldanha
Trânsito no divã
Luca Boaz
Cote D’azur é aqui
Zorday Prati
Monstro Submerso
Soraia Schmidt
Melodia entre as buzinas
Thomas Einar Olsen
No abandono do teu olhar
Jane Maria Ulbrich
Inércia real
Graciella Tomé
À NOSSA!
Nunca ideal nunca real nunca
Graciella Tomé
Morando nas cercanias da felicidade
João Willy
Ver a cidade
Astúria Vasconcelos
Utopia
Tom Saldanha
Contrastes e encruzilhadas
Luca Boaz
Com tesão é mole, Prefeito
Zorday Prati
Tempo de Brumas
Soraia Schmidt
A Arca de Noah
Thomas Einar Olsen
E se ele retornasse?
Jane Maria Ulbrich
O MELHOR DA PRAÇA
Em nossos corações a redenção
Jane Maria Ulbrich
Por um segundo
Graciella Tomé
O sítio de meu pai
João Willy
Tempos de Redenção
Astúria Vasconcelos
Pegadas
Tom Saldanha
O sacramento futebolístico
Luca Boaz
Reminiscências de um mesmo parque
Zorday Prati
Flor e Si
Soraia Schmidt
O céu e outros céus
Thomas Einar Olsen
TIM-TIM!
A Canção do Nievá (1801)
Thomas Einar Olsen
Numa falha do gaiola
Jane Maria Ulbrich
Ás das Copas
Graciella Tomé
O som nosso de todo dia
João Willy
Ruídos melhores virão
Astúria Vasconcelos
Ruído sonso
Tom Saldanha
Unidade dos sons
Luca Boaz
Simplesmente som
Zorday Prati
O som do silêncio
Soraia Schmidt
CARTA
Tecituras
Soraia Schmidt
Num ponto qualquer
Thomas Einar Olsen
Geografando
Jane Maria Ulbrich
30.000 traços tortos
Graciella Tomé
Para mães indignadas a ira não é pecado
João Willy
O mapa-borrão
Astúria Vasconcelos
Geografi a do afeto
Tom Saldanha
Argonautas urbanos
Luca Boaz
A gente somos inútil
. Nem todos graças a Deus
Zorday Prati
NOSSA MESA
"O cinza da cidade
partindo o verde ao meio"
Nei Lisboa
Zorday Prati
Sou um andarilho na vida – por favor, não confundir com levar uma vida de andarilho / Meu bairro é este mundão / Quero ser feliz, distribuindo gentileza, generosidade, carinho e gratidão / Com isso, sonho receber um tantinho de volta / Um tantinho de amor já está bom/ Sou um procurador esperançado / Um achador distraído / Dependo da sorte mais do que a conta e ela – a sorte, generosa demais – de mim toma conta / Agora sou também um cronista amador / Um cronista calouro que faz da arte de juntar palavras e de contar histórias a fonte do mais puro prazer / Além, naturalmente, de ser um caminho fértil para traçar estradas onde jamais andarilharei / Aprecie-me, por favor, sem moderação e, se não for pedir demais, bem devagarinho ou – paradoxo! – com sofreguidão.
ERA UMA VEZ UM PEQUENO-GRANDE PAÍS
Zorday Prati
Era uma vez um bairro tão importante, mas tão importante que virou um país pequeno dentro de um país grande. Uma terra de morenices extremas, formas arredondadas e de todas as cores. Um país quente e inteligente. Uma inteligência de sunga. Uma Esculhambacia Democrática Liberal Geral. Um deus nos acuda estruturado: a República Independente de Ipanema.
A sede do governo ficava no Veloso, bar que reunia a fina flor da malandragem cultural, classe exclusiva do País Pequeno: Tom Jobim, Maestro Emérito. Vinicius de Moraes, Conselheiro para Assuntos do Coração. Jaguar, Tabelião Juramentado e, entre outros, os edis Leila Diniz, Marcos e Paulo Sergio Valle, Ziraldo, Tarso de Castro e a turma do Pasquim que, a partir do Veloso, se tornou o maior hebdomadário do mundo.
Segundo Millôr Fernandes, Auditor da Pátria, o Veloso era uma esquina onde o Prudente encontrava o Imprudente de Moraes. Eu digo que o prudente encontrava o imprudente demais. Foi a partir dali que o mundo foi invadido por uma menina que passava a caminho do mar. Tão cheia de graça que fez Tom e Vinicius, no auge da inspiração e muitas minissaias na cabeça, comporem a canção que virou o símbolo de uma nova bossa e o hino do País Pequeno: Garota de Ipanema. Em tempo: minissaia é mais uma invenção ipanemense. Significa Chopp num copo pequeno (que é pra não dar tempo de esquentar).
A República era delimitada ao norte pela Princesinha do Mar, a oeste pela Lagoa, ao sul pelo Jardim de Alá e ao leste pelo Atlântico. Literalmente cercado de belezas. Em seu mar territorial havia um lugar onde tudo era permitido. Um naco de areia demarcado