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Escândalos de Elisabeth
Escândalos de Elisabeth
Escândalos de Elisabeth
E-book277 páginas3 horas

Escândalos de Elisabeth

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Sobre este e-book

Paris, 1778.

A bela Elisabeth Arsac atrai milhares de olhares, porém, esta jovem mulher rejeita todos os pretendentes, porque quer preservar sua independência e evitar as inconveniências do casamento. No entanto, em um baile de máscaras, ela cai nos encantos de um americano sedutor, com quem trava uma galante conversa.

Então, ela se joga de cabeça em um caso clandestino, que é interrompido quando ele pede sua mão. Elisabeth não tem a menor intenção de aceitar um marido, mas o destino pode ter decidido de outra forma...
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de mar. de 2017
ISBN9788568695678
Escândalos de Elisabeth

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    Pré-visualização do livro

    Escândalos de Elisabeth - Éleonore Fernaye

    Epílogo

    Agradecimentos

    Com toda honra, gostaria de agradecer em primeiro lugar a Stéphane Marsan, que foi o primeiro a acreditar neste projeto e me deu o impulso necessário para sua realização. Obrigada também à Isabelle Varange por seu apoio, à toda equipe da Bragelonne-Milady por ter me feito sentir bem-vinda, com bom humor e envolvimento.

    Meus agradecimentos também vão para o meu marido, que nunca duvidou do meu trabalho e que sempre tinha palavras para me fazer avançar.

    Minha gratidão também a ETN, vocês sabem muito bem o porquê.

    E finalmente, obrigada a você, leitor, por ter aberto este livro. Ao fazer isso, você se permitiu descobrir a história de Elisabeth. Espero que se divirta lendo-o, tanto quanto me diverti ao escrevê-lo.

    Capítulo Um

    PARIS, Janvier, 1778

    Elisabeth d’Arsac não era uma moça rude. Não era mesmo. Mas ao ouvir sua mãe chamá-la, quando estava prestes a sair, precisou recorrer a todos os seus anos de educação para não convocar um demônio.

    — Minha filha, estou muito desapontada com você — atacou ela.

    A condessa Louise ainda estava usando o vestido com o qual recebeu seus convidados para o jantar, mas já tinha retirado suas joias, o que lhe proporcionava um ar estranho, já que todos conheciam sua paixão pelo decoro.

    Elisabeth disfarçou um suspiro e fez sinal para que o criado a esperasse, antes de se virar para enfrentar a tempestade.

    — Qual é a causa da sua raiva, mãe? — perguntou, com um gesto de irritação.

    — Pare de fingir que não sabe! Então não é capaz de se apresentar em sociedade? Seu pai reuniu alguns de seus amigos mais íntimos para jantar e você se atreveu a rir de uma piada, para dizer o mínimo... indecente?

    Ela parecia à beira de um desmaio só de pensar nisso.

    Elisabeth tentou manter a calma. A cena à qual sua mãe estava se referindo ocorreu durante o jantar que reuniu oito amigos de seu pai, que já conheciam muito bem sua filha. Quanto à referência irreverente, sua mãe provavelmente nunca deve ter ouvido falar, mas ela mesma já tinha lido o pior dos romances libertinos que conseguiu desenterrar da biblioteca.

    — Mãe, Monsieur de Renlis praticamente me viu nascer! Duvido que tenha se ofendido com minha reação, assim como os outros convidados.

    — Você não pensa na sua reputação? Seu pai ficaria muito contente se você se casasse com algum deles.

    Daquela vez, a jovem não conseguiu deixar de revirar os olhos. Aquele era o maior desespero de sua mãe, desde que tinha feito dezoito anos: Elisabeth ainda não tinha encontrado um noivo. Nos primeiros dois anos, a situação parecia perfeitamente aceitável; a senhora d’Arsac apenas continuava educando sua filha de acordo com a posição em que viviam.

    Mas depois de quatro anos de Elisabeth ter deixado o convento, sua mãe começou a perder a paciência. A jovem, por sua vez, não tinha nenhuma pressa em se casar, mesmo que a convivência com seus pais tivesse se tornado mais pesada nos últimos meses.

    — O nome e a tradição da nossa família deveriam importar mais do que uma risada um pouco complacente por causa de uma piada não tão inocente. Você sabe que eu precisaria de muito mais do que isso para desencorajar alguns desses bobocas. — Sua mãe quase perdeu o ar com essa afirmação, mas Elisabeth continuou — Afinal de contas, filhas da nobreza podem se casar com plebeus hoje em dia.

    — Basta! Não quero ouvi-la proferindo esse tipo de absurdo.

    — Enfim, você também entendeu a piada, mamãe. Eu mesmo a vi sorrir.

    A condessa se empertigou.

    — Não importa — ela respondeu. — Sou casada, e você não é. Além disso, se sorri, o fiz por trás das minhas mãos para não chocar aqueles senhores. Não é necessário ser ignorante a respeito dessas coisas, mas não se deve encorajá-las.

    — Sempre odiei mentir. — A senhora d’Arsac fez um pequeno ruído similar a uma tosse, antes de levantar a cabeça e olhar para a filha sem dizer nada. A jovem corou. — Tudo bem, eu admito. Já menti antes. — Sua mãe ergueu uma sobrancelha. — Muitas vezes. Mas não me menospreze nem tente me tomar por estúpida, que é algo que não sou.

    — Não estou dizendo que seja estúpida. Pare de distorcer minhas palavras. Só tente... passar a beber um pouco mais de água do que vinho. Às vezes temos que fazer concessões para agradar.

    — Mas é aí que se encontra o problema, mãe. Não quero agradar ninguém.

    — Já percebi isso — a condessa respondeu com melancolia. — E isso me entristece. Não por mim, mas por você. No entanto, ainda tenho esperança que um dia sinta esse desejo e reconsidere sua decisão.

    Elisabeth ficou sem palavras diante daquela constatação. Sua mãe raramente compartilhava aquele tipo de opinião com ela. Ah, ela não duvidava de seu amor, mas seu decoro muitas vezes predominava em relação à sua espontaneidade.

    A senhora d’Arsac começou a se recuperar.

    — De qualquer forma, mantenha isso em mente. Você deve se comportar com dignidade, não importa seu gênero ou classe social. Isto será muito importante para o seu futuro. Agora vou deixar que vá se encontrar com a Srta. du Plessis, que deve estar lhe esperando.

    Elisabeth e sua amiga, Félicité du Plessis, tinham planejado ir ao Baile da Ópera, que começaria à meia-noite, e ela ficara encarregada de buscar a mesma, que morava no bairro de Marais.

    Assim que sua mãe desapareceu escadas abaixo, a jovem vestiu um longo casaco sobre o vestido de seda e saiu para o ar frio de janeiro, com um criado a segui-la.

    O carro atravessou o portão da casa dos du Plessis e parou na frente da varanda. No pátio iluminado por tochas, Elisabeth saltou, sem esperar que o criado lhe abrisse a porta, e apressou-se a subir os degraus. Ela hesitou por um segundo, então, virou-se e anunciou:

    — Pode levar o carro. A Srta. du Plessis irá me acompanhar.

    O servo que a acompanhava protestou:

    — Senhorita, me desculpe, mas sua mãe disse...

    — Sei exatamente o que minha mãe disse. Mas peço-lhe que vá para casa. De qualquer forma, sua presença não iria ser necessária a noite inteira — ela respondeu com altivez.

    Elisabeth não esperava ter que desrespeitar as recomendações de sua mãe tão cedo, mas tinha se rendido a um impulso e odiaria ter que reconsiderar.

    — Além disso, a Sra. du Plessis ficará aqui a noite toda.

    Elisabeth mordeu o lábio. Para alguém que tinha professado odiar mentiras há menos de uma hora, estava sendo singularmente prolífica naquela noite, pensou desanimada. No entanto, não tinha intenção de ceder ao remorso. Portanto, rejeitou seu criado e o carro com um aceno de mão, e, em seguida, entrou na casa.

    Ela sorriu para o mordomo, que a acompanhou até a sala de música da mansão. Apesar da hora tardia, Félicité tocava harpa, fazendo soarem as notas de uma melodia melancólica da moda. Sendo interrompida pela chegada da amiga, levantou-se num farfalhar de saias para cumprimentá-la.

    Era uma bela jovem da mesma idade de Elisabeth. Ambas eram loiras, mas Félicité tinha olhos de um azul claro, enquanto os de Elisabeth eram castanhos. Tinham se conhecido no convento e eram inseparáveis desde então.

    As duas amigas se cumprimentaram com um beijo na bochecha antes de se sentarem em bancos acolchoados.

    — Sinto muito pelo atraso, mas minha mãe quis me dar um sermão novamente. Tenho a impressão de que ela não vai parar com isso até me ver casada e estabelecida. — Ela fez uma pausa por um momento, antes de concluir com um sorriso — Eu não sei o que passa pela cabeça dela ao pensar que eu gostaria de agradar alguém um dia... Ainda mais um homem. Para quê?

    — Por amor? — sugeriu a amiga.

    — Deus me livre! Do que adianta eu estar apaixonada? Ficaria apenas devaneando, desperdiçando tempo que poderia usar para algo útil. Sempre preocupada com o que as pessoas poderiam dizer. Não, prefiro minha situação atual, embora muitas vezes inveje sua liberdade. — Félicité permaneceu em silêncio, e Elisabeth mordeu o lábio. — Perdoe-me. Você sabe que não quero sua infelicidade, mas...

    Sua amiga a tranquilizou com um sorriso.

    — Não se preocupe. Eu entendi onde quis chegar.

    Depois de deixar o convento aos dezessete anos para se casar, Félicité viveu com o marido, trinta anos mais velho, até se tornar viúva dois anos atrás.

    — Mas eu deveria ter mostrado mais respeito.

    — Não foi nada. Às vezes, é verdade, sinto falta de sua presença e de seus conselhos, mas não havia amor entre nós, apenas respeito, que não é negligenciável. Ele teve a gentileza de me educar, para me tornar uma mulher. Mas agora quero outra coisa.

    Após rigorosamente viver o seu período de luto de um ano e seis meses, onde pôde usar apenas roupas de lã, Félicité celebrou seu retorno ao mundo no início do inverno. Sem filhos e com uma certa liberdade, por conta de sua herança, não mostrou vontade alguma de se casar novamente.

    — Outra coisa? Mas o quê? Você tem tudo o que poderia querer!

    — Eu sinto falta de afeto. Ao contrário de você, minha família é pequena, não tenho irmãs ou irmãos. Meu pai vive na Província, e nossa relação nunca foi muito calorosa.

    Elisabeth não conseguiu não se surpreender com tais revelações. Sua amiga sempre pareceu se sentir feliz com a vida que levava, mas acabou confessando que faltava algo.

    — Certamente nós somos muito diferentes — admitiu, um pouco irritada.

    — Você já pensou que o casamento poderia ajudá-la a adquirir a liberdade que tanto quer?

    A jovem suspirou.

    — Sim, eu já considerei. Acho até que é a maneira mais fácil de obtê-la, mas a perspectiva de ter um marido tomando posse do meu corpo, das minhas ações e dos meus bens realmente não me agrada.

    — Há pouca chance de que isso aconteça, especialmente se entrar em um consenso com seu marido. — Félicité se referia a um novo modelo de casamento, que se tornara muito comum entre a velha nobreza e a noblesse de robe, composta principalmente por juízes. Tais uniões eram frequentemente feitas para restaurar as finanças de uma família arruinada e proporcionar algum brilho às pessoas que se tornaram enobrecidas recentemente.

    — Não acho que meu pai já tenha escolhido alguém para mim. Por ora, estou condenada a ficar com meus pais como se fosse uma menina. Às vezes sinto como se concedessem mais coisas à minha irmã Constance, e ela só tem doze anos! — falou a última frase com um ar tão feroz que a amiga não pôde deixar de sorrir. Depois de alguns instantes, ambas riram.

    — Então, não se esqueça que Constance não tem o direito de participar do Baile da Ópera. Mas acho que será melhor nos apressarmos ou não chegaremos a tempo no Palácio Real.

    O Baile da Ópera, um dos eventos mais populares de Paris, foi um dos destaques do Carnaval. Acontecia duas vezes na semana, e era a primeira vez, naquele ano, que as duas amigas iriam frequentá-lo. E também era a primeira vez que decidiam fazê-lo sem acompanhantes.

    As mulheres seguiram até o segundo andar da mansão, onde ficavam os quartos. Depois que lhe foi permitido retirar as cortinas do luto, outras foram colocadas para permitir que a anfitriã se vestisse em um vasto espaço, iluminado à noite por uma dúzia de velas de fogo crepitante.

    Por uma questão prática, Elisabeth tinha enviado seus vestidos de baile para a casa de Félicité no início do dia, para que a amiga pudesse ajudá-la a escolher. Esta, por sua vez, estudou os tecidos e as cores antes de fazer seu julgamento.

    — Eu optaria pelo vestido azul pálido. Ele vai valorizar a sua pele e seu cabelo. Mas também vai depender da maquiagem e do penteado.

    Elisabeth balançou a cabeça, gesticulou para a criada e começou a se despir. Então, retomou a conversa com Félicité.

    — Você me disse que seu pai ainda não tomou nenhuma decisão em relação ao seu casamento. Sabe se ele já tem alguém em mente?

    — Para ser honesta, acho que ele vai querer receber novas propostas antes de finalmente se resolver... Mas acho que ele já tem algumas ideias.

    — Quem?

    — Para começar, ele vai querer que eu me case com alguém de uma família ilustre. Sendo assim, já se pode descartar a maioria dos candidatos cujas famílias enobreceram recentemente. E são muitos! Um deles até me propôs irmos direto à igreja na semana passada.

    Félicité se mostrou chocada.

    — Que falta de educação!

    — Se eu tivesse algum interesse, teria aceitado. Mas agarrei a oportunidade de me esconder atrás de um véu de decoro e convidei-o a tratar diretamente com o meu pai. Não soube nada dele desde então, portanto, concluo que não foi aceito.

    Como ela já tinha colocado seu vestido de baile, a criada preparou-se para retirar seu colar.

    — Não. Pode deixá-lo.

    — Como quiser, senhorita.

    Félicité ergueu uma sobrancelha.

    — Você não tem medo de ser reconhecida por esta joia?

    — Vai haver uma multidão lá. E por mais que seja uma joia antiga, não sou a única a ter uma. Recentemente vi a Marquesa De La Tour usar um colar muito parecido com este.

    Tratava-se de uma joia de família em forma de nó, em ouro esmaltado ornamentado de azul. Suas cores combinavam perfeitamente com sua roupa, que, aliás, a deixava radiante, chamando a atenção para suas curvas femininas. Era estranho, mas naquela noite ela sentia vontade de usá-lo como um talismã.

    — Como vai usar o cabelo?

    Arrancada de seu devaneio, Elisabeth indagou:

    — O que me sugere, Félicité?

    Esta olhou para a sua amiga e decretou:

    — Você não vai colocar uma peruca, vai? Vai, ao menos, colocar laquê, não é?

    A jovem balançou a cabeça.

    — Sugiro uma trança com fileira de pérolas — disse Félicité. — Acho que ficará um efeito bonito.

    Uma vez que estavam prontas, Elisabeth avaliou seu reflexo no grande espelho acima da lareira e ficou surpresa ao perceber que suas formas delgadas tinham sido cuidadosamente realçadas pelo vestido. Demorou a se reconhecer naquela mulher encantadora. Seu cabelo brilhava tanto quanto seu colar, e seus olhos, que escondiam-se de modo distinto sob a máscara de couro preta, destacavam-se por sua cor entre o dourado e o marrom, realçados pelas chamas das velas.

    Félicité ficou pronta à meia-noite. Aproximou-se da amiga, colocou as mãos em seus ombros, para verificar sua aparência, e declarou com satisfação:

    — Veja se não é uma transformação! Estou disposta a apostar que você fará sucesso e, quem sabe, um belo estranho não poderia estar disposto a arrebatá-la?

    Elisabeth sorriu, relembrando as despreocupações de quando ambas tinham quinze anos, quando compartilhavam suas confidências e esperanças. Pela primeira vez, Elisabeth não fez nenhuma tentativa de protestar contra os desejos de boa sorte e sentiu-se estremecer. Quem poderia imaginar o que aconteceria em bailes como aquele?

    O carro chegou ao quintal. Vestiram seus casacos, esconderam suas mãos por baixo de um enfeite de peles e se estabeleceram no assento. Félicité ordenou que seguissem ao Palácio Real, e o carro partiu.

    Escondida pela escuridão, Elisabeth se permitiu sorrir amplamente. Ela sentiu um tipo de emoção violenta, que inchou seus seios e sentiu uma sensação de alegria e ansiedade, dúvida e antecipação. Pela primeira vez, sentiu-se livre. E estava destinada a se divertir.

    Capítulo Dois

    Henry Wolton murmurou uma maldição por sob sua respiração. Morava em Paris há quase dois meses, mas ainda não tinha se acostumado ao trânsito incessante das ruas, especialmente quando se tratava de acessar locais à noite.

    Apesar de ser uma bela cidade, precisava suportar seus habitantes. Eram briguentos, falantes, às vezes desdenhosos e pareciam não se importar com ninguém.

    Já fazia quase duas horas que tinha deixado sua casa, localizada no bairro novo de Chaussee d’Antin, e finalmente tinha chegado ao Palácio Real. Teria preferido caminhar até lá, pois nunca se sentia relutante em relação a um serviço, mas o frio nas ruas estava cortante, e elas não eram nada seguras. Tudo bem que sua bengala escondia uma lâmina de espada, mas ele gostaria, tanto quanto possível, de não ter que usá-la.

    Sendo um cidadão norte-americano, Henry não tinha frequentado a alta sociedade desde a sua chegada na França, em circunstâncias complicadas, dois meses antes.

    O pensamento o fez instintivamente voltar os olhos para sua mão esquerda, que estava decorada por uma ferida que se recusava a curar-se completamente. Ele fechou os olhos, dominado pela nostalgia, quando o carro alugado balançou em sua última sacudidela e parou, arrancando-o de suas reflexões. Henry saltou, pagou a corrida e interrompeu-se por um momento em frente ao edifício.

    Ele já devia ter passado por ali durante o dia, como todos os parisienses, mas a fachada iluminada à noite por milhares de velas era incrível. Era como um castelo fantástico de contos de fadas. A multidão se espremia para entrar, dada a estreiteza do corredor e da escada que levava à entrada. Batia uma hora na igreja vizinha de Saint-Honoré. Como podia ser tão tarde? Começou a apressar-se para chegar a tempo quando uma mão recaiu sobre seu ombro.

    — Eu achei que você já estivesse lá! — exclamou Louis, em seu inglês perfeito. Ele era o amigo que o tinha convencido a ir à festa.

    Henry deu de ombros.

    — O que você queria? Fiz tudo que pediu... Olha, até vesti um traje com a cor da estação — acrescentou, mudando a linguagem da conversa.

    Seu interlocutor riu. Henry usava um casaco em um tom de cinza grafite que combinava com seus olhos e tinha completado o traje com uma máscara preta simples. O baile daquela noite era um pouco menos formal do que outros eventos sociais, então, ele abandonou a peruca e apenas amarrou o cabelo em um rabo de cavalo.

    — Você está muito bem! Mas receio que este sotaque não irá enganar ninguém.

    — E eu pensei que iria permanecer incógnito para assistir ao espetáculo à vontade! — Henry lamentou.

    Enquanto conversavam alegremente, os dois tinham avançado até a porta. Logo a cruzaram, depois de mostrarem seus convites.

    — Você não vai se decepcionar! Dizem que o conde de Artois, irmão de Sua Majestade, estará presente hoje à noite com algumas senhoras e senhores em sua suíte. A família real dificilmente comparece a este tipo de entretenimento popular, mas não seria a primeira vez...

    Henry balançou a cabeça em silêncio, ocupado demais em observar a grande sala na qual tinham entrado.

    Com um pé direito alto e bem iluminado, parecia muito pequena para acomodar tamanha multidão, além disso, o local estava um pouco escuro. No entanto, os dançarinos tinham espaço suficiente para moverem-se graciosamente ao som de violinos. Enquanto isso, pequenos grupos se formavam, alguns tomando seus refrescos e outros vagando em busca de um lugar mais tranquilo.

    Ao seu lado, em um canto, avistou um casal que parecia estar em um momento muito íntimo... Envergonhado, Henry virou-se, afastando-se da cena.

    — Ah, a moral é um pouco flexível dentro desses muros — Louis disse com conhecimento de causa. — E eu que pensava que os americanos eram despudorados... Mas você é um francês esta noite, como você mesmo disse. Liberte seu coração!

    — Que assim seja. Mas se eu acabar no inferno, vou acusar você como responsável por isso.

    Um sorriso suavizou suas últimas palavras. Ele gostava de Louis. Tratava-se de um jovem nobre que procurou sua ajuda para melhorar seu inglês e insistia em agradecer introduzindo-o à sociedade.

    Apesar de se sentir relutante a princípio, Henry começou a se deixar levar,

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