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O Brasil a favor da corrente: a sustentabilidade vista como ideia matriz
O Brasil a favor da corrente: a sustentabilidade vista como ideia matriz
O Brasil a favor da corrente: a sustentabilidade vista como ideia matriz
E-book459 páginas6 horas

O Brasil a favor da corrente: a sustentabilidade vista como ideia matriz

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Sobre este e-book

Evoluir a níveis mais elevados de desenvolvimento, naturalmente, traduz-se em enorme desconforto, assim como os degraus cansam mais que o caminho plano. Ainda que dificultoso, é preferível o cansaço da subida que a armadilha da estagnação, pois é um grande engano presumir que a racionalidade darwiniana permite passar incólume às falhas no processo de evolução econômica. Esse é o sedutor terreno dos cisnes... Uma perspectiva capaz de explicar, por meio de aspectos históricos e atuais de vulnerabilidades econômicas nacionais (na dimensão do cisne negro de Taleb e do cisne verde de Elkington), a necessidade de se desenvolver uma nova racionalidade aderente à Matriz Biocêntrica que tangencia a obra. É a valsa que sincroniza os standards da sustentabilidade à nova textura de sistema produtivo, o que traz à tona o lucro ambientalmente limpo como realidade possível. Imerge o leitor num cenário que protagoniza uma era de avanços tecnológicos em escala e eventos ambientais extremos (v.g., a nevasca sem precedente ocorrida no Texas em 2021 e a Covid-19), prenunciando uma nova visão ambiental no planeta considerado como um superorganismo vivo. "Esta obra é muito criativa e oferece uma receita viável e sedutora para restaurar o conceito de sustentabilidade... Somos todos responsáveis pelo ambiente, não só por nós, mas pelas futuras gerações, sobre as quais recairão os nossos erros e omissões."
Do Prefácio de José Renato Nalini
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de abr. de 2021
ISBN9786559566723
O Brasil a favor da corrente: a sustentabilidade vista como ideia matriz

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    Pré-visualização do livro

    O Brasil a favor da corrente - Marcelo Mazin

    Reuters.

    PARTE INTRODUTÓRIA

    Este livro é fruto dos estudos desenvolvidos no Programa de Mestrado, posteriormente aprofundado ao longo do Doutorado, ambos na área de Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, junto à Universidade de Marília, com posterior e enriquecedora colaboração do professor e Doutor Emerson Ademir Borges de Oliveira (item 3.3), o que resultou em uma obra focada na identificação de novas alternativas para o desenvolvimento sustentável levando-se em conta a realidade nacional em face da crise econômica mundial intensificada no acender das luzes de 2021.

    No intuito de simplificar a compreensão do tema, propõe-se subverter a métrica clássica dos trabalhos científicos originados da academia, isto é, expor o assunto de forma mais direta acessando o leitor por meio do uso recorrente da primeira pessoa. Nessa linha, torna-se mais útil, produtivo e, obviamente, menos cansativo fazer contato com o texto inicialmente na forma de síntese introdutória antes de ingressar propriamente no terreno da sustentabilidade. Dessa forma, o livro foi pensado como algo que se assemelha muito ao um passeio e que naturalmente envolve um roteiro, trajeto e destino, no entanto, o final não estava pré-estabelecido onde e quando terminaria esse longo trajeto acadêmico, em função de que a conclusão se tornou o produto da colheita de evidências ao longo do caminho.

    Este passeio intitulado "O Brasil a favor da corrente: a sustentabilidade vista como ideia matriz segue uma lógica bastante simples, a da direção da corrente. E, essa direção é extraída deste compêndio", cujas ideias são expostas ao longo dos capítulos. Enfatizei um pouco o rumo ou curso por onde seguirão as ideias que pavimentam o caminho que o leitor percorrerá, porque observo esse método há algum tempo. Explico: certo dia ouvi de um cordial professor e advogado no antigo fórum da cidade de Campo Grande (MS) e isso realmente já faz algum tempo, que assim como na vida das pessoas as ideias a serem desenvolvidas precisam ser submetidas a uma certa metodologia direcional, pois existem coisas muito mais importantes que a velocidade, dentre elas, a direção.

    Dessa maneira, inicia-se o percurso com foco central na sustentabilidade matriz, assim, por meio de uma síntese inicial busca-se estabelecer alguns pontos de ligação entre o desenvolvimento tecnológico, o modelo de desenvolvimento endógeno (desenvolvimento complementar de dentro para fora) em face da sustentabilidade.

    Curiosamente, a construção desse pensamento é considerada heterodoxa por expressar uma lógica que parte de um movimento contrário, a partir de dentro. Traduz-se, por meio da lógica darwiniana, na capacidade de adaptação para atender demandas locais e regionais por intermédio de sistemas produtivos. Mas, sua qualidade mais surpreendente provavelmente seja o potencial de desenvolvimento fora dos velhos modelos. Leia-se: em sincronia com os emergentes standards da sustentabilidade global.

    Mas, essa forma de crescimento econômico precisa ser lastreada nas inovações tecnológicas, tornando-se assim uma alternativa para transformar a produção em crescimento qualitativo, em outras palavras, a criação de novas oportunidades para se alcançar o desenvolvimento sustentável e, a partir daí a sustentabilidade ambiental. Com o propósito de tornar o lucro ambientalmente sustentável em uma realidade possível.

    Nesse diapasão, a tecnologia serve ao propósito de sincronizar a economia nacional aos novos standards (sinônimo universal de paradigmas) da sustentabilidade que começam a transbordar no século XXI. Assim, torna-se oportuno esclarecer o que vem a ser os atuais standards da sustentabilidade. Então, visando facilitar a compreensão inicial, são os novos paradigmas expressos em preceitos e referências supranacionais que orientam as políticas de desenvolvimento ao redor do mundo e, como se sabe, essas políticas tornam-se aderentes a todos os segmentos econômicos influenciando todos os atores envolvidos nesse processo.

    Salienta-se que, torna-se inócuo e casuístico definir estritamente o que vem a ser um standard ou paradigma da sustentabilidade, porque é sobremaneira desaconselhável restringir o que não deve ser confinado a parâmetros pré-estabelecidos, em virtude de sua amplitude e dinâmica. Do mesmo modo, ao se atravessar o terreno da sustentabilidade perdem-se os detalhes da paisagem quando se tenta focar em um objeto específico ao longo das veredas na busca por um terroir perfeito. Assim, como assinalava João Guimarães Rosa (1956), "o real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia" (ROSA, 1994, p. 86).

    Vou adentar no assunto, preliminarmente, por um prisma metodológico. Assim, a premissa maior (inicial) trata dos desafios do desenvolvimento de novíssimas tecnologias pelas startups (empresas emergentes) tecnológicas nacionais. A premissa menor, que dá corpo à argumentação trata, por uma perspectiva neo-schumpeteriana (foco nas inovações), dos desafios econômicos necessários à operabilidade das propostas de desenvolvimento endógeno (método de desenvolvimento de dentro para fora). O interessante é que o desenvolvimento por meio dos sistemas produtivos e inovativos, locais e regionais, baseiam-se na elaboração pelas startups de tecnologias predominantemente nacionais em processo associativo-colaborativo, não apenas junto a esses aglomerados, mas pelo intercâmbio entre diversos atores (nacionais e internacionais) facilitado pela interdependência, que emerge borbulhante nesse início de século.

    Pareceu complicado? Mesmo assim, prossiga mais um pouco! Pois, é surpreendente a conexão que paulatinamente vai se formando em nossa mente com a aquisição de novas informações ao longo do livro. Fiquei bastante surpreso com a dimensão com que os novos paradigmas (standards) da sustentabilidade vêm tomando no mundo globalizado. E, isso não é pouco intuitivo, na verdade, é praticamente uma conexão bluetooth 5.0 iniciada quando da percepção de que tudo a nossa volta está ligado em diversos níveis à sustentabilidade, mormente, a ambiental.

    Preciso ser objetivo nessas linhas iniciais, pois não é possível abordar diretamente o tema sustentabilidade ambiental sem que se estabeleça um link constante com o desenvolvimento econômico e social. Dessa forma, inicia-se o livro buscando o nexo entre as tecnologias inovativas disruptivas e o modelo de desenvolvimento endógeno, dá-se como resultante uma alternativa viável que permite alcançar condições de se promover o desenvolvimento sustentável, para finalmente adentrar no terreno da sustentabilidade ambiental.

    Assim, orientado pelos princípios da matriz biocêntrica se avança de forma menos complexa, porém sem esquecer o viés científico, em um cenário que protagoniza uma era de avanços tecnológicos em escala, marcada pelo risco de eventos ambientais extremos – v.g., mudanças climáticas como a nevasca sem precedente ocorrida no Texas (EUA), em 2021, e a pandemia da Covid-19 –, e, desdobramentos econômicos da crise do século, uma versão atualizada da black thursday, porém com novos elementos complicadores. É a crise mundial iniciada em 2020, porém, de alguma forma parece catalisar e prenunciar uma nova visão ambiental no planeta.

    No entanto, a abordagem transdisciplinar não para por aí, na verdade, ao longo do trajeto (este passeio) é necessário forçar a visão para enxergar claramente os elementos que dão um contexto à paisagem da sustentabilidade ambiental, por exemplo, a teoria do "Cisne negro de Taleb (2017), uma surpreendente teoria capaz de demonstrar que um ponto fora do radar pode estar bem mais próximo do que se imagina, em vista de que vivemos em um mundo majoritariamente subsumido no fenômeno da indução. Simplesmente, a experiência histórica nos induz e nos faz supor tudo com base nela, esse é o lago dos cisnes". Porém, lança o alerta: um ponto fora da curva, nem sempre é apenas um ponto.

    Prossegue a caminhada exploratória forçando ainda mais a percepção para que seja possível alcançar a mensagem transportada na obra "Cisne verde" de Elkington (2020), ferramenta útil para emprestar um significado hiperatual à sustentabilidade. A teoria dos cisnes é explorada pontualmente ao longo de todo o livro sob a perspectiva da matriz biocêntrica, assim estabelecendo-se uma conjugação de ideias com foco no momento atual.

    Acrescenta-se que o livro baseia-se, essencialmente, nos novos standards globais da sustentabilidade, no entanto, a compreensão dos Cisnes é essencial para prosseguir na linha prospectiva da pesquisa, pois a abordagem, no Cap. 1, de temas como as altas tecnologias estratégicas e a utilização, no Cap. 2, de uma visão heterodoxa do desenvolvimento, bem como da perspectiva evolucionista e da matriz biocêntrica, no Cap. 3, são partes da proposta que objetiva compor uma imagem mais clara do momento atual para fazer frente à novíssima figura que emergiu, no acender das luzes de 2020, chamada cisne verde. O século XXI é um novo ciclo que se inicia, e dá sinais inequívocos que prenunciam grandes transformações por meio da superação de anacrônicos standards.

    Certamente, esse século será uma era de grandes desafios marcado pelo árduo esforço na superação dos antigos e arraigados paradigmas do crescimento sem significado, mas, por outra via, oferecerá janelas luminosas de oportunidades com potencial de operar grandes transformações, da sociedade internacional à vida das pessoas. Transformações ocorrerão, mas sua direção dependerá fundamentalmente da afirmação de uma mentalidade vocacionada à implementação de profundas alterações dos padrões de produção de riquezas. Sustenta-se que esses metamorfismos progressivos, oriundos do compromisso ético intergeracional, serão capazes de, ao menos, estabilizar e equilibrar o meio ambiente desgastado pelo modelo econômico atual. Evidentemente, uma busca realista pela sustentabilidade necessariamente perpassa pela adoção dos três pilares – social, econômico e ambiental –, então, necessário pensar alternativas que vão para além da cartilha que preconiza apenas a produção, concentração e acumulação. No entanto, também é necessário compreender que a matriz do pensamento biocentrado não deve barrar o desenvolvimento, mas acompanhá-lo... Talvez esse trajeto deva se chamar caminho do meio.

    Explica-se por intermédio de aspectos históricos e atuais as vulnerabilidades econômicas nacionais e a necessidade em se desenvolver os sistemas produtivos setorizados de altas tecnologias, integrados pela participação das startups; justifica-se em função da inevitabilidade na abordagem, mediante o desenvolvimento tecnológico, de alternativas para superar velhos e anacrônicos paradigmas que impedem ou relativizam os efeitos dos emergentes standards biocêntricos mundiais.

    Essa proposta, objetiva atender a uma visão biocêntrica acerca da imperatividade do equilíbrio entre o desenvolvimento e a progressiva redução da depleção ambiental da parcela da biosfera sob a responsabilidade do País – alternativa que conduz aos novos standards.

    Destaca-se que no Brasil, país este ainda imerso em uma realidade de subdesenvolvimento estrutural e social, é possível trazer à tona mecanismos – tecnologia e desenvolvimento endógeno – com potencial de burlar a enorme força gravitacional do franco processo da globalização assimétrica (desigual). A criação de determinadas ferramentas que internalizam o desenvolvimento atende ao propósito de criar espaço para novos postos de trabalho como elementos do processo, mas, não como consequência de uma exploração econômica pautada por modelos transplantados que servem unicamente ao propósito alienígena, pouco refletindo sobre o real desenvolvimento nacional. A adoção desse racionalismo implica em custos, mas, seguramente, desenvolve potencialidades locais e regionais que podem espelhar desejáveis paradigmas de sustentabilidade, com isso tende a descomissionar modelos obsoletos.

    Com ponderações científicas extraídas de fontes nacionais e internacionais, pretende-se corroborar a ideia-base: a proposta de sustentabilidade pertinente ao segmento das startups estratégicas frente ao cenário da economia nacional coordenada pública e globalizada, associada à idée force do programa de desenvolvimento endógeno (de dentro para fora). Isso se traduz em uma forma de superar antigos e anacrônicos paradigmas e acompanhar as transformações que advirão da adesão cada vez maior aos standards da sustentabilidade matriz (lógica do biocentrismo).

    As argumentações científicas extraídas de referências nacionais e internacionais objetivam oferecer uma contribuição à reformulação da visão acerca do modelo econômico atual, com vistas à formação de uma nova ideia: a irreversibilidade da integração entre economia e meio ambiente, de outra forma, a adesão progressiva aos postulados da matriz biocêntrica (o suporte da vida como paradigma ou standard universal). Assim, essa irreversibilidade – efeito dos novos standards – é reconhecidamente uma realidade. Porém, a forma e as alternativas escolhidas pelo Brasil, para gerir satisfatoriamente essa grande oportunidade de desenvolvimento econômico-ambiental é o x da questão. Ou seja, uma narrativa com final ainda em aberto.

    Ao longo do livro, será estabelecida a ligação entre todos os capítulos anteriormente estudados. Com isso, o estudo com foco ambiental busca demonstrar que o mundo segue uma realidade ambiental bem definida, pautada pela atração da globalização dentro de um cenário de mitigação (relativização) das fronteiras, com fortes pressões de países e organismos supranacionais diante dos novos standards da sustentabilidade. E, isso é uma consequência da progressiva interdependência dos povos que, por sua vez, é aderente a outro fenômeno igualmente importante, o da uniformização de consensos na comunidade internacional.

    E, isso é sobremaneira mais relevante do que inicialmente possa parecer. Explico... De forma sucinta quer dizer sincronia. Esse elemento é de grande importância na longa valsa ensaiada entre o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental. Ocorre que, atualmente veio à tona um elemento novo, a interdependência entre os Estados em decorrência da evolução de processos como a globalização e, disso, emergiu a necessidade de sincronização entre o Estado e organismos internacionais, ou seja, com a sociedade internacional, quando do trato de questões ambientais. Em outros termos, sincronia significa não apenas uma forma de melhorar a inter-relação, sobretudo é uma ferramenta de grande importância para se alcançar o ótimo da cooperação no cenário internacional. Não é razoável presumir que as importantes demandas ambientais prosseguirão unicamente entregues à custódia de ações isoladas do contexto global.

    Entende-se como um enorme equívoco negligenciar essa tendência global (interdependência), pois além de não ser uma decisão economicamente racional é um caminho que segue ao arrepio da tendência mundial, conforme já declarado pelos epicentros financeiros globais e, inclusive pelo recém-empossado presidente norte-americano Joe Biden, em 21 de janeiro de 2021. Com isso, busca-se explorar alternativas de sustentabilidade ambiental com foco na compreensão mais afinada do axioma ambiental, a fim de que seja possível adotar um modelo de desenvolvimento sustentável. Não é racional imaginar que as saídas para modelos de desenvolvimento sustentável são uma faculdade ou uma mera alternativa. Em verdade, trata-se de um processo que obedece à lógica darwiniana (evolutiva), ou seja, na atualidade nenhuma economia pode escapar à órbita da sustentabilidade. Embora seja visível o desgaste do termo desenvolvimento sustentável, atualmente vem ressurgindo como símbolo dos novos standards e começa a influenciar a todos, mesmo sem nos darmos conta disso.

    Assinala-se, oportunamente, que o subcontinente nacional (Brasil) terá um papel cada vez mais relevante dentro do cenário global, em razão de possuir grandes reservas de recursos naturais como, v.g., a água potável. Pode parecer trivial, porém, demonstrar-se-á que, dentre outros fatores, a escassez do elemento água será capaz de reescrever (relativizar) até mesmo, os clássicos paradigmas que há séculos atribuem sólida consistência ao conceito de soberania estatal.

    O livro é produto de uma gênese consideravelmente estendida, iniciada em 2017 até 2021. É uma obra que verteu de estudos com viés científico, para efeito didático, progrediu sobre aspectos pragmáticos focados no momento atual, por sua vez marcado pela desindustrialização e interdependência. Por meio de uma visão prospectiva busca-se estabelecer a conexão com prováveis cenários futuros. Com vistas ao atingimento desse objetivo, utilizou-se a exploração e investigação de tendências mundiais com potencial transformador da realidade.

    A exposição de ideias se dá sob a forma de um diálogo, e, porque não um de passeio, assim, perpassando pela realidade econômica nacional influenciada pelos novos fatores de poder intensificados em 2021, mormente, pela vinda à tona de uma matriz de pensamentos biocêntricos que se afirmam como elementos de novos standards ou paradigmas de desenvolvimento.

    1 . A VALSA ENTRE STARTUP E SUSTENTABILIDADE

    Muito além do que normalmente se pode supor, existe um elo, ou nexo, surpreendentemente presente entre as startups criadoras de tecnologias estratégicas e os sistemas produtivos inovativos locais e regionais face à sustentabilidade ambiental.

    Entretanto, há um problema: o referido elo entre todos os preceitos examinados se mostra volátil e fugidio, cabendo a este livro demonstrar não somente a existência dele, como também sua dimensão e viabilidade, residindo justamente neste ponto o desafio que inspira esse passeio, ou melhor, essa valsa.

    A compreensão acerca de questões de relevo, como o papel das startups em face das novas tecnologias interessantes ao modelo de desenvolvimento complementar – composto por arranjos, sistemas produtivos e inovativos, locais e regionais –, e sua interface com a globalização e com os emergentes paradigmas de desenvolvimento biocentrados são questões sobremaneira relevantes para a compreensão lógica do livro. A produção tecnológica das startups voltadas à pesquisa e desenvolvimento, quando orientadas, facilmente formam elos com as questões ambientais, quais sejam, questões relativas à água potável, biomassa e formas de compatibilizar as novas tecnologias que devem obedecer à dinâmica do desenvolvimento pautado pela sustentabilidade ambiental.

    Depreende-se, a partir do enfrentamento da questão acerca das inovações tecnológicas estratégicas, a associação de institutos diferentes como as startups e os sistemas produtivos setorizados. Contudo, ambos os institutos podem se complementar, fornecendo lastro para o desenvolvimento de tecnologias industriais capazes de influir incisivamente nas novas concepções de sustentabilidade ambiental.

    É dentro do contexto da nova economia que se desenvolve esse jogo associativo entre os institutos tratados, como alternativa aos efeitos da assimetria provocada pelo fenômeno da globalização não includente. Nesse contexto, existem problemáticas de notável relevo que despontam dentro do modelo de desenvolvimento endógeno como algo que não se pode negligenciar, imprimindo a necessidade de se buscar soluções aceitáveis para questões como: políticas públicas, financiadoras conscientes dos danos à livre iniciativa e à livre concorrência; déficit na atualização tecnológica; necessidade de aprofundamento nas biotecnologias e tecnologias de ponta; defasagem no estímulo aos sistemas produtivos e inovativos locais e regionais e, sobretudo, redução da depleção ambiental.

    Partindo dessa lógica, passa-se a fazer uso das novíssimas tecnologias, classificadas como estratégicas, na exploração dos recursos naturais não renováveis, de modo que essas explorações causem depleções progressivamente menores ao meio ambiente, pois se concluirá que a simbiose entre as novas tecnologias e os sistemas produtivos representa um imperativo infungível, não havendo a possibilidade de substituí-lo por fórmulas que atendam a interesses econômicos transplantados de outros países.

    Questiona-se a inserção do modelo de desenvolvimento em que se utiliza a força motriz econômica dos referidos sistemas produtivos, integrados pelas startups, como promotores do desenvolvimento. Contudo, devem ser considerados os seguintes fatores: (i) o amadurecimento histórico da economia nacional e seu viés intervencionista; (ii) os institutos do crescimento em contraponto ao desenvolvimento econômico; (iii) as particularidades da economia coordenada pública; (iv) a customização da economia nacional; (v) o desenvolvimento econômico frente à sustentabilidade; e (vi) a inescapável atração gravitacional do processo de globalização assimétrica.

    A economia mundial está, de fato, na quarta revolução industrial (fusão tecnológica entre os mundos digital, físico e biológico). Assim, é certo que as economias pós-modernas em desenvolvimento, inseridas no imperativo processo da globalização, necessitam de soluções pontuais para cada realidade, ou seja, saídas originais e customizadas, dentre elas, a exploração do desenvolvimento tecnológico, visto que o avanço da tecnologia já caminha para a conectividade em nível biológico.

    Todavia, esse jump entre uma era e outra caracteriza a passagem para a (4ª) quarta fase das revoluções industriais. Foi dito salto porque a História e as sociedades não evoluem se arrastando. Elas, literalmente, dão saltos. Seguem em processo contínuo de ruptura em ruptura, intercaladas por algumas oscilações que prenunciam os grandes saltos. Ainda assim, todos nós desenvolvemos a predileção pela sensação da progressão paulatina e previsível dos eventos com potencial para transformar da realidade em nosso entorno.

    A evolução para níveis mais elevados de desenvolvimento, naturalmente, traduz-se em enorme desconforto, assim como os degraus cansam mais que o caminho plano. Ainda que dificultoso, é preferível o cansaço da subida que a armadilha da estagnação, pois é um grande engano presumir que a racionalidade darwiniana permite passar incólume as falhas no processo de evolução econômica. Em outros termos, Francis Bacon (1620) já assinalava que "a natureza não se domina, senão obedecendo-lhe". (BACON, 2003, p. 73).

    O viés evolucionista faz uso irrestrito de todas as ferramentas úteis para alcançar a proposta elementar, que não é outra, senão a integração da economia ao processo evolutivo rumo à incorporação dos preceitos da matriz biocêntrica.

    As ferramentas referidas, evidentemente são as tecnologias de ponta. Mas, a forma de alcançar as condições para que o parque tecnológico nacional caminhe de forma dinâmica rumo à produção continuada de tecnologias úteis ao novo ciclo econômico, baseado na incorporação do meio ambiente no custo da produção, é um dos grandes desafios enfrentados neste livro.

    Tecnologias não evoluem do acaso, muito menos por conta própria. Assim, exigem mais que vontade e alinhamento ao consenso neoliberal, lastreado no capital rentista. Necessitam ser inseridas no ciclo correto, isto é, precisam estar em simbiose com os eventos do momento.

    O modelo econômico tradicional de crescimento do capital está em franco processo de transformação rumo a modelos biocêntricos. Certamente, esse benchmarking não está ocorrendo com vistas a demonstrações de altruísmo corporativo. Esse processo de mudança se encontra em uma discreta, porém constante, marcha rumo à instalação de profundas reformulações nas cadeias de valores das empresas. Ocorre que essas transformações prosseguem de maneira exponencial e os produtos, políticas e iniciativas empresariais estão atualmente submetidos ao raio X ambiental, disso resultando influências de todos os lados na bússola do investimento corporativo.

    O capitalismo stakeholder controla o fluxo das mudanças, por meio da imensa pressão que exercem sobre o coração das empresas que são os conselhos corporativos. Porém, também, não são esses os altruístas, visto que a mesma lógica se aplica a eles, ou seja, essa racionalidade é orientada pelos agentes de mudanças sob a forma de organizações não governamentais (ONG’s), agentes políticos, governos, organismos multilaterais como: a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT), etc. Nessa categoria também se incluem as instituições financeiras que atuam como grandes investidoras mundiais.

    Assim, para se ter uma ideia desse poder de dissuasão, recentemente, em junho de 2020, cerca de (29) vinte e nove investidores globais assinaram uma carta aberta ao governo brasileiro expondo a preocupação e descontentamento com a política ambiental, em função do avanço do desmatamento na floresta amazônica. Mas, dentre os investidores internacionais, um se destaca, com relação aos preceitos da matriz biocêntrica: o Bank for International Settlements com a publicação em 2020 do estudo intitulado "The green swan" (O cisne verde, em tradução livre). Tema esse aprofundado ao longo do terceiro capítulo.

    No livro é proposto um diálogo constante buscando expor a necessidade do tratamento de determinados temas que, apesar de estarem em áreas do conhecimento diferentes, estão na mesma órbita biocêntrica como as novas tecnologias estratégicas para viabilizar o desenvolvimento no contexto atual. Dito isso, insere-se a exposição da problemática no segmento de alta tecnologia nacional.

    Para possibilitar uma visão da escalada do avanço high tech, é oferecida uma amostra extraída da obra "Green swan, na qual é abordado alguns aspectos do desenvolvimento de novas alternativas que permitam ao mundo se conectar de forma mais ampla. Nessa perspectiva, intrigante seguem os trabalhos da Neuralink, empresa de Elon Musk, que está prestes a desenvolver a inovadora interface cérebro-computador, dessa forma o objetivo é estabelecer uma conexão sem fio de dois gigabits por segundo entre um cérebro humano e a nuvem dentro de alguns anos" (ELKINGTON, 2020, p. 247).

    Nesse diapasão, o presente capítulo detém-se na questão sobre o estudo das empresas startups, apresentando definições, histórico, características e particularidades. Porém, o objetivo de se trazer à análise essas empresas emergentes reside em sua importância como catalizadoras da tecnologia, uma vez que, por meio de uma visão geral, a pesquisa é pautada por uma abordagem neo-schumpeteriana e, como tal, não se pode prescindir dos elementos inovatividade e disruptibilidade. Assim, esses elementos se traduzem em características definidoras da inovação tecnológica.

    As tecnologias inovadoras são um dos temas centrais, de forma que se apresentam como um fator estratégico para o desenvolvimento nacional, mais especificamente, acerca do desenvolvimento setorial, ou desenvolvimento endógeno.

    Em breves linhas, o mencionado desenvolvimento endógeno é composto por arranjos, sistemas produtivos, locais, regionais e clusters. Com isso, o elemento mais importante para o sucesso desse modelo de desenvolvimento é, justamente, o fator tecnológico inovador. Ressalta-se que essa temática será aprofundada ao longo do trabalho.

    Dentro dessa arquitetura proposta, as startups são vistas como uma vertente dotada de potencial para fornecer um fluxo constante de tecnologia, que, por seu turno, transformam-se em commodities¹ extremamente valorizadas para os referidos sistemas produtivos setorizados.

    Nessa perspectiva, as startups desempenham um relevante papel na estrutura organizacional do modelo de desenvolvimento setorizado, e, posteriormente, demonstrar-se-á que além de coadjuvar com o desenvolvimento econômico, mormente, exercem profunda influência na preservação ambiental.

    Torna-se oportuno, nesse momento, esclarecer o que vem a ser crescimento e desenvolvimento, pois envolvem visões éticas diametralmente distintas. O crescimento econômico é retratado pelo incremento geral das riquezas acumuladas por uma sociedade, ao passo que se torna constatável em função da elevação do Produto Interno Bruto (PIB). Entretanto, esse aumento de riquezas não se traduz necessariamente em desenvolvimento, visto que este último espelha e aperfeiçoa os fatores e as dimensões da sustentabilidade – não somente à econômica, mas as dimensões social e ambiental – aferível por meio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

    Por meio desse mesmo raciocínio, crescimento econômico é um fator necessário, porém, não suficiente para que seja projetado o desenvolvimento em caráter sustentável. Todavia, em que pese posicionamentos contrários, no Brasil, até o momento não reflete os paradigmas do desenvolvimento sustentável exatamente por jamais se ter baseado em um ambiente de equilíbrio entre os agentes econômicos, gerando assim grande concentração e imobilização do capital [...] com efeito, concentração econômica sempre foi sinônimo de desenvolvimento no país (CALIXTO, 2001, p. 128).

    Em outro ponto de vista, o desenvolvimento, diferente do crescimento econômico, cumpre o quesito da aproximação entre economia e a ética, à medida que os objetivos do desenvolvimento avançam sobremaneira além da simples multiplicação da riqueza material. De modo que, o crescimento é condição necessária, mas não suficiente, e, muito menos trata-se de um objetivo que se exaure em si mesmo (SACHS, 2004, p. 13). Essa valsa ensaiada entre crescimento e desenvolvimento será constantemente retomada ao longo do livro. Daí a importância em se fixar esses dois conceitos. E, isso é importante!

    A economia nacional atualmente está imersa em um cenário extremamente influenciado pelo processo de desglobalização (com efeitos inclusive na desindustrialização), ainda assim, apresenta-se sob a roupagem assimétrica, concentrada e excludente. Esse processo, apesar de ser um evento com repercussões em todo o globo, nacionalmente é marcado pela realidade da desindustrialização e fuga de capitais de investimento a longo prazo. É nesse cenário aparentemente caótico, caracterizado pelas relações assimétricas e excludentes, em que são travadas as acirradas disputas internacionais com vistas à conquista de novos mercados. No entanto, surge em meio a essa valsa elementos novos como a interdependência entre Estados e a sincronia com a sustentabilidade matriz.

    É diante dessa realidade, imposta pelo processo de desglobalização associado à tendência biocêntrica, que a problemática do desenvolvimento tecnológico setorizado ganha complexidade e importância na busca não apenas da sustentabilidade econômica e ambiental, mas da sincronia com a nova dimensão do século XXI, a interdependência como corolário da relativização da soberania, principalmente em questões ambientais.

    Curiosamente, a sincronia com os novos standards de desenvolvimento sustentável tem uma face que se assemelha muito às relações humanas. E, para explicar é necessário resgatar um antigo provérbio romano (63 a.C.) cujo texto segue nesse sentido: À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer ser. O desenvolvimento tecnológico criativo e a estabilidade econômica são muito importantes, entretanto, diante desse novo cenário internacional, torna-se ainda mais relevante que as ações estatais sigam, e, atenção! Que pareçam seguir no sentido de direcionar a tecnologia ao encontro de paradigmas sincrônicos com os consensos firmados no âmbito internacional.

    Em termos contextualizados, o desenvolvimento de novas tecnologias e as ações estatais precisam estar efetivamente inclinadas a combater o desmatamento ou incêndios florestais, tais temáticas são de interesse coletivo (nacional e internacional), mas, além disso, devem demonstrar (aparentar) que seguem comprometidas nesse sentido, e não apenas em razão do atendimento a um simples protocolo ou tratado. Isso significa, sincronia com os novos paradigmas da sustentabilidade. É que, da sincronia resulta cooperação no cenário global, certamente disso advém ganhos em diversos níveis. Daí, a importância da valsa entre os novos standards da sustentabilidade e a mulher de César.

    1.1 STARTUPS: UMA SAÍDA ESTRATÉGICA

    Ainda que pequenas empresas ou pessoas ingressem sozinhas na desafiadora aventura de criar algo novo, imersas em um ambiente de extrema incerteza, e mesmo vertendo pequena resposta inicial da economia nacional, apesar disso, são uma das grandes protagonistas do processo evolutivo tecnológico. É que, na verdade, a pesquisa inovativa e o desenvolvimento de novos produtos/soluções têm como aspecto mais valioso o insight, ou a proposta inicial disruptiva com potencial escalável e repetível. Em termos práticos, trata-se da ideia matriz.

    De fato, a tecnologia não tem apenas um berço, mas nesse ponto se está a tratar de uma forma alternativa de induzir o desenvolvimento tecnológico, e, mais ainda, que este desenvolvimento seja genuíno. Isso mesmo! Verdadeiramente desenvolvido e apto a funcionar no local e nas condições às quais se destina. Em outros termos, não se busca a exportação de tecnologia como fonte para elevar o produto interno bruto (PIB) – apesar de que isso também é desejável –, e sim, tornar a produção industrial e, mormente, a agroindustrial mais eficiente de modo a restar minimizada a pegada ambiental (desgaste do meio ambiente), e, com isso, converter a exploração econômica ambiental sustentável em uma realidade viável. Ademais, dessa racionalidade se extrai uma lógica aderente aos novos paradigmas da sustentabilidade e com isso resulta numa vantagem adicional sob a forma de externalidade positiva, a elevação do IDH.

    A tecnologia serve a propósitos maiores, nesse caso, presta-se a formar a infraestrutura para viabilizar uma antiga tradição nacional, a exportação de commodities ambientais, porém com alta tecnologia e sincronizada com os standards da sustentabilidade. Na prática, imagine-se um sistema de irrigação dependente de tecnologia estrangeira, caso esse sistema fosse projetado ou aprimorado pelos sistemas produtivos locais, seria não apenas eficiente, mas teria logística sempre à disposição, e, a um custo menor, bem como empregos seriam gerados, já que demandam mão-de-obra especializada em toda a cadeia de produção.

    A tônica tratada no livro não é outra, senão tornar viável o lucro ambientalmente limpo uma realidade possível, sem embargo, para tanto imperativo o estímulo ao nascimento de novas tecnologias, ocorre que a eclosão tecnológica no ambiente nacional pode perfeitamente ocorrer pelo empreendedorismo criativo das startups. Assim, conceitualmente, o termo startup tem como significado primário o ato de começar algo. A origem do termo startup, no âmbito empresarial é incerta, entretanto, remete a um artigo publicado na revista Forbes, no ano de 1976, que tratava do desenvolvimento do segmento de processamento de dados, definindo as startups como empreendimentos de rápido crescimento no âmbito da tecnologia. No entanto, o termo startup

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