Riscos globais e biodiversidade
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Sobre este e-book
Maria Amélia Martins-Loução
Maria Amélia Martins-Loução é bióloga, professora catedrática aposentada de Ciências, Universidade de Lisboa, investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Globais e presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia. Doutorada em Biologia e agregada em Ecologia, realizou mestrado em Comunicação de Ciência. É autora de mais de 250 títulos (capítulos, livros, artigos e textos de divulgação).
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Riscos globais e biodiversidade - Maria Amélia Martins-Loução
Siglas usadas
4 per 1000 — iniciativa para aumentar anualmente em 0,4 % o carbono do solo, sigla de The ‘4 per 1,000’ initiative
AMEI — plataforma on-line de modelação agrícola, sigla inglesa de Agricultural Model Exchange Initiative
BGCI — Rede Internacional de Jardins Botânicos, sigla inglesa de Botanic Gardens Conservation International
COP 15 — Conferências das Partes da Biodiversidade, Kunming, China
COP 26 — Conferências das Partes para o Clima, Glasgow, Reino Unido
CWR — espécies silvestres parentais de cultivares, sigla inglesa de Crop Wild Relatives
FABLE — Alimentação, Agricultura, Biodiversidade, Uso da Terra e Energia, sigla inglesa de Food, Agriculture, Biodiversity, Land-Use and Energy
FAO — Organização das Nações Unidas para a Alimentação, sigla inglesa de Food and Agriculture Organization of United Nations
GCP — Projecto de Carbono Global, sigla inglesa de Global Carbon Project
GDN — Acordo Global para a Natureza, sigla inglesa de Global Deal for Nature
Haber-Bosch — processo de produção de fertilizantes químicos
INMS — Sistema Internacional de Gestão de Nitrogénio, sigla inglesa de International Nitrogen Management System
IPBES — Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e os Serviços do Ecossistema, sigla inglesa de Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services
IPCC — Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, sigla inglesa de Intergovernmental Panel on Climate Change
IUCN — União Internacional para a Conservação da Natureza, sigla inglesa de International Union for Conservation of Nature
ONU – Organização das Nações Unidas
PAC — Política Agrícola Comum da União Europeia
PIB — Produto Interno Bruto
UNEP — Programa do Ambiente das Nações Unidas, sigla inglesa de United Nations Environmental Program
UNESCO — Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, sigla de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
Símbolos químicos usados
CFC — clorofluorcarboneto
CH4 — metano
CO2 — dióxido de carbono
N2 — nitrogénio molecular
N2O — óxido nitroso
NH3 — amoníaco
NO — monóxido de nitrogénio
NO2 — dióxido de nitrogénio
NOx — óxidos de nitrogénio
O2 — oxigénio
Prelúdio
A vida é um caminho de luzes e de sombras. O importante é vitalizar as sombras e aproveitar as luzes.
HENRI BERGSON (FILÓSOFO FRANCÊS, PRÉMIO NOBEL DE LITERATURA EM 1927)
Ao longo do tempo, assistimos a um diálogo permanente entre a ciência e a natureza. Até meados do século XX, a ciência clássica realçava a noção de ordem, estabilidade e equilíbrio. Actualmente, pelo contrário, descobrimos instabilidades, descrevemos alterações e adquirimos a noção de risco. Crescimento ilimitado, fé cega na ciência e perda de ligação à natureza são os actuais mitos da nova sociedade tecnológica. No entanto, assistimos ao aparecimento de novos valores e ao maior escrutínio e avaliação das ligações entre economia, saúde e questões ambientais, que esta crise pandémica do SARS-CoV-2 veio acelerar. O ano 2020 evidenciou a presença de riscos globais e transversais: a saúde, a pobreza e o subdesenvolvimento estão intimamente ligados aos problemas ambientais. O crescimento económico não se pode alcançar e sustentar num planeta em crise ecológica. A sociedade não pode divorciar-se da natureza e da sua compreensão. Surge a necessidade de uma visão mais global, holística e transversal, que contribua para uma «revolução científica» de integração, que é dada pela Ecologia.
Os ecólogos, ou profissionais da Ecologia, centram-se na investigação, no acumular de evidências sobre a complexidade das interacções presentes entre organismos vivos, Homem incluído. Actualmente, a ecologia e os ecólogos vêem-se numa posição desafiante, sobretudo pela mudança de comportamentos e visões da sociedade mundial, motivada por uma maior sensibilização para as questões ambientais. A ecologia, enquanto ramo da Biologia, está hoje quase autónoma, apresentando-se como ciência transversal, multidisciplinar, capaz de responder e conduzir as tendências de pensamento e acção dos mais diversos sectores, desde a política à saúde, educação e economia. Hoje, cabe aos ecólogos o desafio de informar e clarificar a sociedade não só acerca das áreas do ambiente, ecossistemas e alterações climáticas, mas também em áreas determinantes de como minimizar riscos que ponham em causa a saúde, a economia, o urbanismo e a produção agrícola. E isto com base em conhecimento científico acumulado e testado.
Os registos arqueológicos e geológicos sugerem impactes do Homem nos ecossistemas, ao longo dos últimos 50 mil anos. Nos últimos três mil anos, as modificações que a caça, a queima e a agricultura originaram são irrefutáveis. Mas foram as alterações na biodiversidade, na biogeoquímica e nos processos geomorfológicos, decorrentes da industrialização, que levaram o ecólogo Eugene Stoermer, em 1980, a propor uma nova era geológica, o Antropoceno, face ao impacte da espécie humana no globo. No ano 2000, Paul Crutzen, Prémio Nobel da Química (1995), explicou a ligação entre as modificações na química da atmosfera e as alterações climáticas e relançou e popularizou o termo Antropoceno.
Efeitos de ondas de calor, chuvas fortes, inundações, deslizamentos de terra, secas, incêndios, avalanches e ondas de tempestade sentem-se um pouco por toda a Europa, cada vez com mais frequência. Esses eventos extremos, relacionados com o clima, exercem elevados impactes na saúde humana, na economia e nos ecossistemas. E são particularmente exacerbados pela degradação e uniformização dos ecossistemas. Os riscos das alterações climáticas são já assumidos: a frequência e a gravidade da maioria desses perigos aumentarão em toda a Europa nas próximas décadas. Os relatórios do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla inglesa de Intergovernmental Panel on Climate Change) descrevem inúmeros impactes negativos e alertam para a necessidade de a sociedade e as autoridades públicas se adaptarem a um clima em mudança. Mas também os sucessivos alertas da Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e os Serviços do Ecossistema (IPBES, sigla inglesa de Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services) têm vindo a mostrar o papel do Homem, enquanto modelador da paisagem e gestor de espécies nos ecossistemas, como responsável pelos problemas ambientais e sociais que hoje enfrentamos a nível