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Um Caso de Assassinato
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Um Caso de Assassinato
E-book403 páginas11 horas

Um Caso de Assassinato

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Sobre este e-book


Whittaker passou as bebidas. “De qualquer forma, parece que ele se meteu em um pouco de encrenca”, continuou ele. “Uma encrenca muita sério.” "Encrenca?" repetiu Kendall. Whittaker deu um suspiro. "Sim, você sabe", ele respondeu. "Dificuldade." Kendall assentiu. "Oh problema, eu entendo você", disse ele. "Então, de que tipo de encrenca estamos falando?" Whittaker tomou outro gole. "Bem, é um caso de assassinato, eu temo." "Assassinato", repetiu Mollie. Whittaker não disse nada, apenas concordou com a cabeça. Outro assassinato, pensou Kendall. Exatamente o que eu preciso. "Basta parar aí, por um momento, e rebobinar você", disse ele. “Então vamos de cima, devagar.”
 

IdiomaPortuguês
EditoraPHOENIX
Data de lançamento16 de abr. de 2022
ISBN9781667426815
Um Caso de Assassinato

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    Um Caso de Assassinato - John Holt

    Prefácio

    A história a seguir é totalmente fictícia.  É uma história, nada mais e nada menos.  Todos os lugares e pessoas incluídos na história são totalmente imaginários, e qualquer semelhança com verdadeiras pessoas vivas ou mortas, é completa coincidência, e não intencional. 

    Apesar de muitos dos lugares mencionados realmente existirem, são somente os nomes que são reais na história.  Eles podem, entretanto, terem sido mudados por necessidade de meus propósitos, por exemplo para fazer a história desenrolar.

    * * *

    John Holt

    Capítulo Um

    O’CONNELL STREET, DUBLIN

    O’Connell Street, o agitado coração da feira da cidade de Dublin, estava tão agitado como de costume nesse sábado de manhã. De fato, na verdade estava provavelmente ainda mais agitado do que de costume, por ser o primeiro dia das vendas de meia temporada. E parecia que toda a Irlanda estava lá, além de alguns milhares de visitantes vindos do outro lado do oceano. 

    O dia havia começado brilhante e ensolarado, mas depois de uma hora ou mais o céu havia nublado, e a temperatura havia caído vários graus. Chuva pesada estava agora prevista para o resto do dia. Sem ligar para o tempo desagradável, a multidão em sua busca, intencionava em uma coisa, e somente uma coisa.  A multidão estava ansiosa para gastar seu dinheiro o mais rápido possível, mas da melhor maneira possível.  Procurando sem parar pelo preço mais baixo, a multidão corria de loja em loja.  Entre eles, havia o turista ávido inundando os pontos turísticos, e ansioso para não deixar passar nada. 

    Tanto jovens quanto velhos, muitos já cheios de sacolas de compras, empurravam um ao outro enquanto passavam pela O’Connell Street. A multidão passou pela ponte de O’Connell, e continuaram passando pelo O’Connell Memorial. Para frente e para frente eles continuavam. Passaram pelo Easons The Booksellers, que já estava atraindo uma grande multidão, por causa de um escritor famoso que ia dar autógrafos. 

    E então a multidão continuou seu caminho.  Passaram pela Loja de Departamentos Penneys, e foram para o famoso Spire, o Monumento da Luz, um obelisco de aço inoxidável com cento e vinte metros de altura.  Perto está a imponente fachada da Sede da Agência do Correio, o local da sede da revolta de Páscoa montada pelos republicanos irlandeses para acabar com o domínio britânico, que teve início em 1916. Não que alguém passando deu a mínima para o acontecimento enquanto a jornada de compras continuava. 

    Para frente e para frente a multidão ia, na Henry Street, entrando na Arnotts, Debenhams, e Dunnes Stores. Depois na Moore Street, onde comerciantes, quase eles mesmo sendo uma atração turística, estavam atraindo compradores em sua costumeira inimitável maneira, com suas convocações ao público fortemente acentuadas, para virem e comprarem suas mercadorias. 

    Grandes multidões iam para o sul, para os portões do Trinity College e além.  Vários estudantes se aglomerando nos portões da faculdade, talvez fumando um pouco, fazendo um lanche, antes de terem que correr de volta para suas aulas.  Havia tanta conversa ocorrendo, talvez sobre sua última namorada; ou a recente partida no Lansdowne Road; ou possivelmente a conversa fosse sobre algum conserto musical que seria dali a alguns dias; ou um programa de televisão que eles viram recentemente; ou talvez sobre uma prova próxima.  O trovão, e a recente chuvarada interrompeu as conversas e antecipou o retorno deles para a sala de aula.

    Enquanto isso as multidões continuaram sua incansável jornada passando pela estátua de bronze de Molly Malone enquanto ela empurrava seu carrinho de mão por ruas largas e estreitas, e continuaram entrando na Grafton Street onde o primeiro dia da venda da Brown Thomas Spring havia acabado de começar.  A cem jardas ou mais para frente uma fila estava se formando fora da famosa Sala de Chá Bewleys, que estava tão popular como sempre, talvez ainda mais agora que oferecia abrigo da chuva. 

    Bem no lado oeste da ponte O’Connell, no lado setentrional do rio Liffey, há um terraço de prédios georgianos.  Três ou quatro andares, eles haviam sido uma vez o elegante lar dos bem nascidos de Dublin, os mercantes e comerciantes ricos, e os capitães do mar de antigamente. Ao longo dos anos, entretanto, os prédios foram descuidados, e agora pareciam desgastados e negligenciados. Agora eles eram o local de alguns dos piores hotéis, e de muitos bares, pizzarias, entregadoras de fast food, lojas de artes, e boutiques que cercavam o cais de Dublin.

    Em cima das lojas, e bares, haviam uma variedade de escritórios de advogados, contadores, estilistas, e negócios de todo tipo que você pudesse pensar.  Um desses escritórios, no terceiro andar de um prédio não identificado situado perto da ponte Ha’penny, era o local da Commodities Britânica—Irlandesa, um pequeno negócio de importação e exportação pertencente e administrado por um tal de Alex Peterson.

    * * *

    O escritório era pequeno, apenas uma única sala na verdade.  As facilidades compartilhadas, como elas eram, estavam localizadas mais para trás no corredor.  A sala tinha poucos móveis. Uma velha mesa perto da janela; uma cadeira giratória velha e feia, alguns armários de arquivos num canto, e algumas gavetas, e mais nada, além de duas cadeiras de encosto reto para um raro visitante. No chão havia um tapete gasto; na única janela uma velha cortina veneziana quebrada. Na mesa havia apenas um telefone, e dois arquivos pardo—avermelhados.  Nas prateleiras havia meia dúzia de mais arquivos empoeirando. Fazia sentido concluir que os armários de arquivos não eram diferentes, e igualmente desusados. À primeira vista pareceria que se tratava de um negócio fracassado.  De fato, parecia que sequer existia um negócio.

    * * *

    Alex Peterson estava na única janela olhando para os compradores.  Alex Peterson virou sua cabeça, e se virou.  Alex Peterson soltou um suspiro e sorriu.  Que lhe importavam as lojas de departamentos, e suas vendas? Que lhe importavam as infinitas multidões barulhentas se espremendo pelas vias públicas? Que lhe importavam os turistas com seus guias de viagem, e suas câmeras? Alex Peterson tinha coisas muito mais importantes em que pensar, coisas que eram questão de vida ou morte.  Talvez sua própria vida e morte.

    Alex Peterson não era seu nome verdadeiro.  Na verdade, ele era Alexis Petrenko, um ucraniano de uma pequena vila bem ao sul de Kiev.  Alexis Petrenko tinha trinta e oito anos, chegou na Irlanda, ilegalmente, pela Romênia, a apenas dez meses atrás, montando seu negócio comercial logo depois.  Entretanto esse não estava destinado a ser a fonte principal de sua renda. De fato, na verdade Commodities Britânica—Irlandesa havia importado muito pouco no verdadeiro sentido comercial da palavra, e havia exportado ainda menos.  Peterson estava, entretanto, certamente no negócio de importações, até aí era verdade, porém, tinha que ser dito que as importações vinham principalmente da Turquia, e Afeganistão, na forma de saquinhos brancos com pó branco. Também deveria ser mencionado que recentemente Peterson havia expandido, e agora também importava carga humana. Imigrantes ilegais, especialmente do norte da África, e Somália, que pagavam muito dinheiro pela promessa de uma nova vida na Europa.  Havia também o bônus adicional que muitos deles iriam também trazer um número desses saquinhos brancos com eles.

    Ao contrário do que diziam as aparências, os negócios na verdade iam bem.  De fato, os negócios vinham sendo ótimos.  Peterson estava indo muito bem obrigado, e fazendo uma boa renda. Peterson era considerado um dos melhores em sua profissão escolhida. Peterson fornecia o que era considerado um produto de boa qualidade, no que era concordado como sendo um preço justo. Peterson, e sua mercadoria, estavam sendo muito procurados. Peterson havia arranjado um regular, e, mais importante, um confiável, fornecedor e havia formado uma grande clientela que comprava sem parar. 

    Mas as coisas haviam ido super mal recentemente. Três grandes carregamentos haviam sumido nos últimos quatro meses. Três carregamentos do que era considerado da melhor qualidade, cada um com um valor de rua de um milhão e duzentos mil euros, haviam simplesmente sumido.  Os clientes de Peterson estavam sendo forçados a procurar outro vendedor.  Mas muito piores eram os comentários de seus fornecedores.  A operação de Peterson estava sendo questionada, especialmente sua segurança, ou aparente falta dela.  Os riscos eram muito altos? Peterson tinha capacidade de administrar tal empreendimento? Peterson realmente estava no controle? Peterson era confiável? Talvez senhor Petrenko já não fosse mais necessário. Talvez isso fosse difícil demais para Petrenko.  Petrenko estava realmente se tornando meio que uma obrigação? Petrenko era, talvez, muito para um risco desnecessário?

    Talvez tenha chegado o tempo de Petrenko ser substituído. 

    Peterson não estava nada feliz. De fato, Peterson estava muito preocupado.  Muito preocupado...mesmo.  Peterson sabia as regras.  Peterson não precisava que fossem explicadas para ele.  As regras haviam sido muito bem ensinadas a Peterson.  Tão bem explicadas que deixavam muito pouco, se alguma coisa, para a imaginação. Se Peterson tivesse tido algumas dúvidas persistentes, elas haviam sido eliminadas a dez minutos atrás, quando Peterson recebeu a ligação, era seu fornecedor.  Não era de surpreender que ele também não estivesse feliz. 

    Seu fornecedor não gostava de sua mercadoria se perder por assim dizer.  Desviar.  Chame isso de orgulho profissional se você quiser, mas seu fornecedor precisava saber onde a mercadoria estava e, mais importante, seu fornecedor precisava saber quem ficou com ela.  Seu fornecedor havia deixado claro, sem sombra de dúvida, que ele não poderia — não iria — correr o risco de ser exposto, e toda a operação arruinada. Isso tinha tudo a ver com controle, controle do mercado, controle do preço, controle dos vendedores, e controle dos compradores.

    A mensagem do seu fornecedor havia sido muito clara. 

    — Petrenko, disse seu fornecedor.  — Ou você dá um jeito nisso, ou...

    O resto não precisava ser dito. A mensagem era super clara.  Não haveria como não entender direito.  Esse não havia sido o primeiro aviso que Petrenko recebeu.  Não era sequer o segundo.  Era o terceiro, e sem dúvida, também seria o último. 

    Da próxima vez... Petrenko instintivamente sabia que não haveria uma próxima vez, mais nenhum aviso. As consequências eram terríveis demais para se pensar.

    Para Petrenko isso não tinha nada a ver com controle.  Era muito mais simples do que isso.  Para Petrenko isso era roubo, pura e simplesmente. Alguém estava roubando Petrenko, enganando-o.  Alguém em quem Petrenko havia confiado.  Petrenko não gostava disso.  Petrenko não gostava disso nem um pouco.  Petrenko começou a bater os dedos na mesa com força e sem parar. Alguém não estava fazendo seu trabalho direito, ou pior alguém havia decidido vender sem a participação de Petrenko, mas às custas Petrenko.  E Petrenko tinha quase certeza de quem esse alguém era, e Petrenko sabia o que ele teria que fazer.

    Petrenko esticou seu braço até o telefone, e rapidamente discou.  Atenderam no segundo toque.

    * * *

    Cinco minutos depois Peterson havia terminado suas instruções. 

    — Eu fui claro? Gritou Petrenko no telefone. — Você sabe o que que fazer, e nada de falhas.  — Você tem três dias.  — Me avise quando tiver cuidado disso.

    Peterson desligou o telefone violentamente. Peterson levantou e foi até a janela mais uma vez. Nuvens negras cobriam o céu. O tempo combinava com seu humor. Muito bem então Peterson havia dado as ordens.  As ordens foram claras e precisas, e não tinha como haver erros, mas ainda assim Peterson estava preocupado.  Peterson realmente poderia contar com eles para fazer o que queria, sem cometerem erros? Levando em consideração o que vinha acontecendo ultimamente, poderia Peterson realmente continuar confiando em alguém? Eles iriam cumprir as ordens de Peterson, ou eles também estavam envolvidos, com aqueles que o estavam traindo? Havia algum plano premeditado para deixa-lo super preocupado talvez? Para facilitar a tomada do seu poder.

    Havia outro carregamento para chegar um pouco mais depois de um mês. Somente duas pessoas sabiam sobre esse carregamento nesse momento, e era assim que Peterson queria que isso continuasse, pelo menos por enquanto.  Nada poderia dar errado dessa vez.  Nada seria deixado para o acaso. 

    Peterson balançou sua cabeça. Peterson ainda estava preocupado.  Peterson sentia que poderia deixá-los cuidar disso, poderia Peterson confiar neles? Ou Peterson precisaria supervisionar esse carregamento pessoalmente? Como eles diziam mesmo? Se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo.  Era aí, e somente aí que você poderia ter certeza de que isso seria feito, e feito corretamente. Mas ir lá supervisionar o carregamento era um risco, um risco que Peterson não estava pronto para correr, não no momento, não nas circunstâncias.

    Peterson se virou novamente e olhou para a janela.  Peterson balançou sua cabeça e sorriu.  Lá no canto estava uma das estátuas humanas. Algum otário todo coberto de cinza, ficando completamente parado, e tentando não se mover.  Algumas crianças estavam brincando ali, cutucando e empurrando, tentando fazer o homem se mover.  Estranhamente a estátua humana lembrava Peterson da pessoa com quem ele havia acabado de falar — ele era estúpido e parecido com uma verdadeira estátua, completamente incapaz de pensar sem ajuda. Ele precisava apenas que dissessem o que tinha de fazer, e quando. Peterson balançou sua cabeça mais uma vez, e olhou novamente para o telefone. Peterson estava agora mais preocupado do que nunca. 

    Três dias Peterson havia dito. Três dias para completar o negócio necessário. Em três dias seu fornecedor chegaria na cidade, e seu fornecedor iria querer excelentes garantias, confirmação de que tudo tinha sido resolvido. Muito bem, três dias então. Peterson poderia aguentar até lá, mas eles sofreriam se as ordens de Peterson não tivessem sido cumpridas em três dias.

    Eles sofreriam, Peterson pensou ansiosamente. — E quanto a mim, murmurou Peterson. 

    Peterson levantou e voltou para a janela. Agora estava chovendo bem pesado.  Peterson olhou para a rua lá embaixo.  — Olhe para eles, disse Peterson olhando as multidões.  — O que eles sabem?

    * * *

    Foram exatamente três dias depois que Peterson recebeu as notícias pelas quais estava esperando. O telefone repentinamente tocou.  Peterson olhou para o relógio na parede.  Era pouco mais de nove horas.  Peterson pegou o telefone. 

    — Sim? Disse Peterson.

    — Problema resolvido, disse uma voz e desligou.

    Peterson sorriu enquanto reencaixava o telefone.  Peterson deu de ombros. — Problema resolvido, repetiu Peterson. Simples assim.  Peterson estalou seus dedos.  Não haviam outros detalhes.  Quem pediu o serviço?  O que aconteceu?  Quando? Onde? Quem?  Peterson balançou sua cabeça.  Isso realmente não importava, não agora. Além do mais Peterson não fazia ideia de quem era, e agora eles já não eram mais problema seu.  Como o problema foi resolvido não interessava, Peterson não precisava saber.  De fato, quanto menos Peterson soubesse melhor. Tudo o que Peterson queria saber era que o problema havia sido resolvido. Resolvido simples assim, Peterson havia se preocupado por nada.

    * * *

    Foi no dia seguinte que Peterson viu no jornal, que ele teve a confirmação que precisava.  A legenda da manchete no ‘The Herald’ simplesmente, mas dramaticamente, dizia Corpo Encontrado na Praia.  A notícia dizia que o corpo havia sido encontrado na Enseada Carrick. Um porta voz da polícia disse que o corpo ainda tinha que ser identificado, mas já havia sido feita uma prisão. Um jovem inglês havia sido acusado pelo assassinato, e teria que aparecer no tribunal no dia seguinte. 

    Peterson sorriu enquanto ele lentamente fechava o jornal.  As coisas estavam correndo perfeitamente, de fato, com a prisão, melhor do que Peterson havia esperado.  Tudo o que era necessário agora era garantir que as acusações continuassem, e Peterson estava confiante que isso não seria difícil.

    O único problema ainda não resolvido era a recuperação da mercadoria.  Isso seria mais difícil.  Trinta pacotes, cada um de quinhentas gramas, com um valor de rua de mais de cinquenta mil euros cada, ainda estavam faltando da última cota.  O fornecedor queria esses trintas pacotes de volta. 

    Peterson queria esses trintas pacotes de volta.

    * * *

    Capítulo Dois

    OLD BAILEY, LONDRES

    TRÊS MESES DEPOIS

    — Chegamos, governador, uma voz falou, enquanto o táxi estacionava.  — O Old Bailey.

    Tom Kendall foi o primeiro a sair, logo atrás dele estava sua sócia, Mollie. Tom Kendall foi em direção ao Old Bailey, com o guia de viagens na mão, e já aberto.  Mollie balançou a cabeça, seus piores pesadelos iam se realizar.  Mollie soltou um suspiro, e depois voltou até o taxista. 

    — A Corte Central Criminal de Londres, popularmente conhecida como Old Bailey, vinha sendo a principal corte criminal da capital por séculos e é provavelmente a mais famosa no mundo, Kendall leu no livro. 

    — O atual prédio de Old Bailey foi construído em 1907 e inaugurado pelo Rei Edward VII. As paredes estavam revestidas de pedra de Portland fixadas de uma maneira estranha e enfeitadas com lembretes simbólicos para o público de sua valorosa função. 

    — Sim, sim, disse Mollie, enquanto ela ultrapassava Kendall e parava na entrada.  — Nós vamos entrar, ou o que? Perguntou Mollie. 

    * * *

    Kendall, um detetive particular de Miami, e Mollie, não eram apenas turistas comuns visitando a Inglaterra, vendo os pontos turísticos. Apesar da câmera pendurada no ombro de Kendall, e o guia de viagens na sua mão poderem ter sugerido exatamente isso. Isso não eram férias, bem pelo menos não somente isso. A principal razão da viagem foi um recente caso criminoso, envolvendo um assassinato.  Kendall era a principal testemunha de acusação.

    * * *

    — No topo do domo ali tem uma estátua folheada a ouro de doze pés simbolizando uma dama da justiça segurando a espada em uma mão e a balança da justiça na outra, Kendall continuou lendo no guia de viagens.  Kendall olhou para Mollie. — Vivendo e aprendendo, disse Kendall.  — Eu aposto que você nunca soube, não é mesmo?

    Mollie livremente admitiu que ela nunca soube disso, e mais exatamente, não dava a mínima.  — E daí? Perguntou Mollie.

    Isso não adiantava nada com Kendall enquanto, incansável, Kendall continuava a ler o guia de viagens.  — O Tribunal original de Old Bailey foi construído em 1539 no lugar onde ficava a famosa Prisão Newgate.  Kendall parou por um momento e olhou para a grandiosa estrutura.  — Imagine isso, disse Kendall, balançando sua cabeça. 

    Mollie se esforçou muito, mas simplesmente não conseguia imaginar isso.  — Não deveríamos entrar? Perguntou Mollie, esperando que Kendall fosse parar de bancar o turista, e guardar o guia de viagens.  Mollie olhou para cima, e fez uma oração silenciosa.

    Kendall olhou para ela, e acabou concordando.  — Acho que você está certa. — Nós teremos que continuar isso depois, disse Kendall, enquanto ele cutucava o guia de viagens, o fechava e colocava no bolso da jaqueta. — Enquanto isso vamos encontrar a galeria pública.

    Mollie soltou um suspiro de antecipação pelo que estava para acontecer depois. — Lá em cima eu acho, sugeriu Mollie apontando para a placa que dizia que a galeria pública estava no andar de cima.

    Kendall olhou na direção indicada. — Eu sabia, disse Kendall, e rapidamente subiu os degraus.

    * * *

    Foi a apenas três semanas atrás que Kendall, havia aparecido na corte pela primeira vez, como uma testemunha de acusação do caso A Coroa contra John Wyndham Collier.

    Kendall e Mollie estiveram na Inglaterra a pouco mais de nove meses atrás nas últimas férias. Um passageiro que conheceram no avião vindo da América, senhor Robert Andrews, havia sido encontrado morto em seu hotel alguns dias depois de chegar na Inglaterra. Os boatos diziam que Robert Andrews cometeu suicídio, através de uma overdose dos remédios que lhe foram receitados.  Kendall, entretanto, havia pensado diferente e suspeitado que Andrews tivesse, de fato, sido assassinado. Kendall havia decidido investigar, incomodando muito as autoridades em geral, e a Scotland Yard em particular.  Como resultado das investigações de Kendall ficou provado que Andrews havia, de fato, sido assassinado.

    John Wyndham Collier, havia sido o presidente da Travers Morgan, uma das principais instituições financeiras na cidade de Londres.  Foi divulgado que John Wyndham Collier andou alterando as contas, e desviando milhões para uma conta num banco suíço.  Robert Andrews estava desconfiado disso e por isso foi assassinado. John Wyndham Collier havia sido acusado pelo seu assassinato, e acabou sendo levado a julgamento.

    * * *

    As submissões finais haviam sido feitas, e agora o veredito era aguardado.  Kendall e Mollie observaram enquanto os doze jurados andavam silenciosamente de volta para o tribunal, e reassumiam seus lugares. O representante dos jurados entregou um pequeno pedaço de papel cuidadosamente dobrado ao agente judicial, que, sem dizer uma palavra, simplesmente o entregou ao juiz.

    O juiz olhou para o pedaço de papel, e depois olhou diretamente para o júri.  — Membros do júri vocês chegaram a um veredito? Perguntou o juiz.

    Nervosamente o representante dos jurados levantou, e olhou impassivelmente para o juiz.  O representante dos jurados então olhou para o acusado momentaneamente, e depois voltou a olhar para o juiz. — Chegamos Meritíssimo, disse o representante dos jurados.

    — E é o veredito de vocês todos?

    O representante dos jurados soltou um suspiro, e olhou para os seus jurados. O representante dos jurados olhou novamente para o juiz. — É Meritíssimo, respondeu o representante dos jurados.

    — E o seu veredito é... Perguntou o juiz. — O réu é culpado ou inocente?

    — Culpado, Meritíssimo!

    — Culpado.

    O som soou pela sala número quatro do Tribunal como um tiro de um canhão, ecoando volumoso pelo revestimento de carvalho nas paredes. 

    — Culpado!

    Houve uma arfada de algum lugar na galeria pública. De mais algum outro lugar veio o som de uma comemoração abafada.

    — Silêncio na corte, ordenou juiz Broughton forçosamente, olhando para a galeria.  Charters balançou sua cabeça.  Isso era um Tribunal de Justiça, não um espetáculo à parte numa feira de diversões.  Juiz Broughton suspirou e respirou fundo.  Certamente juiz Broughton sabia que deveria haver transparência no Tribunal, justiça não deveria apenas ser feita, mas justiça também deveria ser vista feita, mas juiz Broughton sempre havia odiado a noção da galeria pública.  Juiz Broughton teve visões dos espectadores em enforcamentos públicos, ou a multidão de linchamento de antigamente, implorando por sangue. Os cidadãos jogando a corda por cima da árvores escolhida para o enforcamento; as senhoras sentando na primeira fileira, costurando enquanto Madame Guilhotina fazia seu trabalho.

    Para piorar juiz Broughton odiava ficar sendo observado, como se ele fosse algum tipo de exibição. Qualquer movimento que juiz Broughton fizesse não passava desapercebido, cada palavra que juiz Broughton falasse era gravada, e analisada repetidas vezes seguidas. As pessoas estavam apenas esperando pelo juiz Broughton dizer a coisa errada, cometer algum erro.  Chegar na conclusão errada.  Dar uma sentença errada.  Então as pessoas pulariam em cima do juiz Broughton, impiedosamente.  Era quase como se o juiz Broughton estivesse sendo julgado junto com o acusado.  Era um sentimento que o juiz Broughton não gostava.

    O juiz Broughton continuou olhando para a galeria pública para garantir que qualquer demonstração ou derramamento de sentimento estivesse terminando e não haveria mais desordem. 

    O que eles entendiam de justiça de qualquer maneira? Não havia um entre eles que não tivesse saído da linha de um jeito ou de outro?  Quem entre eles não havia pagado o valor correto da passagem de trem em pelo menos uma vez? Quem entre eles usou o equipamento da empresa sem pedir para o chefe?  Ou talvez um ou mais não tenha declarado tudo o que deviam, em sua declaração do imposto de renda.  E quantos simplesmente se serviram de uma toalha ou cinzeiro do hotel em que estavam hospedados. Ou talvez tivesse exagerado levemente na declaração de despesas.

    Poderia ser dito que o juiz do Tribunal de Recurso Ralph Broughton tivesse uma consideração meio baixa pelo público em geral.  Kendall balançou sua cabeça, e soltou um suspiro.  Justiça, eles provavelmente sequer conseguiam pronunciar a palavra. Kendall balançou sua cabeça novamente. Ralph Broughton estava sendo um pouco injusto talvez, mas no fundo Ralph Broughton sabia que ele estava certo. Como eles possivelmente poderiam entender como as leis funcionavam como um todo? Ralph Broughton levou quase cinquenta anos para adquirir o conhecimento que tinha hoje.

    Não, os Tribunais poderiam fazer muito bem seu trabalho sem a interferência do público, ou até mesmo do júri no que dizia respeito a isso.  Ralph Broughton suspirou mais uma vez, mas infelizmente era como isso era no sistema atual, Ralph Broughton realmente não tinha escolha tinha?  Um júri era, por razões desconhecidas, considerado essencial. Doze bons e honestos homens, ou mulheres, Ralph Broughton rapidamente somou. Ser julgado por gente parecida com você era importantíssimo na Justiça Britânica.

    Ralph Broughton olhou para a galeria, e olhou novamente para o júri.  — Vocês consideram o réu culpado.

    — Consideramos Meritíssimo, respondeu o representante do júri.

    Houve outra arfada vinda da galeria.  O juiz olhou para lá furioso.  O silêncio voltou.

    O juiz respirou fundo, e lentamente olhou por todo o tribunal.  O juiz virou-se para o júri e os agradeceu por terem cumprido seu dever.  — Vocês estão agora dispensados.

    Os membros do júri levantaram desajeitadamente, não tendo certeza do que fazer agora que o julgamento havia encerrado. Foram seis semanas ouvindo advogados, promotores e testemunhas.  De fato, foram quase sete semanas.  Havia tido aparentemente infindáveis conversas sobre impressões digitais, ou a falta delas. Houveram contínuas referências a remédios prescritos, e tampas de seus frascos.  Provas de todos os tipos vindas dos legistas foram apresentadas. Evidência médica havia sido discutida com diferentes opiniões técnicas. Cada especialista teve a chance de falar, cada um contradizendo o anterior. 

    Assim como, testemunha após testemunha. Haviam detalhes como motivo, oportunidade e método.  E depois foi a vez da Promotoria falar, depois disso foi a vez da Defesa. Finalmente chegou a vez do juiz. O júri deveria se basear somente nas provas. Rumores e fofocas deveriam ser desconsiderados, e pontos de pressuposição, ou suposição, deviam ser ignorados.  Eram os fatos, e nada além dos fatos, que decidiriam a sentença.

    * * *

    O júri havia discutido seu veredito durante quatorze horas e vinte e três minutos.  Não que houvesse quaisquer dúvidas de qual seria o veredito.  Oh não, não houve dúvida definitivamente.  A demora era apenas por algum estranho sentimento de que eles não deveriam apressar uma decisão desse tipo. Algum profundo assentado senso de decência; o que era considerado ser justo e razoável. 

    De alguma forma isso parecia esperar que eles usassem o tempo que fosse necessário, e não agissem apressadamente.  Para serem vistos fazendo a coisa certa, a justa e honorável coisa. Afinal de contas, essa era uma acusação séria, não era? Tratava-se do mais sério dos crimes. Tratava-se de assassinato e não menos que isso. Eles tinham que ter 100% de certeza.  De fato, eles tinham que ter 110% de certeza. Não era admissível a menor dúvida, não importa quão pequena. Além de uma dúvida razoável, essa era a frase-chave.  É isso o que o juiz havia dito.  Se houvesse qualquer dúvida razoável o acusado deveria ser considerado inocente.

    Uma decisão unânime havia sido pedida, e o representante do júri estava determinado que uma decisão unânime fosse o que juiz fosse conseguir. Todos os doze membros do júri tinham que concordar.

    É claro que a demora não agradava nenhum membro do júri. Dois deles não podiam ver motivo para tanta demora. 

    Ele era culpado então vamos apenas acabar logo com isso, eles disseram. 

    — Sentar aqui não muda a minha opinião, disse um. 

    — Tempo é dinheiro, e quanto mais fico aqui mais eu perco.

    — Eu

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