Pai de menina²: como sobreviver com duas filhas
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Pai de menina² - Eduardo Buzzinari
Ih... Virei pai!
Eu também era uma daquelas pessoas que acham que já sabem de tudo. Então, eu me tornei pai.
E descobri que eu não era o dono da verdade; que nem sempre é possível ter as coisas sob controle; que toda regra tem sua exceção e que, às vezes, a exceção é mais frequente que a própria regra; que nem sempre a opinião dos especialistas é a melhor; que vale a pena ouvir o conselho de alguém mais velho; que não existe um dia igual ao outro; que a vida não foi feita com manual de instruções; que as melhores coisas da vida são de graça e eu não as trocaria por todo dinheiro que existe; que todos os problemas do mundo podem ser resolvidos com um abraço; que ser feliz não é tão complicado quanto parece; e que, na verdade, eu não sabia mesmo era de nada.
Ser pai me mostrou que ainda tenho muito a aprender. Por sorte, Deus me enviou duas anjinhas para me ensinar o que é a felicidade. É por elas que tento ser uma pessoa duas vezes melhor a cada dia.
O segundo filho
Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?
Cai sim.
Foi exatamente o que pensei quando recebi a notícia de que minha esposa estava grávida pela segunda vez. Putz! Mais um? Se a primeira gestação havia me arrepiado os cabelos pelo medo do desconhecido, eu agora estava petrificado de pavor justamente por saber, de antemão, o que vinha pela frente: as noites intermináveis de choro e cólica, as infinitas mamadeiras da madrugada, as trocas de fralda com aquela caquinha esverdeada e a fila de espera no consultório da pediatra para as visitas de rotina – tudo de novo! E logo agora que minha primeira filha já estava começando a dormir a noite inteira…
Na boa, se o ser humano pensasse racionalmente, ele jamais teria filhos. Afinal de contas, por que motivo alguém, em sã consciência, desejaria receber um hóspede que come a comida do seu prato, dorme na sua cama, mexe nas suas coisas, acorda a casa inteira às seis da manhã, ocupa todo o sofá e ainda monopoliza o controle da televisão? Tudo isso sem contar a despesa, pois, além de não pagar aluguel, seu inquilino ainda precisa que você o alimente e o eduque. E ele nem ao menos limpa as próprias fraldas!
Ora, mas que ideia mais torta…
Ninguém usa a razão quando o tema é todo feito de sentimento. E a gente simplesmente se desmancha ao menor sorriso destes pequeninos – mesmo que seja acordado como um zumbi, no meio da madrugada.
Criança é mesmo um barato, mas dá trabalho. E não vou lhe enganar, parceiro: o segundo filho dá tanto trabalho quanto o primeiro, com o agravante de que ainda tem o mais velho para dividir sua atenção. No entanto, se lhe serve de consolo, pelo menos a gestação do segundo filho é bem mais relaxada que a do primeiro. Comparando, é mais ou menos como o segundo dia de aula, a segunda namorada ou a segunda vez que você vê um hipopótamo cor-de-rosa atravessando a rua num monociclo (caso você já o tenha visto uma primeira vez, é claro). Não tem mais aquela tensão acumulada da estreia. A expectativa continua grande, mas a ansiedade é menor – até porque 120% do seu tempo livre já se encontra devidamente preenchido com o filho que está do lado de fora da barriga. Não sobra muito para ficar ruminando pensamentos enviesados.
Contudo, se ainda assim bater aquela preocupação repentina com as crises de ciúme e disputas por brinquedos entre os futuros irmãos, respire fundo e pense na situação de quem está esperando por gêmeos – se for esse o seu caso, pense em quem será pai de trigêmeos (se for esse o seu caso, ferrou!). Agora, falando sério, tente relaxar e pensar nas coisas boas da gestação, como imaginar se o bebê é menina ou menino.
Aliás… como era mesmo que se fazia aquele teste da colher e do garfo? Ai, ai.
E lá vamos nós outra vez.
Pai de duas meninas
Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?
Cai sim.
Definitivamente.
Quando a médica do ultrassom disse É menina!
, de novo, tentei desentupir as orelhas com o dedo mindinho e pedi para ela repetir – como estratégia para ganhar tempo, enquanto me decidia se simulava um desmaio ou fugia para o Suriname.
– Você tem mesmo certeza? – perguntei a seguir, numa tentativa desesperada de reverter a lógica do impossível.
Não deu. Era mesmo mais uma menina! Ah, se ao menos eu não tivesse bebido tanto na noite do réveillon… Mas é o tal negócio: a casa vazia, a filha mais velha dormindo, nada para fazer, as bolhas do champanhe fazendo cócegas na garganta dela…
– E a camisinha? – ela perguntou.
– Não esquenta – respondi. – A essa altura, metade dos espermatozoides tá de olho na queima de fogos de Copacabana e a outra metade tá tão tonta que não vai nem achar o caminho do óvulo.
Só que tem sempre um engraçadinho querendo aparecer… E, dessa vez, o malandro foi o espermatozoide que decidiu ficar sóbrio, o motorista da rodada – até entre os gametas existe a crocodilagem, veja você! Enquanto a multidão de nadadores embriagados derrapava nas tubas uterinas e caía, uns por cima dos outros, tropeçando e morrendo de rir, o espertinho assumiu a dianteira e mergulhou de cabeça no óvulo. E justamente ele carregava o cromossomo X.
O resultado? A médica do ultrassom dizendo É menina!
, dezesseis semanas depois do Ano-Novo.
E a encomenda de laço cor-de-rosa para setembro.
É isso aí, parceiro! Não bastasse ser pai outra vez, a vida me condecorou com uma segunda menina. Toma que o filho é seu!
Ou melhor: Toma que a filha é sua! Você merece!
. E não sai um ponta-esquerda para herdar minha posição no time da praia. Pelo jeito que a coisa vai, inclusive, ou eu paro de tentar tirar faíscas de cubo de gelo ou eu compro uma Kombi para melhor acomodar as filhas que forem saindo nas horinhas de descuido.
Um minuto. Antes que você me interprete mal, não quero dizer que ter uma menina seja um erro. Longe de mim. Não me daria ao trabalho de escrever um livro sobre ser pai de menina se não amasse desmedidamente minhas filhas. O problema todo de ser pai de duas meninas é ter de aturar dois genros no futuro. É isso que faz você se transportar da suprema felicidade de ser pai para a extrema angústia de ter que defender suas garotas dos abutres que hoje se revestem sob a pele de inofensivos bebês rosadinhos.
Misericórdia… Que, ao menos, não sejam flamenguistas!
E já que não aprendi a lição da primeira vez, decidi mudar radicalmente meu estilo de vida: tatuei um dragão no braço esquerdo e me matriculei numa academia de luta.
Ah, e nunca mais bebo na virada de ano.
O manual de sobrevivência
Não, não existe fórmula mágica para criar uma filha – ou duas, no meu caso –, e a coisa tende mesmo a se acertar com base no método da tentativa e erro. O que deu certo num dia pode não dar no outro; o que funcionou pela manhã pode ser um desastre na parte da tarde, e por aí vai.
Criar uma filha é um exercício diário de paciência e criatividade. Às vezes, a gente erra tentando acertar; às vezes, a gente acerta sem querer. No fim, tudo dá certo – ainda que pelos caminhos mais tortos.
No entanto, devo admitir que, em alguns momentos, bate um desespero tão grande que tudo o que queremos é encontrar a receita milagrosa da família perfeita dos comerciais de margarina. Eles não são lindos? A esposa calma e sorridente, os filhos bem-comportados, as louças e os talheres enfileirados na mesa do café e um trinado de passarinhos no lugar daquele furacão que varre a sua cozinha todas as manhãs!
Dizem que se conselho fosse bom, a gente os vendia ao invés de dá-los, mas não custar arriscar uns palpites multifuncionais e bem-intencionados, que se encaixam em todas as circunstâncias e podem ser muito úteis em caso de crises de pânico ou colapsos de sanidade. É tipo aquela sua calça jeans velha que não combina com nada, mas você a usa em qualquer ocasião.
E se não valerem de nada, pelo menos foram de graça…
Então vamos lá.
Em primeiro lugar, se a pivetinha estiver dormindo, não toque nela! Geralmente, esse é um dos maiores erros do pai de primeira viagem. Se não quiser acordar a ferinha, não se aproxime, não faça barulho e suma já do quarto. Pare com essa mania doida de conferir se ela ainda está respirando! Por que não estaria, afinal? E só tente consertar o lençol sobre o corpo dela se você for ninja ou tiver treinamento tático do esquadrão antibombas. Lembre-se disso!
Nunca durma depois das 22h! Em pouco tempo, você vai perceber que os conceitos de noite e madrugada foram radicalmente alterados em sua vida. E seja qual for a hora de dormir, você sempre estará de pé antes das 6h com uma pivetinha dependurada no pescoço (e vai amar isso)!
Evite contar mentiras à pequenina. Se for para o bem dela, porém, não custa fingir que cenoura é batata frita e que xarope é suco de uva.
Numa festa de aniversário, não faça cerimônia. Esqueça as regras de civilidade e boa educação e trate logo de comer o máximo que puder. Quando menos se espera, você será obrigado a deixar o recinto porque sua filha dormiu,