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Cadernos de discussão: Juventude, educação do campo e agroecologia
Cadernos de discussão: Juventude, educação do campo e agroecologia
Cadernos de discussão: Juventude, educação do campo e agroecologia
E-book182 páginas2 horas

Cadernos de discussão: Juventude, educação do campo e agroecologia

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Sobre este e-book

Este livro reproduz a experiência do grupo de estudantes e professores, técnicos e agricultores que participou do projeto de formação de setenta jovens (entre quatorze e dezoito anos) vindos de áreas rurais, quilombolas, indígenas e caiçaras do Estado do Rio de Janeiro. A formação visou também transformá-los em multiplicadores desse conhe-cimento em suas comunidades. Iniciativa da Aarj - UFRRJ com apoio CNPq
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de jun. de 2012
ISBN9788584880324
Cadernos de discussão: Juventude, educação do campo e agroecologia

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    Cadernos de discussão - Lia Maria Teixeira de Oliveira

    Créditos

    Copyright © 2011 by Andréia Cristina Matheus, Carmen Oliveira Frade, Clarindo Aldo Lopes, Diogo de Souza Pinto, Fernanda Olivieri de Lima, Gabriel Almeida Frazão, Ingrid Bernardo dos Santos, Iranilde de Oliveira Silva, Jaqueline de Moraes Thurler Dália, Lia Maria Teixeira de Oliveira, Luciana Nogueira Fontenele, Maíza Gabrielle Pereira Ribeiro. Marcelle Felipo, Mariane Del Carmen da Costa Diaz, Monica

    A. Del Rio Benevenuto e Selma Dansi Fabre.

    Revisão: Fabbio Cortez

    Capa e projeto gráfico: Alexandre Brum

    Produção para ebook: Fábrica de Pixel

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    C129

    Cadernos de discussão: juventude, educação do campo e agroecologia / Andréia Cristina... [et al.]; Lia Maria Teixeira de Oliveira (organizadora). Rio de Janeiro: Outras Letras, 2011.

           158 p.

           Inclui bibliografia ISBN 978-85-88642-40-9

            1. Ecologia agrícola. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Agricultura sustentável. 4. Educação rural. I. Cristina, Andréia. II. Oliveira, Lia Maria Teixeira de.

    .

    Outras Letras Editora

    Tel.: (21) 2267-6627

    www.outrasletras.com.br

    outrasletras@outrasletras.com.br

    Associada à Libre – Liga Brasileira de Editoras

    www.libre.org.br

    Dedicatória

    Dedicamos este livro ao professor Raul Lucena,

    o melhor e mais aguerrido mestre da agroecologia, uma das pessoas

    que mais lutou pelos alimentos orgânicos no país, responsável

    pela formação de gerações de brasileiros que militam

    por mais qualidade de vida.

    Juventude protagonizando a transição agroecológica no Estado do Rio de Janeiro: a experiência da intervivência universitária na UFRRJ

    Juventude protagonizando a transição

    agroecológica no Estado do Rio de Janeiro:

    a experiência da intervivência

    universitária na UFRRJ

    Andréia Cristina Matheus

    Diogo de Souza Pinto

    Fernanda Olivieri de Lima

    Iranilde de Oliveira Silva Lia

    Maria Teixeira de Oliveira

    Luciana Nogueira Fontenele

    Maíza Gabrielli Ribeiro

    Selma Dansi Fabre [1]

    Somos capazes de mudar a história e revolucionar uma crítica; enfrentamos um novo futuro e aprendemos que, em frente, há sempre um passo depois do outro. Para podermos guiar nós usamos a nossa consciência para entender que na vida podemos fazer de tudo.

    Jovem do Programa de Intervivência Universitária

    A Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (Aarj) tem diagnosticado, a partir de experiências no Estado, onde existem diversas ações político-produtivas de atores dessa rede social, as demandas de formação de jovens com vínculos no âmbito da agricultura familiar camponesa e agricultura urbana/periurbana[2]. Considerando esta demanda, a Aarj buscou parceria junto aos docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Esta parceria culminou na candidatura de um projeto ao edital MCT/CNPq Agronegócio/MDA/Nº 23/2008 – Programa Intervivência Universitária, que foi aprovado para desenvolvimento nos anos de 2009 a 2011. O objetivo geral dessa formação voltava-se para atender setenta jovens (idades de quatorze a dezoito anos) em um processo de construção do conhecimento especializado em agroecologia, das regiões Norte Fluminense (Campos de Goytacazes, Macaé , Conceição de Macabu, Carapebus, Cardoso Moreira, Quissamã, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra), Metropolitana (Rio de Janeiro, Mangaratiba, Seropédica, Paracambi, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São Gonçalo, Itaboraí, Niterói, Belford Roxo, Queimados, Nilópolis, São João de Meriti, Mesquita, Itaguaí), Costa Verde (Angra dos Reis, Paraty), Vale do Paraíba (Volta Redonda, Barra Mansa, Resende, Barra do Piraí, Piraí, Rio Claro, Valença, Vassouras, Paty do Alferes, Miguel Pereira), Serramar (Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras), Serrana (Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim e Sumidouro) do Estado do Rio de Janeiro. O projeto apresentado ao CNPq e à UFRRJ intitulase Campo e Campus – Jovens rurais/quilombolas protagonizando o fortalecimento da agricultura familiar e a construção do conhecimento de agroecológico no Estado do Rio de Janeiro, mais conhecido como Formação da juventude em agroecologia.

    Onde está a juventude rural/quilombola e a da agricultura urbana do Rio de Janeiro

    Os jovens que participaram do Programa de Intervivência Universitária da UFRRJ encontram-se em espaços-tempos agrários e urbanos que, ao longo das últimas décadas, sofreram processos sociais e políticos de expropriação induzidos pelo capital agrário e capital imobiliário. Alentejano (2003) diz que o capital industrial provocou a metropolização e o capital imobiliário – que subordina o capital agrário do interior – ocasionou grande esvaziamento do campo e, por consequência, o inchaço dos grandes centros devido à desterritorialização camponesa.

    Assim sendo, a juventude rural tem sido levada a abandonar o campo, muitas vezes por ser a única opção de se sentir valorizada como trabalhadora, como cidadã e não por um desejo. A procura de melhores condições de vida por meio de educação, trabalho e aumento da renda familiar nos centros urbanos – que na maioria das vezes é mais rapidamente acessível, no entanto – tem colaborado para que os jovens e seus pais parem de lutar pela dignidade e por políticas sociais para o campo e para a agricultura familiar.

    O avanço do capital e a tecnicização da agricultura sob a perspectiva empresarial não só vêm alterando a paisagem agrária e natural como têm atingido a juventude do campo e da agricultura familiar. Durante mais de dois séculos, as políticas sociais para a juventude do campo estiveram reduzidas à oferta de vagas nas escolinhas rurais, que não atendia a todos os níveis e modalidades de ensino e nem mesmo a profissionalização que as populações rurais ou periurbanas necessitavam a fim de suprir setores carentes.

    A educação básica que não se relaciona com a realidade local e sua diversidade sociocultural não contribui para mudanças profundas nas mentalidades. O campo ou a periferia onde está a agricultura urbana ressente de investimentos públicos na educação escolar e de profissionalização, tanto que os atores coletivos nos fóruns de educação do campo reivindicam educação básica e superior e não mais investimentos em assistência ao homem ingênuo ou ignorante do meio rural.

    Então, é nesse espaço-tempo de diversidade e adversidade que os sujeitos do Programa de Intervivência estão em ação: pela inclusão social ou buscando novas ruralidades para dar sentido ou significar saberes e práticas num mundo rural ou de periferia em processos de globalização ou de localismos, como diz Boaventura Santos (2002). Compreende-se nessa perspectiva que a juventude atravessa espaçostempos que requerem processos educativos contextualizados, porque mais do que nunca os jovens necessitam de formação de consciência crítica para instrumentalizar as relações em diversos âmbitos sociais da contemporaneidade.

    Portanto, a consciência crítica na convivência cotidiana pode vir a formar relações dialógicas, que certamente criam aberturas para novas organicidades curriculares nas instituições sociais onde os sujeitos da práxis (os que ensinam e os que aprendem) se encontram. A juventude brasileira vive um tempo exigente de dialogação e tecnologia multimídia. Os jovens do campo do Estado do Rio de Janeiro, por mais rural que seja

    o seu território, estão numa cidade de cosmopolitismos e, dessa forma, mobilizados por variadas relações subjetivas vindas das redes sociais locais, regionais, nacionais e internacionais, da militância de seus pais. Essa realidade baseia-se na conexão entre a sociedade da informação – que se conserva e ao mesmo tempo se transforma e vai modificando as estruturas por meio das redes de subjetividades – e a sociedade objetiva

    – que se forma pelos aspectos de educação, trabalho, cidadania, cultura, produção agroecológica e sociabilidades em geral.

    Na experiência cotidiana dos indivíduos ordinários, conforme Giddens (2002) já situava, a interação subjetiva mediada pelas novas formas de construção do conhecimento é mais intensa e ampliada, pois se origina dos desdobramentos de relações sociais multidimensionais e tecnológicas associadas ao caráter coletivo dos processos que os jovens vinculados aos movimentos sociais experimentam. São espaços-tempos que objetivamente vão se estruturando para ampliar novas formas de socialização decorrentes das interações.

    Na transição de um mundo estabelecido em visões consolidadas, parafraseando Edward Said (1995) surgem as visões emergentes do balanço de ideias/pensamentos e ações das esferas político-econômicas da modernidade, cujo resultado tem gerado nos atores coletivos uma espécie de inventário de valores, crenças, saberes e de bandeiras de lutas. Esse inventário se constrói rapidamente em vários espaços sociais, mormente em face dos questionamentos provenientes de indivíduos em ação coletiva ou de grupos social-comunitários unidos por interesses, afinidades e laços solidários (marcados pela territorialidade), que incitam o debate pela desnaturalização dos significados outrora objetivados nas estruturas de dominação e consensos e que se instalam confortavelmente outros atores coletivos da esfera de representação do poder global.

    O que ficou como representação de juventude no Projeto Campo-Campus retrata um universo de diversidade tal como é o Estado do Rio de Janeiro: jovens rurais, quilombolas, periurbanos, indígenas, agricultores urbanos, caiçaras, todos com uma expectativa muito grande de viver intensamente o que a Intervivência em Agroecologia na UFRRJ poderia atender e a expectativa de tecer novas relações de juventude e de pertencimento num novo grupo que se formaria a partir da intervivência.

    As experiências dos movimentos sociais que alimentaram o Programa de Intervivência

    Os movimentos sociais vêm rompendo barreiras normativas nas esferas institucional/contratual/jurídica (por exemplo: o movimento ambiental, negro, MST etc.), defendendo lutas – étnicas, de gênero, ambientais – padronizadas pelo sujeito que reage ao instituído, requerendo os seus pleitos. É justamente a partir desse contexto multifacetado – caracterizado pela tensão nas relações macroestruturais e microestruturais (indivíduos coletivos e sujeitos em relações intersubjetivas tencionando as rígidas estruturas) – que se faz ainda mais urgente a criação e recriação de espaços-tempos de reflexividade; são tempos e espaços de mais profundidade no saber fazer, pois requerem por parte dos jovens, para a manutenção da vida e cidadania, o compromisso com as novas ruralidades culturais, de trabalho e de produção. Esse tempo exige novas epistemologias para pensar as novas configurações do agir e do pensar, sobretudo no que diz respeito às ciências sociais e humanas. É possível, portanto, vislumbrarmos mudanças nas estruturas, pelas redes de subjetividades formadas por sujeitos que estão mobilizados e destinados a rupturas com os discursos e práticas deterministas. A progressiva organização dos indivíduos – de pequenas coletividades em movimentos sociais contra-hegemônicos (descentralizados, solidários, reativos ou pró-ativos), com bandeiras ou ações de luta distintas – mantém todavia a solidariedade como unidade. Nesse movimento, a utopia é a ideia-força grupal e o sujeito/indivíduo está na centralidade de suas proposições de mudanças. Essa mobilização tem impactado diversos setores políticos, econômicos e culturais, no sistema global-local.

    A Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (Aarj) baseou-se em algumas experiências bem sucedidas, entre as quais se destacam:

    • O Projeto Agente Jovem, feito em parceria com a prefeitura de Casimiro de Abreu (RJ), que realiza atividades produtivas com jovens das comunidades rurais em base agroecológica, destacando-se o preparo de horas.

    • O Projeto da Palmeira Juçara que visa à participação de crianças e jovens do Quilombo do Campinho, em Paraty (RJ), na coleta da palmeira Juçara e na preservação dos recursos naturais. O projeto objetiva também estimular os jovens a permanecerem ativos nos quilombos, mantendo uma estrutura de organização que permita a intervenção desses jovens na comunidade, conservando e resgatando a cultura local dos griôs[3].

    • O Programa de Formação de Jovens do Campo e da Cidade, organizado pelo MST, que trabalha o despertar para a sociedade, tanto no campo quanto na cidade.

    A metodologia do programa e seus eixos: a pedagogia da alternância e a agroecologia como referência

    O Edital n. 23/2008 do CNPq exigia que os jovens estivessem cursando o nível de ensino fundamental ou médio e tivessem alguma disponibilidade de tempo para serem multiplicadores de conhecimentos especializados. Desse modo, a formação dos jovens ocorreu em espaços-tempos estruturados pela pedagogia da alternância, que está relacionada à construção do conhecimento a partir de outro paradigma científico, cultural e político. Toda intervenção pedagógica, segundo a alternância, é mediada por metodologias participativas de modo que a escola/centro de formação/capacitação desperte a mentalidade

    dos jovens para o protagonismo (cidadania), como ator social de seu grupo de pertencimento. Isso implica perceber saberes e conhecimentos na transversalidade e na interação de processos sociais, econômicos, produtivos e culturais que estão em ocorrência local-regional-global.

    Os programas e políticas públicas que adotam metodologias e tipos participativos de planejamento na formação dos movimentos sociais por si só empreendem outra organicidade na construção do conhecimento e na responsabilidade de condução dos trabalhos. Quando se pensa em garantir a alteridade dos povos do campo e da agropecuária camponesa ou urbana, faz-se notório

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