Memória afetiva do botequim carioca
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Sobre este e-book
A história de uma cidade pode ser contada a partir de seus fatos históricos, das lembranças de sua população, de sua arquitetura e dos seus eventos culturais. Quando a história consegue ser contada a partir de todas estas abordagens, surgem livros de altíssimo nível como o Memórias afetivas do botequim carioca. Com apresentação de nobres boêmios como Sérgio Cabral e Aldir Blanc, e uma introdução que nos conta dos primórdios da bebida alcóolica no Brasil e sua relação com a vinda da família Real, este livro traz um panorama de 30 dos bares e botequins que marcaram a história do Rio de meados do século XIX ao século XXI. Informativo, mas muito leve e divertido, os verbetes nos fazem viajar pelos bares desde a Lapa antiga, passando pela Tijuca cheia de samba e tira-gostos, até uma Ipanema praticamente sem prédios, mas com um Bar 20. Ao lado de Cartola, Noel Rosa, Vinicius de Moraes, entre outros, percorremos as noites do Rio nesta homenagem ao aniversário da cidade que faz parte da biblioteca Rio 450
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Pré-visualização do livro
Memória afetiva do botequim carioca - José Octavio Sebadelhe
Concepção
Paulo Thiago de Mello, Zé Octávio Sebadelhe e
Flávio Silveira
Direção executiva de pesquisa
Flávio Silveira
Assistente de pesquisa
Pedro Cipiniuk
Projeto gráfico
Chris Lima | Evolutiva Estudio
Diagramação da versão impressa
Gabriela Rocha
Restauração de fotogramas
Mauro Lino Nascimento
Gestão administrativa
Aline Brufato | Bar Semente
Produção executiva
Leo Feijó | Multimeios
Assistente de produção
Maria Continentino
Fotografia
Custódio Coimbra
Foto de capa
Bar Santa Carolina, Tijuca. Acervo família Fatia.
Agradecimentos especiais
Nireu Cavalcanti, Tadeu Nora, Nika Monteiro (Livraria da Travessa), Regina Branco, Regina Lúcia Fatia, D. Maria Fatia, ao pessoal do MIS, Luiz Antonio Almeida, Daiane Lopes, Pedro Paulo Jr. e ao colecionador de rótulos Paulo Antunes Jr.
Uma menção honrosa à Maria José Fernandes e à Monica Carneiro Alves, da Biblioteca Nacional, e ao grande amigo João Pato
Fontes e a Rafael Sento Sé.
A Luis Pimentel, Luiz Fernando Viana, Claudio Pinheiro, Ricardo Cravo Albim, Rosana Santos (Bar Luiz), Carla Paes Leme, Patricia Ferreira, Maria Amélia Loureiro, Cristina Leão, Alexandre Sandy Franco, Paulo Figueiredo, que tanto nos ajudaram.
patrocínio
apoio institucional
realização
Rio de Janeiro, 2015
Todos os esforços foram feitos para localizar os fotógrafos e fotografados das imagens reproduzidas neste livro. A editora compromete-se a dar os devidos créditos numa próxima edição, caso os autores as reconheçam e possam provar sua autoria. Nossa intenção é divulgar o material iconográfico de maneira a ilustrar as ideias aqui publicadas, sem qualquer intuito de violar direitos de terceiros.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Mello, Paulo Thiago de
M48m
Memória afetiva do botequim carioca [recurso eletrônico] / Paulo Thiago de Mello, Zé Octávio Sebadelhe. - 1. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.
recurso digital
Formato: ePub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-03-01274-4 (recurso eletrônico)
1. Bares - Rio de Janeiro (RJ) - História. 2. Rio de Janeiro (RJ) - Usos e costumes. 3. Boemia - Rio de Janeiro (RJ) - História. 4. Livros eletrônicos. I. Sebadelhe, Zé Octávio. II. Título.
16-29987
CDD: 981.53
CDU: 94(815.3)
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro,
através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.
Reservam-se os direitos desta edição à
EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA.
Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380
Tel.: (21) 2585-2000
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Atendimento e venda direta ao leitor:
mdireto@record.com.br ou (21) 2585-2002.
Produzido no Brasil
2016
Coleção Augusto Malta - Museu da Imagem e do Som
Custódio Coimbra
Este livro de memórias é dedicado a Mary e Gaú, meus pais: saudade imensa.
A meus irmãos, Nando, Ayla e Janine.
A Bette, Eckart, Julian e Dorian, família.
A Soraya Silveira Simões, Marta Nascimento, Vivi Fernandes, Denise Lopes, Isabel Mendes, Joana Saraiva, Flávia Bali, Mila Chaseliov e Débora Breder, pela consistência do tempo e as conversas espiraladas nas mesas de botequim.
A Inês Perricone, por todos estes anos.
A Marco Antonio da Silva Mello, amigo e orientador.
A Alfredo Melo, o Alfredinho do Bip Bip.
A Thiago de Mello, poeta da floresta, e ao Thiago Thiago, músico arretado.
Em memória do grande Manduka: Mano véio, é pra você essa ocorrência silenciosa.
Em memória de Michele Markowitz, Mirta, Sonia Maria Prestes (Soneca), Juca Ribeiro, Lefê Fernandes e Isaac Joseph.
Aos amigos de bar e boemia.
PAULO THIAGO DE MELLO
Custódio Coimbra
Dedico esta obra em essência, e principalmente, à minha mãe guerreira, Regina Maria Giannini Sebadelhe, que me inventou.
A meu saudoso pai, Ednaldo Sebadelhe Valério de Souza, e ao alma de gato
, Octavio Gomes Giannini, meu avô — eles me revelaram a boemia.
A Luiza Giannini, minha bailarina-bióloga, irmã de quem tanto me orgulho.
As minhas sobrinhas Luma e a recém-nascida Malu, que vão nos perpetuar.
A meu Tio Beco, essa onça
que sempre me defendeu.
A querida Tia Marilia, pesquisadora ilustre e estudiosa de nossa linhagem — surgida do amor entre o maestro Gioacchino Giannini e a bailarina Marietta Baderna (o que muito se explica e me traduz).
À alegria da minha amada Tia Ana Cristina — quantas saudades das nossas farras… (in memoriam).
Aos Gianninis do Rio de Janeiro e aos Sebadelhes da Parahyba.
E à eterna Emilia.
Avanti!
ZÉ OCTÁVIO SEBADELHE
Acervo família Fatia
Sumário
Biblioteca Rio450, por Eduardo Paes
Um prefácio dos bares, por Sérgio Cabral
O que a memória não deleta, por Aldir Blanc
Balcão atemporal, por Zé Octávio Sebadelhe
O botequim e a cidade, por Paulo Thiago de Mello
Origens, por Zé Octávio Sebadelhe
Aspectos
Fábrica de cerveja da Guarda Velha
Botequim do Passeio
Bar Adolf / Bar Luiz
Café Lamas
Bar 20 de novembro
Ponto dos 100 réis
A Capela
Café Nice
Bar Brahma - Ao Franziskaner (Galeria Cruzeiro)
Bar Alpino
Casa Simpatia
Casa Pardellas e Rede Villarino
Taberna da Glória
Wiskeria Gouveia
Bar Monteiro
Zicartola
Suvaco
de Cobra
Mau Cheiro (Recreio de Ipanema)
Castelinho
Barril 1800
Jangadeiro
Veloso / Garota de Ipanema
Beco da Fome
Divino
Antonio’s
Bar Zeppelin
Luna Bar
Barbas
A Paulistinha
Real Astoria
A boemia segue seu rumo, por Paulo Thiago de Mello
Cidade-Botequim, por Leo Feijó
Semente da memória musical, por Aline Brufato
A saideira, por favor!, por Flávio Silveira
Bibliografia
Agradecimentos
"Às pessoas que eu detesto,
diga a elas que eu não presto e que o meu lar é ‘o’ botequim."
(Letra original do samba Último desejo
, de Vadico e Noel Rosa,
na versão correta atestada pelo jornalista João Máximo)
"Só nas tabernas é que encontro meu abrigo.
Cada colega de infortúnio é um grande amigo…"
(Letra da música O Ébrio
, de Vicente Celestino)
O homem entra no bar para transcender-se — eis a miserável verdade.
(Paulo Mendes Campos)
Coleção Augusto Malta - Museu da Imagem e do Som
Biblioteca Rio450
Um dos grandes legados das comemorações de 450 anos é a Biblioteca Rio450, que tem quase 20 obras patrocinadas pela Prefeitura do Rio e tantas outras com a chancela do Comitê Rio450. Os livros da Biblioteca Rio450 tratam de temas que ajudam a compreender a tão consagrada e falada carioquice. Foi com muito orgulho que assinei o decreto reconhecendo esse estado de espírito
como patrimônio imaterial do município, em um dia de enorme felicidade para mim, o aniversário de 450 anos do Rio, em 2015.
Do samba ao botequim, da Maré à Lagoa, do teatro às escolas de samba, os livros da Biblioteca Rio450 abordam características marcantes do carioca e revisitam lugares que fazem parte do imaginário afetivo da cidade. Em um momento em que o Rio vive um processo de grande transformação e expansão, mais do que nunca, é preciso olhar detidamente para nossas tradições.
Diversas intervenções, especialmente no Centro, contribuem para lançar foco sobre o patrimônio material e imaterial da cidade. A relação do carioca com a Baía de Guanabara, que é nossa razão de existir, é uma delas. Com a substituição da Perimetral pelo novo paisagismo da região portuária, vamos voltar a olhar para a Guanabara com o carinho que ela merece. O VLT resgata outra tradição genuína, os bondes, que retornam às ruas repaginados.
Tão cantado na música e retratado em pinturas e fotografias, o Rio de Janeiro também se presta a ser estudado e analisado. Em 1906, a Prefeitura do Distrito Federal realizou de forma pioneira o Censo Demográfico, republicado recentemente pela Prefeitura do Rio, na primeira iniciativa de pensar sobre os 450 anos, ainda em 2013.
A tradição de patrocinar a publicação de estudos e livros sobre o Rio teve importantes capítulos escritos em outros momentos da história da cidade, como na comemoração do IV Centenário, em 1965. A Biblioteca Rio450 é a contribuição da Prefeitura do Rio para tornar o conhecimento sobre a história carioca mais acessível, não apenas com a publicação de novos autores, como também com a reedição de obras de referência de historiadores e escritores. Nesse time, podemos incluir Vivaldo Coaracy, Magalhães Correa e Gilberto Ferrez.
Ao lado de realizações grandiosas como a substituição da Perimetral e a implantação do VLT, a própria Biblioteca Rio450 também se insere, singelamente, nesse esforço de divulgar nossas tradições mais autênticas.
Aproveite, leitor, em cada página deste livro e em cada livro desta coleção, uma dose de carioquice.
EDUARDO PAES
Prefeito da cidade do Rio de Janeiro
Coleção Augusto Malta - Museu da Imagem e do Som
Acervo Arquivo Nacional
Um prefácio dos bares
O título desta obra poderia, perfeitamente, ser O nosso segundo lar. Afinal, o que representaram para mim botecos como o Bar Luiz, o Antonio’s, senão uma extensão do meu quarto e da minha cozinha? Na verdade, não sei se eu seria este cara que escreve estas coisas se não carregasse uma história vivida nas mesas de bar.
Quem eu seria se não estivesse envolvido profundamente — sem exagero, profundamente — na história de ícones da boemia carioca, como o Zicartola e o próprio Antonio’s, agora citado porque me lembrei que foi para ele que corri quando saí depois de dois meses na prisão. É isso mesmo que confesso: antes de ir para casa, me ofereci ao Antonio’s, onde, honra seja feita, fui recebido com imensa alegria não só pelos clientes, como, especialmente, pelos proprietários do estabelecimento, que me ofereceram uma bebida raramente servida lá: champanhe.
Longe de mim comparar a alegria reinante nos bares com o saudável ambiente, por exemplo, de uma leiteria. Não comparo porque tenho horror a covardias, até porque sigo aquela orientação do nosso papa Vinicius de Moraes de que amigos a gente faz nos botecos e não nas leiterias. Reafirmo que não quero polêmica por causa de preferências individuais. Continuo amando os botequins. Quanto aos que não os amam tanto, estão perdoados.
Deus tenha piedade deles.
SÉRGIO CABRAL
Arquivo particular - Aldir Blanc
O que a memória não deleta
É importante para mim escrever sobre os bares selecionados em livro tão bacana. Porque bebi em quase todos e alguns fazem parte da minha vida. Então vou preferir, em vez de uma abordagem formal, contar causos
vividos, como se estivesse num buteco com amigos — no caso, os leitores.
Bom, vou pela ordem: No Bar Luiz, haja fígado, tomei muito chope preto e, o que não faz muito meu gênero, comia de deixar pasmos os biriteiros da mesa. Adoro tira-gostos e o Bar Luiz é campeão. Uma vez, já altos, Zeca Mello Menezes e eu convidamos para a nossa mesa um rapaz negro que vagava pelo bar. Ele disse que era conhecido como Jota da Abolição. Vocês sabem como essas coisas funcionam em bar: o cara virou em cinco minutos Jotinha, 1888, Zé do Patrocínio e até Princesa Isabel… Quando o Bar Luiz fechou, fizemos a ronda de outros bares e gafieiras. Na companhia de moças levadinhas, fomos para um hotel naquela subida no final do Leblon e PERDEMOS o Jotinha!!! Espero que ele não tenha caído no mar.
O Capela foi meu por uma década e meia. Sou amigo do garçom Cícero, um craque várias vezes laureado com o galardão de Melhor Garçom do Rio, o que não é fácil. Lá, participei de um concurso de conhaque e venci. Quando, eufórico (minha suburbana danada da vida…), saí, faltou gravidade, e pairei por um instante em pleno ar! Não dei de cara no chão porque aquele senhor de cabeça branca da porta do Capela (uma parada duríssima quando mais jovem, em Copacabana) me pegou em pleno voo e me enfiou feito um torpedo num táxi…
No Lamas, outra década e meia de gorós, quando o histórico produtor musical Pelão morou no Rio, conheci os garçons Maia, com suas histórias da Era de Ouro do rádio; estive na festa de despe-dida do Paulinho; e lamentei perder outra farra quando o Vieira Passarinho
, o garçom mais meu amigo, pendurou a