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Ambiente e sociedade: Condicionalidades e potencialidades no espaço Goiano
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E-book329 páginas3 horas

Ambiente e sociedade: Condicionalidades e potencialidades no espaço Goiano

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Sobre este e-book

Os textos constituintes deste livro tratam de temáticas que examinam partes da realidade goiana pelas quais os autores elegem problemáticas traduzidas como condicionalidades e potencialidades do cerrado brasileiro. A obra compreende resultados de pesquisas num quadro de questões sociais declaradas por aspectos políticos, econômicos e culturais importantes e, por questões ambientais, assentadas na investigação de aspectos ecológicos, geotecnológicos e biológicos, que contribuem para a discussão e reflexão crítico-científicas. Nessa perspectiva, ampliam-se as possibilidades da ética da liberdade científica aliada à responsabilidade ética na discussão das diversidades e adversidades que caracterizam o meio natural e sua constante transformação pela interveniência do homem.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de jan. de 2017
ISBN9788546204335
Ambiente e sociedade: Condicionalidades e potencialidades no espaço Goiano

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    Ambiente e sociedade - Flávio Reis dos Santos

    Final

    APRESENTAÇÃO

    Flávio Reis dos Santos

    Este livro reúne estudos e pesquisas decorrentes de investigações, análises, interpretações e reflexões realizadas por professores, alunos e colaboradores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ambiente Sociedade da Universidade Estadual de Goiás (UEG/Câmpus Morrinhos). Os textos constituintes desta obra contemplam aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais e ecológicos que caracterizam direta e indiretamente as diversidades e adversidades do Estado de Goiás. Os escritos convidam o leitor a empreender incursão por várias áreas do conhecimento científico – das Ciências Humanas às Ciências Biológicas –, nas quais as discussões são delineadas por concepções críticas da realidade, orientadas pela perspectiva de produção tanto da compreensão quanto de nova significação do e para o Cerrado goiano. Significação capaz de considerar as suas adversidades e as adversidades contemporâneas decorrentes do expansionismo econômico capitalista, bem como resgatar e explicitar a importância da preservação do que restou de sua diversidade natural, humana e cultural.

    Os autores do primeiro capítulo, Hamilton Afonso de Oliveira e Susana Sardinha Beker, a partir do projeto de construção de Goiânia, de autoria de Attílio Corrêa Lima, argumentam que as relações que caracterizam o espaço urbano necessitam de maior organização e planejamento na atualidade, devendo ser orientadas por princípios de preservação e sustentabilidade ambiental para assegurar a melhoria da qualidade de vida da população. Segundo os autores, as proposições de Corrêa Lima para a edificação de uma cidade moderna e sustentável, embasada nos modelos europeus de cidades-jardins, com ruas amplamente arborizadas e por fundamentos de sustentabilidade ecológica e social sucumbiram ao conchavo político do Interventor Federal Pedro Ludovico Teixeira, associado aos ambiciosos interesses econômico-financeiros de Coimbra Bueno & Companhia, movidos pela especulação imobiliária. Oliveira e Becker afirmam que o processo acelerado de crescimento urbano e industrial ao qual o Estado Goiás foi submetido após a década de 1950 desencadeou uma série de consequências negativas para a preservação e sustentabilidade socioambiental.

    No segundo capítulo, Ressiliane Ribeiro Prata-Alonso, Flávio Reis dos Santos, Murillo Cardoso Caetano e Vanessa Maluf de Novais realizam uma breve incursão histórica no Assentamento Rural Tijuqueiro, localizado no município de Morrinhos (GO), em busca de expressar o entendimento que os produtores rurais locais têm acerca da destruição do bioma Cerrado como decorrência da expansão das áreas cultiváveis e intensificação da maquinização do processo produtivo agropecuário goiano. Os assentados afirmam com propriedade que o desmatamento do Cerrado na região se asseverou a partir de 1982, ano que marcou o início das atividades para o desenvolvimento de sementes e utilização de pivôs centrais no cultivo de soja, milho e arroz pela Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária (Emgopa). As investigações dos autores reiteram que as intervenções antrópicas são as principais responsáveis pela intensa devastação da vegetação nativa, pela extinção de inúmeras espécies da flora e da fauna constantes no bioma Cerrado; bem como expressam a consciência dos trabalhadores rurais sobre a premente necessidade da implementação de ações que possam amenizar os negativos efeitos das transformações geradas pela incessante ação destrutiva dos interesses econômicos capitalistas imposta ao meio ambiente natural.

    Magda Valéria da Silva e Ronaldo da Silva discorrem, no terceiro capítulo, sobre as transformações socioespaciais e o crescimento econômico do Estado de Goiás em decorrência da instalação da MMC Automotores do Brasil S/A (Mitsubishi) na cidade de Catalão, da Caoa Montadora de Veículos (Hyundai) em Anápolis e da SVB Automotores do Brasil Ltda. (Suzuki) na cidade de Itumbiara. Silva e Silva transitam pelas concepções teóricas de Milton Santos para explicar que a imbricação entre a ciência, a técnica, a informação e a atuação do Estado contribui de forma efetiva para o processo de globalização dos mercados e produz, por sua própria essência transformadora, novos conteúdos, significados e comportamentos em âmbito local, na mesma medida em que contribui para a propagação técnico-científica-informacional, que ocorre de forma heterogênea sobre o espaço geográfico, visto que as particularidades, formas, conteúdos e funções são características distintas de cada localidade. Este fenômeno caracteriza o Estado de Goiás em suas diversidades e adversidades, nas quais cada espaço, localidade e região apresenta um nível específico de desenvolvimento socioeconômico.

    No quarto capítulo, Renata de Lima Paixão, Isa Lúcia de Morais Rezende e André Rosalvo Terra Nascimento apontam a importância ecológica, cultural, social e econômica das atividades extrativistas desenvolvidas pelas populações tradicionais do Cerrado – indígenas, quilombolas, raizeiros, vazanteiros, camponeses, vaqueiros, artesãos, pescadores e ribeirinhos. Dentre tais atividades, destaca-se a extração do buriti, amplamente aproveitado – de suas raízes até as suas folhas. O maior valor econômico advém do fruto, que além de ser consumido in natura, pode e é transformado em suco, geleia, sorvete, paçoca, vinho, doce e aproveitado também como óleo comestível, ração para animais, adubo, material de construção, enfeites, utensílios domésticos, móveis, brinquedos, produtos artesanais e, ainda, na fabricação de instrumentos musicais. Os autores apontam que o óleo extraído do buriti é tradicionalmente usado pelos povos do Cerrado para a fabricação de sabão, utilizado como combustível de lamparina, para auxiliar na cicatrização de feridas e queimaduras, amenizar problemas respiratórios, aliviar a dor de picadas de insetos e, até mesmo, para curar picadas de animais peçonhentos.

    Os autores do quinto capítulo, Rafael de Freitas Juliano, Allison Vinícius Pereira, Graziele Alves Campos e Mateus Henrique Vieira apresentam o potencial ecoturístico das Unidades de Conservação (UC) para a manutenção dos recursos naturais, regulamentadas pela Lei Federal n. 9.985/2000. Segundo os pesquisadores, a realidade do Parque Natural de Morrinhos (GO), que possui dentre as suas atrações um conjunto de trilhas na mata, que permite aos visitantes observar as fitofisionomias e paisagens locais, propicia a interação direta com a floresta tropical, o que consubstancia uma experiência significativa e, certamente, inesquecível. Os autores chamam a atenção para os possíveis impactos causados ao meio natural em consequência de visitação intensa e consideram fundamental a necessidade de associar o conhecimento construído sobre a capacidade de carga turística da UC à organização dos trajetos e trilhas do Parque Nacional de Morrinhos, tendo em vista elaborar e distribuir roteiros de educação e interpretação ambiental com alunos de escolas e universidades da região, na perspectiva de construir uma cultura de conscientização permanente sobre a preservação do meio ambiente.

    No sexto capítulo, Pedro Rogério Giongo, Eduardo Gonçalves de Oliveira, Ketele Rocha da Silva e Ana Paula Aparecida de Oliveira Assis abordam a aplicação do Sistema de Informação Geográfica (SIG) como importante ferramenta para a administração do fornecimento de água na cidade de Santa Helena de Goiás para otimizar a utilização do espaço geográfico vinculado à formulação de políticas públicas. Os autores argumentam que os recursos hídricos são caracterizados por diferentes tipos de uso e/ou aplicação e, portanto, requerem diversificados planos de gestão para que a distribuição e a utilização da água tratada ocorram de forma racional e sustentável. É nesta direção que os autores defendem a utilização do SIG para a gestão integrada dos recursos hídricos, na medida em que as suas capacidades de visualização, manipulação, armazenamento e organização de uma significativa quantidade de informações são essenciais para identificar espacialmente os bairros que apresentam maior e/ou menor consumo de água em Santa Helena de Goiás.

    Grazielly Vieira Cintra e Marta de Paiva Macêdo, no sétimo capítulo, afirmam que os espaços verdes contidos em áreas urbanas desempenham função de grande importância para a qualidade do meio ambiente e para a melhoria da qualidade de vida citadina, além de se constituírem em excelentes opções de recreação e lazer para a população. No entendimento das autoras, para que seja possível manter e preservar áreas verdes nas cidades é imprescindível especificar a sua localização de forma precisa, investigar os detalhes para o reconhecimento do espaço, calcular as suas dimensões, identificar as espécies vegetais nelas contidas e armazenar toda e qualquer informação que possa contribuir para o seu monitoramento. Cintra e Macêdo argumentam que a cartografia digital se constitui em importante ferramenta para o mapeamento e tratamento da informação espacial de forma rápida, precisa e concisa, tanto para o monitoramento de áreas verdes, quanto para o planejamento do espaço urbano no município de Quirinópolis (GO).

    No oitavo capítulo, Marta de Paiva Macêdo, Kamylla Gonçalves Ferreira e Aristeu Geovani de Oliveira discutem as bases da cartografia tradicional como fundamentação teórica para a criticidade ante a discriminada utilização de geotecnologias na construção cartográfica, visto que, na realidade atual, há uma valorização da utilização dos ambientes computacionais no processo de elaboração dos mapas. Os autores alertam para a interferência que as inovações tecnológicas impõem ao fazer cartográfico, pois desconsideram meios e técnicas tradicionais essenciais à construção de mapas, que têm por características centrais maneiras de pensar, enxergar e representar os lugares, as paisagens, os objetos e os fenômenos de forma pormenorizada. Para Macêdo, Ferreira e Oliveira as geotecnologias devem ser consideradas interpostas às práticas cognitivas e ao mapeamento temático no desenvolvimento de atividades que exigem o raciocínio metodológico na elaboração dos mapas, pois somente a cartografia tradicional dispõe das técnicas e regras dos métodos para a interpretação científica das informações, por meio das quais se evidencia a aplicação da técnica da inferência, da experiência empírica e da supervisão digital para o controle do processo de análise e interpretação dos dados contidos no material cartográfico.

    Alik Timóteo de Sousa e Idelvone Mendes Ferreira abordam no nono capítulo os processos erosivos, fenômenos naturais que atuam ativamente na superfície terrestre e provocam o seu desgaste, como resultado da ação mecânica e química da água, das intempéries e de outros agentes geológicos. Em suas considerações iniciais, os autores procuram caracterizar os fenômenos erosivos, apontando as suas similaridades e diferenças; classificando-os em fluviais, que ocorrem em córregos, ribeirões e rios, e, em pluviais, responsáveis pelo desgaste de vertentes em áreas de lavouras, pastagens, áreas próximas às rodovias, estradas vicinais etc. As discussões concentram-se no crescimento das erosões hídricas laminares e lineares de grande porte – denominadas voçorocas – que vêm ocorrendo no Córrego da Cava e no Córrego do Palmito, integrantes da microbacia do Córrego da Anta, localizados no município de Morrinhos, região sul do Estado de Goiás, constituindo-se em grave problema ambiental.

    Débora de Jesus Pires, Isabella Cristina de Castro Silva e Junilson Augusto de Paula Silva, no décimo capítulo, expressam as suas considerações sobre os possíveis danos causados à saúde humana decorrentes da utilização de substâncias químicas contidas em polímeros sintéticos, especialmente o Politereftalato de Etileno (PET), amplamente empregado na indústria alimentícia na forma de garrafas. Tanto os alimentos líquidos quanto os sólidos, acondicionados em embalagens PET, podem conter significativos níveis de monômero residual, oligômeros, aditivos e resíduos do processo de conversão e compostos de degradação, que migram do plástico para o alimento. Os autores, apoiados em pesquisas de estudiosos que dedicaram tempo e esforços à elucidação da temática, apontam a incidência de ampla contaminação da água contida em embalagens PET, sobretudo pelo acetaldeído – substância mutagênica que danifica as células somáticas e provoca o câncer –, um dos principais agentes causadores de prejuízos à saúde humana.

    No décimo primeiro capítulo, Isabela Jubé Wastowski, Daniela Sacramento Zanini, Marta Mollinari e Adalgisa Regina Teixeira dissertam sobre estratégias alternativas para promover a melhoria da qualidade de vida na terceira idade. As pesquisadoras argumentam que as estratégias para reduzir os efeitos do envelhecimento não se restringem às questões especificamente fisiológicas, abarcam todos os aspectos que podem interferir direta e/ou indiretamente na qualidade de vida de cada pessoa humana. Wastowski, Zanini, Mollinari e Teixeira afirmam que a compreensão integral dessas questões e aspectos diversos podem contribuir para a construção de estratégias antienvelhecimento (anti-aging) como a adoção de dieta balanceada, da prática de exercícios físicos e de atividades que auxiliam o equilíbrio do corpo e da mente. As autoras argumentam que as dietas ricas em fibras, macronutrientes antioxidantes, ácidos graxos poliinsaturados e micronutrientes influenciam diretamente no funcionamento celular e reduzem as consequências deletérias do envelhecimento. De outra parte, a alimentação saudável, a prática da atividade física de intensidade moderada e o comportamento de não agressão ao corpo, associados à prática de Yoga e à meditação contínua, podem conduzir o ser humano a viver em plenitude, harmonia, paz, saúde e alegria.

    PREFÁCIO

    Por suas próprias características, o ser humano, no decurso de sua história evolutiva, precisou e precisa intervir no ambiente no qual se insere ou está inserido. A história da humanidade está perpassada por traços desta presença antrópica. Nos seus albores, esta intervenção humana se pautava pela necessidade da intervenção para assegurar a sobrevivência do grupo ou mesmo da espécie. O ambiente era espaço a ser dominado. O paradigma da dominação acabou, assim, por constituir, ao longo da maior parte da história humana, o modo dominante de pensar e realizar a relação entre os humanos e o ambiente.

    Nas últimas quatro décadas tem emergido com força cada vez maior o paradigma da sustentabilidade, pautando a relação ser humano com o ambiente por representações que dão espaço à convivência em lugar da simples e pura dominação. É sabido que este paradigma emergiu a partir de múltiplas perspectivas e interesses capitaneados por instituições diversas, maiormente sintonizadas com as grandes conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o meio ambiente.

    Convém registrar que as discussões setoriais não afluentes das grandes conferências, figurando estas como retroalimentadoras de uma gama de iniciativas populares e setoriais, tendo em vista uma relação mais qualificada desta relação dos humanos com o seu entorno, pensado em termos globais.

    Seria presunçoso pensar e afirmar que o paradigma da sustentabilidade seja produção teórica somente das últimas décadas. Em alguns espaços, a preocupação com a relação dos humanos com o ambiente já está registrada há séculos, perpassando a noção de manejo ambiental, especialmente manejo florestal, altamente considerada em alguns países europeus.

    Pensar a possibilidade da finitude dos recursos naturais fez emergir a noção de sustentabilidade. As ações humanas passaram a ser pensadas, embora de modo contido, em termos de longa duração. Neste sentido, sempre cabe um registro da importante contribuição do filósofo judeu-alemão Hans Jonas que, em 1979, trazia a lume a obra O Princípio Responsabilidade. Embora de recepção tardia em nosso país, as ideias de Jonas repercutiram na formulação do artigo 206 da Constituição do Brasil, de 1988, quando esta insere a preocupação com as gerações presentes e futuras na complexa relação dos humanos com o ambiente.

    Em suas decisões presentes, os protagonistas antrópicos precisam inserir os resultados de médio e longo alcance no escopo de suas decisões. As decisões éticas romperam, assim, qualquer possibilidade imediatista, devendo levar em consideração os efeitos imprevisíveis e futuros no âmago dos princípios que regem a relação humano-ambiente.

    Em termos teóricos, o novo paradigma da sustentabilidade já está bem alinhavado. Estes contornos teóricos já definidos, contudo, necessitam de um conjunto cada vez maior de estudos setoriais para evidenciar as inter-relações traduzidas e realizadas em determinados recortes socioespaciais. Há uma miríade de pessoas, mundo afora, a trabalhar esta questão na expectativa da eclosão quântica do novo paradigma, o qual possibilitará a sobrevivência da espécie humana em patamares populacionais cada vez maiores e em convivência com o ambiente do qual faz parte e no qual está inserida, aumentando gradativamente o nível de responsabilidade para com o mesmo.

    O Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ambiente e Sociedade da Universidade Estadual de Goiás (PPGAS/UEG/Câmpus Morrinhos), insere-se nesta pluralidade de sujeitos e espaços a pensar e refletir criticamente a relação dos humanos com o ambiente. O espaço de tradução e inserção é o Cerrado, um dos biomas mais ricos do Brasil e quiçá do mundo. O Programa é recente, mas já dá mostra da sua pujança em termos de material de pesquisa e repasse reflexivo, culminando em produções intelectuais como as que são apresentadas no presente livro.

    A cidade de Morrinhos, no sul goiano, pode se orgulhar de ser o sétimo município goiano, entre os 246 municípios hoje existentes, a abrigar um programa de pós-graduação stricto sensu. Esta presença fomenta necessariamente o espaço crítico e o diálogo para pensar a relação sociedade-ambiente, dando retornos necessários a interrogantes diversas na incessante inter-relação humano-ambiente.

    A inserção do pesquisador na seara da relação humano-ambiente exige competência técnica e teórica. Da mesa forma, ela demanda razoabilidade e boa dose de sabedoria. Por um lado, palpita forte o viés de conservação dos recursos naturais, por outro lado, há sempre a necessidade de, por meio dos estudos e pesquisas pertinentes, dar respostas aos avanços tecnológicos tantas vezes carentes das prospecções preventivas quanto aos efeitos das ações. O pesquisador também tem como demanda buscar equalizar a necessidade da conservação como a igual necessidade de geração de trabalho e renda para que sempre novas gerações sejam inseridas no fluxo da história.

    É para mim uma honra escrever o prefácio a esta obra. Faço-o na confiança e certeza de que se trata de produções intelectuais pautadas pelo princípio da responsabilidade e perpassadas pela dimensão da inter ou multidisciplinaridade. Recomendo a presente obra à leitura.

    Goiânia, 28 de fevereiro de 2016.

    Haroldo Reimer

    Pós-doutor em História pela Unicamp, bolsista de Produtividade em Pesquisa (PQ) do CNPq, professor e reitor da Universidade Estadual de Goiás

    Capítulo 1

    ATTÍLIO CORRÊA LIMA E A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA: UMA CIDADE MODERNA E SUSTENTÁVEL?

    Hamilton Afonso de Oliveira¹

    Susana Sardinha Beker²

    Primeiras palavras

    Entender como a cidade se relaciona com o meio natural em que se estabelece e quais suas intervenções no mesmo, pode contribuir para a compreensão de fatores socioculturais da nossa história, sendo indispensável a reflexão para o planejamento socioambiental das cidades. A partir deste conhecimento, pode-se propor a elaboração de políticas públicas para atender às necessidades de sua população e preservar o meio ambiente em todas suas formas com sustentabilidade.

    Atualmente, as discussões sobre preservação ambiental, sustentabilidade e qualidade de vida têm se acentuado cada dia mais em perspectiva local, regional e global. Considerando essas discussões e os objetivos por elas propostos, as relações urbanas necessitam ser pensadas e planejadas a partir de uma visão socioambiental, na qual os moradores urbanos tenham suas necessidades atendidas com o mínimo de equilíbrio ecológico, que garanta um crescimento urbano sustentável.

    O objetivo deste estudo é demonstrar que o projeto de construção da cidade de Goiânia, idealizado por Attílio Corrêa Lima³, além de obedecer a um padrão europeu de cidade-jardim, baseou-se em princípios de sustentabilidade ecológica e social ao assegurar a destinação de amplos espaços às áreas verdes, tendo em vista garantir a preservação das nascentes e dos córregos Capim-Puba e Botafogo, bem como assegurar boa qualidade de vida aos futuros moradores da nova cidade com a destinação de amplos espaços para a construção de praças, jardins e áreas de lazer.

    Contextualização histórica da construção de Goiânia (GO)

    O projeto de construção de Goiânia foi concebido em uma época marcada pelas políticas desenvolvimentistas, que tinha o objetivo de ocupar os espaços vazios do interior do país, mediante uma guerra contra a natureza, considerada a responsável por impedir o progresso e o desenvolvimento do Brasil. A natureza era vista como inimiga do progresso e, portanto, a relação estabelecida incentivava o enfrentamento (Silva, 2014, p. 23). Durante praticamente todo o século XX, construtores de estradas e cidades eram vistos como desbravadores em permanente campo de batalha contra a natureza, considerada perversa e inibidora do progresso.

    Nessa perspectiva, a sugestão de mudança e construção de uma nova e moderna capital pelo governador Pedro Ludovico tinha por finalidade estimular o desenvolvimento e o progresso no Estado de Goiás,

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