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A Arte de Assassinar
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E-book299 páginas4 horas

A Arte de Assassinar

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Sobre este e-book

Quando duas valiosas pinturas a óleo desaparecem, Kendall é chamado pela empresa de seguros para investigar. Ele aceita o trabalho com relutância. Então, um corpo é encontrado e logo mais um. “— Então, o que acha? — Mollie perguntou. ” — O que eu acho? — Kendal repetiu. — Bem, duas pessoas mortas, acho que alguém tem praticado a arte de assassinar. ”

IdiomaPortuguês
EditoraPHOENIX
Data de lançamento14 de out. de 2020
ISBN9781071568699
A Arte de Assassinar

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    Pré-visualização do livro

    A Arte de Assassinar - John Holt

    Cover Image

    Figura da Capa

    Meus sinceros agradecimentos à Agora Art Gallery, 530 West 25th Street New York, NY, 1000, e à Sabrina Gilbertson, Diretora Assistente, pelo interesse que demonstrou neste projeto e pela assistência prestada.

    Fundada em 1984, por um artista, a Agora Gallery está localizada no coração do famoso distrito artístico de Chelsea.

    É uma galeria de arte contemporânea dedicada à promoção de artistas locais e internacionais que desejam se inserir no mercado de arte de Nova York.

    A imagem de capa é baseada na seguinte foto fornecida pela Agora, a quem não posso agradecer o suficiente.

    A fotografia mostra The Figure and Unknown Places Exhibition, que aconteceu na Galeria Agora entre 7 e 27 de julho de 2018.

    As obras em destaque são de autoria de

    26 artistas internacionais que trabalham na intercessão entre retrato e paisagem.

    Entre os artistas estão Angela Blattner, Gunter Langer, Ketan Kelkar, Mireille Pizzo, Marco Henrie, Ilaria Castagnacci, Hugo Ximello-Salido, Ashraf Elsharif, Mileidy Plata, Jutta Ebeling-Dehnhard, J.H.

    Rebelato, Germán Valles Fernández, Taikyu Lim, Susan Marx, Christine Stettner, Yu He, Pino Lavecchia, Gonzalo Urrea Correa, Monica Adams, Andreas Meer, Marliese Scheller, Fiorenza D'Orazi, Francis Annan Affotey, Boguslawa Czarnecka, Richard Tomlin, and Linda Rosen.

    As obras mostram novas percepções na tradição da pintura de retratos e paisagens, cada artista representando o mundo através de lentes altamente subjetivas e pessoais.

    As pinturas e fotografias em exposição empregam abstrações, realismo e ilustrações para transmitir perspectivas da condição humana e do mundo em que vivemos.

    A complexidade da relação entre o homem e a natureza também é explorada nos trabalhos que retratam as emaranhadas conexões entre humanos e animais.

    Fornecendo percepções da natureza e cultura binária, os artistas desconstroem as categorias pré-estabelecidas e imaginam um novo mundo.

    Capítulo Um

    A Galleria Lafayette

    A Galleria Lafayette é um desses lugares elegantes da moda, favoritos dos aficionados por arte moderna. É muito popular entre os executivos jovens, entre os novos ricos e entre os que têm dinheiro para gastar e visão de futuro de mercado. Pessoas que estão sempre à procura de uma boa oportunidade de investimento. Quem sabe precisamente o que quer da vida e como conseguir. São ricos e confiantes. São líderes, têm influência e não têm medo de usá-la. São os que definem as tendências para os seguidores.

    Fundada há poucos anos por Gerald Lafayette, a galeria fica em um pequeno edifício de dois andares localizado no bairro South Miami Heights, na alameda Biscayne. A área é famosa no mundo das artes, abrigando várias galerias particulares que atendem a todos os gostos, do abstrato até o impressionismo, do cubismo ao renascimento, de Renoir a Jackson Pollock.

    * * *

    Gerard Lafayette olhou para o relógio de parede. Ainda tinha uma hora e meia ou mais antes de ter de sair. Ligou o computador e começou a digitar, verificando a contabilidade da empresa.

    Soltou um suspiro.

    Os negócios estavam indo bem, mas não muito bem, e vinham caindo já há alguns meses. Eram, sem dúvida, sinais preocupantes de que as coisas poderiam mudar ainda mais, e o pior ainda estava por vir, e muito em breve. As vendas estavam claramente caindo, em comparação com o ano anterior. Até o número de visitantes diminuíra. Os custos, por outro lado, estavam aumentando e as contas se acumulavam.

    Suspirou mais uma vez olhando para a tela.

    Claro que tinha havido crises econômicas em todos os setores de negócios nos últimos três ou quatro anos. Os resgates bancários nos últimos anos causaram danos consideráveis. Muitas outras galerias estavam sofrendo, algumas até tinham fechado as portas. O mundo das artes não estava imune a esses efeitos e tinha sido afetado como tudo o mais.

    Mas Lafayette não era como os outros. Ele, definitivamente, não estava disposto a ser afetado, e tinha intenção de fazer algo. Alguma coisa bem radical. Talvez as coisas mudassem quando seu plano fosse finalmente posto em ação. No mínimo, geraria publicidade e, assim, atrairia mais negócios.

    Pelo menos, era o que ele esperava. Mas, é claro que, se tudo corresse bem, haveria muito mais do que apenas publicidade.

    * * *

    Embora fosse pequena e relativamente nova, a galeria adquiriu rapidamente uma boa reputação no suprimento de raridades da arte moderna, especializando-se principalmente em obras das décadas de 20 e 30. Estatuetas de porcelana, esculturas em argila e bronze, aquarelas, desenhos em nanquim e, claro, pinturas a óleo podiam ser encontradas lado a lado em exposição.

    A galeria parecia saber o que ia ser popular em qualquer momento e sempre parecia estar na moda e, sem dúvida, estava frequentemente à frente do mercado.

    E eram os quadros do artista americano Samuel Gresham, em particular, que estavam atualmente na moda e eram muito procurados, graças ao entusiasmo do proprietário da galeria.

    * * *

    Deve-se dizer que Gerard Lafayette não era seu nome verdadeiro e tampouco tinha origem francesa, como queria fazer crer. Michael David Lambert era o seu verdadeiro nome. Caçula de quatro irmãos, nativo de Detroit, ele trabalhou inicialmente nas linhas de produção da indústria automobilística, como o avô e o pai antes dele.

    Quando as montadoras de automóveis fecharam, ele trabalhou como motorista de caminhão e, algum tempo depois, como operário em uma fábrica, a primeira de muitas. Foi uma longa lista de trabalhos subalternos que nunca duraram muito.

    Lambert não era uma pessoa fácil de lidar.

    Arrogante e egocêntrico, muitas vezes entrou em conflito com os superiores. Depois de um curto período sem emprego, teve sorte e conseguiu uma colocação como zelador em uma escola local. Foi ali que começou a se interessar por arte.

    Começou a frequentar uma escola noturna, aprendendo tudo o que podia sobre arte e artistas. Logo foi considerado como especialista em alguns aspectos. Por causa de seu entusiasmo e conhecimento, logo se tornou amigo do professor de artes da escola, Frank Edwards, e, através dele, fez contato com vários estudantes de arte. Ia frequentemente à sala de artes depois que a escola fechava e fazia tentativas com pinturas a óleo e aquarela.

    Logo percebeu, contudo, que, apesar de seu conhecimento sobre o assunto, não tinha nenhum talento para desenho ou pintura. Decidiu então deixar aquilo para outros mais capazes. Entre outras de suas qualidades ou ausência delas, ele reconhecia uma boa obra de arte. Sabia o que gostava ou não gostava.

    Começou a perceber o que o público gostava e, ainda mais importante, o que comprava. Lia tudo o que encontrava sobre o mundo da arte. Passou a identificar quais eram as peças importantes e as medíocres, que podiam ser simplesmente descartadas e ignoradas. Reconhecia o que tinha potencial de investimento e o que provavelmente traria prejuízo.

    Logo passou a distinguir os talentos que se reuniam a sua volta e as oportunidades que ofereciam. Percebeu que alguns dos trabalhos de estudantes não eram ruins. De fato, alguns eram excepcionalmente bons e podiam ser vendidos.

    Lambert tinha conhecimento, era entusiasta, mas também era implacável e determinado a vencer. Além de arte, ele também se interessava por saúde e poder. Uma ideia começou a se formar em sua mente. Ocorreu-lhe que, talvez, pudesse mesmo vender alguns quadros. Afinal, se o produto era bom e o preço era justo, qual a dificuldade?

    Com isso em mente, rapidamente convenceu jovens artistas de que poderia vender o trabalho deles e que seria muito bom se fosse seu empresário. Não era de surpreender, contudo, que a benevolência de Lambert tivesse interesses pessoais. Sob um olhar mais atento, seus motivos eram, claramente, quase inteiramente egoístas. Seria vantajoso para os estudantes, mas muito mais para si próprio.

    Enquanto estava ajudando outros, não se poderia acusá-lo de estar se esquecendo de si mesmo. Não era muito difícil persuadir jovens que essa era a coisa certa a fazer, que era para seu próprio benefício, seu próprio bem. Afinal, ele era tão bem informado, conhecia o mundo das artes e o mercado! Sabia o que venderia bem. As pessoas o ouviam.

    Além do mais, o que esses jovens artistas tinham a perder? Nada. Mas tinham potencial de ganhar muito. Por conseguinte, não demorou muito até ser contratado como agente por vários desses jovens do local, recebendo entre 30% e 50% de seus lucros. Logo ele estava procurando um lugar para realizar as vendas. Um lugar especial. Não lhe serviria um box em um mercado nem uma área descoberta numa feira. Não, ele queria algo mais parecido com uma galeria. Olhou várias locações nos meses seguintes, mas rejeitou todas por um motivo ou outro. Ou eram pequenas demais ou grandes demais ou, possivelmente, porque eram caras demais. Aí um pequeno estúdio com depósito ficou disponível na Charlton Road. Lambert foi dar uma olhada.

    Era um edifício térreo em concreto e ferro, construído no começo dos anos 70. Não era exatamente o que ele tinha em mente. Nem ficava no melhor lugar. Era aparente que não estava em bom estado, tinha sido tristemente negligenciado por muitos anos. No entanto, atendia a seu objetivo e, pelo menos, era barato. Viu que tinha potencial. Só precisava de uma camada nova de tinta, algumas divisórias e umas poucas mudanças na iluminação. Alguns vasos de palmeiras bem posicionados e móveis modernos e bonitos e estaria transformado. Em pouco tempo, tinha conseguido o local para a exibição permanente que desejara.

    Agora tinha sua própria galeria de arte. A Galeria Lafayette já tinha quadros à venda. Começou cobrando poucos dólares, mas, com o tempo, gradualmente, elevou os preços. As pessoas o ouviam e aceitavam suas recomendações. Foi por essa época que Gerard Lafayette surgiu e Michael David Lambert desapareceu de cena.

    Lafayette encontrou rapidamente um nicho no mercado e em pouco tempo estabeleceu sua marca. Embora tivesse se especializado, em geral, na arte das décadas de 20 e 30, deu grande apoio aos artistas locais e estava sempre disposto a dar uma oportunidade aos novos Tolouse-Lautrecs ou Constables.

    Aquelas primeiras vendas não foram nada mal. De fato, foram encorajadoras, mas não tiveram o sucesso estrondoso que o impaciente Lafayette esperava. Mas ele teve de admitir que, na verdade, tinha sido um bom começo. Além, do mais, teve até uma notinha na página dez do jornal local. O conteúdo da nota foi preciso, mas pode-se dizer que não foi essas maravilhas todas.

    Miami Herald, Sábado - A Galeria Lafayette abriu suas portas hoje com uma pequena exposição de obras de artistas locais. Entre elas estão algumas peças muito boas de um jovem artista promissor, Kenneth Bishop. Ainda vamos ver muito dele no futuro.

    As notícias não foram emocionantes. De fato, foram bem sem graça, mas, pelo menos, era publicidade. Ele não achou ruim que falassem sobre si. Em sua opinião, se não tivessem falado nada teria sido muito pior. Lafayette considerava que a única publicidade negativa era não ter publicidade. Contudo, naquele momento, decidiu que a próxima venda seria bem diferente.

    Faria algumas mudanças.

    Primeiro, não ia esperar que alguém decidisse divulgar alguma coisa depois da mostra. Na próxima vez, ele iria redigir sua própria publicidade e divulgá-la antes da mostra. Iria dizer ao público não apenas o que tinham perdido na anterior, mas o que iriam ver, o que não poderiam perder. Ia fazer parte da agenda social do público. Um lugar para ver e ser visto. A imprensa seria convidada, na verdade, e receberia um release. Não seria mais apenas sobre uma venda de obras de arte. Seria um evento para ser incluído na agenda, e talvez algumas taças de champanhe fossem servidas para ajudar no processo.

    E, quem sabe, uma música ambiente relaxante para completar a ocasião. Strauss ou Mozart serviriam.

    Suas exposições regulares com muitos dos artistas locais foram sempre bem frequentadas e um bocado de jovens talentos receberam o merecido reconhecimento por causa dele. Lafayette muitas vezes realizou competições para encorajar os talentos locais. Os artigos que escrevia sobre as virtudes desses jovens eram frequentemente publicados no suplemento do domingo ou nas revistas de arte especializadas.

    E é claro que a mídia social não ficava esquecida.

    Sempre havia postagens sobre esse ou aquele artista. Apareceram blogs regulares, todos avidamente lidos pelos seguidores. Como resultado, sua reputação aumentou e sua clientela cresceu.

    O edifício na Charlton Street era suficiente para o momento, mas Lafayette começou a ficar inquieto, cada dia mais impaciente, queria sempre mais. Queria alguma coisa mais permanente, mais estável. Queria uma grande galeria, com um nome grandioso. Uma galeria que concorresse com as melhores. Mas ele sabia que essas coisas custavam dinheiro, muito dinheiro. Dinheiro esse que ele não tinha.

    Mas isso não o impediu. Ele pediu e pegou emprestado de parentes, de amigos, de qualquer um que se dispusesse a se arriscar, a apostar. E era um risco, ele sabia disso. Era um risco enorme. A concorrência de outras galerias era grande. Ele precisava ser capaz de oferecer mais que as outras. Precisava se manter um passo à frente. E se falhasse? Lafayette era, mais que tudo, um realista. E se isso não der certo? Se não der, não deu. O que vou poder fazer? Nada. Poderia abrir falência, claro, mas a verdade é que ele não considerou isso possível, nem remotamente.

    Ia ser um sucesso, não importava como. Seja lá o que tivesse de fazer. Então o tipo da galeria estava decidido. Agora era escolher um nome. Tinha de ser um nome especial. Um que refletisse a natureza da galeria, sua posição na sociedade e no mundo da arte em geral. Que inspirasse respeito. Que ficasse na boca do povo. Um nome que refletisse estilo, que a destacasse das outras. Ele sabia exatamente o nome que queria.

    Decorreram, contudo, cinco anos até que a Galleria Lafayette estivesse estabelecida. Porém se tornou, quase imediatamente, reconhecida como a maior fonte de obras de arte importantes. Dentro de pouquíssimo tempo, Gerard Lafayette era visto em todo lugar que importava, com sua marca registrada na lapela, geralmente um cravo cor-de-rosa ou uma rosa branca. Podia ser encontrado em todas as grandes exposições. Frequentava os mais importantes leilões. Os artistas o procuravam na esperança de garantir um contrato para uma exposição. A mídia estava sempre pedindo entrevistas. Colecionadores pediam sua consultoria e sugestões sobre o que comprar. Marchands iam primeiro à sua galeria, antes de qualquer outra.

    * * *

    Lafayette sorria quando lembrava desses tempos. Contra todas as probabilidades, tinha, sem dúvida, se dado bem. Mas agora outro desafio surgia à sua frente. Desligou o computador e se recostou na cadeira. Estava satisfeito consigo mesmo. Todos os planos estavam prontos, todas as instruções foram dadas.

    Não havia esquecido nada, pensou. Repassou tudo mais uma vez, marcando cada item realizado. Convenção de arte, hotel, voo, tudo conferido. Continuou verificando tudo mais uma vez. E, pela quarta vez, concluiu que tinha tudo sob controle. Não havia erro, nada foi deixado ao acaso. Nada foi esquecido. Estava quase pronto.

    Então lembrou que tinha só mais uma coisa para conferir antes de terminar. Com a chave, abriu a primeira gaveta de sua mesa. Logo em cima havia uma folha de papel. Tinha no cabeçalho: Departamento de Polícia de Miami - Relatório de veículo roubado, Chrysler 300 azul, placa FKT 26R. Depois vinham os detalhes do nome e endereço do proprietário, Gerard Lafayette, rua Augusta 245, e a data e local do suposto roubo. Em anexo, havia uma carta de solicitação do seguro do automóvel.

    Ele sorriu, fechou a gaveta e guardou a chave no bolso interno do paletó. Tudo o que precisava fazer agora era colocar o plano em ação.

    Olhou mais uma vez para o relógio na parede. Em pouco mais ou menos de 45 minutos, ele e Ken Bishop teriam de partir para o aeroporto. Na quinta-feira à tarde, o voo para Nova York saía às 16h20, e, dez minutos depois, saía o voo para Atlanta.

    Pegou a pasta e abriu-a. Última verificação. Estava tudo ali. A inscrição para a convenção, a confirmação da reserva do hotel e as passagens aéreas. Fechou a pasta e travou o cadeado de combinação. Então usou o interfone para falar com a secretária.

    — Yvonne, procure Ken, por favor. Diga a ele que esteja pronto para partir em meia hora. Oh, e não esqueça que nós dois estaremos fora nos próximos cinco dias e só estaremos de volta em algum momento da segunda-feira. Qualquer problema, resolva com Ray, ele assumirá.

    Desligou o interfone, olhando para o lado da mesa, onde havia dois pacotes pequenos, cobertos com um pedaço de tela. Sorriu. Quem haveria de pensar que esses dois pacotes valeriam pouco mais de seis milhões de dólares?

    * * *

    Capítulo Dois

    Tom Kendall, Detetive Particular

    Miami Herald, terça-feira – A polícia foi chamada pela Galeria Lafayette ontem à noite. Duas valiosas pinturas a óleo do artista americano Samuel Gresham desapareceram. Um representante da galeria disse aos nossos repórteres que os quadros tinham sido recentemente avaliados em três milhões de dólares, cada. O Departamento de Polícia de Miami deu início a uma investigação mas admite que, até o presente, não têm muitas pistas. A Seguros Versatile ofereceu uma recompensa pela recuperação das obras.

    * * *

    A três quilômetros, aproximadamente, ao norte da galeria, o detetive particular Tom Kendall estava em seu escritório, lendo sua correspondência matinal. Na sua correspondência trazia as bobagens de sempre: cartas informando que ele ganhara uma grande soma de dinheiro em um sorteio qualquer, outras sugerindo onde ele deveria gastar essa riqueza recém-adquirida, e outras, ainda, oferecendo seguros de vida, oportunidades de investimento e mais um cartão de crédito. E, claro, as contas a pagar.

    Uma carta, contudo, atraiu sua atenção. Era do Ministério Público. Ele a leu pela terceira vez e suspirou. Empertigou-se na cadeira e empurrou a carta para o lado. O julgamento de Graham Taylor tinha, afinal, sido marcado para dali a três meses e, como já esperava, Kendall seria ouvido como testemunha.

    Já faziam mesmo três anos? Ele pensou. Três anos e seis meses, para ser exato. Suspirou. Não se esquece um caso daquele. Entretanto, sabia que teria de rever os detalhes nas suas anotações.

    Levantou e foi até o arquivo. Abriu a última gaveta e tirou uma pasta de papel pardo identificada como Laboratórios Cromptom 2016. Abriu-a e começou a ler seu conteúdo. Graham Taylor, ex-CEO do Laboratórios Cromptom, tinha sido acusado de assassinar vários médicos. Mais precisamente, oncologistas, geralmente da pediatria. Médicos que frequentemente usavam tratamentos alternativos e que eram muito críticos da indústria farmacêutica. Foi devido a Kendall, principalmente, com um pouco de ajuda do detetive Devaney, do Departamento de Polícia de Miami, que Taylor foi, eventualmente, processado.

    — Não se apressaram.

    Mollie, sua secretária e sócia, virou-se para ele:

    — Falou alguma coisa?

    — Graham Taylor vai ser julgado, finalmente, daqui a três meses.

    — Não se apressaram, não foi? — Ela voltou-se para a tela do computador.

    Kendall sorriu, se perguntando em que ela estaria tão ocupada. Fechou a pasta e guardou no arquivo. Alguém bateu à porta uma, duas vezes. A porta abriu devagar e dois homens entraram.

    — Senhor Kendall, meu nome é Johnson, Adrian Johnson, e esse é o meu colega John Rogers. Por favor, desculpe ter vindo assim sem ter marcado antes. Nós até ligamos, mas ninguém atendeu.

    Kendall olhou para Mollie, que balançou a cabeça. Ele se dirigiu à porta:

    — O que posso fazer pelos senhores?

    — Somos da Seguros Versatile, companhia de seguros. Somos especialistas em...

    — Pode parar aí, Kendall falou, erguendo a mão. — Já fiz todos os seguros de que preciso. Seguro saúde, seguro de automóvel, seguro da casa e do escritório. Qualquer um da sua lista. Na verdade, tenho seguros demais e podia até lhe vender algum, então...

    Johnson sorriu e balançou a cabeça.

    — Ah, não, não viemos vender nada. O senhor entendeu mal. Como eu ia dizendo, nós somos especialistas em seguros para galerias de arte, museus, esse tipo de coisas.

    — Certo, e o que isso tem a ver comigo? — Kendall perguntou, correndo os olhos pelo escritório — Eu posso parecer uma relíquia de museu,

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