Jornalismo Literário e as Narrativas dos Dramas Reais

De Mirian Magalhães e Nathália Pimenta

Será que o texto jornalístico deve sempre ser imparcial? A neutralidade para compor o relato costuma ser exigida na construção da notícia, mas será que não colocar os sentimentos que estão presentes no fato é relatá-lo com fidedignidade? Essa é uma dúvida que sempre confundiu os mais experientes jornalistas, deixando-os diante de um dilema: trair a realidade, escamoteando a carga emocional inerente às grandes tragédias, ou tentar reproduzi-las o mais fielmente possível, adicionando o drama contido no fato?

A proximidade entre jornalismo e literatura nem sempre foi apreciada, embora a origem do texto jornalístico esteja nas narrativas ficcionais. Enquanto a literatura sempre incentivou a imaginação de seus redatores e nunca lhes impôs limites, o jornalismo nasceu entre muros. Ao longo de seu desenvolvimento, a busca pela neutralidade do relato o fez se distanciar cada vez mais da literatura, propondo ao texto jornalístico técnicas que o afastavam da emoção e dos sentimentos que permeiam toda a ação.

Buscando rever procedimentos impostos em nome da objetividade jornalística, a proposta deste livro é refletir sobre o quanto é imprescindível expressar emoções nos textos para que notícias trágicas possam ser contadas o mais próximas à realidade que ocorreram, já que uma das principais tarefas do jornalismo é o compromisso com a verdade.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 19 de set. de 2019
• ISBN: 9788547314675

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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

APRESENTAÇÃO

Ele é fiel. A verdade é a sua religião. Ela é exibida, adora seduzir. Ele é sério, sisudo. Ela é graciosa e carismática. Ele é objetivo, prefere falar pouco. Ela gosta de uma conversa fiada. Ele tenta ser imparcial nas mais diversas situações. Ela é emoção, do riso ao drama.

Apesar das frequentes crises que permeiam o relacionamento, a união entre o Jornalismo e a Literatura já dura há mais de três séculos. Conheceram-se ainda jovens, ele era só um menino ingênuo e ainda sem a personalidade forte que conhecemos hoje. Ela já era ela, ensinou-o muito e foi responsável pelo seu sucesso inicial. Eles cresceram juntos. Um tornou-se o equilíbrio do outro. Ele, filho da realidade, e ela, fruto da imaginação, complementaram-se e ganharam o mundo.

No começo, ninguém duvidava desse amor. Era visível que um tinha nascido para o outro. Mas com o passar do tempo, a interferência da evolução dos meios de comunicação desgastou o relacionamento. O Jornalismo tornou-se ganancioso, fez amizade com a Publicidade e afastou-se da Literatura. Foi a primeira crise do casal. De lá para cá, surgiram outros obstáculos: a Pirâmide Invertida, o lead e, principalmente, a falta de tempo, a urgência em chegar ao leitor.

A história contada anteriormente é apenas uma metáfora sobre a relação entre Jornalismo e Literatura. Assunto das páginas que se seguem, o Jornalismo Literário costuma ser questionado e soa quase como ofensa para os mais intransigentes jornalistas ou