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Um Marinheiro em Mersey
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E-book522 páginas8 horas

Um Marinheiro em Mersey

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Sobre este e-book

Após cargueiro Alexandra Rose irromper no estuário de Mersey, um dos passageiros do navio é encontrado morto, levando ao caso mais complexo da carreira do inspetor Andy Ross.

Logo, outra morte acontece e Ross descobre que o caso tem suas raízes nas profundezas da Floresta Amazônica. Um empresário bilionário, passageiros misteriosos, uma equipe de pesquisadores e um bando de mercenários cruéis fazem parte da trama.

Para resolver o caso, Ross e sua equipe da Unidade Especial de Investigação de Homicídios na polícia de Merseyside precisarão de todas as suas habilidades investigativas e determinação. Mas eles podem resolver o mistério do Marinho de Mersey?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de abr. de 2020
ISBN9781386623137
Um Marinheiro em Mersey

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    Um Marinheiro em Mersey - Brian L. Porter

    Introdução

    O Alexandra Rose navegou para o Estuário de Mersey acompanhado por uma espessa neblina. O tom triste do sinal de nevoeiro anunciou sua presença para qualquer navio nas proximidades. Uma pequena jornada de pouco mais de três semanas havia conduzido o velho cargueiro, sua tripulação e alguns passageiros em uma viagem calma do Rio de Janeiro através do Atlântico, e o próprio navio parecia cansado. O Capitão George Gideon tocou o telégrafo, sinalizando Parar e os motores do Alexandra Rose pararam de pulsar ritmicamente quando o navio parou lentamente e Gideon esperou a chegada do Barco de Escolta de Mersey para acompanhar o navio até o porto.

    Gideon envia seu segundo oficial, Robert Gray, para informar os passageiros do pequeno atraso na entrada no porto. Logo depois, Gray retorna à ponte de comando para informar o capitão que um de seus passageiros estava morto em sua cabine.

    Sem sinais visíveis de violência no corpo e o médico do navio suspeitando de crime, Gideon informa as autoridades portuárias que, por sua vez, notificam a polícia de Mersey.

    Assim começa um dos casos mais complexos do detetive Andy Ross, pois o morto estava viajando sozinho e parecia não ter nenhuma conexão com os outros passageiros ou com a tripulação do Alexandra Rose. Quando um segundo corpo, um membro da tripulação do infeliz Alexandra Rose é descoberto em circunstâncias similares, uma semana depois, em um hotel local, Ross e sua parceira, a sargento Clarissa (Izzie) Drake, devem colocar em ação todos os seus talentos investigativos para desvendar a rede de mistérios em torno das duas mortes.

    Um Marinheiro em Mersey é o quarto livro da série Mersey Mystery, com o inspetor Andy Ross, a sargento Izzie Drake e sua equipe de investigação especializada em homicídios.

    Prólogo

    Floresta Amazônica

    Distância de Liverpool, 9,600 quilômetros

    Setembro 2003

    Iluminadas apenas pelas fogueiras que queimavam intensamente na pequena clareira da selva, as comemorações estavam animadas quando o Dr. Joseph De Souza sentou-se no chão ao lado de seus colegas, o Dr. Leonardo Barras e a Dra. Marina Duarte, que já estavam desfrutando da terceira dose da forte e doce aguardente produzida por seus anfitriões nativos apenas em momentos de grandes comemorações, como as festividades desta noite.

    Brilhantes faíscas vermelhas, amarelas e alaranjadas dos galhos de madeira que alimentavam o fogo dançavam no ar, proporcionando um efeito natural e mutável de uma pequena apresentação de fogos de artificio. Os rostos de seus dois amigos adotaram um brilho vermelho, causado pelo calor do fogo e do líquido intoxicante que estavam bebendo com grande prazer.

    Ao redor deles, os membros da tribo estavam dançando, rindo e ficando bêbados. Quando a última dança tribal terminou, com os homens guerreiros encenando a caça e a morte final de um javali com grande pompa e magnificência, um grupo de jovens de peito nu assumiu o lugar, com a cabeça adornada com cocares emplumados, suas saias feitas com as mesmas penas coloridas. Sua dança era de celebração, em homenagem a seus convidados.

    — Perdi muita coisa? — De Souza perguntou a seus amigos enquanto Marina passava para ele uma caneca de madeira com a bebida intoxicante.

    — Nada que não tenhamos visto em celebrações anteriores, — respondeu Marina.

    — Pensei que chegaria mais cedo, — Barras acrescentou.

    — Eu queria ter certeza, — De Souza quase gritou para que pudessem ouvi-lo acima do canto e do ritmo da bateria nativa. — Não podemos anunciar isso sem ter cem por cento de certeza de nossas descobertas.

    — Mas tivemos seis casos confirmados, todos com um resultado bem-sucedido, sem indícios de recaída.

    — Eu sei, — De Souza respondeu, tomando um grande gole da bebida nativa. — Mas concordamos que não faríamos nenhum anúncio até alcançarmos dez resultados positivos.

    — O que teremos em um mês se os outros reagirem como esperamos, — Leonardo Barras disse.

    — Não conseguimos impedir que celebrassem quando contamos sobre A'ginna, — Marina acrescentou, se referindo à filha do chefe, que no momento era uma das dançarinas que estava os entretendo e ao resto da tribo.

    Os sons da selva ocasionalmente atingiam os ouvidos dos foliões. Mesmo à noite, a Amazônia continuava viva com a vida selvagem. Inúmeras espécies noturnas acordaram com a chegada da escuridão e substituíam os moradores diurnos no chão e nas árvores. Milhares de aves, macacos e insetos faziam do céu e do chão da maior floresta tropical do mundo, um lugar de sons constantes, um lugar onde o silêncio, se algum dia viesse, seria mensageiro da morte de um dos últimos lugares verdadeiramente selvagens do mundo. Cobrindo mais de três milhões de quilômetros quadrados, a floresta amazônica abrange nove países, embora 60% desse território esteja dentro das fronteiras do Brasil. Rica em biodiversidade, uma em cada dez espécies conhecidas no mundo vive nessa floresta, tornando-a a maior coleção de plantas e animais vivos no mundo, explicando a constante cacofonia de sons que cercava as pessoas em volta da fogueira.

    Enquanto a noite passava, a festa continuou, a música, a dança, a embriaguez que gradualmente atingiu até os mais fortes guerreiros tribais, até que, eventualmente, a dança se transformar em uma devassidão comunitária quando os dançarinos, homens e mulheres, se reuniram em um grande amontoado de atividades sexuais, momento em que os três médicos decidiram se retirar de maneira prudente e silenciosa das festividades e mais do que levemente embriagados, cambalearam com as pernas instáveis de volta para suas acomodações.

    * * *

    Dez anos antes, o rico empresário e explorador britânico, Giles Pearce, juntamente com seu amigo, um médico de descendência portuguesa e inglesa, Joseph De Souza e uma dúzia de estudantes, desembarcaram na floresta amazônica. Os estudantes haviam respondido a um anúncio de Pearce para que estudantes de Biologia e Antropologia se juntassem a ele em uma expedição a uma área relativamente inexplorada da floresta amazônica. Enquanto lá, tiveram a sorte de encontrar uma pequena e até então desconhecida tribo de indígenas nativos da Amazônia. A tribo deu as boas-vindas aos recém-chegados e, durante um período de dois anos, os exploradores aprenderam a língua, o modo de viver e os costumes de seus anfitriões, que sempre foram amigáveis.

    Enquanto viviam entre a tribo, Pearce e De Souza notaram um grande número de fatalidades, que no primeiro momento viram como uma doença desconhecida que atingia os membros da tribo de todas as idades, normalmente levando à morte rápida. Essa doença era completamente diferente dos casos de Dengue, Febre Amarela, Malária e Raiva que a equipe havia presenciado até o momento.

    Eventualmente, o Dr. De Souza foi capaz de descobrir que, por algum motivo, as pessoas dessa tribo isolada eram altamente suscetíveis a uma forma rara de câncer que atacava sem aviso e normalmente levava à morte em semanas, em vez de meses ou anos. No entanto, seu interesse aumentou, quando descobriu que um pequeno número de pacientes inexplicavelmente sobreviveu à doença e subsequentemente prosperou, levando uma vida normal.

    Percebendo que podiam estar à beira de uma grande descoberta, Pearce financiou a construção de uma pequena, mas tecnicamente avançada unidade de pesquisa na selva, ao lado da vila da tribo. Pearce contratou a microbiologista Dra. Marina Duarte e Leonardo Barras, um consultor de oncologista, para auxiliarem De Souza na pesquisa desse estranho fenômeno médico. Seus estudantes foram bem pagos e voltaram para casa com grandes montantes de dinheiro, garantiram empregos bem remunerados e cada um assinou um contrato de confidencialidade, assegurando que nunca revelariam o tipo de trabalho realizado pela equipe de especialistas de Pearce. Como cada um deles também foi para casa com experiência suficiente para garantir que nunca passariam fome em suas vidas, todos ficaram mais do que felizes em aceitar os termos de Pearce.

    O chefe da tribo, Azilpueta, estimulou que seu povo ajudasse seus convidados de honra em seu trabalho e, nos anos seguintes, De Souza, Barras e Duarte sofreram com constantes fracassos. Parecia que nunca descobririam o motivo da pequena, mas importante taxa de sobrevivência da doença.

    Pearce pagou por mais equipamentos a serem enviados para o Brasil, até que a quantidade de trabalho aumentou, fazendo com que tivesse que investir em um gerador novo e maior, cuja pulsação constante se tornou mais uma constante na vida dos pesquisadores e do povo da tribo.

    Um forasteiro teria achado completamente surreal encontrar uma instalação tão moderna no meio da floresta tropical, no lar de uma primitiva e desconhecida tribo indígena nativa, mas claro, nenhum forasteiro vinha até a tribo, cuja a localização era conhecida apenas por Pearce e sua equipe.

    Foi por pura coincidência que, um dia, dois anos atrás, Marina Duarte finalmente fez um importante avanço.

    Capítulo 1

    Rio Mersey, Liverpool

    Outubro

    Distância de Liverpool, 9 quilômetros

    O Alexandra Rose navegou para o Estuário de Mersey, acompanhado por uma espessa neblina. O tom triste do sinal de nevoeiro anunciou sua presença para qualquer navio nas proximidades. Uma pequena jornada de pouco mais de três semanas havia conduzido o velho cargueiro, sua tripulação e alguns passageiros em uma viagem calma do Rio de Janeiro através do Atlântico, e o próprio navio parecia cansado. O Capitão George Gideon tocou o telégrafo, sinalizando Parar e os motores do Alexandra Rose pararam de pulsar ritmicamente quando o navio parou lentamente e Gideon esperou a chegada do Barco de Escolta de Mersey para acompanhar o navio até o porto.

    — Dois dias de atraso, Sr. Neary, — Gideon disse ao seu primeiro oficial, Patrick Neary, que já estava cansado de ouvir isso. Gideon havia deixado bem claro, nas últimas quarenta e oito horas, que culpava Neary, a neblina e qualquer outra pessoa com quem tivesse falado, sobre o fracasso de seu navio em chegar no porto a tempo.

    — Sim, senhor, — Neary respondeu, relutantemente, enquanto os dois homens espiavam a neblina através do para-brisa da ponte de comando do navio, não conseguindo enxergar nada e ouvindo apenas o som monótono do sinal de nevoeiro, que soava seu aviso triste para outros navios ficarem atentos. — Poderia ter sido pior se a neblina tivesse aparecido mais cedo.

    — Graças a Deus isso não aconteceu, senhor. Você sabe que o bônus acabou, não é?

    — Eu sei, — Neary respondeu, — mas os proprietários não podem nos culpar por nos atrasarmos por causa da neblina, não é?

    — Nós? Nós, Sr. Neary? Vão me culpar, não você, nem a neblina ou a falha mecânica que sofremos no meio do Atlântico. Só eu, como capitão. Eles podem ser bastardos implacáveis, como já deve saber. Recebemos o pagamento por atracarmos no porto, no prazo, e até uma hora de atraso e perdemos o lote. Dois dias, estamos atrasados, dois malditos dias.

    Neary ficou em silêncio. Melhor deixar o capitão reclamar por um tempo, tirar a frustação de seu sistema. Neary navegava com Gideon há quatro anos e conhecia o homem o suficiente para conseguir ler seu humor, antecipar suas reações, e sabia que agora era hora de ficar de boca fechada e esperar as próximas ordens do capitão.

    — Suponho que a escolta também irá se atrasar agora, — Gideon resmungou. — É melhor pedir para o senhor Gray fazer a ronda e informar nossos passageiros que estamos perto de Liverpool, mas haverá um pequeno atraso na entrada do porto enquanto esperamos que a escolta nos acompanhe através dessa maldita neblina.

    — Você está certo, senhor, — Neary respondeu, feliz, saindo da ponte de comando e indo procurar Robert Gray, o segundo oficial do Alexandra Rose. Tendo encontrado Gray na sala do rádio do navio, supervisionando o operador de rádio enquanto realizava a transmissão de telegramas dos passageiros a amigos, familiares e parceiros de negócios, provavelmente os atualizando sobre o atraso na chegada, ele ordenou que o jovem segundo oficial cumprisse a ordem de Gideon. Com apenas seis passageiros a bordo, Gray não demoraria muito tempo para informar a todos e se reportar à ponte de comando.

    Gray deixou operador de rádio em sua tarefa, colocou o chapéu em sua cabeça e saiu para cumprir sua tarefa quando Neary voltou a se juntar a Gideon na ponte de comando. Foi lá, dez minutos depois, que Robert Gray, sem fôlego e pálido, entrou sem chapéu e parecendo ter visto um fantasma.

    — Sr. Gray, o que diabos há de errado com você? — Gideon gritou com o jovem.

    — Desculpe senhor, mas ele está morto, senhor, mortinho da silva.

    — Quem está morto, rapaz? Vamos, recomponha-se e fale direito, — Gideon disse para o jovem rapaz, que estava visivelmente tremendo.

    — O homem na cabine seis, senhor. O espanhol, Sr. Gaspar. Está deitado no beliche, senhor, olhando para o teto com uma expressão horrível no rosto. Ele está morto, senhor, apostaria minha vida nisso, — Gray disse, sua voz rouca de emoção enquanto relatava o acontecimento ao capitão.

    — Merda, merda e merda, — Gideon exclamou, quase explodindo de raiva. — Como ele pode? Como ele pode morrer no meu navio? E ele é português, não espanhol, Sr. Gray.

    Gideon estava ciente dos possíveis problemas jurisdicionais que poderiam ser causados por uma morte no mar. Sabia que tinha que chamar a polícia, mas a polícia local teria autoridade para investigar a morte do homem na cabine seis? Ele sabia exatamente qual deveria ser o seu primeiro passo.

    — Sr. Neary, assuma a ponte de comando. Sr. Gray, venha comigo. Vamos buscar o Dr. Hanning no caminho. Preciso descobrir quando o homem morreu antes de fazermos qualquer coisa. Presumo que você trancou a cabine, Gray?

    — Claro, senhor, — Gray respondeu, entregando a chave de acesso ao capitão.

    Rapidamente, Gideon e Gray desceram até o convés, ligando primeiro para a enfermaria, onde o médico do navio, Mason Hanning rapidamente pegou sua maleta e juntou-se aos dois oficiais superiores enquanto se dirigiam para o alojamento de passageiros, um andar abaixo do convés.

    Em 2003, os cargueiros já eram um anacronismo no mundo das viagens internacionais. Ao mesmo tempo, havia um grande número dessas embarcações operando seu comércio nos oceanos do mundo, com viajantes dispostos a pagar um pouco menos do que pagariam em um navio de passageiros convencional pela passagem em navios que disponibilizavam menos serviços e acomodações, além de transportar cargas do jeito de um cargueiro convencional. O Alexandra Rose foi construído em Glasgow, trinta anos antes e já vira dias melhores. Teve dois proprietários anteriores e agora pertencia a uma pequena empresa australiana, sendo registrado naquele país com Sidney registrada como seu porto de origem.

    Possuía oito cabines no total, seis camas de casal e duas camas de solteiro, tendo capacidade máxima de transporte de quatorze passageiros, tornando-o pequeno para os padrões de navios de carga. Nessa viagem, transportava três casais, com as duas cabines individuas também ocupadas.

    Embora não fosse grande, as cabines de passageiros eram confortáveis. Mesmo não sendo capazes de competir com outros grandes transatlânticos como Canberra ou Q.E.2, navios como Alexandra Rose buscaram outras maneiras para manter seus passageiros felizes. Nesse caso, seus proprietários asseguram o serviço de dois chefes da Le Cordon Bleu e vários garçons com experiência em alguns dos melhores hotéis e restaurantes do mundo. Uma reforma bem gasta em sua sala de jantar, transformou-a em algo equivalente a um restaurante de primeira classe, como pode ser encontrado em Londres, Paris ou Nova Iorque e, consequentemente, foi capaz de atrair passageiros com paladares exigentes, ansiosos para desfrutar de uma viagem marítima enquanto são tratados com uma culinária requintada durante toda a jornada.

    Mas agora, porém, isso não significa nada, quando George Gideon, Robert Gray e o médico entraram na cabine seis. A primeira impressão de Gideon ao entrar na cabine confirmou o que Gray havia reportado.

    Seu passageiro, Alvaro Gaspar, estava imóvel no beliche, com olhos fixos no teto. Gideon ficou de lado e acenou com a cabeça para o médico que se adiantou para examinar o homem. Não demorou muito para chegar a uma conclusão.

    — Posso confirmar que ele está morto, capitão. A causa, não posso dizer neste momento.

    — Causas naturais, doutor? Pode pelo menos nos dizer isso?

    — Desculpe capitão, não posso dizer. Pelo o olhar em seu rosto, acho que foi um ataque cardíaco, talvez um aneurisma cerebral, mas apenas uma autópsia pode confirmar isso e não sou capaz de realizar esse procedimento a bordo.

    — Pode dizer a quanto tempo ele está morto, doutor? É importante sabermos isso.

    Hanning enfiou a mão em sua maleta e tirou um termômetro, logo o inserindo no reto do homem morto.

    — Doutor? — Gideon o questionou.

    — Estou medindo a temperatura corporal do homem para tentar estabelecer a hora aproximada da morte, capitão.

    — Ah, entendo, — Gideon respondeu.

    Um minuto depois, Hanning levantou-se e disse seu veredito.

    — Na minha opinião o homem está morto há mais ou menos quatro horas, capitão, talvez menos, — Hanning disse.

    — Obrigado doutor, — Gideon respondeu, sentindo uma certa sensação de alívio.

    — E por que isso é importante? — Hanning perguntou.

    — Simples, se o que diz estiver correto, estávamos em águas do território britânico no momento de sua morte, — Gideon disse. — É lógico que, quando reportarmos a morte desse homem, as autoridades de Liverpool desejarão realizar uma investigação sobre a causa. Quando for relatar as circunstâncias aos proprietários, tenho certeza que me irão me instruir a cooperar completamente com a polícia britânica.

    — Então, evitamos qualquer pesadelo jurisdicional, — Neary comentou.

    — Precisamente, — Gideon confirmou.

    — Agora, Dr. Hanning, o que exatamente você quer dizer quando diz que não tem ideia do que matou o Sr. Gaspar? Ele visitou você durante a viagem?

    — Precisamente o que eu disse capitão. Por exemplo, olhe para as mãos dele, — Hanning instrui o capitão, que atendeu seu pedido.

    — Certo, estou olhando?

    —Veja sua expressão, capitão. Mesmo na morte, há um olhar de dor e terror presente, e seus dedos estão curvados como se estivesse com muita dor. Um ataque cardíaco súbito poderia ter causado isso, mas também há um fraco aroma em seu hálito, que não reconheço. Realmente não posso dizer mais nada.

    — Em outras palavras, você não faz ideia, não é, Dr. Hanning?

    — Capitão Gideon, você pediu pela minha opinião profissional e conseguiu. Cabe a você o que fazer com isso.

    Gideon pensou por alguns segundos. Independentemente do que aconteceu, sabia que tinha que notificar as autoridades locais. Se a morte do passageiro foi causada por causas naturais ou não, sabia que os próximos dias não seriam fáceis para ele, sua tripulação e seus passageiros.

    — Pode pelo menos dizer que a sua morte foi por causas naturais?

    — Não capitão, não posso.

    — Então, pelo o que você sabe, ele poderia ter sido assassinado?

    — Receio que, neste momento, existe essa possibilidade, — Hanning respondeu, gravemente. Sendo um experiente clínico geral, Hanning era inteligente o suficiente para não descartar nada nesse estágio. — Você precisa entender, capitão, que apenas um exame post-mortem pode determinar a causa da morte do nosso passageiro. Sou um C.G., não um patologista, e por mais queria te deixar calmo, não sou qualificado para fazer isso.

    — Então, poderia ser causas naturais, um ataque cardíaco, uma coisa cerebral que não sei o nome, talvez até intoxicação alimentar, mas você não pode descartar a possibilidade de crime, essa é sua palavra final?

    — Receio que seja, capitão. Desculpe, não posso dar certeza.

    Gideon assentiu lentamente, pensou em suas opções por alguns instantes e então, se virou para seu primeiro oficial, decidido.

    — Ligue para as autoridades portuárias, Sr. Gray. Notifique que temos uma morte suspeita a bordo e precisamos da assistência da polícia e das autoridades médicas locais para determinar a causa da morte.

    — Certo, senhor, — Gray respondeu, enquanto se apressava para cumprir as ordens de seu capitão, retornando em alguns minutos para informar que o primeiro oficial Neary estava entrando em contato com as autoridades. Gideon já estava pensando nos próximos passos necessários e rapidamente emitiu novas ordens à Gray.

    — Sr. Gray, você ficará aqui para garantir que a cabine se mantenha segura. Dr. Hanning, podemos remover o corpo com segurança? Presumo que deveria ficar na enfermaria.

    — Sim, deveria, mas se for um homicídio, a polícia talvez prefira que deixemos o corpo aqui, para não destruirmos nenhuma evidência enquanto o movemos.

    — Droga, Dr. Hanning. E se você estiver errado? E se o homem morreu de alguma doença infecciosa? Certamente deixar o corpo aqui, exposto, está colocando todos em risco de qualquer coisa que o tenha matado? Não seria mais seguro remover o corpo e colocá-lo no freezer até a polícia chegar?

    — Oh sim, ótima ideia, capitão. Vá em frente e faça isso, e você potencialmente destruirá qualquer evidência forense que a polícia possa descobrir no corpo.

    — É, deveríamos estar aqui, capitão, se houver perigo de infecção? — Gray perguntou.

    Sabendo que não tinha escolha, Gideon suspirou e seus ombros caíram um pouco quando respondeu.

    — Certo, Sr. Gray. Assim que sairmos da cabine, deve mantê-la trancada até a polícia chegar. Você ficará de guarda do lado de fora da porta até ser liberado. Ninguém deve entrar nesta cabine até que cheguem, está claro?

    — Sim senhor, entendido, — Gray respondeu.

    — Então, vamos sair daqui, — ordenou Gideon, — e Dr. Hanning?

    — Sim, capitão?

    — Espero que esteja errado sobre haver um assassino no meu navio.

    — Eu também, capitão, acredite, — Hanning respondeu.

    Capítulo 2

    Quartel General da Polícia de Merseyside

    Um ar de celebração impregnava a sala do esquadrão da Unidade de Investigação de Homicídios. Naquela manhã, o inspetor chefe Oscar Agostini havia anunciado que o detetive Paul Ferris, havia sido promovido merecidamente para sargento, com efeito imediato. Há muito tempo, Ferris havia recusado a oportunidade de ser promovido, durante anos difíceis em que seu filho mais novo, Aaron, passava por longas e dolorosas sessões de diálise renal, mas desde um transplante bem-sucedido, alguns anos atrás, a condição de seu filho se estabilizou e agora era capaz de levar uma vida normal. Ficou decidido que Ferris continuaria trabalhando como o documentador da Unidade de Investigação de Homicídios, a posição que havia assumido desde que ingressou na equipe e começou a trabalhar com o inspetor Andy Ross nos últimos cinco anos.

    Como resultado da promoção de Ferris e em consonância com a reputação e os níveis de sucesso da unidade, Agostini fez mais dois anúncios.

    — Agora que o sargento Ferris, — ele enfatizou o novo cargo de Ferris, —alcançou sua nova posição elevada, a decisão tomada em nomear um assistente administrativo que se reportará diretamente ao nosso documentador, mas que também irá fornecer reforço administrativo para a equipe como e quando necessário. A nova administradora se juntará a nós amanhã. Ela é uma funcionária civil experiente, Katrina Bellamy, que passou cinco anos trabalhando no escritório do chefe de polícia. Tem uma reputação confiável e é proativa, portanto, deve provar ser um ativo valioso para a equipe.

    — Finalmente, devido ao nosso sucesso constante, também teremos um novo detetive na equipe. Detetive Keith Burton também irá se juntar a nós amanhã. Burton passou os últimos três anos trabalhando no Esquadrão Vice¹, por isso tem um histórico semelhante ao detetive Gable e é altamente recomendado por seu atual inspetor. Algum comentário ou pergunta, pessoal?

    — Receio que não conheça ele, senhor. Me juntei a equipe quatro anos atrás, então ele entrou no Vice depois que eu saí, — a detetive Samantha Gable comentou.

    — Sim, eu sei, oficial, — Agostini disse, — mas como você, ele trabalhou com o inspetor Bell, que me disse coisas excelentes sobre ele. A propósito, ele lhe mandou seus cumprimentos.

    — Obrigada, senhor, isso é gentil da parte dele.

    Sam Gable passou três anos trabalhando com o inspetor Tom ‘Ding Dong’ Bell antes de se juntar à equipe de Ross e tem muita consideração por seu ex-chefe. Foi Bell que a recomendou para o cargo vago na equipe de Ross na época.

    — Então, pessoal, — Andy Ross finalmente se dirigiu a equipe, — pelo o que parece, as coisas estão melhorando para nós. As coisas estão quietas por algumas semanas desde que resolvemos o caso de Aaron Decker, mas sei que todos estão ocupados atualizando a papelada. Tenho certeza que não vai demorar muito tempo até termos um novo caso em nossas mãos, então vamos limpar nossas mesas o mais rápido possível e dar as boas-vindas a nossos novos membros amanhã. Ajude-os a se instalarem e se adaptarem o mais rápido possível. Quero que eles façam parte dessa equipe efetivamente desde o primeiro dia. Todos vocês podem ajudar a fazer isso acontecer.

    Um tumulto geral de concordância e comentários acompanharam as palavras de Ross, sendo compostos principalmente de felicitações por Paul Ferris.

    — Você gosta de ser um sargento, é, sargento, — Tony Curtis, o membro mais jovem da equipe disse com um grande sorriso no rosto. — Muito bem, Paul, oops, desculpe.

    — Pare com isso, Tony, — Ferris respondeu. — Ainda sou Paul, a não ser que seja algo oficial, desde que você não esqueça ou desrespeite a hierarquia, certo?

    — Certo, — Curtis disse, sorrindo novamente. Com seu cabelo castanho escuro, quase preto e sem dúvida uma boa aparência, o detetive Leonard Curtis tinha uma estranha semelhança com o ex-astro do cinema Tony Curtis. Quase desde o seu primeiro dia na equipe, assim que a semelhança foi mencionada por Sam Gable e Izzie Drake, Leonard (Lennie) Curtis começou a ser chamado de Tonis. O nome pegou e era muito provável que a maioria dos membros mais antigos do esquadrão tivesse esquecido o nome verdadeiro do jovem detetive. Certamente, todos os recém-chegados desde o dia em que Curtis se juntou à equipe foram apresentados a ele como Tony Curtis. Leonard ou Lennie não pareciam mais adequados.

    — Não poderia ter acontecido com uma pessoa melhor, Paul, — Derek McLennan acrescentou, depois de Ferris, era o detetive mais experiente da equipe. — Parabéns. Aposto que Kareen ficará feliz por você.

    — Obrigado, Derek. Tenho certeza que sim, — Ferris respondeu, se referindo à esposa, com quem mal podia esperar para falar e compartilhar a notícia.

    A sargento Izzie Drake finalmente foi até Ferris, deu um beijo em sua bochecha e o parabenizou.

    — É melhor eu me cuidar a partir de agora, — ela brincou. — Parece que agora tenho um sério competidor em meu caminho.

    — Oh, acho que não tem com o que se preocupar, — Ferris respondeu. — Ninguém poderia tomar seu lugar como o homem de confiança do inspetor Ross, bem, mulher, se é que me entende.

    Enquanto as boas vibrações enchiam a sala, ninguém notou a saída do inspetor chefe Agostini, mas todos estavam cientes de que algo estava acontecendo meia hora depois quando Ross, que havia retornado ao seu escritório, surgiu com um olhar sério no rosto e chamou Izzie para segui-lo.

    — Ninguém saía da delegacia, — Ross ordenou quando Drake levantou para segui-lo. — O chefe tem um novo caso para nós. Voltamos já.

    Agora, o tom da conversa entre os detetives aumentou um pouco quando começaram a especular sobre qual seria o novo caso.

    Alguns minutos depois, Ross e Drake estavam sentados no escritório de Agostini enquanto ele relatava o conteúdo de uma ligação que receberá há pouco tempo.

    — Recebi uma ligação da Polícia do Porto, — ele começou, referindo-se à pequena unidade conhecida como Polícia do Porto de Liverpool, responsável por patrulhar uma pequena área envolvendo as docas e o porto da cidade e seus arredores. Com menos de cinquenta agentes, a unidade era uma engrenagem importante no mecanismo local de aplicação da lei, embora seus recursos fossem limitados.

    Agostini continuou, — Parece que as autoridades portuárias receberam uma ligação de um navio no estuário, o Alexandra Rose, um navio mercante vindo do Brasil para Liverpool. Ela teve que ancorar alguns quilômetros do porto devido à neblina espessa e o capitão mandou um dos seus oficiais para informar aos passageiros que haveria um atraso na hora de chegada. O oficial logo retornou à ponte de comando para reportar que havia encontrado um de seus passageiros morto em sua cabine.

    — Oh, não, não outro maldito caso de vida nas ondas do mar, — Ross rosnou. Recentemente, ele e sua equipe concluíram uma investigação complexa que levou ele e Drake para a costa sul, até a cidade de Falmouth para ser mais especifico, onde os dois acabaram navegando pelo Canal da Mancha a bordo de uma fragata da Marinha Real, parte do caso envolvida múltiplos assassinatos, roubo de antiguidades e barras de ouro.

    — Desta vez não deve ser tão ruim, — Agostini sorriu com a careta de Ross. — De qualquer forma, o navio está no mar há mais de três semanas e o passageiro em questão não deu nenhum sinal durante a viagem de estar doente. O médico do navio realizou um exame no corpo, mas não conseguiu determinar a causa da morte. De acordo com a política dos proprietários do navio, o capitão foi obrigado a considerar uma morte suspeita na ausência de uma causa oficial para a morte do homem. A Polícia do Porto não tem recursos para lidar com um caso como esse, então me ligaram. Quero que você e a sargento Drake vão até lá o mais rápido possível. A lancha da Polícia do Porto está esperando para levá-los para o navio. O Dr. Nugent e seu assistente encontrarão vocês no píer e os acompanharão para fazer um exame inicial no corpo, — ele concluiu, referindo-se patologista sênior da cidade, o Dr. William Nugent e seu assistente Francis Lees.

    — A lancha da polícia conseguirá se manter firme com o Dr. Nugent, Lees, nós dois e a tripulação, todos a bordo juntos? — Drake sorriu ao pensar no patologista obeso acrescentando seu peso ao dos demais ocupantes do Alexandra Rose.

    — Onde está seu senso de aventura, Izzie? — Ross sorriu enquanto falava. — Vamos nos sentar onde pudermos controlar o peso do doutor e manter o equilíbrio da lancha.

    — E quanto aos técnicos forenses? — Drake perguntou em seguida.

    — Oh sim, esqueci de mencionar, pedi para Miles Booker acompanhá-los na lancha também. Não podemos enviar uma equipe forense completa com vocês, mas se houver suspeita de crime, podemos enviar uma equipe completa mais tarde.

    Izzie Drake revirou os olhos ao pensar em adicionar mais peso à pequena lancha.

    — Você já viu essa pequena lancha, senhor? Acho que normalmente carrega dois tripulantes e parece que outros dois provavelmente a sobrecarregariam.

    — Pare de entrar em pânico, Izzie, — Ross riu. — Sempre podemos começar a nadar se ela começar a afundar."

    — Haha, muito engraçado, — ela respondeu, enquanto Agostini sorria para a pequena discussão entre seus dois detetives mais seniores.

    — Bem, o que estamos esperando? Os dois, vamos. Vão em frente e relate o mais rápido possível. Se é um homicídio, precisamos agir rapidamente. Só Deus sabe como podemos manter a tripulação e os passageiros escondidos em um navio no estuário durante um inquérito criminal.

    — Provavelmente não podemos, senhor, — Ross respondeu. — Pode se tornar um pesadelo logístico.

    — Bem, uma coisa de cada vez, Andy. Vamos organizar os fatos.

    — Certo, senhor. Vamos sargento, temos trabalho a fazer.

    — Se você insiste, senhor, — Izzie respondeu, pensativa.

    Na saída, os dois pararam na delegacia onde Ross rapidamente informou a equipe sobre o possível caso em que eles estavam prestes a se envolver e pediu ao recém-promovido, Paul Ferris, que usasse suas habilidades no computador para descobrir o máximo possível sobre o Alexandra Rose enquanto ele e Drake faziam suas investigações iniciais a bordo do navio. O sargento Ferris ficou mais do que feliz em obedecer.

    Enquanto Izzie Drake dirigia lentamente o Mondeo não registrado através da densa neblina em direção ao píer onde a lancha da polícia aguardava a chegada deles, Ross sentiu que sua sargento tinha algo a dizer. Tendo trabalhado juntos por tanto tempo, o par tinha uma capacidade quase telepática de descobrir o que o outro estava pensando e agora não era exceção.

    — O que está pensando, Izzie, — ele perguntou.

    — Ah, oh, nada importante, mas é só que eu não queria parecer tão estúpida na frente do chefe.

    — Acho que ele nunca pensaria que você é estúpida, Izzie. O que foi?

    — É este navio, senhor. Quando ele nos descreveu, chamou de navio mercante. Agora, eu não sou estúpida como você acabou de confirmar, mas pode me dizer o que diabos é um navio mercante?

    Ross não pôde deixar de rir da pergunta de sua sargento. Drake, é claro, achou que ele estava rindo dela.

    — Ei, — ela protestou. — Não é engraçado, só porque eu não sei.

    — Não é isso. Eu esperava que algo profundo e significativo estivesse passando por sua mente, mas é apenas a definição de um navio mercante.

    — Bem, pelo amor de Deus, você vai me dizer ou não?

    —Tudo bem, não fique nervosa. Um navio mercante é basicamente um navio de carga, um cargueiro, mas que foi adaptado para transportar passageiros e também mercadorias. Hoje em dia não existem tantos, mas costumava haver muitos deles navegando pelo mundo. Alguns eram bastante luxuosos, com cabines que combinavam com os grandes transatlânticos, outros eram bem básicos, com cabines comuns e pouco em termos de instalações para os passageiros. Eles forneciam uma maneira mais barata de ir de A à B do que os grandes transatlânticos e navegavam de portos menos conhecidos, para que você pudesse navegar, digamos, do Rio de Janeiro para Liverpool por um custo razoável, em vez de ter que viajar para grandes cidades como Nova York, para comprar uma vaga em um grande transatlântico que talvez precise ser reservado com semanas de antecedência. Entendeu?

    — Sim, acho que sim, obrigada senhor. Então, esses navios mercantes são como, talvez, algo parecido com um navio a vapor?

    — Bem, acho que eles se encaixam em uma melhor categoria, Izzie. Alguns eram tão bons que atraíam os mesmos passageiros repetidamente, fidelidade verdadeira do cliente.

    — E, afinal, como você sabe todas essas coisas?

    — Acredite ou não, há pouco tempo passou um documentário na TV sobre eles. Maria e eu assistimos juntos.

    — Ah, e como está a linda Dra. Ross? — Drake perguntou sobre esposa de Ross, uma clínica geral que trabalha em uma clínica médica local.

    — Ela está bem, obrigada Izzie.

    — Bom, agora, vamos estacionar e encontrar esta lancha.

    * * *

    Ross e Drake tentaram controlar o sorriso quando chegaram no píer e encontraram a lancha da polícia pronta e esperando para levá-los até o Alexandra Rose. O policial que os cumprimentou na beira do cais e os levou até a lancha, havia dito que seus companheiros de viagem já estavam a bordo.

    Foi a visão de William Nugent e Francis Lees o motivo desse riso. O patologista e seu assistente estavam sentados lado a lado no banco de madeira que atravessava o convés do barco pequeno. Francis Lees, parecendo cadavérico como sempre, sentou-se com os joelhos pressionados firmemente, com a bolsa de sua inestimável câmera apoiada no colo. Aos seus pés, havia outro estojo, seu kit de amostras, usado para a armazenamento de qualquer amostra que Nugent exigisse nas cenas dos crimes. Lees estava encarando o horizonte e os dois detetives conseguiam ver seu desconforto. Com certeza, Less não gostava de navegar. Ao seu lado, estava o seu chefe, o Dr. William Nugent. O patologista altamente experiente e corpulento, certamente candidato a um ataque cardíaco em pouco tempo caso a circunferência de sua cintura continuasse no mesmo ritmo de expansão, aparentava, em contraste com seu assistente, estar aproveitando seu dia de folga. Apesar da neblina que restringia sua visão, os olhos de Nugent vagavam ao redor, observando a vista e provavelmente sentindo os cheiros do local. O médico galês tinha um nariz renomado para diversas essências, sendo capaz de distinguir vários aromas, comuns ou raros, com apenas um mero sopro atingindo seu olfato. Resumindo, o grandalhão parecia bastante empolgado e completamente imperturbável por ter que espremer seu corpo no banco estreito da lancha. Juntos, Nugent e Lees lembravam Ross de um antigo par de atores, Peter Lorre e Sydney Greenstreet, de quem Ross sempre se lembrava do filme Relíquia Macabra.

    Sentado em frente ao par no outro lado da lancha estava Miles Booker, o técnico forense sênior da equipe. Booker sorriu ao ver Ross e Drake recebendo ajuda do policial da Polícia Portuária para entrar na lancha.

    — Não é o melhor clima para uma viagem ao estuário, hein, Andy, — Booker comentou com uma saudação.

    — Não consigo ver nada além da frente do barco, — Ross concordou.

    — Esse é o arco, senhor. Você deveria saber disso — Drake interrompeu.

    — Sim, eu sei disso, — Ross disse. — Enfim, — ele sussurrou quando se sentou próximo a Booker, — nossos amigos médicos parecem como se estivessem em uma viajem turística pela baía.

    — Eu ouvi isso, inspector Ross, — William Nugent disse alto do outro lado do barco.

    — Bom dia para você também, doutor, — Ross disse, sorrindo. — Não pude deixar de notar você e Francis parecendo com uma dupla de turistas aproveitando o dia. Você realmente parece estar se divertindo.

    — Não, certamente não é tão ruim, — o médico respondeu, seu sotaque escocês vindo à tona sempre quando ficava aborrecido ou irritado.

    — Certamente, — Ross respondeu. — E olá para você também, Francis. Como você está?

    Lees olhou para Ross com uma expressão de ansiedade no rosto.

    — Eu não gosto de barcos, — ele disse miseravelmente.

    — Não se preocupe, você irá se acostumar quando estivermos navegando — Nugent disse, estendendo a mão e dando um tapinha firme nas costas de Lees, quase derrubando seu infeliz assistente do banco.

    Nesse exato momento, um rosnado alto veio de baixo de seus pés quando o motor

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